
Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Primeira Quarta feira penitencial
No dia 22, começou em toda a Igreja a Quaresma. Era Quarta-feira de Cinzas. Este ano, nas Quartas, à ceia, fazemos penitência. Partilhamos uma sopa e o recolhido é distribuído pelos pobres.
Calmamente, silenciosamente, nesta primeira experiência éramos vinte e cinco, contando as crianças. Sim, meu Deus, contando jovens e crianças!
Bênção do peregrino
Por último, e às 7:30h de Domingo, o grupo reuniu-se aos pés de Nossa Senhora do Carmo e pediram e receberam a bênção do Peregrino. Era o segundo dia de viagem, a mochila não pesava menos, mas um peregrino confidenciou que «depois da bênção o caminho é mais fácil». Assim seja.
Actuação inesperada
No fim da ceia preparada pela Ana, a Joana, a Verónica e a Dª Idalina houve ainda actuação de variedades. A Ana e a Matilde encarregaram-se disso. E bem, muito bem.
Grupo Pegadas
O Grupo Pegadas é um grupo alargado de peregrinos. No passado dia 18 chegaram ao Albergue São João da Cruz dos Caminhos vindos de Esposende. Fizeram vinte e tal quilómetros mas chegaram em forma. Alegres e em forma. Nunca tínhamos recebido um grupo de peregrinos tão grande, apesar do Albergue estar aberto há um ano. Aqui foram vividos bons momentos, também de espiritualdade do caminho. E no fim ainda condecoraram o Prior. Muito obrigado
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Prestar atenção ao irmão
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15).
(Bento XVI)
(Bento XVI)
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2012
Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo»
(Carta Enc. PP, 66).A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf.Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (JPII, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
BENEDICTUS PP. XVI
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
O pecado
Um velho rabino contava:
Cada um de nós está unido a Deus por um fio. E quando cometemos uma falta, o fio se quebra. Mas quando nos arrependemos da nossa falta, Deus faz um nó no fio. De repente, o fio fica mais curto que antes. E o pecador fica um pouco mais perto de Deus. Assim, entre falta e arrependimento, entre nó e nó, nós nos aproximamos de Deus. Finalmente, cada um dos nossos pecados é uma ocasião de encurtar a corda de nós, e de chegar mais rapidamente perto do coração de Deus.
Santa Quaresma.
Cada um de nós está unido a Deus por um fio. E quando cometemos uma falta, o fio se quebra. Mas quando nos arrependemos da nossa falta, Deus faz um nó no fio. De repente, o fio fica mais curto que antes. E o pecador fica um pouco mais perto de Deus. Assim, entre falta e arrependimento, entre nó e nó, nós nos aproximamos de Deus. Finalmente, cada um dos nossos pecados é uma ocasião de encurtar a corda de nós, e de chegar mais rapidamente perto do coração de Deus.
Santa Quaresma.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Super matemática!
A Carolina é acólita da Missa das Dez. E é campeã dum jogo muito difícil para oe adultos como eu. Chama-se o jogo SuperTmatik. Basicamente o jogo consiste em fazer contas, que vão sendo propostas aleatoriamente. A rapidez da solução certa é o que conta. Garanto que os miúdos, digo a miúda, são imbatíveis. É do terceiro ano — só tem oito anos! — mas a velocidade das soluções debita-as como um einstein!
Eu fiquei trucidado.
A próxima actuação é na Escola de Monserrate. E já sabemos quem traz a taça para casa!
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Prestemos atenção uns aos outros
Ontem, 11 de Fevereiro, foi o Dia do Doente.
«Prestemos atenção uns aos outros!» É assim que abre a Mensagem do Papa para a Quaresma que se aproxima. Esta atenção começa com o nosso mais próximo, especialmente aquela ou aquele que nos habituamos a ver sem quase ver. Mas, também, colectivamente, aqueles que são vítimas da nossa omissão, de quem nem sequer nos incomodarmos em olhá-los. Diz o Papa: "A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios".
É bem verdade.
Momentos há em que nos transcendemos. Que nos transformamos e nos vemos a fazer coisas de que sempre disseramos: «Jamé!». Acontecem naquelas situações que de tão desprovidas de humanidade – e tão saturadas de humilhação – nos surpreendem, por alguém as assumir dum fôlego ou dum ímpeto irreprimível.
Assim de repente lembro-me de Francisco de Assis e de Maximiliano Maria Kolbe. Mas há mais exemplos, claro. Estes chegam para compreender a ideia. Vejamos: Francisco Bernardone era o líder da juventude da sua cidade. Alegre, amante da música e das festas. Com muito dinheiro para gastar, rapidamente se tornou um ídolo entre seus compinchas. Adorava banquetes, noitadas de diversão e de cantar serenatas às belas damas da sua cidade. Mas converteu-se e os antigos companheiros chacotearam-no e o pai Pietro enfureceu-se. Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis viu um leproso, que sempre lhe parecera horripilante e repugnante à vista e ao olfato, e cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo. Porém, então, como que movido por uma força superior, apeou-se do cavalo, e, colocando o seu dinheiro naquelas mãos podres e sangrentas, deu ao leproso um beijo de amizade.
Existem concerteza muitos beijos, mas o de Bernardone é único e de todo inesperado.
Séculos mais tarde um filho do pai Francisco tem um gesto parecido. Frei Maximiliano Maria Kolbe estava prisioneiro no inferno de Aushwitz e num acto de inaudita caridade (ou loucura?) ofereceu-se para morrer em vez do sargento Franciszek Gajowniczek, casado e com filhos. E assim foi. E Franciszek sobreviveu ao inferno!
Há gestos assim, cheios de santa loucura! Incompreensíveis, mas que nos devolvem a confiança no ser humano. O beijo nas carnes podres e aquela imolação são tão radicais que mesmo sabendo-as sempre nos surpreendem!
Agora imagine: Imagine que a pessoa que se senta ao seu lado no café, ou aquela que o saúda mui fraternalmente na Missa têm Sida! De futuro que fará você? Vai, gentil, corresponder-lhes? Vai saudá-los e apertar-lhes as mãos? Ou dá por encerrada a fraternidade e muda de café e de igreja? Seremos capazes da ternura de Francisco e da radicalidade de Maximiliano? Por que mirram hoje os seus gestos? Por que são tão áridos os nossos tempos tão alheios à bondade desinteressada?
Poderia continuar, mas o mais interessante será partir para a acção. O mais interessante é a prática concreta do dia a dia.
Ocorre-me esta reflexão porque passou ontem mais um Dia Mundial do Doente. E nada mais triste ser doente nestes duros tempos da tróika. Obrigado a cortar nas gorduras o Estado já quase não faz operações. Mas o Estado não tem dores, não sofre. Logo não sabe reconhecer as dores das pessoas. O Estado sabe de números e de estatísticas, não sabe de dores e de humanidade. Nos relatórios aparecem os números dos desempenhos e o alcance das práticas., mas a burocracia não sente nem sabe ler sufoco, desespero e dor.
E já não é só o Estado, somos também nós. É sabido que na silly season e nas épocas altas os velhos e doentes ficam abandonados sem que alguém os visite. O que importa é tirar uns dias de paz e sossego, ir para longe, ficar fora. Entretanto, os velhos morrem na solidão donde só são resgatados quando cheira a carne podre por todo o prédio; ao mesmo tempo os hospitais apressam altas de doentes que ninguém vai resgatar porque são tropeços em casa e impecilhos de férias há muito pagas.
É por isso que tem razão o Papa quando nos alerta para a crescente insensibilidade e cegueira que nos impedem de atendermos os outros e de beijarmos o sofrimento alheio. É por isso que hoje já quase não percebemos os gestos de Frei Francisco e Frei Maximiliano!
Aqueles que já não funcionam, isto é, os velhos, os nossos velhos decrépitos e os doentes, os que não contribuem para o orçamento familiar e apenas o delapidam, ficam esquecidos a um canto da garagem da memória. E para piorar as coisas, nós, cristãos, já quase não veneramos aquelas palavras de Jesus que antes tanto moviam à piedade e ao respeito pelos frágeis (que todos um dia havemos de ser): «Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis!»
Chama do Carmo I NS 136 I Fevereiro 12 2012
«Prestemos atenção uns aos outros!» É assim que abre a Mensagem do Papa para a Quaresma que se aproxima. Esta atenção começa com o nosso mais próximo, especialmente aquela ou aquele que nos habituamos a ver sem quase ver. Mas, também, colectivamente, aqueles que são vítimas da nossa omissão, de quem nem sequer nos incomodarmos em olhá-los. Diz o Papa: "A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios".
É bem verdade.
Momentos há em que nos transcendemos. Que nos transformamos e nos vemos a fazer coisas de que sempre disseramos: «Jamé!». Acontecem naquelas situações que de tão desprovidas de humanidade – e tão saturadas de humilhação – nos surpreendem, por alguém as assumir dum fôlego ou dum ímpeto irreprimível.
Assim de repente lembro-me de Francisco de Assis e de Maximiliano Maria Kolbe. Mas há mais exemplos, claro. Estes chegam para compreender a ideia. Vejamos: Francisco Bernardone era o líder da juventude da sua cidade. Alegre, amante da música e das festas. Com muito dinheiro para gastar, rapidamente se tornou um ídolo entre seus compinchas. Adorava banquetes, noitadas de diversão e de cantar serenatas às belas damas da sua cidade. Mas converteu-se e os antigos companheiros chacotearam-no e o pai Pietro enfureceu-se. Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis viu um leproso, que sempre lhe parecera horripilante e repugnante à vista e ao olfato, e cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo. Porém, então, como que movido por uma força superior, apeou-se do cavalo, e, colocando o seu dinheiro naquelas mãos podres e sangrentas, deu ao leproso um beijo de amizade.
Existem concerteza muitos beijos, mas o de Bernardone é único e de todo inesperado.
Séculos mais tarde um filho do pai Francisco tem um gesto parecido. Frei Maximiliano Maria Kolbe estava prisioneiro no inferno de Aushwitz e num acto de inaudita caridade (ou loucura?) ofereceu-se para morrer em vez do sargento Franciszek Gajowniczek, casado e com filhos. E assim foi. E Franciszek sobreviveu ao inferno!
Há gestos assim, cheios de santa loucura! Incompreensíveis, mas que nos devolvem a confiança no ser humano. O beijo nas carnes podres e aquela imolação são tão radicais que mesmo sabendo-as sempre nos surpreendem!
Agora imagine: Imagine que a pessoa que se senta ao seu lado no café, ou aquela que o saúda mui fraternalmente na Missa têm Sida! De futuro que fará você? Vai, gentil, corresponder-lhes? Vai saudá-los e apertar-lhes as mãos? Ou dá por encerrada a fraternidade e muda de café e de igreja? Seremos capazes da ternura de Francisco e da radicalidade de Maximiliano? Por que mirram hoje os seus gestos? Por que são tão áridos os nossos tempos tão alheios à bondade desinteressada?
Poderia continuar, mas o mais interessante será partir para a acção. O mais interessante é a prática concreta do dia a dia.
Ocorre-me esta reflexão porque passou ontem mais um Dia Mundial do Doente. E nada mais triste ser doente nestes duros tempos da tróika. Obrigado a cortar nas gorduras o Estado já quase não faz operações. Mas o Estado não tem dores, não sofre. Logo não sabe reconhecer as dores das pessoas. O Estado sabe de números e de estatísticas, não sabe de dores e de humanidade. Nos relatórios aparecem os números dos desempenhos e o alcance das práticas., mas a burocracia não sente nem sabe ler sufoco, desespero e dor.
E já não é só o Estado, somos também nós. É sabido que na silly season e nas épocas altas os velhos e doentes ficam abandonados sem que alguém os visite. O que importa é tirar uns dias de paz e sossego, ir para longe, ficar fora. Entretanto, os velhos morrem na solidão donde só são resgatados quando cheira a carne podre por todo o prédio; ao mesmo tempo os hospitais apressam altas de doentes que ninguém vai resgatar porque são tropeços em casa e impecilhos de férias há muito pagas.
É por isso que tem razão o Papa quando nos alerta para a crescente insensibilidade e cegueira que nos impedem de atendermos os outros e de beijarmos o sofrimento alheio. É por isso que hoje já quase não percebemos os gestos de Frei Francisco e Frei Maximiliano!
Aqueles que já não funcionam, isto é, os velhos, os nossos velhos decrépitos e os doentes, os que não contribuem para o orçamento familiar e apenas o delapidam, ficam esquecidos a um canto da garagem da memória. E para piorar as coisas, nós, cristãos, já quase não veneramos aquelas palavras de Jesus que antes tanto moviam à piedade e ao respeito pelos frágeis (que todos um dia havemos de ser): «Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis!»
Chama do Carmo I NS 136 I Fevereiro 12 2012
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
As faces da esperança
A mim, tinham-me pedido que apresentasse a perspectiva da doutrina social da Igreja e da espiritualidade sobre a crise. Não sei se dei algum contributo positivo para o debate mas constatei como a voz da Igreja é ouvida e acreditada nestas matérias. Partilho convosco algumas ideias que me têm povoado a mente nos últimos tempos e que pus em comum nesse forum.
Comecei por apresentar grandes questões que nos permitam alargar o horizonte da reflexão e ir aos fundamentos do fenómeno: O que é que está em crise? Porque é que chegamos à crise? Quais os domínios onde ela mais se nota e onde é que estão as suas raízes? A crise é algo que apenas suportamos ou que acolhemos com paz e naturalidade? E no meio da crise, ou crises, ainda há lugar para a esperança? Que contributo têm os homens e mulheres de fé, membros da Igreja, a dar para esta reflexão? A Igreja possui realmente um corpo doutrinal e uma experiência de vida acumulada que lhe permite ter uma palavra no assunto.
Em primeiro lugar, temos a convicção que a crise acontece porque perdemos valores, referências, sentido da vida, esquecemos Deus como referência suprema que nos permite configurar e hierarquizar valores, critérios, princípios de vida, que nos permite colocar cada coisa no lugar que lhe corresponde. Realmente quando falta Deus, fundamento último da ética e da moral, o homem e as sociedades ficam a um passo da lei da selva, do «salve-se quem puder», da corrupção, dos atropelos à dignidade humana, dos desequilíbrios ecológicos… e de tudo isto temos exemplos abundantes.
Agora, gritamos, alarmamos e apregoamos a crise por todos os lados. Procuramos onde descarregar a insatisfação e revolta perante o ponto a que as coisas chegaram. Penso que esta crise é inevitável porque os padrões de vida que vivemos ou aspiramos atingir são insustentáveis. Pergunto-me senão precisamos mesmo duma certa dose de crise e de critica (que tem a sua raiz etimológica na palavra “crise”) para regressarmos aos fundamentos do real que são a verdade, a justiça, o respeito pela ordem natural das pessoas e das coisas.
O povo crente sempre fez a experiência da crise. Jesus colocou-se e colocou-nos numa situação critica, abalando os falsos fundamentos religiosos e políticos do seu tempo para construir uma nova ordem, uma nova relação das pessoas entre si, com as demais criaturas e com o Criador. Enquanto se está mergulhado na crise seja ela mais de cariz pessoal, espiritual, social ou económica… experimenta-se como desagradável, acarreta grandes lutas e sofrimentos.
O importante é que na crise haja um lugar para a esperança. O que nos parece derrotista e pessimista é a crise sem esperança. A crise purifica, recentra-nos no essencial da beleza e da bondade que dão sabor à vida.
A Igreja, com as suas ramificações nas comunidades cristãs, nas instituições de caridade cristã, na exortação constante à prática do acolhimento e da solidariedade ente vizinhos e famílias, conhece os rostos da crise e esforça-se por a minimizar. Muitas vezes, a Igreja, na sua pobreza de meios e recursos, não consegue corresponder a tanta demanda. Nesses momentos, só pode oferecer a única riqueza que possui: Cristo no meio de nós com as suas fortes razões para acreditar e esperar.
Nas nossas comunidades, podemos escutar, acolher e rezar pelas situações que todos os dias nos batem à porta. Se pudermos dizer olhos nos olhos: «Tem confiança, não desanimes, vamos rezar por ti, hoje vou ter-te presente na eucaristia…» quantas janelas de esperança abrimos com estas palavras! Com a esperança alicerçada em Cristo e nos valores do seu Evangelho, nós podemos ajudar a humanidade a sair das encruzilhadas e enredos em que se envolveu. Podemos pôr-nos a caminhar com os homens e mulheres de boa vontade na procura de novos modelos de vida social, de novos paradigmas económicos e de desenvolvimento que nos permita esperar e acreditar que as travessias dos desertos nos conduzirão à «terra prometida».
P. Joaquim Teixeira, OCD
Provincial
Chama do Carmo I NS 135 I Fevereiro 5 2012
Comecei por apresentar grandes questões que nos permitam alargar o horizonte da reflexão e ir aos fundamentos do fenómeno: O que é que está em crise? Porque é que chegamos à crise? Quais os domínios onde ela mais se nota e onde é que estão as suas raízes? A crise é algo que apenas suportamos ou que acolhemos com paz e naturalidade? E no meio da crise, ou crises, ainda há lugar para a esperança? Que contributo têm os homens e mulheres de fé, membros da Igreja, a dar para esta reflexão? A Igreja possui realmente um corpo doutrinal e uma experiência de vida acumulada que lhe permite ter uma palavra no assunto.
Em primeiro lugar, temos a convicção que a crise acontece porque perdemos valores, referências, sentido da vida, esquecemos Deus como referência suprema que nos permite configurar e hierarquizar valores, critérios, princípios de vida, que nos permite colocar cada coisa no lugar que lhe corresponde. Realmente quando falta Deus, fundamento último da ética e da moral, o homem e as sociedades ficam a um passo da lei da selva, do «salve-se quem puder», da corrupção, dos atropelos à dignidade humana, dos desequilíbrios ecológicos… e de tudo isto temos exemplos abundantes.
Agora, gritamos, alarmamos e apregoamos a crise por todos os lados. Procuramos onde descarregar a insatisfação e revolta perante o ponto a que as coisas chegaram. Penso que esta crise é inevitável porque os padrões de vida que vivemos ou aspiramos atingir são insustentáveis. Pergunto-me senão precisamos mesmo duma certa dose de crise e de critica (que tem a sua raiz etimológica na palavra “crise”) para regressarmos aos fundamentos do real que são a verdade, a justiça, o respeito pela ordem natural das pessoas e das coisas.
O povo crente sempre fez a experiência da crise. Jesus colocou-se e colocou-nos numa situação critica, abalando os falsos fundamentos religiosos e políticos do seu tempo para construir uma nova ordem, uma nova relação das pessoas entre si, com as demais criaturas e com o Criador. Enquanto se está mergulhado na crise seja ela mais de cariz pessoal, espiritual, social ou económica… experimenta-se como desagradável, acarreta grandes lutas e sofrimentos.
O importante é que na crise haja um lugar para a esperança. O que nos parece derrotista e pessimista é a crise sem esperança. A crise purifica, recentra-nos no essencial da beleza e da bondade que dão sabor à vida.
A Igreja, com as suas ramificações nas comunidades cristãs, nas instituições de caridade cristã, na exortação constante à prática do acolhimento e da solidariedade ente vizinhos e famílias, conhece os rostos da crise e esforça-se por a minimizar. Muitas vezes, a Igreja, na sua pobreza de meios e recursos, não consegue corresponder a tanta demanda. Nesses momentos, só pode oferecer a única riqueza que possui: Cristo no meio de nós com as suas fortes razões para acreditar e esperar.
Nas nossas comunidades, podemos escutar, acolher e rezar pelas situações que todos os dias nos batem à porta. Se pudermos dizer olhos nos olhos: «Tem confiança, não desanimes, vamos rezar por ti, hoje vou ter-te presente na eucaristia…» quantas janelas de esperança abrimos com estas palavras! Com a esperança alicerçada em Cristo e nos valores do seu Evangelho, nós podemos ajudar a humanidade a sair das encruzilhadas e enredos em que se envolveu. Podemos pôr-nos a caminhar com os homens e mulheres de boa vontade na procura de novos modelos de vida social, de novos paradigmas económicos e de desenvolvimento que nos permita esperar e acreditar que as travessias dos desertos nos conduzirão à «terra prometida».
P. Joaquim Teixeira, OCD
Provincial
Chama do Carmo I NS 135 I Fevereiro 5 2012
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