segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bênção de Israel

Que o Senhor vos abençoe e vos guarde.
Que o Senhor mostre a sua face e lhes seja favorável!
Que o Senhor volte o seu rosto e lhes de a paz.

Feliz e esperançoso 2013


Assim seja!

«Neste dia,
e em cada dia deste novo ano,
aí mesmo, onde cada um esteja,
olhai em redor, em casa,
na vizinhança,
ou onde poderdes chegar;
reparai em algo a fazer,
alguém a ajudar,
algum caso a resolver;
não deixeis acabar o dia
muito menos, o ano)
sem terdes feito algo nesse sentido,
por pouco que seja;
amanhã, mais um passo...
E pensai:
este dia, cada dia, é belo demais,
para esperar outro ano.»
(D. Manuel Clemente)

Diante de Deus

Um velho vendia brinquedos no mercado de Bagdad. Seus compradores, sabendo que ele estava com a visão fraca, de vez em quando pagavam-lhe com moedas falsas.
O velho percebia o truque  – mas não dizia nada.  E em suas orações, pedia a Deus que perdoasse os que lhe enganavam.
«Talvez estejam  com pouco dinheiro, e querem comprar presentes para os filhos»,  dizia consigo mesmo.
O tempo passou, e o homem morreu. Diante do portal do Paraíso, rezou mais uma vez:
Senhor! – disse.
Sou um pecador. Fiz muita  coisa errada, não sou melhor que as moedas falsas que recebi. Perdoai-me!
Neste momento o portão se abriu, e uma Voz disse:
– «Perdoar o que? Como posso julgar alguém que, em toda a sua vida, jamais julgou os outros?»

Feliz 2013

Apesar de tudo, feliz 2013 para todos.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Adoração eucarística

Quarta-feira estaremos em adoração eucarística toda a tarde. Vamos re-começar o ano com Jesus e vamos entregar-lho. Atenda e este belo convite:

Olá!
Acabado de nascer,
E no aconchego “das palhinhas”
que sinto no teu coração
Venho renovar o meu convite de sempre:
Vem visitar-me à minha casa!
- Igreja do Carmo, quarta-feira,
dia 2, 18h30, Adoração Eucarística. -

Como deves imaginar,
o meu pai e a minha mãe estão muito felizes.
Vem partilhar essa felicidade connosco.
Olha, até os pastores e os reis magos vieram!
Como não virás tu?!
Conto contigo!

Com toda a amizade,
Menino Jesus

PS: dispenso aqueles presentes que se costuma trazer aos recém-nascidos: chupetas, roupinhas,  fraldinhas e toalhinhas bordadas. O presente que quero receber és mesmo tu!

Oração de fim de ano


Ó Deus, Senhor do tempo e da eternidade,
Teu é o hoje e o amanhã,
o passado e o futuro.

Ao acabar mais um ano,
quero dizer-Te obrigado
por tudo aquilo que recebi de Ti.

Obrigado pela vida e pelo amor
pelas flores, Pelo ar e pelo sol,
pela alegria e pela dor,
pelo que foi possível e pelo que não foi.

Apresento-Te as pessoas
que ao longo destes meses amei.
Os que amei menos
e aqueles que se afastaram da minha vida.
As amizades novas,
os que estão perto de mim
e os que pude ajudar.

Aqueles a quem fiz “vista grossa”
e passei ao largo.
Aqueles com quem partilhei
a vida e o trabalho,
a dor e a alegria.

Mas também, Senhor,
hoje quero pedir-Te perdão!

Perdão pelo tempo perdido
e pelo dinheiro mal gasto.
Pela palavra inútil
e pelo amor desperdiçado.
Perdão pelas obras vazias,
e pelo trabalho mal feito.

Perdão por, às vezes, viver sem entusiasmo.
Perdão também pela oração
que aos poucos fui adiando.
Por todos os meus esquecimentos,
descuidos e silêncios.

Amanhã começamos um novo ano.
Páro a minha vida diante do novo calendário
que ainda não se iniciou
e apresento-Te esses dias
que somente Tu sabes se chegarei a vivê-los.

Hoje, Pai, também Te peço por mim.

Quero viver cada dia com optimismo e bondade.
Levando a toda a parte um coração de paz.

Aos meus amigos,
enche-os de Sabedoria, Paz e Amor!
Que todos juntos encontremos no caminho
um pouquinho de Ti.

Bênção da família

Nós Vos bendizemos, Senhor,
que na vossa infinita misericórdia
quisestes que o vosso Filho, feito homem,
fizesse parte duma família humana,
crescendo no ambiente da intimidade doméstica
e conhecendo as suas preocupações e alegrias.

Humildemente Vos pedimos, Senhor:
guardai e protegei estas famílias
para que, fortalecidas pela vossa graça,
gozem de prosperidade, vivam na concórdia
e, como Igreja doméstica,
sejam no mundo testemunhas do vosso amor.
Por Nosso Senhor... 

Bênção do Ano Novo

Que o Deus criador
nos dê a bênção
de criar novos momentos
de vida e alegria em nossas vidas.

Que Jesus Salvador
nos acompanhe
em cada passo, alegre e triste,
para juntos transformarmos
nossas vidas.

Que o Espírito Santo
avive em nós
a chama da vida
para que, em comunidade,
semeemos o amor.

Ano novo, vida nova
no Pai, no Filho
e no Espírito Santo.
Amén!

sábado, 29 de dezembro de 2012

O Menino da flauta

Um ano mais os claustros do nosso convento abrem-se para acolher a exposição de presépios.
Daqui e dali, gente conhecida e da casa, e outra desconhecida e afastada, vão colaborando
na sua construção. Claro que é um mostra modesta, simples, mas não isenta de calor e carinho. Os presépios são de crianças e de adultos, de pedra e de papel, de tela e de barro,
de madeira, clássicos e mais recentes, nucleares e com anjos, pastores e banda de música.
São mais de setenta e cinco presépios. Há por ali mãos de gente consagrada, e outras de quem simplesmente ama o mistério da Santa Incarnação. Alguns são de meninos, de escuteiros, de famílias, de gente pobre com arte. E chegaram outros de longe, de Angola, Espanha, Indonésia. Alguns grupos pastorais da Comunidade encheram-se de brios e aí apareceu um presépio: reconheço ali o dos leitores, dos terceiros, dos ministros da comunhão, do grupo da Bíblia. O GAF também colaborou.
Conheço a história de muitos ou quase todos, sei como chegou este e como veio aquele. Por que trajam uns à minhota, e outro, indiferenciado, é de materiais reciclados. Todos, todos, feitos com amor. Por isso,muito obrigado a todos. Obrigado também a quem carregou as mesas e as colunas, apanhou o musgo, deu nós nos fios de seda, varreu o chão, encontrou recantos e as melhores soluções. Pouco ou nada se constrói sozinho. Onde muitos colaboram tantos podem depois comprazer-se e apreciar o Mistério.
É assim com a nossa mostra de presépios que mais uma vez construímos.
Passando por entre tantos, pode cada um eleger o seu preferido, encantar-se com os materiais e a disposição das figuras e até, quem sabe, criar uma história.
Eu tenho o meu e a minha história.
Não sei de datas, sei de factos. E eles ajudam a deitar um olhar outro ao mistério da Santa Incarnação.
Em um dos anos finais do século passado, segundo julgo, um rapaz vianense visitou a Palestina. Posso conjecturar o que leva um rapaz da verde Viana ao pó da Palestina, mas só posso conjecturar. Imagino que ir duma terra tão verde para outra tão cor de pó e de pedra, tão seca e tão pobre, sabe a tudo menos a maquilhagem. Nem imagino se por aquelas alturas existiam relações diplomáticas, se o rapaz entrou clandestino ou foi apoiado num turismo programado. Sei que não se lhe quebrou o encanto quando calcorreou aquela terra mirrada, aquelas estradas mal amassadas em pó e pedra. Sei de viva voz que a incursão soube ao frescor da surpresa, sei que naquela terra pobre nada havia que se vendesse, não havia souvenirs que se repetissem como fotocópias. Não, não havia. No que diz respeito a desejados keepsake o rapaz não viu nada que prendesse o olhar, a não ser o pó que se amassa com o suor e se cola às pessoas e às folhas das figueiras, ou então uma pedra que lembrasse uma Intinfada recente. Regressava desistente quando numa berma um palestino tinha aberto um pano tribal e expusera uns paus. Uns paus?, ou umas flautas? Sim, eram flautas e até tocava uma donde arrancava sons de encanto. (E é assim que os homens mesmo quando são pobres encontram formas simples de manifestar sentimentos e bailar...)
E assim foi que no fundo da mochila, embrulhadas num keffieyh vieram para o Minho dois paus com furinhos toscos, que, se bem soprados, nos dão música de adormecer e sonhar. E por aqui ficaram como ficam as memórias e os souvenirs de viagens.
O rapaz cresceu, hoje é marido, pai e artista. Com a filha ao colo as entranhas volveram-se ainda mais mansas. Lembrou-se da flauta, foi buscar um Menino de barro de Barcelos e juntou tudo numa caixa do IKEA, da Finlândia, que diz «Fado», pôs-lhe duas luzias LED, que imagino da Coreia, recortou no centro um círculo, encheu-o de palha da Estremadura espanhola e trouxe para a exposição. Quando à noite tudo se apaga brilha no escuro aquela Gruta-Nações-Unidas e eu aproximo-me devagarinho e digo baixinho com  o coração: «Boa noite, meu Menino pobrezinho. Felizmente encontraste uma caixa de cartão onde te aconchegar, um fado para te encantar, umas palhinhas para te aquecer.
A Ti, Rei do Universo, as nações dão do que lhes sobra. Aceita o que não precisamos e que a nossa vida seja um louvor que embale os sonhos de paz que sonhaste para o nosso mundo tão redondo e tão cheio. Amen.»

Chama do Carmo I NS 170 I Dezembro 30 2012



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Hoje ainda é Natal, sabias?

- Sentinela, o que há da noite?
O que há da crise?

- De onde perguntas?
Perguntas desde a fome
ou desde o consumismo?
O grito dos pobres
sacode tuas perguntas?

Pastores marginais
cantam a Boa Nova,
com flautas e silêncios,
contra os grandes meios,
os meios dos grandes.

Nasceu-nos um Menino,
um Deus nos foi dado.
É para nascer de novo,
desnudos como o Menino,
descalços de cobiça,
de medo e de poder,
sobre a terra vermelha.

É para nascer de novo
abertos ao Mistério,
ungidos de Esperança.

Pedro Casaldáliga

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!

Feliz Natal! Feliz 2013 na fé, na esperança e no amor!

Troca de presentes!

Estrelinhas das Lagoas





O Advento está quase a terminar. Este tempo de espera e de esperança, de alegria e de júbilo, porque o Senhor vem está a terminar. E termina porque o Senhor está quase quase a chegar.
Neste tempo belo, meigo e esperançoso teve toques diversos de Deus. Vi muitos sinais Dele! Um dia, a convite do Centro Educativo das Lagoas fui ali buscar brinquedos dos meninos do Jardim Infantil que animados pelas Educadoras os ofereceram aos meninos do GAF.
Foi uma ternura! Foi uma imensa surpresa!
O Tesouro dos Brinquedos - que voltará a encher-se, não tenho dúvida - era razoável e estava cheio quase rompendo as costuras. Todos os meninos tinham encontrado algo a mais em casa que poderia ser oferecido! E também ali há pobres meninos ricos. E vice-versa.
As turmas do JL 3 e do JL 5 não sabem o que é um frei, nem dois. Mas confiaram e deram. Esta noite quando já for na Natal vou lembrar-me destes homenzinhos e mulherzinhas de amanhã - como o sr. Araújo-Todo-Janota!
Aquelas sementinhas prometem. Ao olhar o Céu enevoado desta noite vou lembrar-me das estrelinhas que brilham nas Lagoas e que tão bem nos receberam. E ao Menino Jesus vou lembrar um a um os seus nomes: Afonso, Afonso, Beatriz, Gabriel, Graziela, Gui, Henrique, Inês, Joana, Leonor, Luana, Manuel, Mara, Maria, Maria, Maria, Nelson, Rafael, Randeep, Rodrigo, Rodrigo, Ruben, São, So, Zara.
A bênção para eles que abriram as mãos, e para os meninos que receberam as suas prendinhas.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Felizes festas do Natal de 2012!

Depois que se encontraram e se abraçaram, Isabel respondeu a Maria, sua prima: «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor.»
O grito de alegria de Isabel já se tornou realidade, pois das entranhas de Maria nos foi dado Aquele que Deus havia prometido: o Filho de Deus, Deus mesmo, fez-se um de nós!
Vamos todos celebrar o Natal. Vamos celebrá-lo como Maria e Isabel que se encheram de alegria porque Deus havia operado maravilhas, porque Deus abriu um curso novo à vida.
Vivemos tempos difíceis. O medo do futuro amplia cada vez mais o seu espaço no nosso coração. Afinal, as riquezas deste mundo que Deus quer para todos não chegam à mesa de muitos.
Ainda assim há Natal. Deus vem para o meio de nós e partilha a nossa vida, Deus partilha a vida dos humanos, desde o mais pequenino, desde o mais débil e fragilizado. Deus vem e dá-nos o seu amor, a sua força e a sua luz. E também nos convida a ser para o mundo o mesmo amor, força e luz.
Vamos celebrá-lo. Nas datas que seguem somos convidados a reunir-nos na igreja para celebrar o Natal:

25 de Dezembro, Natal
No meio do maior silêncio da noite, num lugarejo esquecido chamado Belém, nasceu um Menino a quem os pais deram o nome que o Anjo lhes dera, Jesus.
Nasceu para nós, e por isso preferiu nascer na pobreza e na austeridade extremas. E nós, como os pastores de então, que viviam montes abaixo, à margem da sociedade, aproximamo-nos Dele e O reconhecemos como a luz de Deus que sempre nos acompanhará e guiará. Por isso, mais uma vez, com toda a nossa alegria Lhe damos graças pela sua vinda para junto de nós!

30 de Dezembro, a Sagrada Família
Jesus nasceu e cresceu envolvido pelo calor de uma família. Eram uns pais excepecionais; chamaram-se José e Maria.
Educaram-no à volta da sua casa, em Nazaré, a terra onde viviam.
Hoje ao recordarmos esta família vemos nela um modelo para as nossas famílias. E por isso, neste dia, rezamos pelas nossas famílias e por todas as famílias do mundo, pedindo a Deus que as abençoe com o seu amor.

1 de Janeiro, Santa Maria Mãe de Deus
Exactamente uma semana depois do Natal os nossos olhos centram-se em Maria, a Mãe de Jesus.
Foi ela que pela sua resposta ao chamamento de Deus, que pela sua fidelidade e pelo seu amor, nos deu o Salvador.
E nós, no início de mais um ano, pedimos-lhe que nos ajude a ser como ela. E ao mesmo tempo rezamos-lhe pela paz no nosso mundo tão marcado pela divisão.

6 de Janeiro, Epifania do Senhor
Entretanto, chegaram uns sábios vindos de terras longínquas. Chegaram guiados pela luz que Deus havia posto nos seus corações.
E enquanto as altas chefias da capital do reino (Jerusalém) se assustaram com a chegada de tãos ilustres personagens, eles, por sua vez, inundados de alegria, não se deixaram reter desnecessariamente, sem antes encontrar o Menino que havia nascido e a todos atraía. Por isso, se lançaram de novo ao caminho até O encontrarem. Por fim, ao verem o Menino que tinha nascido, adoraram-n’O e reconheceram-n’O como o caminho para a Humanidade que vivia de uma a outra ponta da terra. Simplesmente, porque o Filho de Deus tinha nascido no meio de nós, para nós.

13 de Janeiro, Baptismo do Senhor
Neste dia litúrgico vamos contemplar Jesus já homem adulto.
Depois de ter vivido trinta e três silenciosos anos em Nazaré, dedicados à família, ao crescimento humano, ao trabalho, à piedade e oração, Jesus dirigiu-se para as margens do Rio Jordão. Ali, seu primo João, o Precursor, reunia multidões de pessoas e pregava-lhes um caminho de conversão que todos deveriam seguir.
Estando um dia a baptizar João viu que Jesus enfileirara na fila dos pecadores, se aproximou, entrou nas águas do Rio Jordão e lhe pediu o baptismo. Então os céus se abriram e Deus revelou Jesus como o Seu Filho muito amado, que, cheio do Espírito Santo, havia de levar ao coração de cada homem e cada mulher do mundo inteiro, a boa notícia do Evangelho da salvação.

Chama do Carmo I NS 168 I Dezembro 23 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

À Senhora do Advento

Nossa Senhora do Advento,
Mãe de todas as nossas as nossas expectativas,
tu que sentiste tomar carne
em teu seio a Esperança de teu povo,
a Salvação de Deus,
ampara nossas maternidades e paternidades
carnais e espirituais.

Mãe de todas as nossas esperanças,
tu que acolhes a força do Espírito,
para dar carne à promessas de Deus,
faz com que venhamos a encarnar o Amor,
sinal do Reino de Deus,
em todos os gestos de nossa vida.

Nossa Senhora do Advento,
Mãe de todas os nossos cuidados,
tu que deste um semblante ao nosso futuro
fortalece aqueles que dão à luz no meio de dores
um mundo novo de justiça e de paz.

Tu que contemplaste a criança de Belém,
torna-nos atentos
aos sinais imprevisíveis da ternura de Deus.

Nossa Senhora do Advento,
Mãe do Crucificado estende a tua mão
a todos os que morrem
e acompanha o seu novo nascimento nos braços do Pai.

Nossa Senhora do Advento, ícone pascal,
na trama do quotidiano
as passagens e a vinda de Cristo Jesus.

Carta ao Menino Jesus do menino Joseph Ratzinger, de 7 anos


Querido menino Jesus:
brevemente descerás à terra. Vais trazer alegria aos meninos. Também para mim tu vais trazer alegria. Queria pedir-te três presentes: o Volks-Schott (livro de orações), um traje verde para ir à missa e um coração de Jesus.
Serei sempre bom.
Saudações cordiais,

Joseph Ratzinger

domingo, 16 de dezembro de 2012

Nada te perturbe

«Em tudo o que lhe acontecer, mesmo no meio da maior adversidade, procure mais alegrar-se do que turbar-se, pois assim não perderá um valor maior que a maior prosperidade: a tranquilidade de ânimo e a paz.»
(São João da Cruz, 3Subida 6:3)

Crónica de um retiro em tempo de Advento


A vida espiritual é o que dá sentido à nossa vida.
E assim sendo, como vem sendo costume, mais uma vez, ontem, dia 15 de Dezembro, coração do Advento, decorreu o Retiro de Advento da Comunidade do Carmo. Dezassete pessoas, no total. Retirados da cidade e adentrados nos espaços divinos do Carmo, no seu silêncio e na sua paz, decorreu ali, desde as 10:00h até às 17:00h, mais um Retiro de Advento.
Refazer a vida no Advento, assim foi o nosso encontro e a experiência espiritual única, na apresentação do tema «Esperar em jubilosa esperança», pelo amigo Simão Cardoso, leigo, de Alijó, onde vive empenhado na pastoral da sua comunidade cristã. O Prior Frei João Costa chama-o de «menino», apesar da sua idade já madura. E de facto o Simão é um menino e nós podemos comprová-lo. Um menino de sangue azul, pois têm um irmão que é Rei, Jesus Cristo. Seu irmão primogénito. Um menino com grande amor pela Igreja e pela vida. Ao longo do retiro o Simão deixou-nos ensinamentos profundos e identificou toda a nossa dificuldade como Cristãos na vivência da nossa fé. E disse-nos o quanto vale ser Cristão e o quanto isso se faz fundamental nas nossas vidas, tal como o ar que respiramos ou o alimento que comemos. Durante os momentos em que escutámos o Simão, tivemos oportunidade de escutar o quanto a sua fé está alicerçada na vida de Jesus Cristo. O Simão vive a esperança na vida! As suas palavras são testemunho disso e ajudaram-nos a encarar a vida com outra naturalidade e a entender que nas maiores dificuldades Deus está a nosso lado e que devemos aceitar e dar graças a Deus. E na vida devemos crescer e ajudar a crescer, pois isso solidifica a nossa fé. Nunca devemos deixar de perguntar em Quem acreditamos, e porque é que acreditamos. Estas e outras questões ajudam-nos a viver e a manter uma fé lúcida e firme. A vida eterna prepara-se aqui. E a idade mais bela é o momento que passa. Na medida em que os anos passam por nós ganhámos maturidade espiritual. Todo o Homem justo, alcança a salvação e nós cristãos não conseguiremos mais deixar a oração sem priorizá-la na nossa vivência diária. Mesmo que sejam momentos breves, o importante é que nunca deixemos de dialogar com Deus e queiramos deixar a sua voz habitar dentro de nós. Escutar, meditar na Sua Palavra e trazê-la para a vida.
O Simão é um homem com um belo testemunho de vida. A cada dia que passa ele pede força e coragem para nunca desistir de atender ao chamamento que Deus lhe faz, e hoje quando lhe perguntam: - Quem és tu Simão? Ele responde: - Eu sou peregrino que está de regresso à casa do Pai. É de lá que eu vim, é para lá que eu vou. Pois a dádiva maior que Deus nos fez é o dom da vida. É a consciência do meu eu cristão.
 No retiro deste Advento, Ontem ou Hoje, pouco interessa  o Simão ensinou-nos a sermos seres de carácter, com valor. Pois é o seu ser cristão que assenta no seu ser de Homem.
Obrigada, Simão, por vivermos o espírito do retiro, aliados aos momentos de partilha, reflexão e riso (com Deus).
Bem-haja a esta família carmelita de Viana do Castelo, que nos proporciona estes belos encontros de silêncio e oração. Foi proveitosa esta dádiva e terminamos a escutar Frei João Costa que nos incentivou a não guardamos estes momentos só para nós, mas que no próximo retiro, cada um de nós traga um amigo. E o próximo é já ali, também Sábado, em pleno tempo da Quaresma! Que juntos continuemos a partilhar momentos em que o Espírito Santo enche o interior, para que o vigor na vida comunitária seja mais forte e possamos aprender a vencer os obstáculos quotidianos, as dificuldades nas relações humanas, a enfrentar a vida que nos circunda.

Verónica Parente

Esconjuro

Uma boa queimada tem o seu esconjuro. Ou então não queima tudo. E quem bem sabe fazer um esconjuro é o dr. Francisco Sampaio, quem, no Jantar dos peregrinos, nos honrou com a sua presença e palavra sábia.
Depois de uma prelecção que todos guardamos no coração, aqui ficam palavras esconjurais que pela sua voz nos chegam de antanho:

[Ora bem, já sabem que o que vou dizer não é meu eu. Tirei umas partes da Galiza, umas partes nossas. Isto é tão bonito… que eu costume pedir a vossa colaboração, pedindo que repitam o que eu digo e assim participamos todos. Então vamos lá…]

Lume, luminha. Que verde caminha,
da fraga à lareira e faz lumeira.

Lume da quentura, p'ra nossa fartura.
Lume abençoado, pra nossa queimada.
Pingota de orvalho, folha de carvalho.
Auga do agoiro, mel de fervedoiro.

Cerqueira lume sem trasno nem fumo,
nem meiga chuchona, nem bruxa ventona.

Chiscar faisqueiro
mojena lumiosa, vagalume rosa .

Viradeira de luz, faremos la cruz.
Ámen, Jesus!

Pla auga da sorte, para que escorrente a morte.
Pla auga da vida que sare a ferida.
Pla erva moura que tape o tesouro.
Pla pedra do raio que mata o meigalho.

Lume, lume, lume, luminha…

[agora eu só…]

Abençoai todos quantos os aqui estamos
do Albergue de São João da cruz dos Caminhos;
e que faça com que este albergue
sejaum poiso de muitos peregrinos que venham até nós
e que depois de ressarcidos
de toda coisas tão ricas que nós aqui tivemos
continuem a sua peregrinação até Santiago de Compostela.

[Peço-vos agora que tb cantem comigo:]

Por São Silvestre, com pau de cipestre!
Por São Roque, com pão e trolitroque!
Por São João da Cruz dos Caminhos!
Por nossa Senhora do Carmo!

E num revira pés,
queimada que faço, queimada és!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Retiro em jubilosa esperança.



A convocatória recordava as palavras do Salmo que diz: quem não pára para reflectir é semelhante aos animais que são abatidos. É de convir, portanto, que ao tempo que temos retiremos algum tempo para a reflexão, para a pausa meditada e recriadora.
Hoje aconteceu retiro de Advento na nossa comunidade. Passámos o dia no Convento e entregámos a Deus o dia que Deus antecipadamente nos tinha oferecido. Demos a Deus tempo que Ele nos deu Ele no-lo devolveu ampliado, renovado, mais santo.
Essa é a nossa esperança!
Provocador do retiro foi o Simão Cardoso, leigo, de Alijó, onde vive empenhado na pastoral da sua comunidade cristã. Foi bom tê-lo entre nós, foi bom vê-lo perder o seu tempo connosco. Que Deus a Quem tanto ama o abençoe e à sua família.
Começámos, pela manhã, rezando «De novo a esperança é força luminosa; de novo a esperança é força verdadeira.» E sim, ao final, os nossos rostos viam-se luminosos. Porque seria?

Profeta, que havemos de fazer?

A pregação de João Baptista sacudiu a consciência das gentes do seu tempo. Aquele profeta que chegava do deserto dizia em voz alta o que eles sentiam no coração: que era necessário mudar, regressar a Deus, preparar-se para acolher o Messias. A sua pregação tocava as gentes.
Alguns demoravam-se algo mais a ouvi-lo e perguntavam-lhe: O que devemos fazer?
Segundo o relato do Evangelho deste domingo, terceiro deste Advento, três tipos de gente rodeavam João Baptista, a saber: as multidões indiferenciadas, alguns publicanos e os soldados. Buscando solução para as suas vidas todos questionavam o Profeta com a mesma pergunta: que devemos fazer?
E a quem o interpelava João respondia com uma recomendação particular: repartir o que se possuía em excesso; ser-se benevolente; e recusar o uso de violência injusta.
Sublinhemos aqui a sensibilidade de João. Nas respostas às interpelações dos seus contemporâneos jamais se perdeu em teorias sublimes sobre a sociedade; jamais impôs novas práticas religiosas; jamais sugeriu uma fuga em massa para o deserto como forma de penitência. João usou linguagem profética  directa, e tudo resumiu numa fórmula simples: «Aquele que tiver duas túnicas que as reparta com quem não tem nenhuma; o que tem comida que faça o mesmo.»
A palavra de João foi um sincero apelo à conversão, mas uma conversão visível em atitudes, visível na prática da vida. A primeira tem a ver com a possibilidade de partilhar com o necessitado. Ao longo da vida todos podemos dar algo. O que temos vale pouco se só o temos para nós; mais que para guardar e entesourar o que possuímos é para administrar. Algo temos em excesso que devamos partilhar: ou alegria ou sorriso, ou roupa ou dinheiro, ou amizade ou tempo, ou o saber ou as mãos que acariciam. Ninguém é tão pobre que não possa repartir com quem necessita. E é por aí que deve começar a conversão.
Aos publicanos que o interrogaram, João respondeu: «Não exijais mais que o que se encontra estabelecido». Isto é, a conversão exige a quem tem poder que não seja ditador! E de alguma forma todos temos algum poder. O sacerdote tem poder, o pai e a mãe têm poder, e o professor, e todos e tantos e até o jovem na força da sua juventude pode afirmar o poder da sua rebeldia! Aos guardiões do poder pede-se-lhes que não abusem do seu poder! Aos que possuem o poder da beleza, do dinheiro e da inteligência, da simpatia, da saúde ou da força física, João advertiu: Se usares o teu poder apenas em teu favor ou em favor dos da tua casta estás a abusar do poder! És um ditador!
Primeiro, disse João, partilhai; depois, não abuseis do poder. Por  último, aos militares João disse-lhes algo parecido: «Não pratiqueis extorsão sobre ninguém; não denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo.» Isto é também para nós, sobretudo para nós. É um aviso sério, como se o Profeta dissera: evitai a inveja, e, sobretudo, fazei crescer em vós o gosto pelas coisas de Deus, pelas coisas espirituais que não ferem!
O Evangelho traz-nos pela boca de João três poderosos conselhos que não podemos ignorar neste dia (alegre) de conversão. E se alguém nos perguntar se serão ainda mais actualizáveis, teremos nós neste domingo de Advento dedicado à alegria, de nos perguntar o que podemos fazer para acolher a Cristo no meio desta sociedade em crise. E deveríamos começar por não entorpecer a consciência e abrir os olhos para a realidade, pois deveríamos conhecer com toda a crueza o sofrimento que se cria por causa da insolidariedade que ajudamos a promover. Poderá a generosidade viver de impulsos? Ou, não valerá mais promover uma vida sóbria, uma vida que aceite baixar o nível de bem-estar a fim de partilharmos com os mais necessitados tantas coisas que temos e das quais não necessitamos para viver? Teremos nós ainda atenção suficiente para quem vive desamparado, não acede aos devidos apoios de saúde ou sociais cada vez mais exíguos?
Há já quem mire o futuro com medo e impotência: como poderemos acalentar neles a esperança em tempos de gelo e saraiva?
A crise vai ser longa, dizem os sábios. Teremos nos próximos anos muitas e válidas oportunidades de humanizar o consumismo ocidental meio louco e de denunciar o sofrimento insuportável e injusto de tantos. Vamos os cristãos ter oportunidade de crescer em solidariedade prática. De contrário, porque haveríamos de merecer receber de novo a Cristo nas nossas vidas?

Chama do Carmo I NS 167 I Dezembro 16 2012

Tempo frio


Senhor, a temperatura baixou.
Quando atravesso a rua para entrar no calor do automóvel,
ou sinto a proteção das estações de metro,
dos cafés, do interior dos locais de trabalho,
penso nos que dormem e vivem ao relento.
É verdade que somos todos,
de alguma maneira, gente sem-abrigo.
Que, em certas horas de solidão ou de sofrimento,
trazemos todos a alma
enregelada na imensidão ferida do nosso peito.
 Mas quando a temperatura desce,
só me dá para rezar
para que o Teu Espírito Santo nos desassossegue,
nos desinstale, nos faça caminhar
ao encontro dos mais pobres.

(José Tolentino Mendonça)

São João da Cruz chegou ao seu albergue





Ontem foi dia de São João da Cruz. E naturalmente do Albergue que leva o seu nome, De São João da Cruz dos Caminhos. O dia foi cumprido a preceito. De manhã, Missas solenes. A meio do dia, almoço de perdiz, bem compartilhado por um pároco amigo. À noite, atenções todas para o Albergue. Primeiro fomos lá em visita, depois jantamos uma pedra na sopa, segui-se uma breve tertúlia onde pontificou o Dr. Francisco Sampaio que nos surpreendeu com caminhos novos e terminámos com uma queimada galega bem exorcizada  – «Lume, luminha»  – por quem tão bem conhece a religiosidade popular da alma galaico-minhota.
 Muito obrigado a todos. Bons caminhos em 2013.

A luz do Natal

O Papa Bento XVI explicou na manhã ontem que a Árvore de Natal, cujas luzes se acenderam na Praça de São Pedro, é um sinal da luz de Deus que ilumina a todos os homens em meio das trevas e das dificuldades.
No seu discurso à delegação da região italiana de Molise, da qual procede este ano o abeto colocado em São Pedro, o Papa exortou a viver «com serenidade e intensidade o Natal do Senhor. Ele, segundo o célebre oráculo do profeta Isaías, apareceu como uma grande luz para o povo que caminhava nas trevas.» «Deus se fez homem e veio entre nós, para dissipar as trevas do erro e do pecado, trazendo à humanidade a sua luz divina.»
«Esta luz altíssima, da qual a árvore natalícia é sinal e lembrança, não só não perdeu intensidade com o passar dos séculos, mas também continua resplandecendo sobre nós e iluminado a todos os que vêm ao mundo, especialmente quando temos que passar por momentos de incerteza e dificuldade. Jesus mesmo dirá de si: ‘Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida’.»

São João da Cruz (XI)


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

(h) a ver

Saltaram hoje para a ribalta dois blogs de bom sabor castanho. Um dos jovens leigos carmelitas, outro dos jovens noviços. É bom (h) a ver blogs destes. Parabéns aos promotores. Bem-vindos, juntos andemos. É bom (h) a ver um http://maiscarmojovem.blogspot.pt/ e é bom (h) a ver outro http://ocdbichodaseda.blogspot.pt.

Chama de Amor viva

São João da Cruz (X)


No dia de São João da Cruz

São João da Cruz é um colosso. É visível desde todos os lugares. Só tem de olhar-se. É um poeta místico exorbitante: soube unir contrários num equilíbrio improvável. O nada e o tudo, o tempo e a eternidade, o corpo e a alma, o homem e Deus. Ainda menino ficou órfão de pai; a fome fê-lo crescer enfermiço, quase sem estatura. A privação de pão gerou-o radical. Infinita é a desgraça de morrer de fome. Ainda mais se a morrer for a alma. Oh que admiração desperta o faminto de amor!, sobretudo, se decidir morrer nas mãos da beleza.
São João da Cruz é um poeta místico. As duas palavras vivem em unidade inconsútil. Nele é inimaginável um sem o outro, por isso a sua linguagem é de beleza que bebe no amor e é de amor que é beleza.
Hoje é o seu dia. Um dia quase anónimo!
Oh! Se brilhassem estrelas no seu dia!

sábado, 8 de dezembro de 2012

3 adventos de São João da Cruz

O dia 14 de Dezembro é o dia de São João da Cruz, que é um Santo do Advento. O Advento trespassou-lhe a alma e preparou-o para a vinda e encontro com Deus; fez dele um poeta e pintou-lhe as palavras com a doçura do mel. Vale a pena percorrer os três mais significativos adventos da vida de São João da Cruz. Porque neles se revela a brandura de Deus para connosco.

Primeiro advento: Início da Ordem
Aos 21 anos João entra no noviciado buscando a contemplação, mas não lhe satisfaz o que vê. Pensa então em ir-se para a Cartuxa, mas, providencialmente, encontra-se primeiro com a Madre Teresa que o convence a refundar o Carmo. Serão apenas três frades e fundam em Duruelo (Ávila). Ele tem 26 anos e passará a chamar-se Frei João da Cruz. Vivem em grande austeridade; dedicam-se ao trabalho pastoral. A fraternidade e a moderação são dois outros pilares da sua vida de Carmelitas Descalços.
A fundação deu-se no primeiro Domingo de Advento de 1568, que ocorreu no dia 28 de Novembro. Ao iniciar aquela vida fizeram um pacto de silêncio: jamais falariam daqueles primeiros tempos! Santa Teresa não entrou no pacto e contou tudo nos capítulos 13 e 14 do livro das Fundações. O que então mais lhe chamou a atenção foram as cruzes que se viam por toda a casa! Uma casa tão pobre como o casebre de Belém: «que a mim não me pareceu melhor», reconheceu a Santa.
Ali começou algo novo no Advento. Talvez neste Advento deva começar algo novo em mim. Algo como a vida simples de João em Duruelo. Deus fixou-se na pequenez de Duruelo e dali saiu a nova Ordem do Carmo presente hoje em todos os continentes. João é pequeno, porém é grande aos olhos de Deus. E Deus enamorou-se de João da Cruz porque se enamora da grandeza dos simples e humildes!

Segundo advento: Prisão em Toledo
De 1572 a 1577 Frei João é confessor do Carmelo da Encarnação de Ávila. A nova família espiritual de João da Cruz crescera a olhos vistos e ele, entre outros, sofre pressões para sair e regressar à família anterior. Jamais o fará. Como não alcançam convencê-lo raptam-no e prendem-no no dia 2 de Dezembro de 1577. É Advento. João tem 35 anos. Levam-no em segredo e por caminhos secundários para Toledo, onde o sentenciam como rebelde e o encarceram numa latrina do convento! Ali se deixa ficar pacientemente durante nove meses. Foram meses de castigos frios e duros, de ameças e chantagens. Mas João não cede! Como aguentou? Aceitando livremente a punição, transformando as angústias, flagelos e sofrimentos em amor a Deus.
Aquele Advento traz-lhe a adversidade como um sinal e João vê nele a mão de Deus! Deus sabe por que o faz, penas frei João! E se o faz é porque convém ao pobre frade! Injustamente preso João aceita não como algo merecido, mas como um dom de Deus! Por isso sairá dali renascido, renovado. É todo ele como uma colmeia de abelhas: transforma polén em mel, tojos em doçura!
Sendo recluso apartam-no da liturgia comunitária e impedem-no de rezar Missa e de comungar. Por isso se dedicará a escrever a História da Salvação em poesia. Vive em noite espiritual, mas ainda assim nela se encontra com Deus! E a prisão não foi afastamento, mas encontro!

Terceiro advento: Morte en Úbeda
Em Junho de 1591 Frei João participa no Capítulo Provincial de Madrid. Chegou como um dos vice-presidentes da Ordem, sai marginalizado e sem cargo algum. Restam-lhe poucos meses de vida. Vivê-los-á acossado, perseguido e em absoluto abandono, sem popularidade nem poder algum.
A 10 de Agosto chega ao deserto de La Peñuela onde trabalha como lavrador. Um mês depois aparecem-lhe umas manchas e depois umas úlceras na perna direita. (Julga-se hoje que é um cancro ósseo.) Pede então para ser enviado para o Carmo de Úbeda. Porquê? Porque ali ninguém o conhece e sempre desejou morrer como soldado raso, em um lugar onde não fosse conhecido. Ao chegar o Prior entrega-lhe o pior quarto do convento, proíbe-lhe as visitas e lamenta os remédios e comidas especiais que tem de pagar para lhe restabelecer a saúde. O Santo Fundador tudo sofre com infinita paciência! O médico que lhe trazem vai-lhe cortando a retalho perna acima a carne apodrecida, vendo tanta serenidade, tanta paciência sem um gemido!, vê em Frei João da Cruz um Santo! E é assim que dele fala às pessoas das suas relações! E o Santo que sabe restarem-lhe poucos dias vive com esperança os acontecimentos que se avizinham.
Ao dizer-lhe o Prior que já lhe restam poucos dias de vida, logo exclama: «Que alegria quando me disseram: vamos para a Casa do Senhor!».
Muito respeitoso e carinhoso agradece sempre ao seu enfermeiro, e humilde pede ao Prior o hábito que é seu para com ele ser amortalhado, e que lhe tragam o Santíssimo para O ver com os olhos do corpo pela última vez. Nos últimos momentos preparam-se para lhe rezar a Encomendação da Alma, mas Frei João pede singelamente que lhe leiam na Bíblia o Cântico dos Cânticos.
Morre no Advento, na noite de 13 para 14 de Dezembro, quando soam os sinos para a Oração de Matinas. Os frades vão rezá-las ao coro da igreja, Frei João da Cruz ao céu.

Chama do Carmo I NS 166 I Dezembro 8 2012