O dia 14 de Dezembro é o dia de São João da Cruz, que é um Santo do Advento. O Advento trespassou-lhe a alma e preparou-o para a vinda e encontro com Deus; fez dele um poeta e pintou-lhe as palavras com a doçura do mel. Vale a pena percorrer os três mais significativos adventos da vida de São João da Cruz. Porque neles se revela a brandura de Deus para connosco.
Primeiro advento: Início da Ordem
Aos 21 anos João entra no noviciado buscando a contemplação, mas não lhe satisfaz o que vê. Pensa então em ir-se para a Cartuxa, mas, providencialmente, encontra-se primeiro com a Madre Teresa que o convence a refundar o Carmo. Serão apenas três frades e fundam em Duruelo (Ávila). Ele tem 26 anos e passará a chamar-se Frei João da Cruz. Vivem em grande austeridade; dedicam-se ao trabalho pastoral. A fraternidade e a moderação são dois outros pilares da sua vida de Carmelitas Descalços.
A fundação deu-se no primeiro Domingo de Advento de 1568, que ocorreu no dia 28 de Novembro. Ao iniciar aquela vida fizeram um pacto de silêncio: jamais falariam daqueles primeiros tempos! Santa Teresa não entrou no pacto e contou tudo nos capítulos 13 e 14 do livro das Fundações. O que então mais lhe chamou a atenção foram as cruzes que se viam por toda a casa! Uma casa tão pobre como o casebre de Belém: «que a mim não me pareceu melhor», reconheceu a Santa.
Ali começou algo novo no Advento. Talvez neste Advento deva começar algo novo em mim. Algo como a vida simples de João em Duruelo. Deus fixou-se na pequenez de Duruelo e dali saiu a nova Ordem do Carmo presente hoje em todos os continentes. João é pequeno, porém é grande aos olhos de Deus. E Deus enamorou-se de João da Cruz porque se enamora da grandeza dos simples e humildes!
Segundo advento: Prisão em Toledo
De 1572 a 1577 Frei João é confessor do Carmelo da Encarnação de Ávila. A nova família espiritual de João da Cruz crescera a olhos vistos e ele, entre outros, sofre pressões para sair e regressar à família anterior. Jamais o fará. Como não alcançam convencê-lo raptam-no e prendem-no no dia 2 de Dezembro de 1577. É Advento. João tem 35 anos. Levam-no em segredo e por caminhos secundários para Toledo, onde o sentenciam como rebelde e o encarceram numa latrina do convento! Ali se deixa ficar pacientemente durante nove meses. Foram meses de castigos frios e duros, de ameças e chantagens. Mas João não cede! Como aguentou? Aceitando livremente a punição, transformando as angústias, flagelos e sofrimentos em amor a Deus.
Aquele Advento traz-lhe a adversidade como um sinal e João vê nele a mão de Deus! Deus sabe por que o faz, penas frei João! E se o faz é porque convém ao pobre frade! Injustamente preso João aceita não como algo merecido, mas como um dom de Deus! Por isso sairá dali renascido, renovado. É todo ele como uma colmeia de abelhas: transforma polén em mel, tojos em doçura!
Sendo recluso apartam-no da liturgia comunitária e impedem-no de rezar Missa e de comungar. Por isso se dedicará a escrever a História da Salvação em poesia. Vive em noite espiritual, mas ainda assim nela se encontra com Deus! E a prisão não foi afastamento, mas encontro!
Terceiro advento: Morte en Úbeda
Em Junho de 1591 Frei João participa no Capítulo Provincial de Madrid. Chegou como um dos vice-presidentes da Ordem, sai marginalizado e sem cargo algum. Restam-lhe poucos meses de vida. Vivê-los-á acossado, perseguido e em absoluto abandono, sem popularidade nem poder algum.
A 10 de Agosto chega ao deserto de La Peñuela onde trabalha como lavrador. Um mês depois aparecem-lhe umas manchas e depois umas úlceras na perna direita. (Julga-se hoje que é um cancro ósseo.) Pede então para ser enviado para o Carmo de Úbeda. Porquê? Porque ali ninguém o conhece e sempre desejou morrer como soldado raso, em um lugar onde não fosse conhecido. Ao chegar o Prior entrega-lhe o pior quarto do convento, proíbe-lhe as visitas e lamenta os remédios e comidas especiais que tem de pagar para lhe restabelecer a saúde. O Santo Fundador tudo sofre com infinita paciência! O médico que lhe trazem vai-lhe cortando a retalho perna acima a carne apodrecida, vendo tanta serenidade, tanta paciência sem um gemido!, vê em Frei João da Cruz um Santo! E é assim que dele fala às pessoas das suas relações! E o Santo que sabe restarem-lhe poucos dias vive com esperança os acontecimentos que se avizinham.
Ao dizer-lhe o Prior que já lhe restam poucos dias de vida, logo exclama: «Que alegria quando me disseram: vamos para a Casa do Senhor!».
Muito respeitoso e carinhoso agradece sempre ao seu enfermeiro, e humilde pede ao Prior o hábito que é seu para com ele ser amortalhado, e que lhe tragam o Santíssimo para O ver com os olhos do corpo pela última vez. Nos últimos momentos preparam-se para lhe rezar a Encomendação da Alma, mas Frei João pede singelamente que lhe leiam na Bíblia o Cântico dos Cânticos.
Morre no Advento, na noite de 13 para 14 de Dezembro, quando soam os sinos para a Oração de Matinas. Os frades vão rezá-las ao coro da igreja, Frei João da Cruz ao céu.
Chama do Carmo I NS 166 I Dezembro 8 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário