O Senhor vai voltar, o Senhor está a chegar. Este poderia ser o refrão para uma canção fosse o escriba poeta. E a não podermos cantar tal canção, podemos, ao menos, preparar-nos para a chegada do Senhor que vem. Não sabemos a hora, mas Ele vem. Nem sabemos o dia, mas estamos em Advento e Ele vem. Vem sem mérito nem honra da nossa parte. Vem porque prometeu que viria e a Palavra não falha.
Por vezes caminhamos como em escura noite, assustados, ensonados e entorpecidos, enregelados de afectos, sobreaquecidos de paixões, assoberbados de decisões e pressas.
Não andamos aqui sem rumo nem metas. Vamos cumprindo a vida por etapas, sofrendo ou dormindo umas, voando, ligeiros, outras.
Juntas, as etapas, fazem a vida: jamais as metas intermédias nos deixam ficar parados por ali, porque nos apontam para o final onde lemos em larga pancarta: «Chegada!», quer dizer, Advento.
Eis-nos em espera: o Senhor vem chegando para nós. Estamos à espera, mas não de braços cruzados, isso sim, activos e bem activos, prontos e dispostos a sempre caminhar.
O Senhor está a chegar e a Igreja convida-nos a nos prepararmos para a chegada histórica de Jesus à manjedoira de Belém.
Vinde, Senhor Jesus!
O Senhor está a chegar e a Igreja convida-nos a auscultar a permanente presença (e chegada) de Jesus à gruta fria do nosso coração.
Vinde, Senhor Jesus!
O Senhor está a chegar e a Igreja convida-nos a esperar e a anunciar a alegria da vinda gloriosa do Senhor.
Vinde, Senhor Jesus!
Sim, vinde! Vinde, Senhor Jesus, e não tardeis! Não, não Vos demoreis, Senhor. E não me afogue eu nos bulícios do mundo.
Mais uma vez colocamos diante do nosso olhar e do altar a Coroa do Advento. Ela revela-nos que a vida não vem toda da mãe terra, mas também da saúde e dos bons ares do céu, que fará rebentar para nós «um rebento de justiça». Acendendo nela quatro velas, uma pós outra, nos iremos aproximando do Natal que nos revelará a presença infante e frágil de Jesus, num presépio posicionado numa esquecida toca de animais.
Ao alumiar das velas vemos Maria e José preparando e limpando o estábulo. Assim eles, assim nós todos os dias necessitaremos também de ir limpando o coração.
Ah! Tanta coisa para limpar! Tanta coisa...
O Advento traz-nos como que uma maresia que é misto de poder e de fragilidade, o poder de Deus que se mostra capaz de nascer menino! Eis a grande fragilidade de Deus: nascer menino! Na segunda vinda, porém, Ele virá glorioso e poderoso. Para salvar. Ele veio antes, na plenitude dos tempos, e associou-se à nossa carne. Na segunda vinda Ele vem para julgar, isto é, para salvar. Julgar-nos-á pelo que fizemos e pelo que deixamos de fazer. O seu julgamento será o reconhecimento dos nossos méritos e dos frutos da acção da sua graça em nós. A sua última vinda, será salvação.
Na sua primeira o Filho de Deus nasceu num dos lugares mais obscuros do mundo, um lugar esmagado sob a caliga do romanos. Ali nasceu débil e rejeitado, excluído do conforto dos palácios, desconhecido de reis e senhores.
Na última vinda Ele virá em todo esplendor do seu poder e glória. Não haverá faíscas nem estrelejarão os céus. Mas o seu poder que é a verdade se manifestará e os que andam na verdade o acolherão gozosos.
Entre a primeira e a última vindas o tempo passa, inevitavelmente vai passando. O intermédio, o tempo presente, é desafio para quem o vive. E o desafio é este: que fazer, entretanto? — Não podemos parar, não podemos ficar parados, não podemos descomprometer-nos, pois tal como o exercício fortalece o corpo, assim o ânimo da nossa alma precisa de ser trabalhado e reforçado na esperança.
O Advento é recordação de que somos chamados para o compromisso com o mundo. Sempre estamos convocados para a mudança que nos vai sendo incutida pelos sinais que da parte de Deus se nos fazem presentes.
Semana a semana, iremos, no Advento, acender mais uma vela. É o preanúncio da caminhada que vamos fazendo, passo a passo, até à gruta de Belém para ver o Menino que a Senhora tem.
Vamos, que Ele vem! Ele está a chegar!
Vinde, Senhor Jesus, e não tardeis!
Chama do Carmo I NS 165 I Dezembro 2 2012
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