Cinquenta anos são para qualquer pessoa muitos dias, muitos anos. Cinquenta anos de consagração a Deus parecem ser ainda mais. Foi isso mesmo que a nossa Comunidade do Carmo de Viana do Castelo celebrou à volta do Altar, no passado Sábado, dia 22. Presidiu à Eucaristia o Frei António da Virgem do Minho acompanhado pelo Frei Manuel do Divino Salvador, que igualmente celebrava as Bodas de Ouro de Carmelita Descalço.
Na sua homilia o Frei António leu-nos longas e sábias palavras do Bem-aventurado Papa João Paulo II sobre a vocação na Vida Religiosa. No fim da Eucaristia, o Frei Manuel deixou-nos o seu testemunho.
Antes, porém, recordemos que tudo que vive tem origem, e também a tem a vocação do nosso Frei Manuel. No Verão de 1954, talvez Julho talvez Agosto, o Pároco de São Salvador, Rev.do Pe David Martins Palhares leu na Missa uma Carta do Director do novel Seminário Missionário Carmelitano, de Viana do Castelo, assinada pelo P. Desidério de São José. E de facto o nosso Seminário abrira oficialmente em Janeiro desse ano. O Manuel Costa tinha já 13 anos. No coração bulia-lhe a vocação sacerdotal e até missionária, mas Braga ficava longe dos horizontes paternos. Por isso quando o pai António, com a mãe Maria ao lado, perguntou ao filho mais velho se não preferia ir poisar em terreiro mais próximo a Viana, ele obviamente respondeu que sim.
Os anos lectivos no Seminrio cumpriu-os dum salto. O ano de Noviciado perspectivava-se para Larrea, Pais basco, Espanha, mas nem isso o assustou. Foram oito rapazes e regressaram sete fradinhos prontos a emitir a primeira Profissão Religiosa no Domingo 22 de Outubro, Dia Mundial das Missões. E assim foi, depois de na manhã o Administrador Apostólico do Porto ter sagrado o Altar e o Santuário do Divino Menino Jesus de Praga, em Avessadas, Marco de Canaveses.
No Outono de 1962 regressaram a Espanha, prontos para o estudo das ciências divinas. Dali regressaram sete anos depois com muitos sonhos no coração. E o de partir para as missões não era o menor deles. De facto, pelo colégio filosófico e pelo teológico passavam quase mensalmente missionários ardentes vindos da Índia, da América Latina e de África. E porque não nós, perguntavam-se. Entretanto, o P. António Viguri, um ano mais velho, partiu também ele. Malawi foi o destino. E quando regressou trazia muitas histórias para acabar de encantar quem bem encantado já vivia. O Frei Manuel e o Frei Tiago eram os mais entusiastas. Embora não tivessem chegado a partir, ficou-lhes sempre, até mesmo no falecido P. Tiago Castro, a justa sensação do dever cumprido. Eram, enfim, missionários aqui, na bem próxima e quase paroquial ribeira Lima. Mas, isso sim, eram missionários carmelitas como urgiam as frequentes solicitações pastorais. E eram também restauradores da Província Portuguesa de Nossa Senhora do Carmo, urgência a que não se puderam negar.
Dos sete professaram três: António, Manuel e Tiago — que faleceu entretanto. Cinquenta anos depois foi para nós, Comunidade do Carmo de Viana, uma alegria dar graças pelos irmãos António e Manuel. Eis como o último descreve o seu jubileu:
Celebrar o meu aniversário jubileu de Bodas de Ouro nesta Igreja, nesta Comunidade do Carmo de Viana, é para mim um momento muito íntimo e muito especial. É um momento profundo do mistério de amor de Deus para comigo.
Sim, é um mistério! Só Ele sabe o porquê desta escolha e destes anos passados como se tivesse sido o dia de ontem.
Não, não é uma honra celebrar 50 anos de consagração nesta grande Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Não me sinto superior a qualquer cristão pelo facto de viver este estado de consagrado ao Senhor através dos votos de obediência, castidade e pobreza no Carmelo. Ser instrumento de amor para o anúncio da Boa Nova de Jesus, é antes um caminho de amor à Igreja, de dedicação e disponibilidade à vontade de Deus.
Celebrar as Bodas de Ouro é uma tarefa exigente, uma obrigação de assumir com mais humildade e dedicação o compromisso de viver o carisma carmelita neste tempo. É um impulso a seguir com mais verdade as pegadas dos nossos pais e fundadores: Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz.
Teresa impele-me a dedicar em qualquer lugar a minha vida cada vez mais à vida da Igreja: no esclarecimento das almas, na pastoral da penitência, na pedagogia da oração. Ela é a mestra que me inquieta para ser mais disponível e activo pela vida, na oração e na caridade.
São João da Cruz mostra-me bem o caminho que devo seguir no despojamento, desprendimento e na alegria verdadeiras na subida ao Monte Carmelo. Ensina-me a confiarem Cristo, pois só com a Sua graça poderei caminhar nesta doação.
Quero realçar, nestas breves palavras, como foi providencial na minha vocação a leitura dos escritos autobiográficos História duma Alma de Santa Teresinha do Menino Jesus , e de Isabel da Trindade.
Durante os anos de estudo da Filosofia descobri que as reflexões mensais no dia missionário criavam em mim vontade de sair a anunciar Jesus Cristo a outras terras, concretamente para a África portuguesa. Também os testemunhos vivenciais de ilustres e santos missionários carmelitas vindos da Índia e da América Latina, eram chamas vivas que cativavam em mim o ideal carmelitano-missionário.
Não posso esquecer o carinho, o apoio e o sacrifício dos meus pais António e Maria, que sempre estiveram do meu lado, animando-me. E também não esqueço a dedicação e o empenho dos meus formadores carmelitas. Nos longos anos de estudo em Espanha sempre fui ajudado nos períodos críticos pelos professores e companheiros.
Isso jamais esquecerei.
A Virgem do Carmo - A Mãe do Carmo, revestiu-me com o seu hábito castanho e com a sua capa branca, para ser todo dela. E nesse sentido penso que sempre me tem aconchegado ao seu coração para sentir o seu palpitar materno e assim viver em obséquio de seu Filho Jesus, como Irmão da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.
Termino com um grande louvor e agradecimento ao Senhor pelas maravilhas realizadas em mim.
O dia 22 de Outubro de 2011 foi para mim um momento muito especial. Foi para mim uma grande graça tê-lo vivido na Comunidade do Carmo de Viana do Castelo na presença do Padre Superior Frei João Costa, do Pe Carlos Gonçalves, do Pe Joaquim Maciel e do também comigo homenageado Pe António Caetano.
Foi um momento muito lindo vivido também com os meus irmãos de sangue, com outros familiares e amigos.
Na presença de todos procurei renovar com mais ardor a minha consagração, para estar disponível para servir a Ordem e a Igreja onde Ele quiser.
Pedi todos ao Senhor por mim.
Eu rezarei por vós.
Quem a Deus tem nada lhe falta!
Frei Manuel Dias Vieira da Costa do Divino Salvador
(O Frei Manuel fez a sua consagração como Carmelita Descalço no dia 22 de Outubro de 1961, no Santuário do Menino Jesus de Praga, dia da sua inauguração. Era o Dia Mundial das Missões.)
Chama do Carmo I NS 121 I Outubro 30 2011
Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 29 de outubro de 2011
Bodas de ouro de profissão religiosa do Frei Manuel Dias e do Frei António Gonçalves
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2 comentários:
Parabéns aos dois. Foi com muita alegria que participámos na Eucaristia das bodas de ouro e rezámos pelos dois. O Pe Caetano costumamos tê-lo connosco, já o Frei Dias foi bom tê-lo neste dia em Viana. Obrigada por tão bela partilha! Que a "chama de amor viva" que os chamou aos dois, chame mais jovens à Ordem do Carmo!
João
Quero dar os parabéns ao Padre Caetano e ao meu tio, Manuel Dias! Foi com muito orgulho, carinho e amizade que participei e rezei na Eucaristia dos 50 anos da sua profissão de fé. Desejo ao meu tio e ao padre Caetano muita saúde.Que Deus e Nossa senhora do Carmo os mantenha entre nós por muito tempo!
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