Queridos irmãos e irmãs carmelitas, é com profunda alegria e esperança que me dirijo a todos vós neste dia da Solenidade da nossa Mãe e Irmã, a Senhora do Carmo.
A alegria da mãe resulta da alegria e felicidade dos seus filhos. Como carmelitas, pedimos muitas vezes a Maria que «nos seja propícia, que nos conceda graças e privilégios», mas também a Virgem Mãe nos dirige muitas vezes os seus pedidos. Que me está a pedir nesta encruzilhada da história a Virgem Maria? Que Carmelita leigo, consagrado ou sacerdote espera que eu seja? Que alegrias tenho para dar à Virgem Maria, esposa de José? Como bom filho que quero ser, não fico indiferente às alegrias e tristezas de tão boa Mãe.
Alegramos Maria quando fizermos o que Jesus nos disser (Jo 2, 5). As alegrias de Maria são as mesmas do Seu Filho Jesus. A fidelidade no seguimento é fonte de alegria para todos os discípulos. E o Autor de toda esta obra, o guia do caminho, é o Espírito Santo que sempre foi o guia da Virgem Mãe e inspirador de todas as suas obras! D’Ela disse o nosso Pai S. João da Cruz: “Eram assim as [obras] da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, a qual, estando desde o princípio elevada neste alto estado, nunca teve gravada na sua alma forma alguma de criatura, nem se moveu por ela, mas foi sempre movida pelo Espírito Santo (S III, 2, 10).
O Espírito continua a sua acção. Os ventos deste momento histórico pedem-nos renovação e revitalização. Já não aguentamos, nem temos que aguentar, estruturas do passado porque já não respondem às necessidades dos nossos tempos. Para vinho novo, odres novos (Mc 2, 22). Nós que nos revestimos do manto da Virgem Mãe do Carmo, sob a forma de hábito ou escapulário, somos também revestidos do Espírito que a cobriu com a sua sombra. E é sob a acção do Espírito que podemos deixar a inércia, o nosso estilo morno de vida e nos aventurarmos nos caminhos da conversão radical e profunda; de contrário, impediremos o kairós que está constantemente a bater à nossa porta (Cf. Ap 3, 20). Sopremos a cinza para que a chama do Espírito que ainda fumega não se apague. Do pouco, Deus pode fazer muito, reacendendo esta chama do Espírito nos nossos corações. Todos nós, protegidos, acolhidos e amados por Maria, sentimos a chama da fé que ainda dá luz e calor, que não se apagou, mas está à espera de ser refrescada pela Palavra, pelo reencontro com Jesus na Eucaristia e na Reconciliação, pelo contacto com a Chama Viva de Amor que ardia no coração dos nossos fundadores, Teresa e João da Cruz. Não deixemos extinguir o Espírito! (1 Tes 5, 19)
Sob o olhar terno e materno de Maria, nossa Mãe, podemos identificar e interpretar com realismo e esperança os desafios do nosso tempo. Aponto três desafios e coloco-os em paralelo com alguns quadros da vida da Virgem Maria que nos poderão servir de guia e inspiração à sua resposta.
Em primeiro lugar, temos o desafio da simplicidade e humildade; para tal, contemplemos Maria, rezando o seu cântico de Magnificat. No seu cântico de louvor, a Virgem Maria, cheia do Espírito Santo, constata como o Senhor «derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes». Penso que os nossos tempos pedem-nos uma vida mais pobre e mais simples, mais próxima dos pobres, literalmente falando. O Papa Francisco não se cansa de nos convidar para as periferias. Ora, se nos deixamos invadir pelo Espírito, a nossa vida tornar-se-á pobre e próxima dos pobres, como a da Virgem Maria. A grande acção do Espírito é empobrecer para nos encher das riquezas de Deus. Estamos no grupo dos poderosos a derrubar ou dos humildes a exaltar? Esta profecia revolucionária de Maria é sinal de esperança para os desempregados, emigrados, injustiçados dos nossos tempos com os quais queremos percorrer os necessários êxodos para atingir a liberdade e dignidade de filhos. Só um coração derrubado do seu orgulho pelo Espírito, empobrecido por Ele, tornado pobre e humilde, se torna companheiro de viagem de todos os pobres e humildes deste mundo e dispensador para eles de todos os bens materiais e espirituais.
A seguir, o desafio da conversão à comunidade; para tal, contemplemos Maria reunida com os discípulos no Cenáculo, em oração (Act 1,14). Os nossos tempos pedem-nos que sejamos construtores de comunidades coesas e bem alicerçadas. Só o Espírito une e cria comunhão! Estes tempos de desnorte que absolutizam os egoísmos em detrimento do bem comum, exigem dos cristãos a conversão à comunidade, à proximidade e relação com os que nos são naturalmente mais próximos: a família, a fraternidade dos carmelitas seculares, a comunidades religiosas das irmãs e irmãos carmelitas. A todos nós se nos pede que acompanhemos estas comunidades de base e de referência. A nossa família carmelita é uma grande comunidade de comunidades, onde cada pessoa se sente apoiada e desafiada a crescer como crente e como carmelita. Acolhamo-nos sob a protecção de Maria, nossa Mãe e, como outrora no Cenáculo, imploremos incessantemente com Ela, a vinda às nossas comunidades, do Artífice da Comunhão. Para isso, Cristo e a Virgem Maria, Sua e nossa Mãe, sempre nos estão a convidar para a mesa da eucaristia a partir da qual se recebe o Espírito e se reconstrói e renova a comunidade. Aceitemos o seu convite.
Em terceiro lugar, o desafio da missão; neste sentido, contemplemos Maria que caminha apressadamente para as montanhas, sob o impulso do Espírito que n’Ela havia descido na Anunciação. Os nossos tempos convidam-nos à evangelização, que é sempre antiga e sempre nova, com propostas claras de vida espiritual, mediante o acolhimento, o testemunho e a proposta de formação de carmelitas e comunidades orantes; mediante o atendimento na reconciliação e no acompanhamento espiritual, nas ofertas de iniciativas de mistagogia e pedagogia da oração. A nova evangelização é a grande obra-prima do Espírito! Pede a criatividade e ardor que nascem da experiência de Deus que nos permite ir ao encontro das necessidades pastorais dos que estão perto, e já pertencem ao rebanho, mas também dos que estão longe geográfica ou espiritualmente. Neste tempos abraçamos de forma explícita a missão ad gentes com os projectos fundacionais em Angola e Timor Leste. Maria possuída pelo Espírito tornou-se enviada e missionária e por isso é nosso modelo. Ela correu apressadamente para as montanhas para ir ao encontro de Isabel para lhe levar a sua alegria e lhe prestar os seus serviços. Deixemo-nos tomar pela alegria e a pressa do Espírito, que não tem tempo a perder, pois o cristão e o carmelita são estruturalmente missionários, estão sempre a sair e a partir ao encontro dos que ainda não experimentaram a alegria do encontro com o Deus vivo.
Que ao celebrarmos a Solenidade de Maria, Alegria e Formosura do Carmelo, regressemos às fontes mais genuínas da nossa vocação e missão, para que movidos em tudo pelo Espírito, como Maria, nossa Mãe, sejamos úteis e significativos nesta Igreja e neste mundo.
Fátima, 16 de Julho de 2013
Pe Joaquim Teixeira, prov.
A alegria da mãe resulta da alegria e felicidade dos seus filhos. Como carmelitas, pedimos muitas vezes a Maria que «nos seja propícia, que nos conceda graças e privilégios», mas também a Virgem Mãe nos dirige muitas vezes os seus pedidos. Que me está a pedir nesta encruzilhada da história a Virgem Maria? Que Carmelita leigo, consagrado ou sacerdote espera que eu seja? Que alegrias tenho para dar à Virgem Maria, esposa de José? Como bom filho que quero ser, não fico indiferente às alegrias e tristezas de tão boa Mãe.
Alegramos Maria quando fizermos o que Jesus nos disser (Jo 2, 5). As alegrias de Maria são as mesmas do Seu Filho Jesus. A fidelidade no seguimento é fonte de alegria para todos os discípulos. E o Autor de toda esta obra, o guia do caminho, é o Espírito Santo que sempre foi o guia da Virgem Mãe e inspirador de todas as suas obras! D’Ela disse o nosso Pai S. João da Cruz: “Eram assim as [obras] da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, a qual, estando desde o princípio elevada neste alto estado, nunca teve gravada na sua alma forma alguma de criatura, nem se moveu por ela, mas foi sempre movida pelo Espírito Santo (S III, 2, 10).
O Espírito continua a sua acção. Os ventos deste momento histórico pedem-nos renovação e revitalização. Já não aguentamos, nem temos que aguentar, estruturas do passado porque já não respondem às necessidades dos nossos tempos. Para vinho novo, odres novos (Mc 2, 22). Nós que nos revestimos do manto da Virgem Mãe do Carmo, sob a forma de hábito ou escapulário, somos também revestidos do Espírito que a cobriu com a sua sombra. E é sob a acção do Espírito que podemos deixar a inércia, o nosso estilo morno de vida e nos aventurarmos nos caminhos da conversão radical e profunda; de contrário, impediremos o kairós que está constantemente a bater à nossa porta (Cf. Ap 3, 20). Sopremos a cinza para que a chama do Espírito que ainda fumega não se apague. Do pouco, Deus pode fazer muito, reacendendo esta chama do Espírito nos nossos corações. Todos nós, protegidos, acolhidos e amados por Maria, sentimos a chama da fé que ainda dá luz e calor, que não se apagou, mas está à espera de ser refrescada pela Palavra, pelo reencontro com Jesus na Eucaristia e na Reconciliação, pelo contacto com a Chama Viva de Amor que ardia no coração dos nossos fundadores, Teresa e João da Cruz. Não deixemos extinguir o Espírito! (1 Tes 5, 19)
Sob o olhar terno e materno de Maria, nossa Mãe, podemos identificar e interpretar com realismo e esperança os desafios do nosso tempo. Aponto três desafios e coloco-os em paralelo com alguns quadros da vida da Virgem Maria que nos poderão servir de guia e inspiração à sua resposta.
Em primeiro lugar, temos o desafio da simplicidade e humildade; para tal, contemplemos Maria, rezando o seu cântico de Magnificat. No seu cântico de louvor, a Virgem Maria, cheia do Espírito Santo, constata como o Senhor «derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes». Penso que os nossos tempos pedem-nos uma vida mais pobre e mais simples, mais próxima dos pobres, literalmente falando. O Papa Francisco não se cansa de nos convidar para as periferias. Ora, se nos deixamos invadir pelo Espírito, a nossa vida tornar-se-á pobre e próxima dos pobres, como a da Virgem Maria. A grande acção do Espírito é empobrecer para nos encher das riquezas de Deus. Estamos no grupo dos poderosos a derrubar ou dos humildes a exaltar? Esta profecia revolucionária de Maria é sinal de esperança para os desempregados, emigrados, injustiçados dos nossos tempos com os quais queremos percorrer os necessários êxodos para atingir a liberdade e dignidade de filhos. Só um coração derrubado do seu orgulho pelo Espírito, empobrecido por Ele, tornado pobre e humilde, se torna companheiro de viagem de todos os pobres e humildes deste mundo e dispensador para eles de todos os bens materiais e espirituais.
A seguir, o desafio da conversão à comunidade; para tal, contemplemos Maria reunida com os discípulos no Cenáculo, em oração (Act 1,14). Os nossos tempos pedem-nos que sejamos construtores de comunidades coesas e bem alicerçadas. Só o Espírito une e cria comunhão! Estes tempos de desnorte que absolutizam os egoísmos em detrimento do bem comum, exigem dos cristãos a conversão à comunidade, à proximidade e relação com os que nos são naturalmente mais próximos: a família, a fraternidade dos carmelitas seculares, a comunidades religiosas das irmãs e irmãos carmelitas. A todos nós se nos pede que acompanhemos estas comunidades de base e de referência. A nossa família carmelita é uma grande comunidade de comunidades, onde cada pessoa se sente apoiada e desafiada a crescer como crente e como carmelita. Acolhamo-nos sob a protecção de Maria, nossa Mãe e, como outrora no Cenáculo, imploremos incessantemente com Ela, a vinda às nossas comunidades, do Artífice da Comunhão. Para isso, Cristo e a Virgem Maria, Sua e nossa Mãe, sempre nos estão a convidar para a mesa da eucaristia a partir da qual se recebe o Espírito e se reconstrói e renova a comunidade. Aceitemos o seu convite.
Em terceiro lugar, o desafio da missão; neste sentido, contemplemos Maria que caminha apressadamente para as montanhas, sob o impulso do Espírito que n’Ela havia descido na Anunciação. Os nossos tempos convidam-nos à evangelização, que é sempre antiga e sempre nova, com propostas claras de vida espiritual, mediante o acolhimento, o testemunho e a proposta de formação de carmelitas e comunidades orantes; mediante o atendimento na reconciliação e no acompanhamento espiritual, nas ofertas de iniciativas de mistagogia e pedagogia da oração. A nova evangelização é a grande obra-prima do Espírito! Pede a criatividade e ardor que nascem da experiência de Deus que nos permite ir ao encontro das necessidades pastorais dos que estão perto, e já pertencem ao rebanho, mas também dos que estão longe geográfica ou espiritualmente. Neste tempos abraçamos de forma explícita a missão ad gentes com os projectos fundacionais em Angola e Timor Leste. Maria possuída pelo Espírito tornou-se enviada e missionária e por isso é nosso modelo. Ela correu apressadamente para as montanhas para ir ao encontro de Isabel para lhe levar a sua alegria e lhe prestar os seus serviços. Deixemo-nos tomar pela alegria e a pressa do Espírito, que não tem tempo a perder, pois o cristão e o carmelita são estruturalmente missionários, estão sempre a sair e a partir ao encontro dos que ainda não experimentaram a alegria do encontro com o Deus vivo.
Que ao celebrarmos a Solenidade de Maria, Alegria e Formosura do Carmelo, regressemos às fontes mais genuínas da nossa vocação e missão, para que movidos em tudo pelo Espírito, como Maria, nossa Mãe, sejamos úteis e significativos nesta Igreja e neste mundo.
Fátima, 16 de Julho de 2013
Pe Joaquim Teixeira, prov.
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