Há cem anos os rios cresceram demasiado no Congo. Há cem anos o pó esparso da terra humedeceu-se de vermelho. Generosamente. Há cem anos – não tão longe assim – morria um menino envolto no anonimato da sua pele escura, na comunhão de infortúnio da sua raça e na esperança dum povo que ia renascendo das águas.
Na repetição dum movimento da história nada original nem engrandecedor, um poderoso punhado de europeus ricos, superiores, brancos, ilustrados, esmagava em lagar alheio uma nação africana, pobre, inferior, negra, humilde, que, abrindo pouco a pouco, os olhos para a luz da fé em Cristo se foi entregando mansamente às mãos sanguinárias
de exploradores habitados por ideias enviesadas de progresso.
E o que parecia poder ser soterrado sob a capa do medo num tugúrio fétido foi constituído em luzeiro mais brilhante que o Sol, que ao não poder ser escondido denunciou a fonte do ódio e da injustiça e foi devolvido ao seu povo como gérmen de vida fecunda.
A vida de Isidoro Bakanja, menino mártir da fé em Cristo e do amor a Nossa Senhora do Carmo pela adesão ao seu Escapulário, poderia ter ficado diluída no rio do tempo.
Volvidos cem anos do seu martírio recordámo-lo no Carmo de Viana do Castelo,
porque a luz do seu testemunho se universalizou e inundou este sereno – talvez demasiado sereno! – cantinho da Europa.
(A história tem as suas ironias!)
A Exposição Isidoro Bakanja, negro puro e mártir
é uma maneira outra de escrever o seu testamento jamais escrito. Já não a sangue e bem longe ainda dos raios de glória com que mereceu ser coroado. Felizmente um jovem artista vianense emprestou a sua sensibilidade europeia (ou global?) para recerzir a pureza do testemunho do jovem negro. E por fim, remirando também eu, desde o meu cantinho, concluo que nenhum outro que não o Hugo Soares nos poderia propor a mesma justeza do olhar sobre o mártir. É concerteza para nós uma dádiva poder saborear tanta graça e maravilha.
Associa-se o sr. António Branco, da OPART, Gafanha da Nazaré. A sua presença engrandece-nos por que o sei conhecedor de martírios (e milagres) em África e Portugal. Fico-lhe igualmente grato pela sua sensibilidade generosamente semeada e partilhada, ele que, como o Hugo, nada me deve. E tanto lhes devo!
(Para que conste!)
Frei João Costa
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