Durante os últimos domingos centrámos a vivência da nossa fé na escuta do Sermão da Montanha.
O discurso de Jesus apelou à recusa em ajuizar sobre os demais; a amarmos os inimigos, ao perdão e a não pagarmos o mal com o mal.
Hoje escutamos um texto também ele fulcral: uma casa — a casa da Igreja! — constrói-se com a intenção de a manter segura, ou então mais vale fazer orelhas moucas e não ir ouvir Jesus.
(Em chegada a hora certa o ninho parece rebelar-se contra os que lá cresceram, isto é, mostra-se estreito e acanhado. Há, então, que fazer-se à vida, bater asas e erguer uma casa.)
Finalmente o Sermão da Montanha acabou. Vimos escutando-o desde há uma bom par de domingos. Escutámo-lo em quase desassossego, porque Jesus não fala para acomodar, mas para erguer e elevar. E isso custa o esforço que sempre custou.
Encerrado o Sermão, Jesus confronta-nos para nos dizer que, em boa verdade, falara para constructores e engenheiros de casas, ou melhor, da Casa – a Igreja.
Jesus fala, como que dizendo: também de ti depende a construção da Casa comum! E é que depende mesmo. Na sua construção nenhuma pedra está a mais, nenhuma força é escassa, nenhuma boa vontade pode ser esquecida, nenhuma areiazita é desprezível, nenhum cimento é dispensável.
A tua Casa depende de ti!
A tua Casa necessita de ti!
E não é bastante dizer «Senhor, Senhor!», ao compasso da mão que bate no peito.
É preciso que a Casa que recebemos se renove a cada geração, seja afagada e afeiçoada para os que vão entrando e nela querem crescer. A construção é constante e depende de cada um de nós, das forças das nossas mãos e do amor puro do nosso coração.
Sejamos mais concretos: Depois do discurso, Jesus usou uma técnica confrontativa típica da conclusão dos discursos dos mestres da sua cultura. Disse Jesus: «Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é como o insensato que edificou a sua casa sobre a areia.»
Jesus disse o que queria dizer. Perdoe-se-me, mas Jesus não gosta de falar para o boneco. Quando fala, fala para chegar aos corações. A sua palavra é Evangelho que confronta a vida, e tantas vezes desassossega quem se apoia nos rituais, se sacia com preceitos, se empanturra com prescrições. De que basta decorar o catecismo se a Palavra de Jesus não ilumina o esconso da nossa vida, nem abana as falsas seguranças em que nos instalamos?
Para Jesus ou se constrói ou se constrói. Afinal de contas construir mal não é construir! Dos que ouvem a Palavra todos contribuem para a construção da Casa. Sim, todos gostam de erguer algo belo e duradoiro. Porém, é fácil de ver que o contributo não é todo igual. Basta que chegue a tempestade para verificarmos que não é de igual maneira que construímos.
O domingo é o dia da escuta da Palavra.
Não podemos construir sem ouvir a força de Deus. E quando a ouvimos será que ouvimos? Na verdade, uns constroem sobre areia; outros sobre rocha firme. Porque há ouvir e ouvir!
Quem são os que constroem sobre areia? São os que ouvem a Palavra de Jesus e dizem eles mesmos muitas palavras e orações santas, mas não põem em prática o mandamento de Jesus. Deles diz Jesus aos seus discípulos que não são dignos de confiança. As casas que constroem caem facilmente e são levadas pela correnteza das águas.
E existem casas construídas sobre a rocha. São as que resistem aos ventos impetuosos e nem as chuvas torrenciais nem os nevoeiros traiçoeiros deterioram as fachadas ou os interiores. Essas são de gente prudente, que escuta a Palavra de Jesus e a põe em prática.
Quem escuta a Palavra de Jesus e a cumpre, esse está a construir sobre a firmeza de Jesus, o rochedo do nosso refúgio.
Escutar e cumprir.
Escutar parece que todos escutamos; e afinal de contas quem não conhece a Palavra de Jesus desde a catequese? Cumprir, é que nem todos cumprimos com as exigências do Evangelho.
Todos temos a nossa casa ainda inconclusa. Eu e a minha família, a Igreja, a minha nação e a minha comunidade carecemos ainda de cumprimento. Os verbos escutar Jesus e cumprir a sua palavra são o melhor cimento para a ajudar à construção.
Pergunte-se: Deus e o próximo têm o mesmo lugar no seu coração e na sua casa? É crente porque sim ou por convicção? Partilha os seus bens com critérios de solidariedade? Ou, prefere construir sobre as fragilidades da areia da busca do poder e do prestígio alcançado por compromissos pouco éticos?
Chama do Carmo I NS 100 I Março 6, 2011
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