segunda-feira, 18 de julho de 2011

Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo...

(O Frei Noé é o mais próximo na fotografia)


O site Carmelitas.pt propôs aos novos sacerdotes carmelitas o seguinte inquérito: 1. Que sentimentos experimentas ao aproximar-se o dia da tua ordenação presbiteral? 2. A quem gostarias mais de agradecer o percurso feito até este momento? 3. Que tens recebido da Ordem dos Carmelitas e da Igreja e esperas continuar a receber? 4. Que tens dado e estás disposto a dar? 5. Que santo ou faceta da vida e espiritualidade da Ordem Carmelita mais valorizas e porquê? 6. Que lema gostarias de adoptar para o teu ministério sacerdotal? 7. Quais os principais desafios dum sacerdote e carmelita nos dias de hoje? 8. O que é que te dá medo? 9. O que é que te dá segurança e esperança para ires em frente com passo firme e determinado? 10. Que mensagem queres deixar aos jovens da tua geração? Eis a resposta do Frei Noé:
Ao aproximar-me o dia da minha ordenação, sinto um grande nervosismo e o sentido da responsabilidade à espera do meu sim e da minha entrega total ao Senhor que me chama. Sei e tenho certeza de que Ele chama por mim pelo meu nome e espera pelo meu sim generoso.
Gostaria de agradecer, à Ordem dos Carmelitas Descalços e a todos aqueles que me abriram a porta e me deram a oportunidade de dizer Sim a Deus e continuar a procurá-l’O de maneira especial na vida consagrada no Carmelo Descalço. Agradeço o apoio e a oração de todos, em especial da minha família, dos meus pais, irmãos e sobrinhos que não se cansam de rezar dia e noite por mim.
Agora, ao fazer parte desta família religiosa, fundada por santa Teresa de Jesus, tenho consciência de que estou a fazer parte duma família que tem dado à Igreja um grande testemunho de vida e de oração. Nesta Ordem, cujo hábito é da Virgem do Carmo, muitos se santificaram e continuam a rezar e a oferecer a vida pela santificação dos outros. Todos queremos continuar a fazer o bem, sobretudo através da oração, tendo presentes as intenções da Igreja, do Santo Padre, de todas as vocações e de todo o povo santo de Deus.
Sinto uma grande responsabilidade para com o Senhor e todos aqueles que acreditam em mim e continuam a confiar no meu desejo de seguir o caminho do Mestre através do estímulo e experiencia dos grandes santos: Teresa de Jesus, João da Cruz, Teresa do Menino Jesus, Teresa Benedita da Cruz, Isabel da Trindade e muitos outros.
Tenho recebido muita coisa desta Ordem. A pedagogia da oração, o encontro com Aquele que ora e nos ensina a orar foi o grande tesouro que aqui encontrei. O método carmelitano da oração, a vivência fraterna e a partilha generosa e alegre são outros valores que aqui aprendi. S. João da Cruz recorda-me muitas vezes: “Há que se dirigir tudo para Cristo”, “Ponhamos os olhos só n’Ele”. De Santa Teresa gravei em mim estas palavras: “andar na verdade com humildade”, uma verdade enraizada em Cristo. Aqui tenho-me exercitado a escutar a voz de Cristo. Nas dificuldades que reencontrei sempre caminho, tive, e espero continuar a ter, mestres e irmãos que me acompanharam e ajudaram a seguir os passos de Cristo. Escutar e abrir o meu coração ao plano de Deus, determinar-me a caminhar com Ele e a servir a sua Igreja em pobreza, castidade e obediência é o meu grande desejo. Consagrar-me ao serviço dos outros levando-lhe o testemunho do Deus vivo.
A leitura e meditação das obras dos santos carmelitas tem sido uma ajuda constante na compreensão da minha caminhada como cristão e religioso carmelita, no conhecimento e seguimento de Jesus. S. João da Cruz é o mestre que mais admiro. Ele é o meu director como o foi de Santa Teresa, nossa mãe e fundadora. Dirigiu muitas almas para Deus e continua a orientar, hoje, por nosso intermédio, muitos homens e mulheres para Deus através dos seus escritos e doutrinas.
A minha escolha como lema do meu ministério é esta expressão de S. Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo…». Pedro, na dúvida, na queda, nas incertezas e em tudo o que imaginava e pensava sobre a vontade do Senhor, pediu para ir com ter com Ele, pediu para que ser fortalecido na fé. Assim também eu, identifico-me muito com o apóstolo.
Encaro os desafios dos dias de hoje com serenidade e exigência. O Senhor está connosco. A experiencia de Jesus, na oração, «estando muitas vezes a sós, com Aquele que sabemos que nos ama», como diz S. Teresa de Jesus, é o sustento da vida carmelita e sacerdotal. Por isso, peço ao Senhor que me fortaleça com a Sua graça para caminhar sempre de bem em melhor como seu sacerdote, seu escolhido. Que eu seja seu testemunho «até aos confins do mundo».
Tenho confiança na ajuda de todo o povo de Deus, que pela sua oração, sustém e apoia aqueles que o Senhor chama. Também confio nos irmãos que o Senhor pôs no meu caminho na vida religiosa de carmelita descalço, sem esquecer a presença incondicional da família que me deu a vida e ensinou a caminha em fé, os meus pais e irmãos.
Aos jovens de hoje queria deixar, mais do que um desafio, um convite a descobrir na vida a beleza do encontro com Cristo. Ele fala a partir dos irmãos, do próximo e a partir dos acontecimentos da vida de cada dia. Fiquem atentos à Sua voz. Talvez Ele tenha algo mais importante para convosco. Escutai atentamente a Sua voz que chama a ser seus instrumentos para que a sua Boa Nova chegue a todos os povos.
Frei Noé de Santa Teresa Benedita da Cruz

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