Tudo começou nas margens dum lago.
Tudo começou numa escolha: não fomos os discípulos que buscámos o Mestre, o Mestre é que elegeu os discípulos. Ontem e hoje. Diga-me: Se você escolhesse discípulos como os escolheria? Calados e submissos? Capazes e com provas dadas? Esbeltos e comunicadores? Apresentáveis e recomendáveis?
Fomos escolhidos. Eu e tu e nós fomos escolhidos. Cabe-nos dizer sim e ser agradecidos pela escolha e por tudo quanto Jesus nos inspira a fazer e a amar. Vamos para a aventura!
O Evangelho deste Domingo é muito parecido ao da semana passada: é vocacional. Trata do enamoramento por Jesus e da alvorada do seguimento dos primeiros discípulos. A Primeira Igreja começa a andar.A narração é de São Marcos, tido como o primeiro Evangelista, o mais próximo das fontes e de Jesus.
Consideremos algumas reflexões.
Deus comunica-se connosco. Deus é diálogo, é comunhão, é comunicação. Deus convoca-nos para o diálogo e fala-nos. E dá-nos tarefas para realizarmos que visam torná-Lo presente no meio da história.
Gosto de pensar que Deus desponta no comum dos dias, no quotidiano. Isto é, a comunicação de Deus é sem salamaleques ou peneiras e cheia de espontaneidade, longe de toda a programação. É óptimo que façamos retiros e poderosos momentos de caminhada e oração. Mas Deus é improgramável e não se deixa condicionar. Ele faz-se presente no dia a dia, nos mais singelos contextos de trabalho e de amizade. Porque não haveria Ele de falar--nos quando trabalhamos? Foi, aliás, quando os primeiros discípulos lançavam as redes ao mar — o seu trabalho de todos os dias — que Jesus passou por eles e os chamou.
A missão que lhes irá confiar será única, inaudita e marcará toda a história. A verdade porém, é que Jesus apenas chamou simples pescadores galileus para a cumprir!
É também interessante recordar que jamais Deus nos pede coisas estranhas ou impossíveis de realizar, ou trabalhos improváveis para os quais não estejamos preparados. Ao contrário, Deus fortalece-nos com as forças necessárias para que levemos a cabo a missão que nos confia. Porque, afinal, Ele quer contar connosco, com a nossa colaboração ainda que frágil e cheia de dúvidas, daquelas que tantas vezes nos levam a vacilar e a desconfiar das nossas poucas forças.
Sim, Deus intervém na história mas não prescinde da nossa vontade e liberdade, do nosso consentimento, dos nossos pés, do nosso coração, da nossa paixão.
Mas consideremos ainda outro pormenor: deveríamos pensar também que a vocação tem um carácter comunitário. Sim, curiosamente na narração da vocação dos primeiros discípulos — Simão e André, Tiago e João — podemos verificar que eles são chamados em grupo, aos pares, pois são irmãos. Deus não nos chama isoladamente, mas dirige-se também ao nosso contexto familiar, porque é em família, em comunidade e em Igreja que iremos depois actuar em seu nome.
Aliás, depois de iniciada a sua vida pública a primeira acção de Jesus foi a criação duma comunidade onde com eles pudesse viver o projecto do Reino de Deus!
Jesus não actuou só, não pregou só, não salvou sozinho e isoladamente. Não quer dizer que não o pudesse fazer, mas quis vincar o estilo de Deus. Deus tem estilo: um estilo comunitário, de família em diálogo. A aventura de Deus não é uma maratona solitária, mas um jogo partilhado, aberto, concertado. Assim é a nossa vocação: quando vamos a jogo vamos todos. Vamos como família, como irmãos, e actuamos de maneira comunitária e eclesial.
Nós somos o grupo de seguidores de Jesus. Ele chamou-nos e nós correspondemos. Queremos agora segui-Lo para O dar a conhecer. Não vamos sós mas com outros, que como nós escutaram o mesmo chamamento e connosco realizam a mesma tarefa de anúncio da boa notícia do Evangelho.
Foram estas as primeiras palavras de Jesus: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
E esta foi a sua primeira tarefa: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
Hoje o Senhor passa por nós. Olha-nos olhos nos olhos, porque o seu costume não é o de olhar ninguém por cima dos ombros: Quem quer seguir a aventura maravilhosa da Igreja?
Chama do Carmo | NS 133 | Janeiro 2102
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