e envolvente, a realidade do nosso Deus, que é um e são três pessoas. Isto é, é comunidade.
A festa que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde
por detrás de "um Deus em três pessoas"; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.À celebração por si só, isto é, sem remeter para o sagrado ou para o campo da nossa fé,
exige-se sempre uma dimensão comunitária.
A celebração individual não existe, porque para que exista celebração exige-se uma comum união de sentimentos, de palavras e de gestos.
Quando celebramos celebramos em comunidade. É em comunidade que recordamos algo comum, algo que a todos dá sentido, que todos
querem trazer para o presente e para o meio de nós. Por isso, quando nos sentimos
convocados e reunidos num lugar nós actualizamos a memória comum, e, porque somos cristãos actualizamos a vida e salvação do nosso Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Em cada domingo – dia em que ocorrem as nossas reuniões habituais, por que é o Dia do Senhor – nós tomamos a Palavra de Deus na mão e lêmo-la em voz alta para que desça ao nosso coração. É pela leitura da palavra sagrada e pela presença de sinais sacramentais que nós actualizamos o mistério celebrado – A presença de Deus.
E é assim que especialíssimamente celebramos neste Domingo o nosso Deus, Vida da nossa vida. Porque Deus é o nosso centro mais centro e mais profundo. Mais real e mais verdadeiro. Celebramos o centro. Celebramo-lo em festa e em júbilo, porque nos sentimos renovados e iluminados pela sua Palavra e pela sua Presença invisível. Fazemos festa, porque a sua Presença nos revigora e nos enche da certeza de participarmos da sua vida sanadora e salvadora.
Celebrar Deus é uma alegria!
Assim como a terra ressequida reclama por água e, sôfrega, estremece, exultante, ao contacto com as primeiras bátegas de chuva, assim nós! Assim nós, rebentamos de júbilo quando Deus nos banha, nos sacia, nos purifica, faz de nós comunhão de irmãos, nos senta à mesa comum como filhos e filhas.
Deus não é um ser terrífico, habitando numa torre longínqua e inacessível. Deus não vive fechado em si, nos seus pensamentos e elocubrações: Deus vive, Deus é Amor. Deus é só Amor. E como tal nós acreditamos que a maneira de Deus ser obriga-o a ser comunidade.
Deus é Amor e só Amor. Nada existe com sentido se o Amor estiver em falha. Onde existir Amor existe Deus, Deus-comunhão, Deus-partilha, Deus-comunidade.
Não é difícil reparar que Jesus jamais doutrinou sobre Deus. Porque para Jesus Deus não é nem teoria nem conceito, nem definição. Para Jesus e para nós, Deus é Amigo, o melhor amigo que podíamos ter. Um Amigo cheio de Amor, esse é o Deus de Jesus. Um Deus-relação e comunicação, incapaz de reservar-se, necessitado de manifestar-se tal qual é: Amor!
É por isso que a melhor maneira de perceber, compreender, acolher ou celebrar Deus é vivendo em comunidade!
Esse lar incandescente que é Deus, esse braseiro de amor, necessita comunicar-se e tornar-nos participantes da sua vida cheia de amor! E não pode fazê-lo a indivíduos como tal, mas a indivíduos reunidos em assembleia e capazes de comunicar o Amor. Esse é o nosso exercício: só verdadeiramente acolhemos o Amor se logo de seguida O comunicarmos na família, no trabalho, na rua.
Deus para ser Deus não precisa de nós, porque desde sempre é Deus, mesmo quando nós não existíamos! Mas – paradoxo! – só é Deus verdadeiro comunicando-se em comunidade de amor e sendo acolhido pela comunidade filial e crente, que, impelida, O comunica.
A comunidade divina – uma comunidade de três em igualdade e em calorosa confidência – urge uma comunidade a quem se comunicar, uma comunidade que difunda tão doce dom. A melhor e perfeita comunidade precisa da nossa resposta comunitária, porque o Amor atrai amor e difunde Amor. E não sabe fazer outra coisa!
Chama do Carmo I NS 152 I Junho 2 2012
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