Não sei agora que cristão desta hora mais recente sugeria que nós, cristãos, lêssemos a diário a Bíblia e o jornal. Não recordo agora quem fosse, mas recordo a inteireza do conselho.
Assim se alcança a sintonia com a vontade de Deus e o acerto com as dores, emergências e necessidades do mundo. Nem de uma nem das demais nos podemos alhear.
Recomeçamos neste domingo a celebração dos Domingos Comuns, Domingos em que
haveremos de disponibilizar-nos para escutar a Palavra de Deus que ilumina quem por Ela se deixa iluminar. Em cada Domingo brilha em nossas assembleias a única Palavra que dá sentido às nossas palavras. Sim, porque nós vivemos de Palavra e de palavras. Melhor, do equilíbrio entre a Palavra e as palavras.
Quando subimos à igreja para escutar a Palavra que dá sentido à vida, também subimos para dizer a Deus palavras em nosso nome e em nome do nosso mundo. Ali não falamos só nós, mas nós em nome de tantos. Ouvimos para nós, rezamos em nome de todos. Porque o outro — todos! — nunca foge do nosso horizonte de relação, de oração e bênção.
Como primeira leitura desde décimo Domingo do Tempo Comum vamos escutar um excerto do Livro do Génesis. Neste pequeno excerto declara-se-nos o momento seguinte à tentação da primeira humanidade. Ora sucede que naquele momento, depois da queda, o homem se sente receoso e nu diante do seu amigo, Deus. E porque não aguenta a presença de Deus o homem oculta-se do Seu olhar. É então que Deus lhe pergunta se teria comido da árvore proibida. Sim, Adam comera. Mas não comera sem mais. Ele tem para o Amigo uma desculpa plausível: Eva, sua mulher, é a culpada de ele ter comido.
Fala, então, Deus com a mulher Eva. Por que terá ela incitado o seu marido a romper a proibição?
Chegada a vez da mulher, Eva responde com a mesma resposta de Adam: Não se sente responsável por tal desobediência. Não. Ela não se vê a si mesma como culpada. A culpa é da serpente, e é para a horrenda serpe que estende o dedo acusador.
Está visto: a coisa vem mal desde a origem! Ninguém jamais tem culpa do mal, dos erros, das asneiras. Enfim, em questão de sinceridade todos chumbamos! Chegada a horinha de bater com a mão no peito e de reconhecer os erros, todos jogamos rijamente à defesa.
Não somos famosos na assumpção dos erros!
É mais fácil declinar responsabilidades que assumir erros. Não, não, todos se enganam. Todos, menos eu! Nós, cristãos de missa e comunhão diária, somos os bons (apetece dizer: os únicos bons!), os que aguentam o peso das coisas e da vida, as vítimas de tudo e de todos; os outros é que são os maus, os outros, os maus que nunca vão à Missa, é que nos seduzem e incitam, são eles quem atira a casca de banana e nos fazem cair, são eles quem nos impede de viver a plenitude de baptizados. Sim, lamentavelmente, são os outros e não nós, quem nos tira a alegria de viver!
Fora isto uma canção e só mudaria a música; a letra seria a de sempre: Os culpados são os outros! Os culpados são os outros! (Bis)
Na nossa cabeça, existe, por vezes, um reverso cordato: para alcançar que as coisas se recomponham bastaria que os outros – quase sempre as chefias! – assumissem as responsabilidades de mudança. Sucede pensar-se frequentemente que a mudança e a conversão sejam oportunas, mas sempre para os bispos e os padres e até o Papa! Tantas coisas têm os chefes que mudar! A minha conversão é que já não é tão urgente!
A responsabilidade, em boa verdade, não está só nos outros, sejam chefias ou não.
A responsabilidade das coisas é transversal, de cima a baixo. Todos somos responsáveis. Eu, tu e os demais podemos ajudar-nos, apoiar-nos, influenciar-nos positivamente ou passar a vida a dar caneladas e a pregar rasteiras. É certo. Mas jamais é certo que só os outros sejam os responsáveis de tudo o que é mau.
Portugal está mal! O mundo está mal! Tudo está mal! Ninguém se safa: talvez nem mesmo a Selecção! (Está visto que vai decepcionar!)
Admitamos que tudo está mal. Se for verdade, caberá uma pergunta: Que fiz eu para mudar as coisas? Qual é o meu contributo para a mudança da Igreja? E para a mudança social? Não. Não basta responder com a falta de tempo, o corte dos salários, os apertos da troika, a dureza da crise, a acumulação de trabalho. Não não basta dizer que a fé é exigente, e depois não fazer nada.
Chega! Basta! Eu não jogo nesse campeonato! Os outros não podem ser os únicos culpados de tudo o que é mau e nada do que é bom.
Tu que estás a ler isto, que fazes tu pela tua comunidade, pela tua Igreja?
Chama do Carmo I NS 153 I Junho 10 2012
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