Chegaram as chuvas e os nevoeiros, acabaram-se as romarias. A festa e o reencontro veranistas espevitaram uns e renovou-lhes a almas; outros, senão todos, lá fomos andando o caminho, entre o surpreendido e o assustado. Daqui e dali assaltam-nos notícias sobre tudo e sobre nada; o prometido é devido, mas o refrão só deve ter tido validade noutros tempos.
Por entre o fim das festas, o início das chuvas e a vertigem do abismo escuro em que o país mergulha, nós, Igreja, retomamos o caminho. A 11 de Outubro o papa Bento XVI abriu em Roma o Ano da Fé: nesse dia cumpriam-se os 50 anos do Concílio Vaticano II, do qual sou neto e não me recordo.
No Domingo, dia 14, iniciámo-lo a nível diocesano, no Campo da Agonia. No dia anterior, a 13, demos abertura ao Ano Pastoral da Comunidade. Singelamente.
Cada vez me agradam mais estes momentos em família. E se a conversa é participada, ainda mais. No fim partilhamos a Eucaristia de Compromisso. Fica aqui um resumo da homilia do Prior, para memória futura e sinalização do caminho por fazer ao longo do novo ano pastoral.
Irmãs e irmãos caríssimos:
Iniciámos o Ano Pastoral da nossa comunidade no contexto do Ano da Fé proclamado e já iniciado por Bento XVI. Neste início de caminhada comum partilho convosco três ideias:
I. Caminhemos como o Sábio da primeira leitura.
Ele orou e foi-lhe dada a sabedoria. Por isso exulta de alegria, pois Deus concedeu-lhe o que pedira. É certo: não pediu riquezas, não pediu saúde, nem glórias nem prosperidade. Ele só quis ser prudente, conhecer a justa medida das coisas, compreender o sentido da vida.
Como temos de aprender a pedir a Deus o que mais nos convém, o que é melhor para nós! Na verdade, costumamos pedir coisas que duram pouco, logo valem pouco. Como temos de aprender a pedir a sabedoria do Espírito Santo que nos ensinará a viver segundo Deus.
II. Caminhemos porque ainda nos «falta uma coisa».
No Evangelho encontramo-nos com o relato de um dos três fracassos de Jesus na sua vida de anúncio do Evangelho. Talvez precisássemos de conhecer este fracasso de Jesus que não seduziu
completamente aquele jovem bom. Sim, o Senhor também saboreou o fracasso; porque Ele propõe, não impõe. Propõe e deixa-nos livres para responder ao Seu convite de O seguir.
Aquele jovem aproximou-se correndo de Jesus. Vinha entusiasmado, completamente seduzido, toda a vida fora bom, jamais ferira um mandamento da Lei. Vinha disponível, mas o radicalismo da proposta de Jesus supunha uma exigência que quebrou nele todo o encanto. Vêmo-lo, por fim, de costas, afastando-se lentamente, pesaroso.
Irmãos, Irmãs: começamos um novo ano pastoral de dedicação a Jesus e à sua Igreja servido-O nesta pequenina comunidade do Carmo de Viana. Virão canseiras e cansaços, trabalhos e frustrações e até talvez a beleza dourada da seara. Não tenhamos medo de nos pormos ao serviço do Senhor. Não tenhamos medo nem sequer do fracasso. Como Jesus falemos Evangelho: tudo seja por Ele!
III. Caminhemos, mas não sozinhos.
Por último gostaria de propôr-vos um hino, que canta assim:
Quando caminhares através da tempestade
mantém a cabeça erguida
e não tenhas medo do escuro.
No fim da tempestade
existe um céu dourado
e o doce canto de uma cotovia.
Caminha através do vento,
caminha através da chuva.
Mesmo que os teus sonhos sejam esmagados...
Caminha! Caminha em frente!
Com esperança em teu coração:
Tu nunca caminharás sozinho!
Este não é um hino litúrgico, nem sequer do âmbito da Igreja. Vem do futebol; é o hino do Liverpool, da Liga Inglesa de futebol. ( E alguns poderão até nem concordar que eu o traga para a nossa assembleia...). Mas a verdade, Irmãs e Irmãos, é que nele gostaria que colhêssemos a atitude justa para a nossa vida de peregrinos da fé.
É inescapável este sentimento ou estímulo comunitário de nos propormos caminhar, de seguir em frente enfrentando as dificuldades, contra ventos e marés. Sim, partamos! E jamais deixemos alguém para trás ou com sentimento de abandono ou solidão. Caminhemos, todos, em frente. Mas jamais caminhemos – e se o fizermos não
caminharemos bem – deixando alguém só e para trás! O que hoje viemos aqui proclamar com o
compromisso de serviço à nossa Comunidade é isto mesmo: Vamos, juntos, caminhar! Caminhemos juntos, que ninguém caminhe jamais só!
Não posso menos recordar S. Teresa de Jesus – que celebraremos Segunda-feira. A quem se propunha para o grupo de Cristo ela desafiava a caminhar sem medo e com determinação determinada. A sua intercessão amiga não nos faltará; Jesus e sua Mãe, a Senhora do Carmo são por nós! Caminhemos, pois, sem medo!
Chama do Carmo I NS 159 I Setembro 21 2012
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