Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 15 de junho de 2013
Jesus e os pecadores
Amor e perdão. Sei de gente que em determinados assuntos preferia mudar de Papa. Não é que não lhes agrade este ou aquele Papa ou o Papa do momento, o que não lhes agrada mesmo é que o máximo Pontífice não coincida sempre com as suas opiniões. A seguir citamos o Papa Francisco, que a meu ver cita Santa Teresa que há 500 anos disse o mesmo. A ela ninguém a leu, ou então todos se esqueceram de a contestar. Disse o Papa no primeiro Domingo que falou como papa: «Deus não se cansa de perdoar, nós é que nos cansamos de pedir perdão»! E é verdade. E é, afinal, verdade, que isso é o Evangelho. É uma frase que vale um pontificado, uma divisa. Deus, pai bom, jamais desiste dum filho.
Uma cena e três personagens.
A cena é contraditória; tem tanto de serenidade como de tensão explosiva. Talvez por isso é bem impactante. Passa-se durante um jantar ameno em casa de um fariseu importante, entretanto interrompido por uma mulher, provavelmente prostituta. A cena é silenciosa porque a mulher entra em casa alheia sem pedir licença, com um frasco de perfume na mão; aproxima-se calada e calada se ajoelha aos pés de Jesus.
As personagens. Primeiro, Jesus, o doce Jesus. Doce no sentido de acolhedor e misericordioso. Foi convidado para um jantar de gala em casa do fariseu Simão. Está à mesa quando irrompe inesperadamente a mulher na sala, lhe beija e banha os pés com lágrimas, lhos enxuga com os seus cabelos e os perfuma profusamente. Simultâneamente Jesus lê os pensamentos do fariseu, que, calado, censura o Mestre; e se Jesus bem os leu também conhece e leu o coração da mulher sem jamais ter falado com ela. Apesar de toda a tensão Jesus não se retrai, condena ou amaldiçoa. E depois, ainda converteu. A ambos.
Segundo, a mulher. Chega silenciosa, decidida e convertida. Entra em território alheio, em casa dum puro ela que é impura. É tão forte a sua resolução que não lhe incomodam os olhares e as censuras sociais. Condenada por todos (Estariam no jantar alguns dos seus amantes?) ela chora aos pés do homem verdadeiro que finalmente a compreende e ama!
Terceiro, Simão. É um homem muito bem considerado no seu contexto social. Conhece bem os preceitos sociais, morais e religiosos em que não transige. Estuda a Lei com afinco diário, paga os impostos, reza com fervor. Poderá um homem assim ter defeitos? Sim, tem. Simão é devoto, mas é frio e não ama. Permite-se julgar porque se sente justo e do lado da Lei, e afinal o que quer é apenas manter as distâncias para não se contaminar.
É nesta cena ou contexto que se desenrola a acção, e são estas as personagens. Jesus, Deus e homem, é o cume da humanidade. É no coração de Jesus que se intersectam e acolhem as vidas daquela mulher pecadora e a daquele homem aparentemente perfeito. Ambos entram ali e saem mudados, convertidos. O interessante do Evangelho é que Jesus converte a ambos.
A mulher com sua delicadeza por Jesus ensina--nos que a medida do julgamento de Deus é o amor e o perdão. Ela que tanto se magoara a si mesma, afinal também amara. E Deus que é amor reconhece o amor mesmo quando ele é interesseiro, quando se apresenta frágil e em pedaços e até desesperado.
Deus é diferente de nós, reconhece ao longe o latir do amor e por isso é capaz de saltar todas as lógicas humanas, e olhando para dentro de nós vê toda a dor e toda a verdade; e perdoa de graça e sem condições.
Deus não ama só os de amor frágil, ama também os de amor gélido. E por isso traz também para a conversão o presunçoso Simão.
Calada e altivamente Simão censura Jesus por acolher a mulher pecadora. Jesus surpreende-lhe as censuras, e com delicadeza e sem raiva, propõe-lhe uma parábola como uma seta veloz dirigida ao dique do coração: a dos sois devedores; um deve pouco, outro muitíssimo. Os dois são perdoados: quem ficará mais feliz?
Não é um caso para pensar muito, apenas para pensar e julgar, julgar segundo o coração de Deus que sempre perdoa, o muito e o pouco. Simão responde o óbvio, por que chegara entretanto ao alcance do amor de Deus.
E é aqui que o fariseu Simão, zeloso dos preceitos e devoções, é também ele perdoado e convertido por que na sua honestidade Jesus encontrou também um grãozinho de amor.
Sim, a quem muito ama muito se perdoa; e o inverso também. É assim Jesus, que veio para os pecadores, não para os perfeitos. Que importam carradas de devoção sem amor? Que importam paletes de boas obras que possamos fazer se elas se suportam na desfaçatez da injustiça?
Na sala daquele jantar — nem no jantar Jesus se livra da presença dos pecadores! — estão pelo menos dois pecadores, sendo que um deles se considera e se defende pretensamente perfeito.
Jesus, mais atento ao amor que ao pecado, não liga a indelicadezas — E se alguém fora indelicado, esse foi Simão, o anfitrião! — mas ao amor. A atitude de Jesus é tão boa, e até surpreendentemente tão positiva, que está disposto a semear amor onde o não vir. É a sorte de Simão e de todos os Simões. A nossa. O próximo jantar com Jesus será concerteza outro!
Chama do Carmo I NS 193 I Junho 16 2013
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