Corpo de Deus. No declinar da sua vida, na Última Ceia, Jesus reunido à volta da mesa com os Apóstolos, disse (tomando um pão e abençoando-o): «Isto é o meu corpo»; (e tomando um cálice com vinho): «Isto é o meu Sangue». E acrescentou: «Fazei isto em memória de mim». No séc. XIII (1269) nasceu a Festa do Corpo de Deus como forma de exaltar a Presença eucarística de Jesus no meio de nós. A Igreja de Jesus sempre entendeu e celebrou a Eucaristia e de forma especial a da Festa do Corpo de Deus como um memorial do imenso benefício para os fiéis cristãos. Como poderemos nós compreender e agradecer tão grande dom que nos é dado na fragilidade visível do pão e vinho?
O dia tão solene e tão querido da Festa do Corpo de Deus é o dia natural para receber a Eucaristia. Pelo mundo fora são muitos os que, depois de iniciados, saboreiam neste dia, pela primeira vez, a Eucaristia – o Pão dos Anjos.
(Conto a seguir a conversa com um Pároco, de quem não dúvido nem uma palavra da boa prática pastoral e amor a Jesus:)
Não há dúvida que a Primeira Comunhão é uma festa, que é um dia muito especial para as crianças que recebem Jesus pela primeira vez. Até um cego vê que estão felizes e radiantes, que são lindas e que nos seus olhos brilham luzinhas que só brilham nos olhos das crianças. Claro que os nervos também estão presentes e que há neles a ilusão que só nas crianças se pode encontrar.
Mas existem muitas coisas que falham na Primeira Comunhão. Lamentavelmente. Não é daqui que se atiram pedras, que a atirar-se o mais certo seria que caírem também sobre nós. É óbvio que não podemos culpar as crianças. Mas já é certo que a forma como vivem este dia depende mais da maneira como o receberam dos adultos.
Os primeiros responsáveis da fé são os pais! Se os pais não vivem nem passam a fé, quem o poderá fazer? Chegados ao dia solene do Corpo de Deus todos os pais querem apresentar o filho para que cumpra mais uma etapa da vida: a Primeira Comunhão. Mas, permita-se-me: Poderão os pais sem fé apresentar os filhos para que comunguem a primeira vez? Podemos nós ser cristãos só de nome e não de prática e compromisso? Será a Primeira Comunhão só um acto social? Os pais que entraram no rio da fé e depois foram saindo para as margens gostarão certamente de regressar de tempos a tempos à frescura da fé, mas valerá a pena fazê-lo levando lá os filhos só para cumprir a tradição?
Nos tempos que correm cada vez se vai menos à Missa, sinal que a Missa não entra em nós nem nos envia em missão. Antigamente, e não há muito tempo, claro, ia-se todos os Domingos e Dias Santos (que eram muitos). Agora, com sorte, vai-se quatro vezes: No dia do Baptismo, da Primeira Comunhão, do Casamento... e no funeral, se nos levarem. Cada vez será mais assim. E é óbvio que se à Missa decidimos não ir, vamos para algum outro lugar que nos mandam!, logo valerá a pena empreender o esforço da tradição para levar as crianças à Primeira Comunhão?
Talvez seja uma atitude hipócrita e mal pensada. Talvez se devesse exigir mais colaboração dos pais na transmissão da fé, por que bem compreendemos que umas curtas sessões semanais da catequese para pouco dão. Não seria de pensar bem e actuar melhor, por forma a que os pais dêem catequese em casa aos filhos? Eu sei que existem tentativas e sobressaltos, que muitos pais não estão preparados, que iria custar um bocadinho. Mas o certo é que eles precisam de renovar a fé em que acreditam, precisam de renovar conteúdos, de deixar-se envolver, e, afinal, eles são os primeiros modelos dos filhos.
De quando em vez oiço desabafos: «Na minha Paróquia a catequese é um caos!»; «O meu filho não gosta da catequese.»; «A catequista do meu filho já foi a minha e de meu pai...». Pois é! Quem é que quer bater com a mão no peito e fazer uma análise crítica? Quem estará disposto a reconhecer que a catequese se faz com proximidade, acolhimento, coordenação, aceitação, oração e entrega? Quantos, para além do nome, sabem que o seu Pároco é um homem interessante, profundo, preocupado, alegre amigo de Jesus, seduzido por Ele e encantado de Lhe poder apresentar novos amigos? Não sabem, e como não sabem é mais difícil atrair para Jesus através dele e da sua catequese. Benditas sejam as catequistas velhinhas e cansadas! Honestamente não sei se a não existirem existiria catequese em muitas a paróquias! Mas, onde estão os pais que em casa falem de Jesus e seus mistérios aos filhos? Onde estão os que levem os filhos à catequese e celebrem com eles a fé em comunidade como reflexo do amor a Deus?
(E bastará bater com a mão no peito?)
Sempre que posso chamo os pais para dentro, recordando-me do que dizia São Paulo: «Como acreditarão se não tiverem ouvido? Como ouvirão se ninguém lhes falar?»
É hora de sermos valentes e de entregar o nosso tempo e o nosso ser para levar a todos a boa nova da salvação: desde os pequenos até aos pais. Há muito para fazer, apesar da proverbial falta de tempo que tanto gostamos de usar para justificar o descompromisso. Ou então a Primeira Comunhão será só a primeira ou quando muito a penúltima... ou mesmo, a última!
Chama do Carmo I NS 191 I Junho 2 2013
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