Jesus é a água viva como ouvimos na narrativa da Samaritana.
Jesus é a luz do mundo como ouvimos na do cego de nascença.
Jesus é a ressurreição e a vida, como ouvimos na ressurreição de Lázaro. Quem crê em Jesus é certo que morre, e certo é também que viverá, e todo aquele que vive e crê em Jesus não morrerá para sempre.
Jesus é amigo de Lázaro, de Marta e de Maria. E como amigo que é Jesus chorou a morte do amigo e a dor das amigas. E contam-se três contos breves que ajudam a nossa meditação deste domingo.
Como é difícil morrer!
Com os olhos em Jesus e em Lázaro, pergunto-me: Poder-se-á enfrentar a morte sem chorar, mesmo que seja a alheia?
Seguem três pequenos contos:
1. No fim da consulta o paciente surpreendeu o médico com esta pergunta:
– Doutor, tenho muito medo de morrer. Por favor, diga-me o que existe do outro lado!
O médico, de pé, respondeu que não sabia. E virando-se para o homem acrescentou:
– Então, o senhor é católico e não sabe o que existe do outro lado?
O médico tinha a mão no puxador da porta. Do outro lado ouviam-se ganidos a patadas de cachorro. Quando o médico finalmente abriu a porta um cachorro saltou cheio de alegria para o meio do consultório e lambeu as mãos do médico.
Então o médico falou novamente:
– Viu o meu cachorro? Nunca o deixo entrar no consultório. Mas ele sabia que eu estava aqui. A única coisa que ele sabia era que o dono estava aqui. E quando a porta se abriu ele entrou sem medo. Eu não sei o que está do outro lado da morte. Apenas sei uma coisa. Sei que o meu dono está do outro lado da porta. Desde lá Ele aguarda-
-me. Isso me basta.
2. Contam que pouco depois da Revolução Francesa uma alta personalidade, Reveillere Lépaux, protagonista do saque de tantas igrejas e da morte de tantos sacerdotes, pensou que havia chegado a hora de ocupar o lugar de Cristo e que lhe tocaria fundar uma nova religião baseada no progresso e na modernidade.
Conta-se que os meses passaram, mas que a ideia não progredia: enfim, R. Lépaux não tinha clientes. E por essa razão pediu audiência a Napoleão manifestando-lhe a sua decepção. Bonaparte respondeu-lhe:
– Cidadão, só existe uma solução se de verdade quereis competir com Jesus. Tereis de fazer o que Ele fez. Depois sereis crucificado num sexta-feira e tereis de ressuscitar no domingo seguinte!
3. Um homem foi visitar o seu pároco para lhe falar do funeral de seu pai. Disse ele ao sacerdote:
– O meu pai pediu que nos despedíssemos dele na igreja. Mas nós, os filhos, somos todos agnósticos. Pedia-lhe apenas um favor: poderá poupar-nos a todas as lamechices piedosas?
E começaram as exéquias.
O pároco leu como evangelho daquela missa o da ressurreição de Lázaro, por todos escutado com emoção. Ao terminar a missa o filho aproximou--se em lágrimas do sacerdote e disse-lhe:
– Obrigado.
Quão misteriosa é a morte! O evangelho de hoje introduz-nos no umbral do mistério e ajuda a abrirmo-nos a mistério tão vizinho e tão desconhecido de cada um de nós.
Estamos na recta final da viagem de Jesus para Jerusalém. Agora já sabemos a notícia: existe uma Água para além de todas as águas – a da Samaritana!
Existe um outro olhar para além de tantos e tantos do mundo – o do cego de nascença!
E, por fim: existe a Vida para além da vida!
Porém, sabemo-lo também a tragédia abateu-se sobre o lar de Betânia: Lázaro morreu! E as irmãs choram-no.
E Jesus chora com elas.
Há tragédia em nossas famílias. Qual é a família que tem tudo na boa? Porque, na verdade, ou há um pai ou um filho ou algum familiar doente. E ou há este ou aquele rasgão, ou então é um filho que se nega a acreditar e se afasta da Igreja.
E Jesus visita-nos e chora connosco.
Há tragédia no mundo: são muitos os desastres naturais, revoluções, guerras. Tantas são as injustiças e avarezas que intoxicam nossas vidas.
E Jesus chora pelo mundo.
Há tragédia em nossas vidas, porque para novos não vamos e tarde ou cedo seremos doentes terminais e acabaremos morrendo.
E Jesus já chora connosco e chora por nós.
Até a vida de Jesus foi tragédia. A crueza e a injustiça da sua morte na cruz abalam até os mais rijos fundamentos da terra.
E Jesus que chora abre-nos os olhos para o mistério da vida nova. Não nos poupa ao frio nem à dor das tragédias mas abre-nos para o (im)poder de Deus que se fez humano e pequenino como nós.
E Jesus chora porque ama.
Neste domingo Jesus chora, chora porque nos ama como amou o seu amigo Lázaro.
Chama do Carmo I NS 223 I Abril 6 2014
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