sexta-feira, 18 de abril de 2014

Via Sacra dos portugueses


1.ª Estação – A condenação à morte
A condenação do Senhor à morte faz-me lembrar o triste destino do fechar de uma empresa. Acabou o projecto de uma vida. Quantos investiram e deram o seu melhor, o que tinham e o que não tinham, na esperança de uma vida melhor para si e para os seus… A crise acabou com uma vida e um sonho lindo!...

2.ª Estação – A cruz é pesada
Nesta estação vem-me ao pensamento alguém que tem um filho que não vê, não fala, não anda. Quantas famílias se encontram nesta situação?! E os apoios capazes, por vezes escasseiam. Situação difícil para os pais e para a criança! Enfim! A verdadeira fraternidade tem aqui um bom campo de acção.

3.ª Estação – A primeira queda
Estou a lembrar-me da situação dos nossos estudantes licenciados, com duas e mais licenciaturas, que não encontram mão amiga que lhes faculte exercerem a actividade para a qual se prepararam e na qual tanto seus pais e avós investiram! Então, para não caírem, emigram…

4.ª Estação – Voltar para casa da mãe
A perspectiva de uma vida independente leva os casais a adquirir ou construir casa própria. Recorre-se ao banco, que apoia sem reservas. Veio o desemprego e não há outro remédio senão entregar a casa ao banco e voltar para casa do pai ou da mãe. Jesus, no meio do sofrimento, também voltou a encontrar-se com sua Mãe!... A quem pediu apoio e coragem para seguir em frente.

5.ª Estação – Dar de comer a quem tem fome
Tal como Simão de Cirene, vendo o Mestre sem forças para levar a cruz, se disponibilizou para o ajudar, também muitos voluntários seguem o seu exemplo, com entusiasmo e com gosto. Se não fossem as instituições humanitárias e sociais, a Igreja e iniciativas solidárias, o que seria de milhares e milhares de famílias sem nada com que sobreviver?! Há sempre um cireneu que aparece para ajudar. Ainda bem.

6.ª Estação – Dar apoio aos sem-abrigo
Tal como Verónica, enternecida, limpa o rosto de Jesus, cheio de sangue, pó e lágrimas, quantos, sobretudo os sem-abrigo, recorrem aos balneários públicos para lavar a cara! Quantos fazem isto, porque lhe cortaram a água por falta de pagamento.
Há que devolver a dignidade às pessoas porque a isso têm direito.

7.ª Estação – Apoio aos desempregados
Estranho que a nossa Administração Púbica (Governo) se preocupe mais em estudar e aprovar a Lei dos Despedimentos do que em dar apoio aos desempregados. Pelo contrário, devia pensar numa lei que apoie a admissão do trabalhador e a sus estabilidade no emprego. Perto de um milhão de desempregados é preocupante. E mais preocupante é quando a desgraça atinge o casal! Governantes e entidades patronais, pensem nisto!

8.ª Estação – a preocupação de uma mulher grávida e sem emprego
Mulheres de Jerusalém procuraram encontrar-se com Jesus e animá-lo. Nós, todos, conhecemos a cena: «Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós e pelos vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis e os ventres que não geraram»!... Que futuro espera uma mulher casada, grávida ou prestes a ser mãe? É que dificilmente arranja trabalho, e a Segurança Social vê-se e deseja-se para acudir a tudo e a todos. Haja moralidade. Zonas do país estão a ficar sem ninguém. Cuidado!

9.ª Estação – O encerramento de uma fábrica ou empresa preocupa muita gente
Assim como o Senhor caiu várias vezes, esta é a terceira, também há empresas que, devido a várias circunstâncias, caiem definitivamente. Ao fechar-se uma fábrica, uma das alternativas é a emigração. Encontrar-se uma vida melhor? Nem sempre acontece. A separação da família poderá trazer muitos inconvenientes…

10.ª Estação – Nesta estação, a Jesus até a roupa lhe tiraram!
Estou a lembrar-me, devido à crise e às dificuldades económicas, de quantas famílias são obrigadas a devolver a casa e o carro ao banco! Ficam sem nada… era a coisa mais precisa, além da vida! Triste sina!

11.ª Estação – Finalmente a crucifixão
Quantas pessoas não vão morrendo aos poucos pregadas numa cruz! Algumas, não suportando a tristeza e as agruras da vida, pela doença ou carências de vária ordem, abreviam a própria vida… O suicídio é uma praga que tem de ser banida da face da terra. A violência doméstica está via, mas não se recomenda.

12.ª Estação – Cristo morre entre o céu e a terra
Estou a lembrar-me, sobretudo, dos sem-abrigo, dos que dormem nas ruas das nossas cidades. Há crianças a implorar uma malga de sopa. Até gente formada, com filhos ao colo, sem casa, vem para a rua pedir apoio, quando não morre de fome!...

13.ª Estação – O Filho é colocado nos braços da sua mãe
Estou a lembrar-me de tantos que morrem, sem ter uma mãe que chore a sua morte. Ninguém para chorar, para sentir a sua falta, ninguém para se despedir, no derradeiro momento. É preciso que haja alguém que esteja ao lado dos que morrem sós.

14.ª Estação – A sepultura não é o fim
A seguir à morte, vem a Ressurreição. Assim prega a Igreja Católica. E bem. Depois de tanto sofrimento, a esperança é a última coisa a morrer. Resta saber se em Portugal, depois da via-sacra que muitos portugueses estão a percorrer, haverá ainda lugar para a ressurreição. Espero que sim.

Basílio de Oliveira

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