Divino Menino Jesus de Praga
Honramos os mistérios da vossa encarnação e acolhemos nesta celebração as graças da solenidade da vossa Teresa.
Menino, quem sois Vós, entrado e perdido nestes claustros? Onde está a vossa Mãe, Menina dos vossos olhos? Que cuidados Vos trouxeram aqui? Estes vossos fiéis foram convidados para a celebração do louvor e da acção de graças pela vossa obra redentora e por terdes associado a Vós a vossa Santa Mãe, a nossa Santa Madre e estes queridos irmãos mais novos no Carmelo, que se propõem professar perpetuamente. Queremos, ainda, dar início às celebrações do jubileu deste convento. Há 50 anos fostes desejado, escolhido e proclamado Rei e Senhor desta casa. Nestes poucos anos, esta casa deu muitas voltas à volta do vosso trono que permanece no mesmo lugar: tudo mudou e muitas vezes, só Vós não Vos mudastes, embora tenhamos tentado meter-Vos nas modas dos tempos breves. Dizem que essa vossa imagem grande fica mal ao clássico Menino Jesus. E essa coroa real a coroar cabelos e vestidos de realeza foi objecto de reparo por um príncipe da Igreja no tempo da sua administração apostólica. Também nesta casa, foi difícil a vossa santa infância. Mas valeu a pena a adoração dos pastores desta terra e dos magos estrangeiros, da profetisa Ana e do velho Simeão. Os ritos da circuncisão e da apresentação no templo também tiveram lugar nesta terra que Vos tem por cidadão de honra, a ponto de dedicar ao vosso Santuário a tortuosa avenida que a ele conduz. Estranhos caminhos dos homens por onde Vós peregrinais nas viagens de exílio e regresso do Egipto. Afinal, quem sois Vós, entrado e perdido nestes claustros? Trocais honras por favores e nessas mais valias nos mandais ocupar o tempo da noite e do dia. Que cuidados e trabalhos Vos ocupam nesta casa? Chamais os de longe e acolheis os de perto. Pagais uma hora ao preço de uma jornada e não fazeis acepção entre os que suportam os trabalhos do dia e os ociosos que esperam na praça até à última hora, a hora mais feliz do dia. Viestes à quinta da Moria para tomar posse das terras da Mariana, a filha única que, em tempos difíceis, edificou o mosteiro das carmelitas do Porto para a sua comunidade e ajudou os carmelitas com esta herança. Estranha forma de vida: a vossa e a dos vossos seguidores. Por isso tendes poucos trabalhadores da primeira à última hora, por isso tendes tão poucos amigos.
E vós, Madre Teresa, que tendes para nos dizer neste dia da vossa festa? Como bem sabeis, ao longo deste ano procurámos estudar o livro da vossa vida santa e aprendemos que a escola é a mesma do Mestre, do qual os judeus diziam: «Como é que Ele tem tanta instrução, sem ter estudado?». A resposta foi proclamada na leitura do Livro da Sabedoria: «Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. ... Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis. Regozijei-me com todos estes bens, porque me vieram com a Sabedoria, mas eu ignorava que ela fosse a sua mãe. Aprendi-a com lealdade, comunico-a sem inveja e não escondo a riqueza que a Sabedoria encerra, porque ela é para os homens um tesouro inesgotável, e os que a adquirem alcançam a amizade de Deus, recomendados pelos benefícios da sua doutrina». Ah, Santa Madre, quanta sabedoria nesse coração orante, onde nascem os rios da água viva do Espírito Santo. Na nossa ignorância, falamos de oração, mas não rezamos. Rezamos, mas não estamos com Aquele que nos ama. Reunimo-nos algumas vezes por dia para a oração, mas estamos poucas vezes a sós com Aquele que nos ama. Santa Madre, intercedei por nós para que as lições do livro da Vida, nos ajudem a saborear o Caminho da Perfeição. Esta graça seja concedida hoje com maior abundância a estes três jovens que deixaram as suas longínquas terras de Angola e de Timor para se dedicarem ao serviço da santidade e da unidade da Igreja, mediante a oração assídua do Carmelo e a penitência alegre dos votos religiosos. Teresa de Jesus, agora desposada para sempre com o Jesus de Teresa, abençoai e tornai fecundas as vidas destes jovens que hoje enxertais solenemente no Carmelo para que produzam abundantes frutos na missão da Ordem em Angola e em Timor. E quando chegar essa hora, eles sejam generosos em repartir pelos seus irmãos o que hoje recebem pela mediação desta comunidade.
Divino Menino Jesus, a história destes 50 anos de presença em Avessadas atesta a verdade dos vossos prodígios em Praga. As guerras da religião continuam ferozes e em cada baixa no exército de Elias a vossa imagem é profanada entre os escombros. Erguei-vos mutilado – morto e ressuscitado –, e tomai mãos e pés nestes corações que o Espírito Santo consagra em rios de água viva, destinados a regar terras queimadas pela guerra e a purificar cemitérios profanados. As cinco profissões solenes deste ano sejam conforto no desânimo que se abateu sobre nós e transformem o sentimento de abandono que os nossos pecados merecem em esperança vocacional dum futuro mais conforme a fé teresiana: «Nada te perturbe, / Nada te espante; / Tudo passa, / Só Deus não muda. //A paciência tudo alcança, / Quem a Deus tem, / Nada lhe falta, / Só Deus basta». As próximas ordenações sacerdotais confirmem a vossa palavra: «Quanto mais Me honrardes mais vos favorecerei». Seja este Santuário, que Vos é dedicado, uma escola da Teresa de Jesus, onde a oração seja a fonte de todos os bens, tesouro inesgotável e sabedoria divina. Seja esta celebração um encontro de cada um de nós convosco à volta da mesa da palavra que ilumina e do Corpo e Sangue que nos sustenta. Seja este gesto homilético um serviço à oração da Igreja, lugar privilegiado do vosso encontro de amizade connosco. Falai e convertei a Vós o nosso coração obstinado e mais atento às vozes dos homens do que à vossa palavra. A homilia hoje foi para Vós, Divino Menino Jesus de Teresa e Teresa de Jesus Nossa Santa Madre. E o que ficou por dizer a esta assembleia em oração fica depositado no vosso coração. Vós que viveis e reinais com Deus Pai, na unidade do Espírito Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amen.
(O prometido é devido. Esta foi a homilia do nosso Padre Provincial proferida na Eucaristia do dia 15, Solendiade de Santa Teresa de Jesus e Profissão Solene dos Irmão Daniel, Noé e Nuno.)
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