A festa pascal que celebramos neste domingo chama-se A Ascensão de Jesus. O núcleo desta festa é a celebração da subida de Jesus, da terra para o céu. Subida ou ascensão ao céu significa que Jesus se libertou das ataduras deste mundo, e que, com a sua morte e glorificação, possibilitou que o mundo e a humanidade se podem libertar da sua condição histórica, isto é, se podem verdadeiramente converter em filhos de Deus.
Se Jesus vai ou sobe para o Pai é para que nós vivamos como irmãos. Sim, mãos à obra! Esta não é a hora de ficarmos feitos mirones das coisas do céu, mas de nos comprometermos com as da terra.
Na hora da partida Ele deixou-nos o desafio: Ide até aos confins do mundo fazer discípulos meus.
A mensagem da Solenidade da Ascensão é muito forte. Porém, ao fazermos memória da subida de Jesus para junto do Pai podemos correr um risco: o de nos querermos agarrar à sua túnica e para voar daqui com Ele. Mas não é esse o projecto de Jesus a nosso respeito.
Aliás, Jesus e a Igreja nunca apreciaram os espantados, os ociosos contempladores de vôos espirituais.
É verdade que Jesus deixou de estar presente fisicamente na sua Igreja e que regressou para o Pai. Há no relato dessa verdade da nossa fé uma arriscada descrição realista, como se Jesus tivesse inaugurado os voos espaciais! Mas nada mais errado: o que não se encontrou foi maneira melhor de dizer essa realidade da fé.
Estou certo que Jesus – porque nos ama – nos levou em seu coração. E que nos aconchega e vela por nós na alegria do Pai em que vive; e o que Ele mais anseia é que a nossa alegria seja completa. Portanto, lá no céu, com Ele!
Mas também estou certo de que o nosso lugar é aqui, no carreiro da história. Não na berma, mas bem no centro, trilhando passo a passo, a compasso, cada metro do caminho da fé, vencendo cada obstáculo, ajudando os cansados, levantando os caídos e erguendo--nos nós mesmos.
Esta é a nossa hora. Esta já não é a hora de Jesus! Esta é a hora da acção da Igreja e do seu compromisso. Já não é suficiente delegar tudo em Jesus ou tudo esperar Dele. Já não podemos pedir que converta os pecadores, que os convença com a força da sua palavra e do seu exemplo. Como se fora causa exclusivamente sua.
Não. Este é o teu tempo.
É como se Jesus nos dissesse – e até nos diz, mas por outras palavras: chegou a tua vez! Viste como eu fiz, faz agora tu também.
Sim, agora é a hora do faz tu também. Não faças muito. Não convertas reinos inteiros, nem te proponhas a ensaiar saltos muito altos. Simplesmente sê de Cristo: cuida do pequenino jardim da tua família, entrega-te às pequenas tarefas da vida, converte-te a ti mesmo. Anima--te com a presença de Jesus em teu coração, pois Ele prometeu ficar connosco até ao fim dos tempos. É por issoque gosto do poema de Florentino U., que transcrevo a seguir:
Fazei discípulos meus, não mestres.
Fazei pessoas, não escravos.
Fazei caminhantes, não gente assentada.
Fazei servidores, não chefes.
Fazei irmãos!
Fazei crentes, não gente crendeira.
Fazei buscadores da verdade, e não amos de certezas.
Fazei criadores, não plagiadores.
Fazei cidadãos, não estrangeiros.
Fazei irmãos!
Fazei poetas, não pragmáticos.
Fazei gente sonhadora e com memória, não de títulos, arcas e mapas.
Fazei pessoas empreendedoras, não espectadores.
Fazei irmãos!
Fazei profetas, não cortesãos.
Fazei gente inquieta, não satisfeita.
Fazei pessoas livres, não legalistas.
Fazei gente evangélica, não agoureira.
Fazei irmãos!
Fazei semeadores, não colecionadores.
Fazei artistas, não soldados.
Fazei testemunhas, não inquisidores.
Fazei amigos pelo caminho, não inimigos.
Fazei irmãos!
Fazei pessoas de encontro,
com entranhas e ternura,
com promessas e esperanças,
com presença e paciência,
com missão e envio.
Fazei irmãos!
Fazei discípulos meus,
dai-lhes tudo o que Eu vos dei.
Aliviai as vossas costas e senti-vos irmãos!
Sem comentários:
Enviar um comentário