Julho é o mês de Nossa Senhora com o doce título do Carmo. Dezasseis é o seu dia, e este o seu domingo. O Monte Carmelo é louvado na Bíblia pela sua beleza e também por causa dela sempre foi tido e estimado como sagrado. Oitocentos anos antes de Cristo viveu ali Elias, que o procurou e nele se acoitou como o último refúgio de fidelidade ao Deus único e verdadeiro.
Nos dias de Elias o Carmelo foi lugar de encontros únicos entre o Senhor e o seu povo. Ainda hoje o Monte Carmelo guarda a memória do Profeta que ali viveu abrasado de zelo pelo Deus vivo e a da Virgem Maria que ali se revelou como Stella e Stilla Maris!
A memória do Profeta Elias distendeu-se pela suavidade dos declives e regatos do Monte Carmelo até à gesta das Cruzadas que por fim, cansados da vida e quem sabe do sem sentido do combate militar, se refugiaram nas covas daquele monte belo e sereno. Depostas as armas sanguinárias ali viveram muitos anos juntamente com outros tantos peregrinos que abandonaram as correrias da vida e a dureza do pó dos caminhos. Por fim, nos inícios do século XIII constituíram uma família religiosa: a Ordem de Maria, a quem o Patriarca Alberto de Jerusalém deu uma Regra, em 1209.
O Monte Carmelo é um monte emblemático da Palestina. Não passa duma pequena colina que se eleva como uma estrela sobre o Mar Mediterrâneo e se destaca da planície da Galileia nas proximidades de Nazaré, onde viveu Maria que «tudo conservava em seu coração». Por essa razão os irmãos da Ordem de Maria, a Senhora do Monte Carmelo, escolheram-na como Padroeira e Mãe dos contemplativos porque a sua vida de atenção a Jesus resumia o ideal da contemplação.
Crê-se, embora sem fundamento, que a proximidade entre o Carmelo e Nazaré possibilitou a vinda da Virgem que ali visitava os seguidores do Profeta; e também se diz que a Sagrada Família igualmente os distinguia com a sua visita para com eles permanecer em doces colóquios.
No séc. XVI, São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus regressaram à fonte, ao Monte Carmelo das nossas origens, e propuseram a caminhada até ao Carmelo como o sinal do caminho até Deus.
E nós, Carmelitas, precisamente no dia da Senhora do Carmo, e também no seu Domingo, pedimos que graças à intercessão da Virgem Maria, a Stella Maris e Stilla Maris, caminhemos até Cristo, o verdadeiro monte da salvação.
Na sequência do I Carmicoque do Carmo Jovem, realizado no passado dia 4 de Julho, rebaptizamos a Capela do Seminário deste Convento do Carmo de Viana do Castelo com o nome de [Capela] Stilla Maris. Alguns mirando o inusitado do nome creram que me enganara, e que deveria ter dito Stella Maris. Mas não, era mesmo Stilla.
Sim, à Virgem Maria, a Senhora do Carmo, chamamos-lhe nós, Carmelitas, com especial devoção, a Stella Maris.
Os primeiros eremitas do Monte Carmelo distiguiram-se pela sua profunda devoção a Nossa Senhora, e é deles a interpretação da pequenina nuvem que o criado de Elias viu subir do mar como um símbolo da Virgem Santa.
E tal como os antigos marinheiros liam as estrelas para adivinhar o rumo que haveriam de tomar no mar, assim Maria – a Stella ou Estrela do Mar – nos guia pelas águas difíceis do mundo até ao porto seguro que é Cristo. E quando a doçura do Carmelo foi amargurada pelas invasões dos sarracenos, tiveram então os Carmelitas de fugir dali em direcção à Europa donde eram provindos. Na última tarde, antes do último embarque, reunidos os últimos na pequenina Capelinha da Senhora do Carmelo, cantaram-lhe a Salve Regina, e, diz-se, ela lhes apareceu gloriosa prometendo-lhes que seria sempre a sua e nossa Estrela do Mar.
O nome de Stilla Maris é mais modesto mas não menos significativo. Provém do mesmo levezinho movimento daquela nuvenzinha branca do tamanho da palma duma mão humana que, depois de anos de seca, foi avistada desde o Monte Carmelo a elevar-se do mar. Era pequenina como uma stilla. Porém, era bastante para ser promessa de abundância de vida.
Aquela nuvenzinha avistada no horizonte depois de muita oração insistente é também ela símbolo da Virgem, que qual pequena gotinha se eleva do mar salgado da humanidade. Ela é mulher do seu povo e razão da nossa esperança: eleva-se cheia de graça do mar revolto em desgraças; pequenina como uma stilla de água do mar é contudo branca e pura como a água fresca. Só dela, pequenina e pura, poderia brotar o ámen iniciador da nossa Salvação. Por isso, nós vos louvamos e agradecemos, ó Stella-Estrela do mar! Nós vos louvamos e agradecemos, ó pequenina Stilla-Gotinha do mar!
Chama do Carmo I NS 119 I Julho 17 2011
1 comentário:
Muito bonito este texto.
A Stilla Maris é como um ninho, muito fofinho, onde os pequenos passarinhos se sentem aconchegados e ganham forças para voar!
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