terça-feira, 15 de maio de 2012

Pelos caminhos de S. Teresa e São João da Cruz - Testemunho 3

O desafio pareceu-me fascinante.
Estar perto dos túmulos de Santa Teresa e de São João da Cruz.
Percorrer espaços pisados pelos dois, em momentos muito significativos da História. Ver com olhos de ver, como habitualmente digo aos meus alunos! E por momentos imaginar o dia-a-dia de nossos pais naqueles lugares e naquele tempo.
Além de tudo isto, Segóvia já estava no meu coração há muitos anos, desde os meus primeiros passos na arqueologia. Tratava-se, agora, de olhar a cidade com outros olhos.
O desafio tornou-se mais aliciante quando constatei a possibilidade de levar a minha tribo comigo. Longe vão os tempos em que uma mochila às costas, uns trocos na carteira e o conhecimento preciso das horas dos comboios, me levavam por esse mundo, à procura de cacos e de escavações. Agora tenho uma tribo grande que sempre me acompanha e as decisões têm de ser tomadas a quatro. Reunida a família, ponderados os riscos, aventuramo-nos! Malas prontas, equipa motivada e os avisos da praxe! Sim, porque é preciso fazer muitos avisos antes de sair de portas: portem-se bem, façam o que vos disserem, não se afastem de nós, não incomodem as pessoas, comam tudo mesmo que não gostem!
Partimos a 27 de Abril pelas 14h do Convento do Carmo de Viana do Castelo, este lugar que é para nós os quatro a nossa segunda casa.
O primeiro dia levou-nos a La Alberca uma vez que na manhã seguinte iríamos ao convento de Carmelitas Descalços, o Deserto de Las Batuecas. Iríamos e fomos! Com chuva! No meio de uma paisagem deslumbrante, do verde mais verde, com cheiro a terra molhada e a passarada a dar-nos os bons dias. Ali rezamos juntos e constatamos a simplicidade mas também a grandeza do lugar. Que inspirado estava Deus quando se dedicou a criar este pedacinho de céu na terra!
A tarde conduziu-nos a Alba de Tormes e ao túmulo da Santa.
Havia qualquer coisa de mágico, de sublime naquele espaço. Cruzaram-se em mim as emoções de estar num local historicamente marcante, com um património significativo, e também, e sobretudo, o facto de estar ali, junto daquela que imagino ter sido uma mulher de armas, de garra, de génio, de firmeza de carácter, uma revolucionária, numa época em que as mulheres estavam confinadas aos espaços menos significantes da vida.
Eu estava ali! Com a minha tribo e com a minha família carmelita. Podia utilizar aqui as palavras mais rebuscadas ou as expressões mais complexas da gramática para descrever o que senti mas nenhuma delas vos daria a verdadeira imagem. Por isso, espero que um dia todos possam viver esta emoção.
Rezamos missa e foi maravilhoso ver as minhas meninas a acolitar ali e eu senti-me uma formiguinha muito pequenina perante o turbilhão que me assolava ao espírito!
Dali partimos rumo a Segóvia.
Pela noite escura, percorremos, ladeira acima, os recantos do convento do Carmo de Segóvia e vislumbramos a cidade junto da árvore plantada por São João da Cruz. E fiz questão de tocar nela! E as meninas também! E fechei os olhos e sonhei. Alguém relatava a história do lugar… Imaginei-a ao vivo e a cores, num espaço cheio de sol e de lírios e a azáfama de um dia algures no século XVI.
O Domingo ofereceu-nos a Eucaristia junto do túmulo de São João da Cruz. E muitas emoções e o coração muito apertadinho. E um turbilhão de sentimentos.
Vivemos uma peregrinação em comunidade onde a partilha e a amizade andaram de braço dado. Rezamos e rimos e também choramos juntos, unidos neste amor ao Carmo.
A minha tribo ganhou agora umas quantas avós e tios. Sim, porque as meninas a todos acarinharam como netas e sobrinhas. A minha família cresceu mais um bocadinho porque agora conhecemo-nos todos um pouquinho melhor.
E a todos o meu obrigado por nos acolherem desta forma.
Um abraço ao Padre António (ele sabe bem porquê!).
Um abraço ao Frei Silvino pelas suas explicações rigorosas sobre tudo o que visitamos.
E ao Frei João um grande abraço pelos desafios que me tem lançado, pela constante disponibilidade para a minha família, pela paciência e carinho que tem pelas minhas meninas, por ser o tio João.

Ana Margarida Caramez






1 comentário:

Anónimo disse...

Junto ao Deserto de São José em las Batuecas.
Passa um Rio,as suas Águas são cristalinas.
As pedras são cor de Prata.
Senhor,Purifica-nos,como essa Água Viva.