Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Como eu vos amei!
Continuamos em Páscoa. É este o domingo V da Páscoa. Celebrando a Páscoa celebramos o grande mistério da vida e do amor. Domingo a domingo — mais ainda na Páscoa! — é esse o imenso mistério que brilha e nos inunda de luz até à Ascensão. Nos dias que antecedem a sua ascenção para o Pai, Jesus instruiu os discípulos e pede-lhes insistentemente que se amem uns aos outros, que nos amemos uns aos outros como Ele nos ama. O Amor é Deus, amor é a sua verdade mais verdade, e é a base mais profunda e mais consistente do Cristianismo. A ausência de amor promoveu violências, acendeu guerras, multiplicou inseguranças. Poderemos continuar a caminhar pelo caminho do desamor? Esse caminho que só nos pode levar a perder?
Jesus diz-nos hoje que a nossa vida deve fincar-se no Amor. Deveríamos dar-lhe ouvidos.
Consta que o Guiness Book regista como o sermão mais longo da história um de 60 horas e 31 minutos, que foi pregado por um reverendo da Igreja Unitária.
Por sua vez, o mais pequeno demorou, por contraste, apenas alguns segundos. O sacerdote, depois de proclamar o Evangelho disse apenas uma palavra: Amor!
E sentou-se.
Estas linhas não tratam de bater recordes, sejam quais eles sejam, mas de reflectir sobre a cena do Evangelho deste domingo, na qual Jesus nos deixa o seu testamento e nos entrega o décimo primeiro mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!
Em todas as sociedades existem uniformes que ajudam a distinguir as corporações e a posição das pessoas: um homem vestido de branco e com um chapeuzinho branco na cabeça é o Papa. Se vestirem de seda vermelha cor de sangue são cardeais. Os que surgem com mitras no lugar das coroas são bispos. Os sacerdotes vestem de forma indiferenciada, salvo os que pertencem a grupos muito tradicionais e então vestem de negro. E por aí adiante.
Os fiéis católicos em geral distinguem-se dos outros cristãos pela obrigação de participar na Eucaristia dominical.
Infelizmente, a maioria das vezes, damos excessivo valor aos uniformes e ao exterior: para nós as aparências são mais importantes que a realidade, que a profundidade do ser. Nós acentuamos muito as normas e as regras. Vincar os mandamentos humanos é para nós um desporto favorito com muitos adeptos: faz-nos sentir poderosos e agrada-nos ter um certo peso que nos nasce do desejo da autoridade que pretendemos manifestar.
A verdade, porém, é que Jesus, o Bom Pastor, não nos atulhou com mandamentos esquesitos, nem andou a fiscalizar se as suas ovelhas conheciam os Mandamentos que Deus entregara a Moisés no Monte Sinai!
Não. Jesus não é como nós! Especialmente Ele não é com os tiranetes de trazer por casa: Jesus, o Bom Pastor, dá-nos hoje o seu mandamento mas não pretende ser obedecido, não pretende azucrinar-nos a vida do nosso dia a dia com leis. Ele dá-nos o seu mandamento para que ele nos sirva apenas de sinal! O seu mandamento é o nosso uniforme: através dele nós distinguimo-nos dos demais, e os demais sabem que somos discípulos de Jesus.
Podemos falar muito e argumentar melhor; podemos sublimar as palavras e proclamar sermões poderosos; podemos usar escapulários e luzir uniformes. Não passarão de disfarces se o Evangelho de Jesus não for por nós assumido, quando nos pede:
«Amai-vos como eu vos amei!»
Sinceramente, creio, o problema nem está no amor. Crentes e não crentes apreciam a bondade e o amor, e foram ao longo da história verdadeiros intérpretes de gestos inolvidáveis de amor! Quem não os conhece?... O problema é bem outro, reside no «como», «como eu»! Essa palavra pequenina é ela que nos assusta e nos faz fugir! A maioria contenta-se em amar, mas o desafio maior reside em fazê-lo como Jesus!
Amai-vos como eu vos amei! (E eu amei-vos até à cruz, até dar a vida!, parece querer recordar-nos Jesus!)
Resta-nos um exemplo luminoso, o da Madre Teresa de Calcutá: um dia encontrou um homem abandonado numa sarjeta; jazia inane e coberto de moscas que o iam devorando. A Madre parou, ajoelhou-se, começou a tirar--lhe o lixo que o cobria e a falar-lhe docemente. Alguém viu e comentou:
– «Madre, eu não faria isso nem por um milhão de dólares!»
E a Madre respondeu:
– «Nem eu o faria também!»
E citando o Evangelho deste domingo, disse:
– «Devemos crescer no amor; e para chegar a fazer isto teremos de amar e continuar a amar até que nos doa!».
Nestes tempos de indiferença não nos resta outra bandeira se não a de nos amarmos!
Chama do Carmo I NS 186 I Abril 28 2013
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