Este domingo é o Domingo da Ascenção do Senhor.
Com a Ascensão de Jesus fecha-se o ciclo do Mistério Pascal (Morte, Ressurreição, Ascensão). Jesus volta para a glória do Pai. E onde uns sentem distanciamento, afastamento e fuga, outros vêem mais proximidade, pois o Senhor Jesus encontra-se agora no mais íntimo de cada discípulo.
O nascimento de Jesus é a sua primeira humilhação. A sua morte é a suprema humilhação. Tendo subido para Jerusalém a fim de morrer dando a vida, é lógico que suba para a direita do Pai a fim de ser coroado após tantas humilhações.
Jesus volta ao Pai, a Igreja começa a caminhar de olhos na terra como no céu.
À Ascensão do Senhor corresponde ao início da caminhada da Igreja. Terminado o tempo de Jesus na terra começa o tempo da Igreja operar na história adjuvada pelo Espírito Santo «que vos recordará todas as coisas». E assim como Jesus foi luz dos povos, assim a Igreja agora é enviada para o seio de todos os povos para ser luz de todas as nações e anunciar a salvação até aos confins da terra.
Depois da Ascensão do Senhor os Apóstolos regressam a Jerusalém e ficaram em oração. Parece contraditório, pois tinham recebido a ordem ou envio do Senhor: Ide a todas as nações e baptizai; porém, faltava ainda receber a força do alto, o Espírito Santo que animara Jesus na sua missão. E assim como anteriormente rezava o Senhor antes de se pôr em anúncio e missão, assim também a Igreja ora agora antes de partir.
Jerusalém ficou para trás, a Roma dos imperadores também. A Igreja chegou à periferia do mundo. O fermento está já no meio da massa, falta que levede. Exige-se agora que brilhe em nós a luz da fraternidade, do amor e da justiça que provam pertencermos ao Senhor e ser Ele o verdadeiro Senhor da História e da Glória!
Ala, fora do ninho! Toca a caminhar!
Aqueles que em seus dias souberam caminhar com o Senhor Jesus hão-de agora saber caminhar animados pelo Espírito Santo. Aqueles que em seus dias souberam recolher o testemunho da doação absoluta de Jesus, hão-de agora servir os seus irmãos propondo ao mundo o projecto libertador de Jesus.
Ao concluir o seu Evangelho São Lucas regista as palavras de despedida de Jesus, e alude à alegria dos discípulos por que, afinal, não partem sozinhos a anunciar.
E assim, Aquele que inaugurou caminhos de paz e de fraternidade como até então ninguém tinha feito, inaugura agora um caminho novo entre a terra e o céu. Sim, Aquele que subiu o caminho do Calvário é o que sobe o caminho da Glória.
E assim Jesus, assim nós.
Nós reconhecemos o seu caminho e as suas pegadas e é esse reconhecimento que nos faz caminhar os caminhos do mundo e fará um dia empreender as vias do céu! Ele chamou-nos a segui-lo e nós segui-lo-emos!
Conta-se que a primeira igreja construída no Monte das Oliveiras tinha, em memória da Ascensão, uma abertura no tecto para que se visse o céu. Essa igreja já não existe, como também não pode existir em nós a tentação de só olhar o céu (à espera do regresso prometido de Jesus) ou só olharmos o pó dos caminhos como se em nós não florescesse continuamente um horizonte de esperança.
No Pai nosso rezamos: [Seja feita a vossa vontade] Assim na terra como no céu. Andem, pois, nossos olhos na terra como no céu. Ou seja, assim como os olhos andam postos nas preocupações do mundo, assim devam andar nas alegrias do céu. E poderemos dizer mais: andemos os caminhos da terra na esperança de trilhar os de Jesus, no céu. Andemos com os pés bem assentes na terra sem nos evadirmos deste mundo, mas comprometendo-nos com ele. (E mais agora que é tão duro viver nele: Não se diz já por aí que a próxima geração será a primeira a viver pior que a de seus pais?)
Mas como será sempre muito pouco o que por nós mesmos poderemos fazer sem olhar o céu, caminhemos também de olhos no céu, olhando o horizonte de plenitude a que Deus nos chama. Olhar o céu é contemplar a promessa de Deus, aquela plenitude onde Jesus já enxertou a nossa humanidade.
Mas nem só céu, nem só terra. Mas terra amassada com fermento de céu. É para isso que servem os olhos cristãos. Nós que aprendemos a caminhar com o Peregrino que passou fazendo o bem à terra, procuremos encher de esperança de céu os nossos olhos. Também um dia os caminhos da glória serão nossos: é essa cálida esperança que Jesus nos convida a verter sobre os problemas e as frias noites do mundo. Não aprendemos nós na infância a caminhar com Aquele que passou entre nós fazendo apenas o bem?
Chama do Carmo I NS 188 I Maio 12 2013
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