Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 14 de dezembro de 2013
Era, afinal, um homem pequenino!
João da Cruz. O Advento é Deus que vem e nós que vamos. Mas é sobretudo Deus que vem. Sem esquecer que nós temos de ir. Nós vamos, e cada um vai ao encontro do Senhor que vem. Não vamos sós. Vamos em comunidade, e vamos com os Santos que sempre nos animam a correr para Deus. E dentre os Santos alguns são muito especiais porque são figuras imperdíveis no caminho do Advento. Assim conto nada mais nada menos que cinco: Isaías o profeta, João o baptista, a Virgem Maria, São Nicolau (!) e São João da Cruz. Parecem-nos nomes estranhos e as suas vidas desconhecidas? Talvez, mas ninguém como eles para interpelar a nossa caminhada de Advento. Ora queira você descobrir brevemente como São João da Cruz nos pode ajudar.
João da Cruz nasceu ao lado de um tear que não chegou a parar quando nasceu. Quero crer fosse de linho branco. Os pais pobres, o tear pobre, o linho alvo e puro. É o místico mais puro e o poeta mais elevado da literatura ibérica. É o poeta mais santo e o santo mais poeta.
Nasceu no 24 de Junho de 1542, em Fontiveros (Ávila, Espanha). É de lá, mas os poetas e os místicos transcendem as fronteiras não importa o barro donde sejam feitos. É pois também de cá. E donde o lerem e amarem. A confiar nas medidas da igreja paroquial que ainda existe, Fontiveros foi lugar avantajado, próspero e afortunado. Porém, aqueles foram dias de pragas, de colheitas minguadas e de fome, de muita fome: daquela que mata. Da que mata muito. E muitos morreram: o pai Gonçalo e o irmão Luis morreram. Além do caçula Joãozinho sobreviveram à fome mas não ao duro vaivém da vida quási escrava a mãe Catarina e o irmão Francisco.
Como se imagina João passou a infância à volta de panelas vazias; e de brincadeiras, quando havia no corpo um pouco mais de ânimo. A juventude viveu-a vergada pelo trabalho. E pelo estudo. Sim, pelo estudo, que o rapaz parece que tinha uma luzinha a alumiá-lo!
Em 1551 o que restava da família emigrou para Medina del Campo, cidade comercial e de feiras ricas. Foi aí que iniciou a sua formação profissional e cultural frequentando o Colégio dos Doutrinos, uma espécie de IPSS para meninos órfãos e desprotegidos — quem pode agora dizer que das margens aonde encalham os restos famintos e desprezados das sociedades não podem surgir luzeiros que guiem 500 anos de história?
(Enquanto estudava trabalhava como moço de recados no Hospital das Bubas: o pior da cidade, tinha de ser! Parece sina...)
O braseiro do estudo, do trabalho e da oração forjaram João da Cruz, homem pequenino, grande de têmpera, gigante ao olho de Deus.
O desejo de que a sua vida honrasse a Virgem Nossa Senhora levou-o a escolher a Ordem do Carmo. E foi assim que no ano de 1563, aos vinte e um anos de idade, bateu à porta do Convento de Santa Ana de Medina del Campo. Ali vestiu o hábito carmelita e recebeu o nome de Frei João de São Matias. Professou no ano seguinte.
Seguiu-se a frequência da Universidade de Salamanca. É ali que o surpreende o ano de 1567, um ano especialíssimo na sua vida: em Julho, no fim do ano lectivo, mas não no fim do curso teológico que não chegará a concluir, recebeu a ordenação sacerdotal em Salamanca; no mês seguinte cantou a sua primeira Missa, em Medina del Campo, onde vivia a mãe e o irmão; e algures num dos dias de setembro ou outubro conheceu a Irmã Teresa de Jesus, cuja finura soube carreá lo para a sua obra fundacional.
Quase inadvertidamente sem nada bulir demasiado — que a brisa da tarde era mesmo muito suave! — encontraram-se no pequenino locutório do Carmelo dois dos maiores gigantes de todos os tempos. Ele não falou muito, ela muito não falou. E ficou assente que o início da acção seria rápida.
Depois de mais um ano na Universidade Frei João regressou em 1568 a Medina e coseram juntos os planos que há um ano haviam ficado alinhavados.
A sua vida que está por vir dava um filme, e na verdade já deu vários! Em Janeiro de 1576 foi feito prisioneiro, mas foi liberto quase por milagre de imediato. No dia 2 de Dezembro de 1577 o golpe foi mais certeiro e ele bateu com os costados na escassa prisão conventual do Carmo de Toledo. Prisoneiro sem culpa ali ficou nove meses até que fugiu ou o ódio dos frades carcereiros teria dado boa conta dele. Não sei se saltou muros ou se voou, pois era agora um outro homem! Fugiu fisicamente muito debilitado, mas incandescido espiritualmente porque o alumiava uma Luz mais certeira que a do meio-dia!
Por fim, em Julho de 1591 pagam-lhe toda a bondade e ternura de pai fecundíssimo com um desterro mal disfarçado: ia como missionário para o México! Não chegou a ir porque em Setembro caiu doente. Para se curar escolheu o mais obscuro convento da Ordem. E foi numa cama que passou os últimos meses de vida. Ali (sob)reviveu ignorado por quase todos, menos pelos pequeninos que sempre sabem reconhecer o valor das almas pequenas.
(Que, afinal, são espantosamente grandes!)
Morreu santamente na noite de 13 para 14 de Dezembro. Tinha uns abreviados 49 anos de idade — para o Céu, porém, estava maduro e era até das suas mais suaves margaridas. Viveu de Deus e em Deus, e não falou mais do que de Deus. Aconselhando a renunciar às distracções do mundo ensinava os seus discípulos a reconciliar- se com Deus e a não temer caminhar valorosamente sob seu olhar (de amor).
O caminho (que tantos santos fez) ainda hoje é válido! Siga por ele.
Chama do Carmo I NS 207 I Dezembro 15 2013
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