Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Vida Consagrada com história
Consagrados. Quando utilizamos a expressão Vida Religiosa ou Consagrada (VC) estamos a referir-nos a certos cristãos – homens e mulheres – que vivem uma forma especial de seguimento a Jesus Cristo. As características da sua vida são: (1) Vida em comunidade de irmãos ou irmãs; (2) Dedicação à oração; (3) Exercício da meditação da Palavra de Deus; (4) Participação na missão evangelizadora da Igreja, dedicando-se com especial atenção aos mais pequeninos – os preferidos de Jesus: pobres, enfermos, marginalizados... Os que abraçam esta vida não casam, vivem pobremente e obedecem a uma regra de vida expressa em constituições próprias do Instituto a que pertencem. Olhando ainda mais de perto: os homens e mulheres que aderem a este estilo de consagração atam a sua vida a Deus e a Cristo e aderem amorosamente ao Evangelho e ao Reino de Deus. Ao longo da geografia dos séculos as formas de consagração foram mudando. Apontamos doze passos.
O Cristianismo foi (e provavelmente ainda é) um dos elementos centrais da formação cultural e política da história universal. Somos uma religião curiosa: nascemos no Oriente (Palestina), como um grupo marginalizado pela religião e pela sociedade judaica, mas as artes e manhas do tempo fizeram-nos ganhar o espaço maior e adquirir maior força no mundo romano, cuja cultura politeísta nos era totalmente oposta. Em 200 anos passamos de religião minoritária e escorraçada a maioritária e poderosa!
A chamada VC não é um estilo de vida único, não é próprio do Ocidente, nem mesmo do Cristianismo. Civilizações anteriores já nos dão conta dessa existência fecunda, caso dos monges budistas na Ásia. E, por sua vez, os sufis do séc. IV, são entre os muçulmanos o que os monges entre os cristãos.
A VC da não é exclusiva da matriz cristã, não teve sempre o mesmo rosto, e o mais natural é que vá sofrendo mudanças e evoluções, upgrades!
(0) A primeira geração de cristãos acreditava pertencer a uma elite revolucionária, e essa ideia encorajava-os sempre que eram perseguidos e martirizados. Depois de um período de perseguição por parte do Império Romano, o Cristianismo entrou em mudança porque foi absorvido como religião do Império, em 313. A fusão entre a fé cristã e a cultura romana fez cair um véu sobre os cristãos, que já quase não se diferenciavam dos demais cidadãos!
(1) É neste contexto que alguns fiéis se exilam no deserto do Egipto, em busca de um maior rigor e fidelidade às origens da nossa fé. Este movimento foi encabeçado por S. Antão, morto em 373: é ele o autor do estilo de vida cristã chamado VC.
Seguir-se-ão, sempre que necessário, upgrades sempre de teor radical ao longo dos séculos.
(2) Por volta de 391, Agostinho, bispo de Hipona, fundou uma comunidade religiosa, a quem entregou uma Regra que orientava o grupo. Seis séculos depois a mesma Regra será re-activada com grande eficácia e esplendor.
(3) Pelo ano 430 São Patrício empreendeu a introdução do Cristianismo na Irlanda e fê-lo socorrendo-se da adaptação do estilo de vida dos monges do Oriente ao Ocidente, com duas adaptações: a itinerância e a missionariedade.
(4) No ano 500 São Bento revela-se como o fundador da VC do Ocidente e estabelece uma forma de vida que se manterá inalterada por sete séculos, centrada no trabalho e na oração. Os seus mosteiros sobressaíam como grandes centros de vida espiritual e lugares do divino.
(5) A elitização da vida dos mosteiros conduziu à origem de um novo estilo de VC – os frades mendicantes: Franciscanos, Dominicanos, Carmelitas..., que abandonando a segurança dos mosteiros se dirigem para as margens e periferias do poder, criticando todo o sistema económico instalado pelo paternalismo feudal e propondo a vida de fraterna igualdade.
(6) O séc. XVI, pela via das Descobertas, produz um giro no mundo Ocidental, redescobre-se, entretanto, a Antiguidade, brota o Humanismo e dá-se a reforma das grandes Ordens Religiosas: surgem, por exemplo, os Carmelitas Descalços.
(7) Como em outros momentos, o Espírito suscita um novo ciclo, na linha forte dos mendicantes, mas com maior sentido apostólico, sem obrigação do ofício coral, com uma estrutura interna forte que visa combater as heresias através de missões, pregações, ensino e cuidado dos desvalidos.
(8) No séc. XVII a VC quase desaparece no seio da cidade laicizada. Surgem, porém, Institutos voltados para dentro, que reúnem os sacerdotes diocesanos em vida comum, reforçam a formação dos seminários, as missões populares, ou então, de leigos, que se dedicam às escolas cristãs.
(9) No séc. XIX a VC renasce lentamente das cinzas ou sob novas formas. Em 1814, Pio VII restabelece os Jesuítas, reconhecendo-os como «hábeis remadores» da barca de Pedro quase soçobrando por causa das tempestades.
(10) Floresce também a VC na expressão do feminino.
(11) Na primeira metade do séc. XX surgem os leigos consagrados em Institutos Seculares, como forma de testemunhar a Cristo na cidade sem abandonar o mundo.
(12) Depois do Vaticano II a VC entra em sobressalto, aliás, como toda a Igreja. Depois de alguma tribulação a está tomando novo rosto rico de cores e cambiantes. Somos hoje, por isso, religiosos ao estilo tradicional; mas também fatalmente centrados na Páscoa de Cristo; e na atenção à justiça e solidariedade com as margens do lauto consumo do Primeiro Mundo.
Chama do Carmo I NS 214 I Fevereiro 2 2014
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