Depois da noite vem o dia, e quando chegou o dia primeiro da semana o Senhor ressuscitou.
Nesse mesmo dia e oito dias depois Ele apresentou-se aos seus amigos mais amigos, os discípulos, congregados em uma reunião presidida pelo medo, e mostrou-lhes os sinais gloriosos da Paixão. Ele era vencedor e por isso lhes aparecia para os confirmar na fé. Depois transmitiu-lhes o Seu Espírito e com Ele os dons pascais: a reconciliação e a paz.
É por essa razão que esse dia primeiro é desde sempre o Dia do Senhor.
O Evangelho deste domingo segundo da Páscoa é sumamente belo e cheio de frescor. Ele refresca sobretudo a memória que temos do dia maravilhoso de Páscoa – o dia da Ressurreição. Na verdade, já passaram oito dias da celebração da Páscoa do Senhor, que, porém, são como um só, porque, afinal, a matemática pascal é outra matemática! Mas com resultados sempre certos.
No tempo da Ressurreição, os oito dias primeiros são como um dia luminoso e contrastante com as trevas que envolveram e mataram Jesus. De facto, segundo São João, chegado o duro momento da morte que ninguém quer, Jesus disse: Chegou a hora! Era uma hora nocturna e cheia das nossas trevas, que Jesus bem sentiu.
A nós, cristãos, foi-nos dada a possibilidade de tocar a espessura dessa hora que durou mais que sessenta minutos, porque é uma hora que representa um drama – todo o drama da traição, condenação, paixão e morte de Jesus, o Inocente.
Foi uma hora muito negra! E sempre que em algum lugar houver traição, condenações injustas, ódios ou mentiras que firam a humanidade o negrume da hora continuará adensando-se.
Porém, este dia de dias foi também dia para cantarmos, rejubilarmos e louvarmos a inesperada luz da Ressurreição.
Afinal, depois de tanto desespero negro nos olhos e na alma, ninguém esperava tanta luz! Todos nós temos bem fresca a memória desse negrume, e bem presente a memória dessa frescura feita só de luz pascal que ora vivemos!
E convém que não percamos a memória de nada: nem da noite nem das trevas em que participámos e produzimos, nem da luz nem da alegria da vida nova a que nos abrimos e juntos comungámos.
Esta memória não nos atraiçoa, pois nós bem sabemos que depois da noite vem o dia.
E este dia é o nosso tempo.
Este é o tempo em que vai clareando a noite até ser completamente dia, o dia da Igreja em Deus. Este tempo é afinal a nossa pereginação na fé. Para nós não é ainda completamente dia, mas já não é só noite. Ainda suportamos algo do peso das trevas, pois ainda carregamos o peso dos nossos pecados e os pecados dos demais. E ainda muitos se riem de nós olhando-nos com indiferença e gozo. E isso pesa-nos. Mas goze quem goze, nós já vimos e vivemos a luz da Ressurreição e no meio de nós temos o Corpo de Cristo! Nós escutamos a Palavra de Jesus e consagramos o Pão e assim fazemos juntos memória do dom de Jesus aos seus amigos até ao fim dos tempos. Sim, até ao fim há-de brilhar a nova luz, sem titubeios nem esmorecimentos.
E esta mesma Igreja pecadora é também a Igreja santa. Nela abunda o escuro do pecado e superabunda a luz da graça. O Sangue derramado pelos nossos pecados corre generoso nos sacramentos do Baptismo e da Reconciliação. E inunda a Igreja de luz.
Podem rir-se de nós, ameaçar-nos ou virar-nos as costas, porém o que agora nós estamos a assistir é a um belo e resplendente amanhecer.
Vamos assistindo desde já ao nascer do dia da Ressurreição, mas somos penumbra e não ainda inteiramente luz. Porém, este dia já não tem ocaso, porque Jesus não poderá morrer segunda morte! Nem já nenhuma traição poderá atraiçoá-lO novamente, nem jamais O esmagará mentira alguma.
Este dia que vai nascendo com a Ressurreição do Senhor somos nós, nós mesmos, nós os constituídos em aurora duma nova humanidade! Este dia jamais acabará e a noite terá o seu fim. Tudo o que é humano: as culturas e as línguas, os pensamentos e os afectos, as artes e as religiões, todas as coisas chegarão um dia à clara luz que não se extingue. Entretanto, despedimo-nos do primeiro dia da luz, que termina com o término da Oitava da Páscoa – o Dia de Páscoa. Mas não nos despedimos nem da luz nem da Páscoa. Seguiremos celebrando a Páscoa por mais quarenta dias, até à festa do Pentecostes!
Mas nem depois do Pentecostes acaba a Páscoa, porque a Páscoa não termina nunca! Em cada Eucaristia o Pão Vivo é Cristo Vivo e renovado para nós, é para nós maravilha pascal sem fim. Em cada baptizado e em cada crismado continua a realizar-se Páscoa e identificação com Cristo pascal e glorioso!
A Páscoa não acaba nunca!
Bendito seja Deus que nos convida a celebrar a Páscoa e nos renova sempre o mistério pascal.
Bendito seja Deus que a todos nós nos promete o Espírito Santo.
A Ele toda a honra e louvor.
Amen.
Chama do Carmo I NS 145 I Abril 15 2012
1 comentário:
obrigada! obrigada.
e na espessura destes dias, que são a vida de cada um de nós, este Domingo In Albis é a recordação e a confirmação da Paz que Ele nos ensina e deixa.
jana Vitis Florigera
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