sábado, 7 de dezembro de 2013

Sabe qual é o seu nome?


Cheia de Graça. Maria de Nazaré, judia, mulher piedosa de Israel. Mulher jovem, quase menina e quase mulher, nada solene. Mulher simples, mulher cheia de graça feminina e plena de vocação para a maternidade. Menina cheia de graça que vivia a vida de todas as meninas e moças de sua terra: cuidando das coisas da casa e do jardim, trabalhando na terra em volta do lar, centrada na piedade das coisas de Deus, amiga dos salmos, membro sem cartão do grupo dos pobres de Javé, resto fiel de Israel, que esperava ansiosamente a chegada do Messias. Mulher crente frequentadora da sinagoga que jamais se dispensava de meditar nas palavras dos profetas e nas promessas de Deus. Inspirava-se em Abraão, aquele que creu. Maria, menina-moça prometida em casamento a José, o justo.
O Anjo surpreendeu-a talvez mais imersa nos seus cuidados que cuidando de fazer as orações certas. Trabalhar é uma oração: abrir as janelas da casa para o frescura da manhã é sinal do abrir-se da alma para a novidade de Deus.
Claro que o Anjo podia entrar, pois até as janelas da alma estavam delicadamente entreabertas, jamais descuidadas, mas atentas e vigilantes. Ainda assim a saudação do Anjo Gabriel surpreendeu Maria. Quem era ela senão uma humilde habitante de Nazaré, cidade sem valor das montanhas da Galileia? Mulher sem mais pretensões que a de ser fiel a Deus; uma virgem já prometida em casamento a José, mas sem viver conjugalmente com ele, conforme as tradições de seu povo? Afinal, que méritos tinha para ser uma agraciada, plena da graça divina?
A jovenzinha Maria estava longe de compreender os segredos da vida e menos ainda o projecto de Deus a seu respeito. (E porque haveria Deus de ter projectos a seu respeito, ela que era tão pouca coisa, coisa tão pouca como um grão de areia na imensidão de uma praia?) A sua pequenez de mulher simples do interior não lhe permitia pensar grandes coisas a respeito de si mesma. Sim, era pequenina e toda de Deus. E foi isso que encandilou a Deus: havia alguém, uma menina em Nazaré, só sim, só Dele, tão atenta a tudo que se encontrava plenamente dedicada a Deus! Por isso que Deus a escolheu para ser mãe do Filho, o Messias. Por que vivia livre de toda forma de orgulho e de toda a autosuficiência, Maria podia abrir o seu coração para receber a graça de Deus que haveria de torná-la templo do Espírito Santo.
No projecto de salvação da humanidade Deus queria contar com alguma pessoa disposta a tornar-se a Escrava do Senhor. Escrava no sentido de Cheia de Graça, aquela que permitiu que a vontade divina acontecesse plenamente em sua vida, sem objecções — e foi para Maria que se voltaram os olhos de Deus! (Mas, atenção: alguém a quem é pedida permissão não é alguém despojado de vontade e de liberdade; é apenas alguém disponível para Deus!)
Tudo quanto o Anjo comunicou a Maria era grande demais para o seu entendimento e superava a sua capacidade de o pôr em prática. Portanto, tal projecto só é possível mediante uma perspectiva nova: Maria seria Mãe e Escrava, Virgem e Obediente com a ajuda do Espírito Santo. Essa foi a força que o Anjo lhe prometeu da parte de Deus, a única que lhe permitiria levar a bom termo a missão divina que lhe fora comunicada: Ser Mãe de Deus!
Celebramos neste domingo a festa da Imaculada, a festa de Maria que a si se chamou como a Escrava do Senhor. Dizer de si mesma ser a Escrava do Senhor é dizer que é Ele o Criador e Senhor e ela a criatura; Ele grande, ela pequenina; Ele a fonte, ela a gotinha de orvalho!
Eu gosto e creio que todos gostamos de imaginar que sim, que Deus encontrou ao menos uma pessoa inteiramente Dele, sem reservas. É certo que Deus a preparou fiel desde o princípio dos séculos e é certo também que chegada a plenitude do tempo Ele lhe pediu consentimento: uma pessoa assim é virgem, por que é toda de Deus. A Virgem tem um nome belo: Cheia de Graça!
A trajectória que Deus imaginou foi esta: criar, eleger uma criatura, pedir-lhe o consentimento. Agradeço este respeito delicado de Deus. Tenho para mim que se o tivesse feito de outra maneira também estaria bem, desde que respeitasse a liberdade da criatura.
Dizem que temos todos três nomes. Acredito.
O primeiro é o que os pais escolheram para nós. Podem ter ido buscá-lo aos avoengos da família, aos heróis da fé, do desporto ou da nação. Enfim, é o que escolheram e não tem mais que se diga.
O segundo é aquele que nos chamam tendo em conta o que fazemos: padre, médico, tanoeiro, polícia, rei. Chamam e chamam certo quando dizem: — Olha, ali vai o presidente da junta!
O terceiro é o que Deus nos põe e diz respeito à relação que estabelecemos com Ele. Diz Deus no Livro do Apocalipse: «Dar-lhe-ei uma pedrazinha branca com um nome novo gravado nela; um nome que só o conhece em o recebe» (2,14).
A nossa vida deveria orientar-se para descobrir o nome que Deus nos chama já antes de nascermos. À virgem os pais chamaram-lhe Maria, nome pouco original ao tempo. Os seus vizinhos souberam-na esposa de José e Mãe de Jesus. Deus chamou-a de Cheia de Graça!
E você sabe qual é o seu nome? Alguma vez se perguntou qual é o nome pelo qual Deus o(a) conhece ainda antes de você ter nascido?

Chama do Carmo I NS 206 I Dezembro 8 2013

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