A Comissão de Preparação do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus já arregaçou as mangas e começou a produzir. Ofereceu recentement um Guia de leitura do Livro da Vida, para nos ajudar a ler pessoal e comunitariamente. Hoje e durante os próximos dias oferecemos esta boa ferramenta com votos de bom proveito a todos os que se (re)animarem à sua leitura. O texto que editamos foi parcialmente adaptado do oficial, com vistas a melhorar as possibilidades de leitura.
Guia de Leitura Livro da Vida de S. Teresa de Jesus
Introdução
Propomos que nos coloquemos diante do Livro da Vida diferentemente de quem tenciona ler um livro por curiosidade ou obrigação. Tomemos consciência de que nos encontramos diante de um bom livro, que nos interpela, que conta coisas que de algum modo sentimos como nossas: o que se relata no Livro da Vida, de alguma maneira está dentro de nós, acontece connosco. O Livro da Vida pode ser lido de maneira participativa, porque a Santa Madre propõe-nos a sua história pessoal como um caminho de experiência para nós. O modo como ela se deixou conduzir é uma orientação adequada para a aventura interior que nos leva ao encontro com Deus. Ela di-lo explicitamente quando afirma que ao escrever é sua intenção “estimular as almas com um tão grande bem.” (V 18:8) Esta confissão espontânea dá-nos a chave de leitura que deve guiar a abordagem ao Livro da Vida e a todos os escritos teresianos. Santa Teresa é mediadora de uma Presença activa, a presença de Deus; tem a eficácia de propiciar o encontro pessoal, não só com ela, mas também com o seu interlocutor divino. Aliás, sempre que Teresa fala de Deus fala diante dEle, coram Dei, de maneira a que Ele apareça e Se manifeste por Si mesmo. Propomos, pois, uma leitura, receptiva e vibrante, como a que costumava fazer o seu primeiro editor, Fr. Luís de León: “Sempre que os leio os escritos teresianos volto a admirar-me e, em muitas passagens, parece-me que não é génio humano o que oiço; e não duvido que o Espírito Santo falava nela em muitos lugares, e que lhe guiava a pena e a mão, pois assim o manifesta a luz que põe nas coisas obscuras e o fogo que acende com suas palavras no coração de quem as lê.” Esta convicção multiplica-se nos seus filhos e filhas: como Carmelitas, somos chamados de um modo particular a encontrar a nossa verdade, a Verdade, nas páginas deste livro vivo.Muitos dos nossos irmãos e irmãs confirmam explicitamente esta experiência ao contar-nos a sua vocação ou conversão. como fruto do encontro com Teresa e com Jesus, caminho, verdade e vida, através da leitura das suas obras, particularmente do Livro da Vida: casos de Francisco de Santa Maria Pulgar e Tomás de Jesus, no séc. XVI, até Teresa Benedita da Cruz, no séc. XX.Assim no-lo recordam também as nossas Constituições: “A origem da nossa família no Carmelo e o sentido mais profundo da nossa vocação estão estreitamente ligados à vida espiritual e ao carisma de Santa Teresa, e sobretudo às graças místicas, sob cujo influxo ela concebeu o propósito de renovar a Ordem.” Além disso, se queremos fazer uma leitura verdadeiramente proveitosa, não esqueçamos o que nos dizia o Propósito Geral, P. Xavier Cannistrà, no prefácio do documento “Para Vós nasci”, do 90º Capítulo Geral: “Assim que abrimos as obras de Santa Teresa deparamo-nos com o extraordinário prólogo do Livro da Vida, no qual ela adverte o leitor para que não esqueça o lado obscuro da sua pessoa, do qual não lhe é permitido falar, porque apenas lhe foi dada licença para escrever sobre o seu modo de orar e sobre as graças recebidas. É uma declaração que nos põe imediatamente fora do convencional estilo hagiográfico e nos reconduz à autenticidade de uma vida cristã em contínuo estado de conversão. Se Teresa escreve isto é precisamente para que ninguém se sinta excluído da possibilidade de percorrer o seu caminho e de receber graças semelhantes às que ela experimentou. Mas, se entre nós e Teresa se ergue uma barreira feita de estereótipos, mais conformes aos cânones de uma certa hagiografia ou de uma certa teologia espiritual do que à história real de Teresa, a escuta das suas palavras não poderá converter-se para nós em manancial de saudável renovação, e ameaça converter-se num piedoso exercício, do qual poderão resultar, na melhor das hipóteses, considerações de teor moralista ou espiritualista”.
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