Guia de leitura do Livro da Vida de Santa Teresa de Jesus
1. Um livro vivo
Este livro vivo é a primeira obra da Santa e carece de título autêntico. Foram os bibliotecários de El Escorial que escreveram o que chegou até nós na primeira página. De todas as suas obras, o Livro da Vida é o escrito mais extensa e nele Teresa se define como escritora. Trata-se, além disso, de um escrito profundo, arrebatador, uma autêntica revelação da sua alma, a ponto de ela mesma o chamar assim: “A minha alma” (na Carta a Doña Luísa de la Cerda, 23 de Junho de 1568).
Santa Teresa fez neste livro um esforço por derramar nas suas páginas a totalidade da sua pessoa, o que leva os críticos literários a considerarem-no o livro mais pessoal de toda a literatura espanhola. Isto é assim, porque Santa Teresa não pretende simplesmente escrever uma autobiografia, mas contar ao leitor a sua vida como uma história de salvação, como um espaço de encontro com Deus. A Santa narra-nos o modo como Deus assume o protagonismo da sua vida, esperando-a (cfr Prólogo) e transformando-a pacientemente. Desta forma, o livro conta a intervenção de Deus na vida da mulher que é Teresa de Jesus, com uma intenção comprometedora, quer dizer animando o leitor a dispor-se para que Deus assuma também o protagonismo da sua própria vida.
Apesar de ter sido escrito em diferentes períodos (1562-1565), trata-se de uma obra muito pensada e com uma estrutura bem definida, alternando a narração de acontecimentos biográficos com a exposição de carácter doutrinal. Este ritmo entre o narrativo e o didáctico é uma característica muito peculiar da escritora e nota comum a todos os seus escritos. Ela, que é uma narradora excepcional, não se limita a transmitir uma crónica mas, levada por uma imparável ânsia de comunicar, prefere exercer o ofício de directora espiritual, fazendo da narrativa biográfica uma plataforma para o doutrinal, procurando acolhimento para as suas palavras, mais do que resposta às mesmas.
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