9 de Janeiro
São André Corsini [1301-1374]
SANTO
CARMELITA
Pequena Biografia
Nasceu
nobre da nobre família dos Corsini, Peregrina e Nicolás, de Florença. Da sua
família saíram cardeais e papas para o serviço da Igreja (Clemente XII, por
exemplo). O que seus pais tinham de nobre linhagem igualmente tinham em bondade
e piedade. Não assim o filho. Dizem que quem com lobos anda com eles aprende a
uivar. Assim foi com André, que depois de lobo selvagem e iracundo houve de
fazer-se manso cordeiro. Mercê das lágrimas da mãe a sua mudança foi espetacular.
Dos seus lábios jovens facilmente se soltavam versos de amor, como em nenhum
outro do seu tempo. Foi contemporâneo de Petrarca e da mesma cidade. Mas
enquanto o primeiro seguiu a carreira das letras, André percorri os caminhos da
caça, do jogo, da poesia e do amor. Enfim, o programa dos jovens ricos do seu
tempo. Por sua vez, a sua mãe chorava, chorava e rezava na Igreja do Carmo. Ali
passara largos anos implorando ao Céu um filho, e, por fim, quando lhe nascera
revelara-se lobo mau. Eram tantas as horas de oração, lágrimas e jejum que a
sua vida esteve em perigo. Um dia o jovem dissipado ouviu da desiludida mãe
este desabafo: «Na véspera do teu nascimento vi-te em sonhos como um lobo
feroz, entrando num templo e convertendo-te em cordeiro diante da imagem de
Nossa Senhora. Oh! Quanto rezei a Deus e a Nossa Senhora para que a segunda
parte do sonho se tornasse verdadeira. Lobo já o foste, e pior do que nós
alguma vez pensámos. Porém confio que a Mãe de Deus te converterá num manso
cordeiro que não ofenda o Senhor! Consagrei-te a Deus e a Nossa Senhora no dia
do teu nascimento. Eu e teu pai jamais deixamos de rezar, um só dia que fosse,
para que te convertas e mudes o teu comportamento.» Estas palavras
impressionaram tanto o jovem André, que, envergonhado e arrependido, saiu da
casa paterna e caminhou perdido e desorientado pela ideia de mudança e pelos apelos
da vida boa e bela que vivera. Sem saber como viu-se na Igreja de Nossa do
Carmo e ali prometeu mudar completamente de vida. Ficou ali tanto tempo que um
religioso, vendo-o com tanta piedade, se abeirou e lhe perguntou se precisava
de algo. Que sim, precisava de falar com o Prior. Levado à sua presença caiu de
joelhos e pediu para entrar na Ordem. Mas a sua vida de jovem aventureiro e
perdulário era bem conhecida de toda a cidade, até dos frades. Por isso o Prior
recomendou tempo para refletir e ponderar. Mas o jovem insistiu tanto que foi
aceite naquele dia, mas apenas temporariamente. Consultada a família ouviu-se
esta resposta da mãe: «Sempre será louco, mas eu prefiro esta nova loucura». Trocou
por fim a espada e a capa de seda pelo áspero e remendado hábito castanho. Não
faltaram os espantos e os escândalos na cidade e os companheiros e tios a
chamá-lo para a vida anterior. Ofereceram-lhe um elegante casamento, e
obtiveram como resposta: «E de que me serve tudo isso se não tiver paz na minha
alma?» Em vão. Muito se comentou em Florença tal mudança de vida, até porque Frei
André, vestido agora dum pobre e remendado hábito castanho, passou a frequentar
como pedinte as mesmas ruas onde antes exibia os seus luxos e dotes de herdeiro
rico. Aquele que nascera rico era agora educado na pobreza. E aqueles que antes
comiam do seu ouro, riam-se e burlavam-se dele. Mas jamais se ouviu de Frei
André senão sorrisos de bondade. Ao ser ordenado sacerdote a família preparou
umas festas sumptuosas para toda a cidade, mas Frei André, saindo por outra
porta, foi-se para uma igrejinha afastada e solitária e ali celebrou a sua
primeira missa. Pouco depois da sua ordenação sacerdotal enviou-lhe Deus muitos sofrimentos e
por eles o dom de alcançar milagres. Profetizava o que ia suceder e as suas
profecias cumpriam-se. Abençoava os doentes e estes curavam-se. Destacava-se
sobretudo na conversão dos pecadores, onde sobressai o seu tio João Corsini que
antes se opusera à sua. Entretanto, a Igreja de Fiésole, tendo a sede vacante,
escolheu-o para seu bispo. Mas Frei André saiu do seu convento sem ser visto e
escondeu-se num outro muito afastado, pois se considerava indigno. Buscaram-no
tão intensa e inutilmente que já se preparavam para escolher outro bispo.
Então, um menino anunciou que o Padre André se encontrava no convento dos
cartuxos. Para ali se dirigiu todo o povo de Fiésole resgatando-o, trazendo-o
para a cidade e convencendo-o a aceitar o cargo. Aceitou e foi bispo durante 24
anos, tendo exercido com mansidão de cordeiro. Vivia no paço episcopal como um penitente, dedicado a servir e a ajudar,
cuidando dos pobres e dos pecadores. Vivia como um monge no deserto e dormia no
solo sobre uma esteira. Chamavam-lhe bom e santo, mas isso mais o entristecia
pois se julgava pecador e miserável. Tinha especial cuidado e atenção para com
os pobres que outrora tinham sido ricos, cujos nomes trazia escritos num
caderno. Tinha o dom de pacificar os que se guerreavam. Em certa altura foi
enviado pelo Papa à cidade de Bolonha que se havia dividido em dois partidos e
se guerreava. Para ali foi, disposto a tudo suportar. E suportou humilhações e
a prisão, mas por fim venceu a paz. Morreu no dia 6 de Janeiro de 1373, aos 71
anos de idade. Imediatamente à sua morte o povo glorificou-o exigindo que na
missa do funeral não se rezasse pela alma do seu Bispo, mas que fosse invocado
como santo. A sua fama de jovem violento foi tal que, mesmo depois de morto,
testemunhas houve que afirmam tê-lo visto cavalgando na batalha de Anghiari,
depois celebremente pintada por Leonardo Da Vinci e Miguel Ângelo. É chamado Pai dos pobres e Construtor da paz.
Oração
Senhor,
Vós dissestes que todos quanto trabalham pela paz seriam chamados filhos de
Deus; por intercessão de S. André Corsini, admirável homem de paz, concedei-nos
a graça de trabalhar sem medo e sem desanimar pela justiça que dá aos homens a
paz firme e verdadeira.
Ensinamento
“Ó gloriosíssima Virgem
Maria! Aqui tens, a teus pés, o lobo feroz e repleto de culpas que a ti recorre
humildemente. Já que és a Mãe do Cordeiro sem mancha, cujo sangue nos lavou e
remiu, rogo-te que me limpes, e de tal maneira convertas minha cruel natureza
de lobo, que de hoje em diante seja eu mansíssimo e fidelíssimo cordeiro, digno
de ser-te oferecido como vítima e servir-te até minha morte em tua santíssima
Ordem Carmelitana”.
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