A CARIDADE COMO VIVÊNCIA DA FÉ E ANÚNCIO DO EVANGELHO
1. Chegaram os dias de penitência: expiemos nossos pecados e salvaremos nossas almas. É com estas palavras que a Liturgia das Horas, numa das antífonas da Hora Intermédia de Quarta Feira de Cinzas, nos anuncia o tempo da Quaresma e nos indica como vivê-lo: na penitência, isto é, no arrependimento dos pecados e na conversão a uma vida de acordo com a nossa fé em Deus, o único que nos pode salvar.
Esta penitência e a consequente expiação ou reparação do mal causado pelo pecado têm de ser concretas. O Catecismo da Igreja Católica (n.º 1434) destaca as três formas em que a Escritura e os Padres da Igreja mais insistem: o jejum, a oração e a esmola. E fundamenta assim a sua importância: nelas cada um de nós exprime “a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros”. Alarguemos pois as nossas vidas a estas três dimensões, e receberemos de Deus a salvação prometida.
2. Para isso, atendamos ao aviso de Jesus no início da Quaresma: Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus (Mt 6, 1). Não teremos recompensa, porque na prática a rejeitamos à partida. Quem jejua, reza ou dá esmola, para dar nas vistas ou obter outros dividendos, fecha-se ainda mais nos limites do seu egoísmo e rejeita o amor infinito com que Deus nos conquista para a fé – aquela fé que, no dizer de São Paulo, actua pela caridade (Gl 5, 6).
E se esta caridade, como a fé em que está enraizada, é dom de Deus, não pode reduzir-se à oferta do que nos sobeja. Não é assim que os verdadeiros pais amam os filhos. Nem é assim que nos ama o nosso Pai que está nos Céus. Pelo contrário: sem o merecermos, deu-nos Jesus Cristo, seu Filho Único; e Jesus por todos ofereceu toda a sua vida na cruz, abrindo-nos assim o caminho para o triunfo definitivo sobre o egoísmo, o pecado e a morte.
3. Quer isto dizer que tanto o jejum e a abstinência como a oração devem, por um lado, conduzir-nos à prática da caridade e são, por outro lado, condição para a sua autenticidade. Abstemo-nos até daquilo que nos pode fazer falta, para o oferecermos aos outros; rezamos com maior intensidade, para nos darmos mais pelos outros. Por outro lado, sem o auxílio divino da oração e a renúncia a nós próprios, dificilmente viveremos para os outros, com a caridade pura e incondicional, ilimitada e persistente do nosso Deus.
Juntemos as três formas de penitência nesta sua complementaridade, e faremos da caridade, neste Ano da Fé, o anúncio mais eficaz do Evangelho em que acreditamos e de que o mundo tanto precisa. Para nós, é muito mais fácil falar daquilo que já se manifesta nas nossas vidas. E para quem nos escuta é muito mais convincente o que já vê ao vivo em nós.
4. Foi nesse sentido que, depois de ouvir o Conselho Presbiteral, escolhi os três destinos que, neste ano e em partes iguais, daremos ao contributo penitencial recolhido na nossa Diocese:
- A nível paroquial, as Conferências de São Vicente de Paulo da Diocese. São um movimento socio-caritativo há muitos anos activo entre nós e no qual a ajuda aos mais carenciados é prestada de modo absolutamente gratuito e a partir da permanente comunhão com Deus, pela oração.
- A nível diocesano, o Centro Pastoral Paulo VI de Viana do Castelo. É um lugar de espiritualidade onde muitíssimos cristãos, sobretudo da nossa Diocese, têm encontrado o caminho para Deus e para os outros e que, dentro em breve, irá ser sujeito a profundas obras de conservação e restauro.
- A nível internacional, um lar para estudantes mais pobres, a ser construído na Missão de Itoculo, da Diocese moçambicana de Nacala. Nela trabalha, com outros sacerdotes e religiosas, o Padre Raúl Viana (um espiritano de Vitorino de Piães, Ponte de Lima), na evangelização e na promoção humana de pessoas carenciadas de toda espécie de bens.
Viana do Castelo, 13 de Fevereiro de 2013 – Quarta Feira de Cinzas
† Anacleto Oliveira
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