Fim do ano da Fé. Cinquenta anos depois da abertura do Concílio Vaticano II coube a Bento XVI convocar o Ano da Fé. Paulo VI ao tempo do seu pontificado convocara já um outro. Um e outro não têm outro fim se não o de reavivar a fé dos católicos e de nos animar a ir ao encontro de todos os homens e mulheres e levar-lhes a luz e o calor da fé. Somos todos missionários, bem entendido. E ninguém melhor que os pares para incendiar corações dizendo com simplicidade uma descoberta, uma alegria, um testemunho. A Igreja não é só procissões e exposições; a Igreja é caminho, é movimento. É o movimento do Espírito do Ressuscitado que não pára, não se cristaliza, não se petrifica. É vento dinâmico, é esperança ágil, é anúncio surpreendente. Neste domingo, Domingo de Cristo Rei, último do ano cristão, encerra o Ano da Fé. E agora?
Um ano é apenas um naco de tempo convencionado. Por isso ninguém leva a mal que o Ano da Fé tenha mais 45 dias que um ano propriamente dito. Começou a 11 de Outubro de 2012, a efeméride dos cinquenta anos da abertura do Concílio Vaticano II, e conclui-se ao sabor da liturgia com o encerramento do ano cristão, hoje, 24 de Novembro de 2013.
Encerramo-lo proclamando que só Jesus Cristo é senhor, só Ele é autor de todas as maravilhas, também da fé que nos é dada gratuitamente.
Assustados pelo excessivo sopesar dos prós e dos contras, do deve e do haver, também nós, católicos, caímos na esparrela de contar cabeças ou corações como se preparássemos exércitos para a guerra. Creio, porém, que a vivência do Ano da Fé fura e muito as urgências de contabilidades tão espúrias: quantos éramos? Juntámos mais ou menos que os partidos?
É certo que a Igreja não pode dispensar de se mostrar, de se reunir em celebração e percorrer à luz do dia as mesmas ruas que nos outros dias abrem para os interesses da pólis: comerciais, administrativos ou outros. Mas quer-me parecer que a fé não é só testemunho — que o é, claro! A fé é também o Espírito soprando, volteando e ateando quando quer, como quer e a quem quer. Aprendi eu desde cedo que a Igreja é depositária da fé, mas longe de mim a ideia de armazém, porque o dinamismo do Espírito abre-nos e impele-nos para fora, pelo que eu sou tanto mais eu quanto mais sou nós! Talvez seja ainda mais difícil de compreender, mas eu sou mais humano quando mais divino me torno. É por isso que julgo difícil meter o Rossio na Betesga, quero dizer: meter o Ano da Fé numa folha do Excel e extrair estatísticas e contabilidades puras!
O Ano da Fé é energia e dinamismo, é conversão! Portanto, não pára! É um ano que não encrava nem se encerra, digo, a sua dinâmica!
Claro que foram feitas coisas, por que não vivemos sem coisas por fazer. (Inclino-me diante dos operários das coisas a fazer. Reverencio-os!) De facto, a fé saiu reforçada porque saiu revalorizada, repensada, celebrada, rezada, testemunhada. Mas nada está concluído, porque a procissão ainda só vai no adro e há já que pensar como havemos de iluminar com a vela da fé as escuridões do futuro de tantos e de tantas que não se incorporam debaixo das nossas bandeiras e opas, nem aceitam os nossos ritos.
Sim, termina o Ano da Fé, mas não se encerra nenhum exercício seguro que nos ajude a firmá-la e a retransmiti-la com definitividade, que ela ou se apega ou se apaga!
Ainda que dure um ano maior que um ano, a Hora da Fé não se conclui! E só tem sentido vivê-la se acreditarmos em primaveras: não é lá que se dão os enamoramentos sob o pipilrear dos passarinhos? Por isso, permita-me a pergunta: enrobusteceu-se porventura a sua fé? Está hoje mais capaz de testemunhar a Cristo que ontem? São os seus dias mais claros, mesmo que viva em noite? Conhece mais da sua fé? Confia mais em Deus (e em si)? Sente-se mais capaz de portar a vela da fé a outros que a não conhecem ou já a não têm acesa?
Páro aqui. Apetece-me dizer: ala, que se faz tarde! Porque a caminhada ainda não terminou! Nada acaba só porque acaba uma etapa; a casa não está feita só porque se fizeram os caboucos! Começámo-la no Baptismo, avivámo-la no Crisma e nos sacramentos. Por isso, dia a dia, domingo a domingo, somos chamados a dizer o que cremos, a viver o que confiamos, a celebrar o que nos anima: Jesus Cristo. Vivo!
Eis o programa para o futuro: continuar pela fé a aceder à intimidade com Deus. O Baptismo foi a porta, o quilómetro zero. Impõe-se agora que aprofundemos e aprofundemos sempre mais essa imensa mina de imensas riquezas divinas que brotam da amizade com Deus.
Visto que começou, vá por aí! Vá por aí, que leva bom caminho; mas não sem muito esforço, claro!
E agora o pequeno tpc*: No domingo passado o Papa Francisco sugeriu a todos os que estamos na caminhada da fé, isto é, a todos os baptizados, que investigássemos o dia em que começámos tão feliz carreira. Sim, não somos muitos os que sabemos o dia do nosso baptismo! – Saberá Você? Siga o conselho do Papa: pergunte ao seu Pároco, ainda que lhe dê muito trabalho. E celebre esse dia, ou com a participação na Eucaristia, ou, por que não, sorrindo mais: afinal, Você é filho de Deus!
*TPC nos meus tempos de Liceu significava: Trabalhos Para Casa, coisa que sempre muito me custou, mas cujo sentido agora tanto alcanço!
Chama do Carmo I NS 204 I Novembro 24 2013
Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
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