sábado, 4 de janeiro de 2014

O importante é o Caminho


Epifania. A Festa da Epifania é uma bela festa de Natal. Nós, católicos, estamos ainda em Natal! Quando o Natal chega aos Reis alarga tanto tanto os horizontes que fica sem fronteiras: e então, cabem, cabemos, todos no Natal! Acontece que o Menino é tão judeu tão judeu, que não é só judeu. É universal. É de todos. Dos que O recebem, dos que O visitam. É certo que nem todos se atrevem a ir visitá-l’O, mas quem vai nada perde. E tudo ganha. É algo assustador pôr-se a caminho para encontrá-l’O: não é viagem para medricas. Ir ao encontro do Rei assusta, porque, afinal, é preciso ser-se muito ousado para, apesar do carrego da noite que nos pesa, botar pés ao caminho, deixar-se guiar por luz tão tremeluzente mas certeira, e encontrá-l’O. Epifania é a Festa dos Reis, mas não é a única, porque a vida tem muitas epifanias. Esta é apenas a paradigmática. Sabe o que é uma epifania?
O domingo que hoje vivemos e celebramos chama-se A Epifania. A Epifania é a história de uma viagem de ida e volta: Deus veio para os que eram seus e eles não O reconheceram nem receberam. A vinda de Deus para a humanidade é A Epifania, isto é, a manifestação de Deus à família humana.
Por sua vez, a vida de cada homem e cada mulher crente é também a história de uma viagem ao encontro de Deus.
Neste domingo nós recordamos que Deus vem ao nosso encontro e que a nós nos cabe a obrigação de irmos também ao encontro de Deus.
Deus vem, nós vamos. A vida é encontro. A religião também. E o Natal é isso mesmo: convocatória do amor de Deus para que nos encontremos pessoalmente com Ele.
Construir o presépio é rememorar que o Natal é a viagem pela qual Deus vem para nós: porventura, haverá lugar no teu coração para Ele? Estarás disposto(a) a aceitar o seu convite para te encontrares com Ele? (E, olha: Ele é amigo, simplesmente amigo, Amigo que tem palavras amigas para Ti...)
Um exemplo, uma comparação: quem é que nunca se abeirou da água lisa dum lago ou dum rio e nunca atirou pedrinhas a saltitar pela tona da água fora? Quem é que não entrou em campeonatos de pedrinhas saltitando o mais longe possível? (Eu já. E é giro... O record é de 18 saltinhos!)
É como quem diz: Jesus foi uma pedrinha lançada desde o Oriente! O primeiro saltinho tocou os judeus, o segundo os gentios. E foi saltando, saltando o terceiro e o quarto saltinhos... e mais e muitos mais saltinhos até chegar até nós. O último saltinho fará com que toda a humanidade estabeleça contacto com Jesus!
(Sim, sim! Também, hoje, podemos, tu e eu, ser tocados e marcados pelo encontro com Jesus! Experimenta — Ousa, por favor! —, começar a ir para o lugar do encontro...)
Cristo é a pedrinha que saltitando vai emanando ondas de luz e calor, ondas de amor. Já reparaste bem como a ousadia da fé nos faz chamar pedrinha a Jesus, mesmo sabendo nós que a Si se chamou Rocha Angular?
A narrativa do Evangelho deste domingo é o nosso Evangelho, é o Evangelho da nossa história pessoal. Sim, por favor, neste domingo não digas: que linda história a dos reis magos! Não digas: que sorte tiveram os magos em ser guiados por uma estrela! Nem digas: olha a sorte do Menino Jesus: saiu-lhe o Euromilhões! Os Magos deram-lhe ouro, incenso e mirra! Mas não, por favor, simplesmente não! Ouve este Evangelho. Escuta-o independentemente do nevoeiro da noite, ouve-o como quem ouve cantar pela primeira vez a água cristalina dum regato. Deixa-te tocar pela narrativa, e lembra-te: a tua vida, como a de qualquer um de nós, é a pergunta que vamos fazendo pelo mundo fora: onde está o Rei que acaba de nascer, para poder ir adorá-l’O?
A minha vida, a tua vida, meu irmão, minha irmã, é uma busca, uma viagem ao encontro de Deus. É uma busca apesar das pedras do caminho e das cascas de banana estendidas. É um caminho mesmo quando a estrela se oculta, mesmo quando a vida deixa de sorrir, mesmo quando o mundo ameaça afundar-se, mesmo quando os escândalos e as traições nos quebram as pernas.
Vindos de muito longe, de terras bem distantes, de culturas e de religiões muito diferentes, os magos empreenderam uma longa viagem para Belém. Sem o saberem o encontro estava marcado para Belém: ali estaria o Rei! Ele mesmo, o Chefe, o Pastor de Israel, ainda que só na figura de um bébé. E o espantoso é que os magos não tinham nem profetas nem tradições, nem religiões nem escrituras, nem sábios nem a promessa de um Messias salvador! Não, eles começaram a viagem sem saber para onde ir ou por onde ir; eles simplesmente caminharam à procura de Deus! Eram estranhos a Deus, mas vieram mostrar ao Povo de Deus a existência de uma estrela que brilhava no céu do seu país e que Israel nem tinha reparado! Inesperadamente, aqueles três sacerdotes pagãos vieram mostar aos herdeiros de Abraão que o Senhor tinha caminhado para o seu meio! Mas os judeus, os sacerdotes, os sábios e o rei Herodes continuaram a ler a Bíblia para evitar pôr os pés ao caminho à procura de Deus. Eles jamais (se) fizeram (a)o caminho! E por isso não encontraram Jesus: aos professionais da religião de nada lhes serviu o seu Livro Sagrado, porque Jesus não é um livro, mas o Salvador!
Hoje é dia da Epifania: põe-te a caminho, meu irmão, minha irmã, não importa se tens prenda para levar. O Caminho é a prenda!

Chama do Carmo I NS 210 I Janeiro 5 2014

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