domingo, 12 de janeiro de 2014

Que fizeste, ó cristão, do teu baptismo?


Baptismo. O Natal fecha hoje portas até que o próximo Advento venha de novo abri-las. Este Domingo é fim das celebrações do Natal e o primeiro do Tempo Comum. É neste Domingo que celebramos a Festa do Baptismo do Senhor. E obviamente fazemos memória do nosso. Só pode ser assim. E é assim desde os primeiros cristãos, cuja sensibilidade os fazia perseverantes ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna e ao partir do pão. (É o que diz o Livro dos Actos dos Apóstolos no capítulo segundo.) Desde o início que conhecemos a porta de entrada na Ecclesia, desde o início que sabemos que tornar-se membro da Igreja incorpora em Cristo. Pelo baptismo somos um só como um só são os pés e as mãos, a cabeça e o coração. Pelo baptismo eu, nós, sou, somos um só. Um só com os que são cristãos. Um só com os que foram cristãos antes de nós. Um só com os que o serão um dia depois de nós. Um só corpo em Cristo. Não importa o que éramos antes, se ricos se pobres, se nobres se plebeus. Pelo baptismo somos baptizados no mesmo Espírito para sermos um só. Somos um, enfim!
Porque somos um só em Cristo podemos dizer que não nos pertencemos. Um cristão não é de si, não tem existência só. Nunca vive para si só, e só nunca está. Nunca está, ainda que queira. Um cristão só é tão absurdo como o é a subsistência de um dedo separado do corpo. Nunca jamais um dedo pode dizer:  – Soltem-me, soltem-me, por favor! Vou-me embora, vou partir. Quero correr o mundo inteiro, quero ir. Quero ver e conhecer a vida do marinheiro sem dormir!
Não, um dedo não o pode dizer e, isso que temos vinte! Nem a boca nem algum outro membro ou órgão pode soltar tal grito de ipiranga! No corpo como na Igreja somos um e todos precisamos de todos. Temos todos a função que nos cumpre e se um se recusa ou sofre por cumpri-la sofre, obviamente, todo o corpo. Doa o que doer dói a todos, porque somos todos um só, mesmo que não tenhamos consciência da amplitude do corpo que somos.
Na missa de certa paróquia, um católico saudou um mendigo: – A paz contigo, irmão! E abraçou-o. Ao meio dia o pobre tocou à campainha do rico e anunciou-se: – Está aqui o teu irmão, há já um dia que não como.
Tinha razão, mas fez-se silêncio e não lhe abriram a porta.
O baptismo faz-nos irmãos, mas é um insulto se o somos só entre as paredes do templo que nos acolhe para comermos o Corpo de Cristo! Por alguma razão dizem os italianos que Entre o dizer e o fazer passa o mar pelo meio!
Não consta que haja um mar entre os dedos dos nossos pés! São todos dedos e nenhum igual e todos o mesmo corpo! Não é, porém, nada fácil viver a fratria proposta por Cristo, o que me leva a perguntar: – Será que os pais sabem o que impõem aos filhos quando pedem à Igreja o baptismo para eles?
Quando a maioria de nós entra no templo para assistir à missa não sabe o cabo dos trabalhos que foi prepará-la: *o coro ensaiou, a senhora da limpeza aspirou o chão e cuidou as madeiras dos bancos, as zeladoras revestiram os altares e floriram-nos, os leitores prepararam-se, os acólitos revestiram-se, o sacerdote preparou a homilia e as orações, de quando em vez fazem-se pequenas reparações, o sacristão preparou o cálice e a patena, contou as hóstias e pôs a partícula, o sanguíneo e o corporal, o lavabo e o manustérgio, espreitou as velas, conferiu os cestos das esmolas e não se esqueceu dos Leccionários nem do Missal nem da chave do sacrário.
(E no meio de tanta tarefa fica sempre a dúvida se estará tudo no seu devido lugar...)
Em dias de festa as cerimónias são mais demoradas de preparar. Enfim, quem quer festa sua-lhe a testa, e é óbvio que uma igreja e uma missa dão trabalho como o dão tantas ocupações e profissões por esse mundo fora. Claro que sim. E é claro que apesar de termos ido à missa toda a vida nem nos apercebemos destes pequenos trabalhos, que, por vezes, são fonte de grandes dores de cabeça. Ora o certo é que se tudo o que atrás foi elencado fôr cumprido ainda assim não pode haver missa!
(Faça-me um favor: páre aqui a leitura. Volte ao asterisco (*) que está um pouco a mais de meio da coluna do meio. Vá, vá lá, e leia o elenco das tarefas. Veja se sabe a que falta, aquela, essencial, sem a qual não podemos reunir-nos na celebração da missa! ..............................................................
..................................................................................................................................................................................................................................................... . Descobriu?
Se não descobriu, eu digo-lhe: faz sempre falta que o sacristão abra a porta para que entremos e nos reunamos em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
É preciso abrir-se a porta. E o baptismo é a porta que se abre para que entremos e façamos corpo com os demais que por ela entraram.
O baptismo é a porta por onde todos entrámos! Todos!
E agora que cá estamos, deixe que lhe pergunte: O que fez (faz) do seu baptismo?
Certo rabino ensinava: Se queres tirar um homem da lama, não podes contentar-te em lhe estender a mão. Deves descer também tu à lama.
Na verdade cada membro da Igreja é responsável pelo mundo. E a Igreja é responsável por cada um de seus membros. Ser responsável significa apenas tornar-se tudo para todos para salvar a todos. Significa sujar os pés na lama! O que fez do banho do seu baptismo?

Chama do Carmo I NS 211 I Janeiro 12 2014

Sem comentários: