quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Parágrafo teresiano


Começando a fugir das ocasiões e a dar-me mais à oração, começou o Senhor a fazer-me as mercês, como quem desejava, segundo parecia que as quisesse receber. Começou Sua Majestade a dar-me, muito de ordinário, oração de quietude e muitas vezes a de união que durava muito tempo.
Como nesses tempos tinha acontecido haver grandes ilusões em mulheres, e enganos a que as tinha levado o demónio, comecei a temer, pois era tão grande o deleite e a suavidade que sentia, e muitas vezes sem o poder evitar, ainda que, por outra parte, visse em mim uma grande segurança de que aquilo era Deus, em especial quando estava em oração, e que saía dela muito melhorada e com mais fortaleza. Mas, em me distraindo um pouco, tornava a temer e a pensar se o demónio quereria, fazendo entender que aquilo era bom: suspender-me o entendimento para me tirar a oração mental e não pudesse pensar na Paixão nem me aproveitar do entendimento.
Isto me parecia a mim maior perda, pois não o compreendia.

Santa Teresa de Jesus (1515 - 1582) - LIVRO DA VIDA (23:2)

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