segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Maranatha: O retiro de Advento da nossa comunidade laical

 
No passado Sábado 4 de Dezembro reunimo-nos um grupo de pessoas no Convento do Carmo. Objectivo: participar num retiro de Advento.
Muitas outras pessoas se perguntaram, para quê? E nós respondemos: muito simplesmente para pensar e reflectir no significado do Natal nas nossas vidas de cristãos, e na maneira como devemos preparar-nos interiormente para tal.
Na parte da manhã, finda a Eucaristia das nove, começamos a falar do Natal. Na sala em que nos reunimos havia um letreiro que dizia: «Maranatha. Vem, Senhor Jesus.»
Natal=Princípio de salvação e de redenção. Natal: Mensagem de paz e de esperança. De paz por querer não fazer a guerra. Esperança para todos os que nEle acreditamos.
Dos antigos profetas o que mais fala do Natal é Isaías: «Uma virgem dará à luz um filho chamado Emanuel, Deus connosco».
Foi assim que o José Miguel Homem de Gouveia, da nossa comunidade, nos centrou nos tempos de Isaías (800 a. C.). Os judeus encontravam-se exilados na Babilónia: escravizados, viviam tempos difíceis como antigamente no Egipto.
Esses povos tinham outras religiões, quase todas politeístas, isto é, para cada caso tinham um Deus. Por isso, ao entrar em contacto com eles os judeus vacilavam na sua fé.
O povo caldeu era inclinado para a matemática e a astrologia. Assim também os judeus, o que tem alguma lógica pois eram um povo que vivia do campo e da pastorícia.
Por fim, os judeus só foram libertados quando o rei Ciro venceu a guerra aos caldeus, e só então puderam regressar à sua terra.
Talvez por todas estas razões o Natal do Senhor foi anunciado de maneiras diferentes: pelos anjos aos pastores, Maria, e José; aos Magos por uma estrela ou talvez um cometa; a Herodes pelos Magos; a João pela visita da Virgem a sua mãe Santa Isabel.
Maria recebeu a visita do anjo S. Gabriel que lhe anunciou a Incarnação. São José foi sempre avisado em sonhos por um anjo: para não abandonar Maria; para fugir para o Egipto; e para regressar do Egipto. Aos pastores também um anjo lhes deu a boa nova do nascimento de Jesus. São João Baptista saltou de alegria no seio de sua mãe quando a Virgem a foi visitar. Os Magos estudiosos do firmamento sabiam e eram conhecedores mercê das suas investigações, por isso quando viram a estrela seguiram-na sem duvidar. Com tudo isto vimos que o que começou com uma notícia familiar se alargou depois a todos, e também a nós passados 2000 anos.
Logo depois dividimo-nos em dois grupos para um tempo de reflexão, a fim de realizarmos um pequeno trabalho.
A primeira pergunta era: Onde podemos hoje encontrar o Messias Salvador? Houve várias respostas: Dentro de cada um de nós, sempre que lhe abrimos o coração; em cada um dos nossos irmãos, mais ou menos necessitados, pois o Salvador veio para todos a fim de ensinar-nos nos oferecermos sem medida.
Segunda pergunta: O que podemos hoje mudar na nossa forma de viver, na família, no círculo de amigos, na sociedade de desigualdades e injustiças em que vivemos, na Igreja? Também esta pergunta mereceu várias respostas. Falou-se da família tão atacada pelo divórcio; falou-se da urgência em transmitir valores sólidos e duradoiros e que agora não estão de moda, porque vivemos num temo materialista e de pouca espiritualidade; com os amigos deveremos estar sempre abertos para dar e receber. Aos pobres deveremos fazer como o Padre Américo: primeiro dar-lhes pão e depois a mensagem de Cristo, que quis nascer pobre e andava mais entre os que a sociedade do seu tempo escorraçava, que entre os doutores e os ricos. Que a Igreja se abra mais aos jovens, pois estamos em tempo de crise de vocações; os que frequentamos a Igreja deveríamos ser íman que os atraísse e jamais retraísse. Nos tempos que vivemos não basta dizer: já cumpri, pois fui à Missa; mas, passada a porta da Igreja, consciencializarmo-nos de que a nossa verdadeira missão começa quando entramos no mundo. O mundo exige o nosso testemunho e compromisso cristãos. Ou seja, primeiro bebemos na fonte da Eucaristia, e depois devíamos obrigatoriamente de partilhar a água que bebemos.
A manhã terminou na Igreja rezando o Angelus com São João da Cruz.
Na parte da tarde, depois do almoço, esteve connosco o Frei João que também nos ajudou a meditar. Primeiro rezamos uma oração de Michel Quoist que nos oferecia reflexões várias par ao nosso dia a dia.
Depois falamos do tempo que perdemos em banalidades e do pouco tempo que oferecemos para o que é verdadeiramente importante: Deus.
Contou-nos ainda dois contos, que ele mesmo usa em tempo de Advento para meditar. São contos que ainda me têm a cabeça à roda; pois se nos contou os contos não nos deu a interpretação deles. Embora, na verdade, entre nós, avançámos várias possibilidades de interpretação.
Às cinco horas, depois da merenda, entrámos na igreja a fim de ficarmos em silêncio diante daquele que sabemos que nos ama, o nosso Amigo incondicional (não como os do mundo), pois a sua infinita misericórdia está sempre disponível para nos acolher, mesmo que muitas vezes não lhe sejamos nem fiéis, nem bons, nem leais. Ele está sempre no Sacrário à nossa espera par anos perdoar quando humildemente lhe mostramos o nosso arrependimento. Por fim rezámos o terço com meditações duma grande Carmelita, a Bem-aventurada Isabel da Trindade, a Santa do silêncio, mulher apaixonada pelo mistério da Incarnação e que nos legou uma bela Elevação à Santíssima Trindade.
O poema concluiu da seguinte maneira:
Ó meus Três,
Meu Tudo,
Minha Beatitude.
Solidão Infinita, Imensidade em que me perco,
Entrego-me a Vós como uma presa.
Sepultai-Vos em mim
Para que eu me sepulte em Vós.
Logo de seguida começou a Eucaristia, broche de ouro num dia completamente dedicado Aquele que nos ama duma maneira imensa, que por muito que O amemos jamais lhe retribuiremos.
Creio que este pequeno retiro foi um oásis no deserto em que por vezes se convertem as nossas vidas. Saímos reconfortados e com vontade de prepara um Natal feliz. Vamos receber o Salvador com o coração aberto para aquele bebé que se fez carne da nossa carne, a fim de dar a vida por nós.
O Natal não pode ser apenas luzes nas ruas e nos presépios; não pode ser enfeites e prendas. Natal é renovação da nossa maneira de ser e de estar, é partilha e amar, tal como o nosso Mestre nos ensinou dando a sua própria vida.
Um santo e feliz Natal!

Ester Santa-Marina

Sem comentários: