terça-feira, 14 de dezembro de 2010

S. João de Cruz, um ícone perfeito da noite escura

Nasceu em Duruelo, Ávila, Espanha. Estudou em Salamanca. Fundou conventos em Duruelo e noutros lugares. Considerado rebelde foi prisioneiro num em Toledo. Depois disto foi prior dos conventos carmelitas do Calvário, Segóvia e Granada. Foi poeta e escritor único, cuidador incansável das almas. Finalmente, morreu, pequenino como sempre, e frade, em Úbeda no dia 14 de Dezembro de 1591.
Falar de S. João da Cruz falar de um nome comum mas de uma personalidade não comum. Trata-se do Doutor do amor divino. Homem profundamente genial, sempre unido a Deus e aos irmãos. Nos seus escritos encontramos a sua própria vivência e o ensinamento da «noite escura»: Deus desce até ao homem pela graça, e o Homem deve sair e subir até Deus pela escada do amor até ao matrimónio espiritual. De todo o magistério teológico-espiritual de S. João da Cruz, a observação mais original é, sem dúvida, a da «noite escura». O seu tempo e duração não são iguais para todos. Ela é um caminho necessário para todo aquele que busca a Deus. Assim sendo quem vive da fé tem de passar pela noite, pela purificação de toda a imperfeição, por menor que seja. Dada a singularidade dessa noite, vemos que o seu resultado é a maturidade espiritual, o amor e a pureza, porque a noite é uma graça que exige a resposta do homem.
Estamos certos que vivemos em tempos de crise de evidência e de valores, fazendo vacilar a experiência de salvação, de fé e de Deus. Tempos de incerteza. Enfim, tempos difíceis que podem ser uma oportunidade ou um risco, para quem não souber responder com fé a esses novos tempos.
Isto nos ensina S. João da Cruz. Deus, em nós, vai sendo pedagogo no coração do sofrimento, sempre que as lágrimas derem lugar à esperança. Por essa razão dizemos que Deus não está ausente das crises ou noites, porque toda a existência humana é um dom. É um dom porque participamos da condição do ser de Deus: Bondade. Então, é bom ser! É bom viver! É bom acolher a vida como um dom!
As virtudes teologais são para S. João da Cruz guias seguros, meios e disposições imediatas para a união com Deus. Dentre elas tem maior relevância a fé, apesar de andarem sempre juntas. Tendo em conta a unidade das virtudes teologais, podemos agora aplicar-lhes a teoria de S. João da Cruz. A natureza íntima das virtudes teologais radica em Deus e todas se apresentam como um caminho para Deus. É Deus o caminho dos mistérios que nos aproximam da fé, luz sem ocaso. Por isso, não há «noite escura» por falta de luz, senão por excesso dela. E por ser tão forte, deslumbra a alma deixando-a às escuras. Assim, a alma mais escura fica quanto maior luz se lhe dá. Toda a espiritualidade de S. João da Cruz esta marcada pela inhabitação de Deus na alma, a amada, que sai em busca da vontade do Amado e vice-versa, até ao matrimónio espiritual.

Escritos de S. João Cruz
(Deve ter-se em conta que ao ler as obras do Santo deve-se iniciar pelos poemas e só depois a prosa.)

5 poemas:
Noite escura, 32 versos em 8 estrofes.
Cântico Espiritual, 200 versos em 40 estrofes.
Chama de amor viva, 24 versos em 4 estrofes.
Que bem eu sei a fonte, 36 versos em 12 estrofes.
O pastorinho, 25 versos em 5 estrofes.

Obras menores
Romances: São dez poesias. A sexta deve ser a mais importante. Nela se narra que Deus desce até nós por amor.
Ditos de luz e amor: Pequenas frases dirigidas aos que com ele se confessavam para ajudar a meditar.
Cautelas: Conselhos e cuidados a ter na vida, aqui, aparece a perspectiva asceta do Santo.
Cartas: Muitas se perderam. Revelam o profundo humanismo do Santo. São no total 33.

Obras maiores
O Cântico Espiritual é o mais elevado e mais belo poema de amor. Não há amor que se possa com-parar ao de Deus. João da Cruz fez essa experiência, não a pode calar e por isso cantou-a.
Na Subida ao Monte Carmelo o Santo trata da purificação do espírito por via activa. O homem quer a Deus; o homem em Cristo responde a Deus que o chama e o sobe a Si.
Na Noite escura o Santo descreve a via purgativa passiva e activa de amor a Deus e de Deus, a noite supõe a renovação do ser humano. Aqui morre-se por Cristo no pecado e por Cristo se ressuscita.
A Chama de amor viva, dirigida a D. Ana de Peñalosa, descreve experiências reais de alto cará-cter trinitário, isto é, mostra-nos a experiência da Trindade na alma enamorada.
Frei Daniel Jorge


Chama do Carmo I NS 88 I Dezembro 12, 2010

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