Que espectáculo, ó céus! Eu velo?... Eu sonho?...
Que diviso!... Onde estou!... Purpúrea nuvem
Ante os olhos atónitos me ondeia
E chuveiros de luz despede à terra!
Mais bela que o fulgor que ao sol percorre,
Alta matrona augusta,
Do vapor luminoso
Que os Zéfiros detêm nas ténues plumas,
Quão risonha contempla o baixo mundo!
Áureas estrelas congregadas brilham
No rútilo diadema
Que a fronte majestosa Lhe guarnece;
Aureas estrelas semeadas brilham
Nas roçagantes vestes,
Cor do estivo clarão que filtra os ares!
De alados génios cândida falange
Reverente A ladeia,
E pelas níveas dextras balançados,
Pingue, flagrante aroma, em honra à diva,
Os fumosos turíbulos derretem…
Mas que feroz dragão lhes jaz às plantas,
Sangue a boca medonha, os olhos fogo!...
Rábido arqueja, túmido sibila,
Baldadas forças prova
Contra o pé melindroso
No colo inerme, a cerviz calcada,
Que rubras conchas escabrosas forram:
Enrosca, desenrosca a negra cauda,
E em hórridos arrancos desfalece…
Oh triunfo! Oh mistério! Oh maravilha!
Oh celeste heroína! A sacra turma,
Os entes imortais que Te rodeiam
Modulam tua glória em altos hinos
Que entre perfumes para os astros voam…
Eis no leito arenoso as vagas dormem,
Rasas cedendo à música divina:
Pio ardor pelas fibras me serpeia
E encurvado repito os santos versos:
Ó Virgem formosa
Que domas o Inferno
Criou-Te ab aeterno
Quem tudo criou.
Ilesa notaste
Do mundo o naufrágio,
Da culpa o contágio
Por ti não lavrou.
Nas tuas virgíneas
Entranhas sagradas,
Do Céu fecundadas
O Verbo encarnou.
A grande vitória
Do género humano
Contra este tirano
De Ti começou.
Depois de lograres
Triunfo completo,
Cumprido o projecto
Que o Céu meditou,
Cresceram nos astros
Os vivas e os cantos,
E as fúrias, os prantos
O abismo dobrou.
Ó Virgem formosa
Que domas o Inferno
Criou-Te ab aeterno
Quem tudo criou.
Bocage
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