O título supõe familiaridade, embora na verdade nunca nos tenhamos visto. Aliás, para tal nem é preciso que algumas vezes nos tenhamos visto. No fim de contas Pedro é nosso e nossa casa é Portugal. (Embora em Portugal nem todos o considerem bem-vindo!) Ainda assim considero poder falar-lhe assim, de irmão para irmão, de filho para pai, dirigir-me assim a um discípulo de Cristo como eu, um «humilde trabalhador da vinha do Senhor» e «servo dos servos de Deus».
Olá, Pedro. Entra, que és bem-vindo! Reza e come connosco. Conversemos juntos das coisas da casa.
Um dia Pedro caiu na prisão. Pedro era a pedra de toque. Era o primeiro. O chefe e guia. Todos o sabiam e todos temeram o pior para Pedro. Por isso, enquanto Pedro permanecia sereno na prisão, temerosos, os cristãos rezavam pela sua vida.
Quando algo aflige Pedro a Igreja reúne-se e reza. É o que eu faço mesmo quando nada o aflige. (Mas poderemos lá acreditar que em algum momento nada o aflija?)
Miraculosamente a prisão abriu-se para Pedro, os grilhões que o prendiam soltaram-se e os soldados que o guardavam (guardavam?) continuaram a dormir como meninos. Por isso Pedro saiu calmamente para a rua e chegou a casa onde os irmãos rezavam por ele. Foi uma enorme alegria quando o viram são e salvo!
É uma enorme alegria receber Pedro em casa. Sê, pois, bem-vindo Pedro. A casa é tua. Entra, descansa e reza connosco. Come connosco, fala-nos da tua esperança, serena-nos com a tua calma e sabedoria. Ensina-nos, fortalece-nos na fé e guia-nos pelos caminhos do Ressuscitado.
Bem-vindo, Pedro, à casa da família.
É uma alegria receber-te. Nunca estiveste longe de nossos corações, mas ainda assim é belo saber que queres entrar para cear connosco, falar connosco, rir connosco, rezar connosco. Ver como estamos, ver como estás. Receber-te serenamente, preparar-te uma refeição. Abraçar-te, saber que estás próximo de nós. Fica connosco, que contigo a noite é menos noite, menos escura. A casa é mais aconchegada, mais apelativa, dá mais gosto permanecer nela. Vem, porque gostamos de estar contigo, de ouvir-te, de dizer-te por onde temos andado, o que temos feito, o que sonhamos, de que cor gostaríamos de pintar os sonhos para a casa comum!
Bem-vindo, Pedro, que vens como irmão.
Tu és um irmão mais velho. Nós, mais novos, temos anseios que deves confirmar; desejos de servir que deves abençoar. Bem-vindo à casa da oração, onde rezamos por ti e contigo. Vamos juntos louvar e agradecer. É uma alegria ter-te connosco, rezar contigo.
Bem-vindo, Pedro, que vens como pai.
A tua voz não é só de irmão, é também de pai. Pai firme que nos confirma na fé, pai que consola e nos corrige. Pai que nos manda semear sementes de paz e de construção do Reino. Sê firme e libertador, aponta-nos o caminho, chama todos a colaborar. Não deprecies nenhum dos caminhos novos que se abrem, anima-nos à fidelidade à herança e à novidade do Espírito.
Bem-vindo, Pedro, que vens como apóstolo.
Tu, Pedro, és enviado porque és testemunha da ressurreição de Jesus. E nós precisamos que nos fales aquilo que a tua fé vê. És enviado e assim te recebemos, para aprender de ti a sair ao encontro. As testemunhas atraem: pela luz que reverberas sabemos que jamais faremos o caminho debalde. Precisamos da tua palavra de homem que vai pressentindo o Ressuscitado em tantas realidades deste mundo.
Bem-vindo, Pedro, que vens como discípulo.
Os teus pés seguem o Senhor. Ensina-nos a não ultrapassá-lO, mas a segui-lO. Ensina-nos o sereno sentar para ouvi-lO, a prolongar a bênção das suas mãos, a mansidão do seu olhar, a paz dos seus passos, a doçura das suas palavras.
Bem-vindo, Pedro, que vens como missionário.
Vem, traz-nos a frescura sempre fresca do Evangelho. Fala-nos até ao fim a Palavra de Jesus.
Bem-vindo, Pedro, que vens como peregrino.
Vem despojado e disponível para escutar, para caminhar. Disponível para receber do que temos para dar. Aceita a nossa companhia no teu caminho. Vem e abençoa-nos. Abençoa os nossos meninos e os nossos jovens. Abençoa os casais e as famílias, os filhos e os pais. Abençoa os doentes e os velhinhos. Abençoa os catequistas, seminaristas, noviços e noviças, os sacerdotes e religiosos, os cientistas e trabalhadores. Dá-nos a tua bênção de peregrino, de homem despojado e disposto a trepar a montanha da perfeição.
Bem-vindo, Pedro. Obrigado pela visita. Entra.
A casa é tua. Entra, por favor.
Chama do Carmo NS 69 Maio 9, 2010
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