Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 16 de março de 2013
De Benedicto a Abençoado!
Chama-se inesperadamente Francisco. É um jesuíta vestido de dominicano e com nome de franciscano, como alguém lembrou. Há oito anos foi eleito Bento (ou Benedicto); ao que dizem, Deus e os cardeais preferiram ali Ratzinger a Bergoglio. Agora que Ratzinger voltou a sê-lo emergiu Francisco da eleição dos cardeais, que, com a Igreja a rezar, imploraram que o Espírito Santo lhes mostrasse quem era o eleito de Deus.
A Igreja rezava e o mundo pedia um Papa não europeu, e menos ainda italiano. Mas não se esperava um vindo «quase do fim do mundo». Foi, porém, dali que veio, dali onde a Igreja cresce, é pobre, valente e sofrente. Mas mais jovem, ainda mais forte, mais alegre e menos encarquilhada que a nossa.
Benedicto retirou-se para orar; chegou Francisco, que antes de dar a bênção se inclinou e pediu ao povo que o abençoasse. Sim, nós o abençoaremos com a nossa oração e colaboração. Sejas bem-vindo, irmão Papa Francisco!
Abençoai-me!
Depois da aceitação da eleição o novo Papa recebe o juramento dos cardeais eleitores, tenham ou não votado nele. Diz a tradição que o faz sentado. Francisco ficou de pé!
Saiu dali e paramentou-se com as vestes brancas de Pontífice máximo da nossa Igreja e passou à Capela das Lágrimas, onde rezou. É assim chamada por ser ali que os recém-eleitos tomam consciência do peso do cargo recém-assumido, e chorarem. Terá chorado Francisco?
Apareceu depois à janela – demasiado tardio para nosso gosto! E disse, simplesmente: «Irmãos e irmãs, buena sera, boa noite!».
Pediu de seguida para rezarmos pelo Papa emérito. E falou-nos de seguida com palavras simples de pai. Pediu que fôssemos irmãos, que reconstruíssemos a grande fratria. E que com confiança uns nos outros, bispo e povo, «caminhássemos juntos».
Depois, antes da bênção, a sua primeira bênção, pediu que orássemos e o abençoássemos primeiro. Inesperado e nunca visto! Fez-se um longo silêncio pelo mundo inteiro e abençoámo-lo. Benedicto renunciara, chegara o Abençoado. Retemperador!
Boas contas
Mandou-nos descansar e que dormíssemos bem. Dormi. Dali foi para a ceia dos cardeais. Eles aguardavam-no e surpreenderam-se: o novo Papa não chegava em carro protocolar, mas no último autocarro que levava os últimos cardeais!
O jantar foi sereno. Na despedida, com humor, disse-lhes: «Deus vos perdoe, senhores cardeais, pelo que fizestes!».
Acordou cedo e foi à Basílica de Santa Maria Maior rezar a Nossa Senhora. Levou-lhe nas mãos um belo ramo de flores, como convém a um cavalheiro que visita uma Senhora. E ali lhe rezou em privado, estou certo que por si, mas sobretudo por nós, como dissera durante a bênção Urbi et Orbe. Que pela intercessão de Francisco a Mãe nos cubra e aconchegue com o seu manto materno! Bem precisamos.
À saída saudou naturalmente alguns estudantes que o surpreenderam, dirigindo--se depois num simples carro sem escolta para o Hotel da Casa Internacional do Clero onde se alojara antes do Conclave. E foi ele que subiu ao seu quarto, recolheu os seus pertences e, descendo, tirou a carteira do bolso e pagou a sua despesa. Trouxe factura!
Verbos
Na tarde do primeiro dia de Papa celebrou missa na Capela Sistina. Os cardeais entraram e sentaram-se nos seus lugares do Conclave. Francisco chegou em último, como compete. Vinha revestido com uma simples casula côr amarela. Na homilia quase improvisada referiu três verbos urgentes para a nossa fé: «Caminhar, construir e confessar». Disse não ser fácil ser-se cristão a caminho, «porque quando se caminha e se constrói, confessa-se, mas às vezes aos solavancos». Deveremos, portanto, apoiar-nos na Cruz de Cristo, porque «quem não confessa a Cristo não reza a Deus mas ao diabo»!
Francisco
Auguraram alguns esse nome, nome pesado na Igreja. E acabou sendo Francisco o nome escolhido em «honra de São Francisco de Assis», construtor de fraternidade e reconstrutor da Igreja de Cristo. Paz e bem, fraternidade, calor e reconstrução são um bom programa de acção pastoral.
Mas o nome lembra ainda S. Francisco Xavier, o padroeiro das missões; e recorda-nos que a Igreja é universal e havemos de estender o olhar da fé até ao Oriente. E lembra ainda São Francisco de Borja, jesuita como Xavier e como Bergoglio, que deixando de ser vice-Rei de Espanha decidiu jamais obedecer a poderes deste mundo e só a Deus!
E lembra, como não, o nome de Francisco, pastorinho de Fátima. Sendo o Papa o servo dos servos de Cristo, fica-lhe bem o nome do pastorinho contemplativo de Jesus, que gostava de rebanhos, de silêncio, oração e contemplação e de tocar o pífaro e fazer as primas dançar! Dançará a Igreja ao som de Francisco que também gosta de tango, chimarrão e futebol?
Chama do Carmo I NS 180 I Março 17 2013
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