sábado, 9 de março de 2013

Volta, Paco

Vive a Igreja em compasso de espera da eleição de um novo Papa. Parece que os cardeais eleitores não têm pressa, e querem, primeiro, conhecer a realidade da Igreja para poder acertar na eleição.
Nas Missas deste domingo IV escutamos a Parábola do Filho Pródigo, ou talvez melhor dito, do Pai Bom e os seus dois filhos. Ele é um pai sempre pai. E é ele o verdadeiro protagonista da parábola. É um pai que não se deixa influenciar pela conduta dos filhos. Façam o que façam serão sempre filhos.
Ao longo da história a figura do filho mais novo tem sido vista como a imagem do mundo moderno que não se sente bem em casa e reclama a parte da sua herança. E logo se aparta para bem longe do olhar do pai. E longe da vinculação paterna aproveita para disfrutar da vida num carpe diem infructuoso, sumindo o dinheiro sem que ninguém o condicione, saboreando a liberdade que o definha.
O regresso de tantos a casa poderia ser a tarefa, ingente, do próximo Papa.
Em língua castelhana familiar Paco quer dizer Francisco. E é um nome muito popular.
Ora conta-se num conto de E. Hemingway que um pai desejava reconciliar-se com um filho fugido de casa para Madrid, a grande cidade. Longe do advento da Internet e querendo localizá-lo, veio o pai a Madrid e colocou um anúncio no jornal de maior circulação madrilena. O anúncio dizia:
«Paco,
aguardo-te ao meio-dia da próxima terça--feira no hotel Montana. Tudo está perdoado. Amo-te, filho. Papá.»
Nós, portugueses, nem imaginamos como em Espanha é popular o nome Paco, pelo que, vai daí, no dia e hora marcados apareceram oitocentos jovens Pacos à porta do Hotel esperando o pai. Foi preciso chamar a polícia para dispersar a multidão!
Pronto, já sei, não passa de uma historieta. Mas por vezes as historietas têm muito que se lhes diga, pois sintetizam verdades cruas como pedras frias, e afiadas como gumes de lanças.
Que quer dizer a história? A si que lhe diz? Por que vieram tantos jovens ao hotel? É possível viver sem perdão? E viver sem pai que perdoe? E sem motivos para pedir perdão?
A magia da história está no perdão do pai: «Filho, disse, tudo está perdoado»! É um perdão de pai sem condições, um perdão livre e rendido, e por isso irresistível. Por isso tantos vieram ao encontro!
Estamos em Quaresma: eis o tempo em que Deus anuncia ao mundo uma mensagem verdadeiramente consoladora, cheia de calor e amor de Pai: Tudo está perdoado! Filho, espero-te em casa! Regressa, por favor!
A todos os Pacos do mundo Deus diz: estás perdoado. Sem condições. Regressa.
Este é o anúncio irresistível do hoje e do sempre da Igreja. Falta que desça dos ouvidos ao coração de tantos, fugitivos e restantes.
Quem de nós é puro? Quem de nós em alguma etapa das nossas vidas não fugiu da casa do Pai e malgastou a sua fortuna? Quem de nós não sentiu ainda necessidade de ir por si e pela sua cabeça, deixando de lado este ou aquele mandamento?
E quem de nós não foi alguma vez o filho mais velho, bem comportado mas cheio de orgulho, que não abandonou a casa, mas sempre pronto a morder nos mais novos? Quem é que nunca foi uma pessoa espiritual e venenosamente mordaz? Quem, de entre os cristãos perfeitos, não mordeu ainda nos que abandonam a Igreja e no Pai extravagante que os recebe de braços abertos e coração sobressaltado?
Por mais esforços que façamos, assim decorre a nossa vida: entre a pura graça do Pai que se nos dá entre abraços, e o arrependimento tosco, tacanho e apoucado.
Mas o que verdadeiramente é novo na parábola de Jesus é o coração do Pai!
A Bíblia conta-nos muitas histórias de dois irmãos, o bom e o mau: Caim e Abel, Ismael e Isaac,  Isaú e Jacob, José e os irmãos, o irmão mau mau e o irmão bom mau.
No seu tempo Jesus não se escusou a viver entre e a comer com os maus maus, e foi criticado. Criticado precisamente pelos bons maus, os fariseus, que não O compreenderam nem jamais aceitaram a sua pregação.
Mas bom bom é o Pai! Que belo e sofrido coração tem o Pai! Um coração que nunca se fecha a ninguém! Sempre pronto a correr para abraçar o filho mau mau que regressa a casa! Um coração capaz de esperar e esperar e esperar até amanhecer o motivo para fazer festa e dançar! Um coração que nunca fecha a porta de casa e encontra sempre algum motivo para convidar a entrar! Um coração capaz de reconhecer no coração de qualquer filho algo que se pareça a Si! Algo belo e bom.
Ah!, meu Deus! Eu não quereria imitar o filho mau mau, nem o filho bom mau. Eu quereria mesmo era um coração bom e deixar-me perdoar pelo vosso coração que contínua e mansamente me convida a entrar em casa.
Volta, Paco! Volta, Pepe! Ambos estais perdoados! Vinde, filhos, alegrai o meu pobre coração de pai! Vinde, filhos, façamos festa!
Chama do Carmo I NS 179 I Março 10 2013

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