Ressuscitou! Ressuscitou! É Páscoa! Páscoa feliz, irmãs! Páscoa feliz, irmãos!
Vimos celebrando a Páscoa sob a forma de preparação. Vivemo-la a partir de agora sob a forma de celebração e exultação: O Senhor vive! O Senhor está vivo! É vivente! Está gozoso, alegre e feliz! É pelo caminho que Ele inaugurou que eu caminharei, que caminharemos. Até à glória, até à vitória!
Existem no percurso quedas e derrotas, mas a confiança nos diz que Ele de nós não desiste. A Páscoa nos diz que Ele sempre está do nosso lado, é ao nosso lado que Ele está no mais íngreme do caminho, no mais profundo abismo da dor, até que com Ele nos encontremos na Pátria do Sorriso.
Páscoa feliz para todos e um beijo!
Com beijos saudamos familiares e amigos. Com beijos assinalamos as chegadas e com eles marcamos as partidas. Beijos e risos são migalhas de pão que medram a vida. Beijos apaixonados alimentam fogos fátuos, beijos traiçoeiros cavam sepulturas. Beijos de Pedro, com lágrimas; os de Judas, gelo que queima.
Todos os beijos são a pensar no outro dizendo que precisamos dele — seja ele ou ela. Os beijos dizem que somos pouco e somos sós sem aquele ou aquela a quem beijamos.
É Páscoa, é tempo de beijos! É tempo de Cristo glorioso! É Páscoa; nela se renova a nossa liturgia tão rica de símbolos, que não esqueceu o beijo. Reparemos:
1. Quando entro beijo o altar da Eucaristia — e o mesmo à despedida! O altar é ara sagrada e mesa santa. Ali repousará o Cordeiro Pascal, o Pão e o Vinho, espécies sacramentais que velam o Corpo e o Sangue de Cristo. À mesa do Banquete revestida de toalha branca dou o primeiro beijo de celebrante. A toalha é bela como belas são as flores que o adornam, mas não seria a mesma mesa sem o meu beijo. Beijo o altar como quem beija um hóspede, em sinal de amor e respeito. Beijo-o como quem beija o Senhor, e assim inicio a festa do amor e da família que reza entre irmãos.
2. Diante do olhar atento do Povo abro e leio a Escritura Sagrada para que nos conte a história da nossa fé. E ouvindo o que ela diz deixo que a Palavra penetre e toque fio a fio a tecitura do do meu coração. O Livro escrito há tantos séculos fala, afinal, de mim, de cada um de nós, de todos nós. Nós estamos lá como co-protagonistas da história sagrada. Ao fechá-lo beijo-o santamente beijando tanta vida que o acaba de escutar. E beijo delicadamente a Cristo, Profeta e Palavra da Salvação.
3. Não saio da Eucaristia sem beijar os irmãos. É preciso reconhecer, porém, que quanto menos necessitado, a eles mais fechado; quanto mais rico menos os ouço, menos lhes abro a mão e o coração.
Li algures a história do Dr. Borboleta (tinha ainda outros nomes piores...). Não dava beijos com medo dos vírus alheios. Não abraçava por horror ao cheiro corporal. E para evitar contactos não cumprimentava fosse quem fosse. Escolheu então um alerta: andar pelos corredores e enfermarias com as mãos abertas ao nível dos ombros!
(Pobre homem-não-me-toques!)
Vivemos tempos surpreendentemente estranhos, estranhamente assépticos. Por que temos tanto horror ao contacto e ao contágio?
Dizia o Apóstolo Paulo aos romanos: «Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo!». É por isso que na festa da Eucaristia nos damos o ósculo da paz! A Eucacristia é o lugar do beijo santo. Beijemo-nos, irmãos e irmãs: É Páscoa! Beijemo-nos em acção de graças pela glória e pela vitória do Senhor Ressuscitado!
O Apóstolo não sugere que troquemos entre nós uma ligeira vénia, ou concedamos um leve aperto de mão; ele pede-nos que no contexto da celebração-memorial da morte e ressurreição de Jesus saibamos reconhecer a presença dos demais em nossas vidas: porque também a eles devemos a fortaleza da fé!
É Páscoa! Beijemos o Cristo santo e o Cristo pecador que concelebram connosco a alegria da ressurreição. Troquemos entre nós os beijos santos do Apóstolo: ao Altar, ao Livro, ao Irmão, à Irmã.
No dia dos beijos santos, Senhor, hei-de ainda beijar-te na tua cruz, trono que sustenta o teu corpo belo, rasgado, macerado, dado, oferente. Não te negarei, Senhor, nem os meus beijos nem as minhas flores nem as minhas palmas nem a doçura do meu olhar nem o vinco do meu compromisso. Aceita os meus beijos cheios de baba, uns, de amor e de temor, outros. Aceita-os: são prova da sede da eternidade que me arde e me tarda.
Chama do Carmo I NS 182 I Março 31 2013
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