sábado, 9 de março de 2013

E depois do regresso?


A parábola do Filho pródigo narrada em primeira mão por Jesus está aberta a várias interpretações. Aí vai mais uma.

Muitos de nós crescemos na «Casa de Deus», que é a Igreja. E desde meninos aprendemos a chamar-Lhe «Pai»: recebemos os sacramentos, participamos na catequese, rezámos com simplicidade e confiança de meninos.

Depois crescemos e entrámos na adolescência. Chegámos à crise própria daquela idade, que nos levou a afirmar a nossa personalidade à margem dos ensinamentos dos mais velhos e às vezes contra eles. Então, afastámo-nos de Deus e da sua casa, acusando a religião e os seus preceitos de ser um peso de que tínhamos de nos livrar.

A determinada altura reconsiderámos. E voltámos à Igreja.

Os motivos do regresso podem ser variados, como variados podem ser os caminhos de regresso. E vão desde a maior ou menor sinceridade à maior ou menor consciência do que se está a fazer. O regresso é, porém, sempre difícil e sacrificado.

Eis o que até aqui nos ensinou a atitude do filho mais novo.

A partir daqui a perseverança não é fácil. A Igreja acolhe-nos e forma-nos, convida-nos para retiros e convívios, e a ela lhe oferecemos o nosso tempo e parte do nosso dinheiro para colaborações com a cáritas, missões e outras iniciativas. A perseverança, porém, nem sempre é fácil. Porém, devemos ser fortes, devemos adaptar-nos às circunstâncias e às exigências da fé, e isso, por si só, dá-nos grandes satisfações.

Os anos vão passando e às vezes começamos a sentir-nos como o irmão mais velho. Encontrámos tantas pessoas superficiais que se magoam e magoam os demais, encontramos falsos «irmãos» que nos ferem com o seu comportamento, encontrámos pastores medíocres… Além disso, nós também não somos tão bons como queríamos, nem conseguimos superar os nossos defeitos. E isso frustra-nos. Além disso, a própria acção de Deus mostra-se incompreensível para nós, e a verdade é que não são poucas as vezes em que ficámos na dúvida se seremos «bons» ou «maus», porque tudo nos cansa até mesmo o que nos vem de Deus. Então, o que mais desejamos é pedir explicações a Deus, como se Ele fosse o mais culpado daquilo que sucede nas nossas vidas.

Mas nós sabemos em quem pusemos a nossa vida: nas mãos de Deus. Algures experimentamos o seu amor incompreensível e inabarcável, o seu perdão e misericórdia.

Sim, no mais profundo do nosso coração sentimos que Ele nos diz: «Meu filho!», e recordámos que nos havíamos fiado da sua palavra… que sabemos que o seu amor é único e que só ele nos pode encher o coração; somos conscientes de que o Seu amor é uma prenda que nós não merecemos. E isto ajuda-nos a não consideramos se os outros são merecedores, se sabem acolher, se respondem correctamente, se fazem o que dizem.

 Mas não termina aqui o nosso caminho. Falta-nos ainda revestir-nos dos sentimentos do Pai, falta-nos unir-nos de tal maneira a Ele que cheguemos a ter o seu olhar e o seu coração, que sejamos capazes de acolher os outros e de os converter em nossos filhos, de respeitar o seu processo de crescimento e de os acompanhar com paciência, adaptando-nos às suas necessidades.

2 comentários:

"M" disse...

Depois do regresso: a esperança!

Ana disse...

E a confiança!