terça-feira, 27 de novembro de 2012

Noviciado de Frei João da Cruz

Foi na cidade de Valladolid, Castela, Espanha, que Santa Teresa transmitiu o carisma da nova família carmelitana a São João da Cruz.
Conheceram-se como sabemos em 1567, no locutório do Carmelo de Medina del Campo. Ele era pequeno de estatura, magro e de pele morena. Tinha 25 anos e falava pouco. Tinhas estudos mas conservava a humildade de quem se dispõe sempre a aprender.
Ela era palradora e um pouco mais alta que ele. Se comparada com as mulheres da sua geração era bem constituída, de pele clara e já algo velha (tinha 52 anos!, idade antes da qual se costumava morrer naquele tempo…).
Naquele encontro, como vimos, depois de algumas palavras, Teresa percebeu que estava diante duma pessoa excepcional, única, e logo se prontificou a explicar-lhe o seu projecto de fundar o ramo masculino do Carmo Descalço. A ele pareceu-lhe bem, «desde que não demorasse muito».
No ano seguinte João acompanhou Teresa à fundação de Valladolid. Durante dois meses participou com as freiras em todos os actos da sua vida, aprendendo delas «a nossa maneira de proceder».
Teresa conta-o assim: «Parti com Frei João da Cruz para a dita fundação de Valladolid. Estivemos alguns dias sem clausura, para que os operários fizessem o que era exigido para o recolhimento da casa. Assim, havia ocasião de informar Frei João da Cruz acerca de toda a nossa maneira de proceder, para que levasse bem entendidas todas as coisas, tanto de mortificação como do estilo da nossa irmandade e recreação em comum, pois tudo se faz com tanta moderação e os recreios só servem para que as irmãs aprendam a conhecer as suas faltas e tomem um certo alívio para levarem melhor o rigor da Regra. Ele era tão bom, que mais podia eu aprender dele do que ele de mim; mas não era esta a minha intenção, apenas queria mostrar-lhe o modo de proceder das irmãs.» (Fundações 13,5)
É interessante a insistência da Santa naquilo que lhe interessava transmitir a Frei João: «A nossa maneira de proceder […] o estilo de recreação e irmandade […] o estilo de proceder das irmãs.» Todas as reformas da época caracterizavam-se pela busca de uma vida austera, insistindo muito na penitência corporal. Por esta altura, Frei João ainda não desenvolvera um pensamento pessoal sobre o assunto. Limita-se a praticar o que no seu ambiente se identificava como perfeição. Porém, a Madre Teresa tinha já percorrido um longo caminho de vida e reflexão. Ela vivia consciente da novidade que supunha a sua proposta de vida e queria que Frei João também o fosse. E foi assim que o frade pode assimilá-lo neste contacto directo com ela e com as suas freiras.
A fundação de um novo convento exigia a visita às autoridades civis e religiosas para alcançar as devidas licenças, fazer acordos com os benfeitores, fazer escrituras, adaptar edifícios, explicar o projecto de vida às aspirantes, sem nunca se perder o ritmo de vida conventual. Pelo meio de tantas actividades não faltavam os momentos de tensão. Por vezes Santa Teresa perdia a paciência; porém, Frei João parecia imutável, sempre disponível, sempre sereno. Numa carta a Santa faz o elogio do Santo; diz: «É cordato e adequado para o nosso estilo de vida […]. Não há frade que não diga bem dele, pois a sua vida foi sempre de grande penitência, embora seja jovem. Mais parece que o Senhor o tem em suas mãos, visto que ainda que tivéssemos tido algumas ocasiões de negócios, e eu que sou sempre a mesma, algumas vezes me aborreci com ele, porém, nós, a ele jamais lhe vimos uma imperfeição.» (Carta 13)
No momento certo Frei João rumará ao lugarzito de Duruelo, aonde haviam oferecido à Madre uma casita. Ali pode o Santo Padre por em prática o que aprendera a Santa Teresa em Valladolid.



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