(No início da Semana dos Seminários)
Abre neste domingo a Semana de Oração pelos Seminários. Sim, lembremo-nos deles ao menos uma vez no ano. Do meu Seminário lembrar-me-ei sempre com serena e grata nostalgia. E por isso compreendo bem que o número de vocações esteja a crescer, sobretudo na Ásia e na África, e que elas se equilibrem nos Estados Unidos (e que a Diocese de Boston sejam um caso de visível sucesso!). Na Europa elas baixam, porque, entre outras razões, a natalidade baixa e a família está em crise. Por vezes brilham esperanças: as vocações crescem na Holanda e na Roménia, onde os católicos são claramente minoritários. Mas infelizmente, é ainda verdade que por aqui, nas opções, cada vez mais apreciamos ser parecidos uns aos outros, e que não é fácil sair da mesmice de gostos e opções. Por que vale a pena, quem ousará fazê-lo?
Confesso a surpresa da confidência.
Uma mulher teve três filhos e por fim, quando já não esperava, nasceu um quarto. Aquela mulher vive a sua vida, não inquieta mas questionando-se qb.
Quando chegou a idade das grandes questões, perguntou-se que caminho haveria de tomar. Como era do tempo das cartas, escreveu e perguntou a quem de direito. Foi recebendo respostas e em função delas decidiu que seria o mesmo que a maioria: mãe. Mãe é uma missão bela! Abraçou-a com todas as suas forças. Nasceram-lhe filhos que lhe encheram os braços; no tempo oportuno foram-lhe descendo do colo. Começaram a caminhar, a fazer os respectivos planos. Aqui e acolá, hoje e além, foi interrogando, soprando as brasas da fé, tentando acender neles ou em algum deles a centelha vocacional sacerdotal. Nenhum foi ainda para o Seminário, talvez o mais novo venha a ir. Nunca se sabe. Considera pelo menos ter feito o que lhe competia como mulher e mãe crente. E fez. E rezando continua a fazer.
Confesso a surpresa, pois tal já não é comum.
ste é apenas um dos testemunhos que me surpreenderam o olhar nos últimos tempos. Dos Estados Unidos ao Brasil, de uma esquina a outra do planeta, da diocese mais folgada à mais pequenina tenho sentido um renovado chamamento à vocação sacerdotal. São chamamentos sem medo nem vergonha, para o serviço, para o testemunho, para um lugar que não se pode cumprir de outra maneira. Só para exemplo:
A Diocese de Leiria-Fátima lançou um convite aos adolescentes da suas escolas para contemplar e meditar na beleza da vocação cristã; e por isso vai perguntar-lhes: «Ser padre... porque não?»
Um arquitecto recém-encartado ia de carro a caminho de Aveiro. E ouvia a Comercial. Mas não ouvia. Rezava uma oração na qual apenas dizia: «Meu Deus, não me lixes a vida». Não lixou. Acabou entrado no Seminário, e a poucos dias de ser padre rezava: «É isto que eu peço com sincera verdade: Que eu habite na tua casa para o resto da minha vida.»
Às vezes ouço o que ouviu o P. Ramón quando escreveu no seu blog: «Outro dia estava celebrando a Eucaristia numa pequena cidade do interior, onde não havia padre. Disseram-me: "Por favor, fique connosco! Precisamos de um padre!" Mas porque eles não têm o padre de que precisam?... Na hora da homilia, igreja lotada, refleti com o povo: "Vocês estão sem padre. Isto não é bom. Vocês estão querendo um padre para esta comunidade. Isso é muito bom! Mas, nestes últimos dez anos, quantas jovens saíram desta comunidade para entrar no Seminário ou no Noviciado?... Foi aquele silêncio!».
Dom Pedro é bispo católico brasileiro. Em algum lugar escreveu que Deus chama todos a alguma vocação, porque Deus ama cada pessoa e nos chama para uma missão. Também chama, claro, para o sacerdócio, para que os sacerdotes estejam com o Senhor, ouçam as Suas palavras, partam em missão, cuidem dos outros e os ajudem a escutar o Senhor... e a também eles partirem em missão. Gostei do remate dele: chamemos rapazes e homens que ousem ser: «padres, somente padres e totalmente padres».
Por vezes dou por mim a pensar na noite que atravessamos e como a maioria dos nossos jovens se encandeia pelas luzes solitárias que a desoras iluminam as avenidas da vida vazias de gente! Quem quererá ser luz que a ninguém ilumina? Por que tantos atravessam a noite encantados por luzes que não aquecem nem levam a lugar algum? Por que é que, ao contrário, tanto custa acender um leve pavio no Círio de Cristo e partir levando-o na mão para incendiar o mundo?
Eu sei. É facil acomodarmo-nos ao leito dos sapatos que já conhecem a forma dos nossos pés. É sempre mais fácil seguir os carreiros de sempre. Porém, especialmente esta semana vou rezar por homens fartos da mesmice, que apreciem sandálias e ousem trilhar trilhos novos com uma chama renovada no peito.
Chama do Carmo I NS 162 | Novembro 11 2012
1 comentário:
«Hoje, os princípios da vocação sacerdotal são mais variados e distintos do que nos anos passados. Muitas vezes a decisão para o sacerdócio desponta nas experiências de uma profissão secular já assumida. Frequentemente, cresce nas comunidades, especialmente nos movimentos, que favorecem um encontro comunitário com Cristo e a sua Igreja, uma experiência espiritual e a alegria no serviço da fé. A decisão amadurece também em encontros muito pessoais com a grandeza e a miséria do ser humano. Deste modo os candidatos ao sacerdócio vivem muitas vezes em continentes espirituais completamente diversos; poderá ser difícil reconhecer os elementos comuns do futuro mandato e do seu itinerário espiritual.»
[Bento XVI]
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