sábado, 25 de fevereiro de 2012

Primeira Quarta feira penitencial





No dia 22, começou em toda a Igreja a Quaresma. Era Quarta-feira de Cinzas. Este ano, nas Quartas, à ceia, fazemos penitência. Partilhamos uma sopa e o recolhido é distribuído pelos pobres.
Calmamente, silenciosamente, nesta primeira experiência éramos vinte e cinco, contando as crianças. Sim, meu Deus, contando jovens e crianças!

Bênção do peregrino




Por último, e às 7:30h de Domingo, o grupo reuniu-se aos pés de Nossa Senhora do Carmo e pediram e receberam a bênção do Peregrino. Era o segundo dia de viagem, a mochila não pesava menos, mas um peregrino confidenciou que «depois da bênção o caminho é mais fácil». Assim seja.

Actuação inesperada



No fim da ceia preparada pela Ana, a Joana, a Verónica e a Dª Idalina houve ainda actuação de variedades. A Ana e a Matilde encarregaram-se disso. E bem, muito bem.

Grupo Pegadas




O Grupo Pegadas é um grupo alargado de peregrinos. No passado dia 18 chegaram ao Albergue São João da Cruz dos Caminhos vindos de Esposende. Fizeram vinte e tal quilómetros mas chegaram em forma. Alegres e em  forma.  Nunca tínhamos recebido um grupo de peregrinos tão grande, apesar do Albergue estar aberto há um ano. Aqui foram vividos bons momentos, também de espiritualdade do caminho. E no fim ainda condecoraram o Prior. Muito obrigado

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Prestar atenção ao irmão

O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15).
(Bento XVI)

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2012

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo»
(Carta Enc. PP, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf.Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (JPII, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011
BENEDICTUS PP. XVI

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O pecado

Um velho rabino contava:
Cada um de nós está unido a Deus por um fio. E quando cometemos uma falta, o fio se quebra. Mas quando nos arrependemos da nossa falta, Deus faz um nó no fio. De repente, o fio fica mais curto que antes. E o pecador fica um pouco mais perto de Deus. Assim, entre falta e arrependimento, entre nó e nó, nós nos aproximamos de Deus. Finalmente, cada um dos nossos pecados é uma ocasião de encurtar a corda de nós, e de chegar mais rapidamente perto do coração de Deus.
Santa Quaresma.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Super matemática!


A Carolina é acólita da Missa das Dez. E é campeã dum jogo muito difícil para oe adultos como eu. Chama-se o jogo SuperTmatik. Basicamente o jogo consiste em fazer contas, que vão sendo propostas aleatoriamente. A rapidez da solução certa é o que conta. Garanto que os miúdos, digo a miúda, são imbatíveis. É do terceiro ano — só tem oito anos! — mas a velocidade das soluções debita-as como um einstein!
Eu fiquei trucidado.
A próxima actuação é na Escola de Monserrate. E já sabemos quem traz a taça para casa!

A vida não é um carnaval!

Tem razão!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Prestemos atenção uns aos outros

Ontem, 11 de Fevereiro, foi o Dia do Doente.
«Prestemos atenção uns aos outros!» É assim que abre a Mensagem do Papa para a Quaresma que se aproxima. Esta atenção começa com o nosso mais próximo, especialmente aquela ou aquele que nos habituamos a ver sem quase ver. Mas, também, colectivamente, aqueles que são vítimas da nossa omissão, de quem nem sequer nos incomodarmos em olhá-los. Diz o Papa: "A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios".
É bem verdade.
Momentos há em que nos transcendemos. Que nos transformamos e nos vemos a fazer coisas de que sempre disseramos: «Jamé!». Acontecem naquelas situações que de tão desprovidas de humanidade – e tão saturadas de humilhação – nos surpreendem, por alguém as assumir dum fôlego ou dum ímpeto irreprimível.
Assim de repente lembro-me de Francisco de Assis e de Maximiliano Maria Kolbe. Mas há mais exemplos, claro. Estes chegam para compreender a ideia. Vejamos: Francisco Bernardone era o líder da juventude da sua cidade. Alegre, amante da música e das festas. Com muito dinheiro para gastar, rapidamente se tornou um ídolo entre seus compinchas. Adorava banquetes, noitadas de diversão e de cantar serenatas às belas damas da sua cidade. Mas converteu-se e os antigos companheiros chacotearam-no e o pai Pietro enfureceu-se. Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis viu um leproso, que sempre lhe parecera horripilante e repugnante à vista e ao olfato, e cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo. Porém, então, como que movido por uma força superior, apeou-se do cavalo, e, colocando o seu dinheiro naquelas mãos podres e sangrentas, deu ao leproso um beijo de amizade.
Existem concerteza muitos beijos, mas o de Bernardone é único e de todo inesperado.
Séculos mais tarde um filho do pai Francisco tem um gesto parecido. Frei Maximiliano Maria Kolbe estava prisioneiro no inferno de Aushwitz e num acto de inaudita caridade (ou loucura?) ofereceu-se para morrer em vez do sargento Franciszek Gajowniczek, casado e com filhos. E assim foi. E Franciszek sobreviveu ao inferno!
Há gestos assim, cheios de santa loucura! Incompreensíveis, mas que nos devolvem a confiança no ser humano. O beijo nas carnes podres e aquela imolação são tão radicais que mesmo sabendo-as sempre nos surpreendem!
Agora imagine: Imagine que a pessoa que se senta ao seu lado no café, ou aquela que o saúda mui fraternalmente na Missa têm Sida! De futuro que fará você? Vai, gentil, corresponder-lhes? Vai saudá-los e apertar-lhes as mãos? Ou dá por encerrada a fraternidade e muda de café e de igreja? Seremos capazes da ternura de Francisco e da radicalidade de Maximiliano? Por que mirram hoje os seus gestos? Por que são tão áridos os nossos tempos tão alheios à bondade desinteressada?
Poderia continuar, mas o mais interessante será partir para a acção. O mais interessante é a prática concreta do dia a dia.
Ocorre-me esta reflexão porque passou ontem mais um Dia Mundial do Doente. E nada mais triste ser doente nestes duros tempos da tróika. Obrigado a cortar nas gorduras o Estado já quase não faz operações. Mas o Estado não tem dores, não sofre. Logo não sabe reconhecer as dores das pessoas. O Estado sabe de números e de estatísticas, não sabe de dores e de humanidade. Nos relatórios aparecem os números dos desempenhos e o alcance das práticas., mas a burocracia não sente nem sabe ler sufoco, desespero e dor.
E já não é só o Estado, somos também nós. É sabido que na silly season e nas épocas altas os velhos e doentes ficam abandonados sem que alguém os visite. O que importa é tirar uns dias de paz e sossego, ir para longe, ficar fora. Entretanto, os velhos morrem na solidão donde só são resgatados quando cheira a carne podre por todo o prédio; ao mesmo tempo os hospitais apressam altas de doentes que ninguém vai resgatar porque são tropeços em casa e impecilhos de férias há muito pagas.
É por isso que tem razão o Papa quando nos alerta para a crescente insensibilidade e cegueira que nos impedem de atendermos os outros e de beijarmos o sofrimento alheio. É por isso que hoje já quase não percebemos os gestos de Frei Francisco e Frei Maximiliano!
Aqueles que já não funcionam, isto é, os velhos, os nossos velhos decrépitos e os doentes, os que não contribuem para o orçamento familiar e apenas o delapidam, ficam esquecidos a um canto da garagem da memória. E para piorar as coisas, nós, cristãos, já quase não veneramos aquelas palavras de Jesus que antes tanto moviam à piedade e ao respeito pelos frágeis (que todos um dia havemos de ser): «Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis!»

Chama do Carmo I NS 136 I Fevereiro 12 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

As faces da esperança

A mim, tinham-me pedido que apresentasse a perspectiva da doutrina social da Igreja e da espiritualidade sobre a crise. Não sei se dei algum contributo positivo para o debate mas constatei como a voz da Igreja é ouvida e acreditada nestas matérias. Partilho convosco algumas ideias que me têm povoado a mente nos últimos tempos e que pus em comum nesse forum.
Comecei por apresentar grandes questões que nos permitam alargar o horizonte da reflexão e ir aos fundamentos do fenómeno: O que é que está em crise? Porque é que chegamos à crise? Quais os domínios onde ela mais se nota e onde é que estão as suas raízes? A crise é algo que apenas suportamos ou que acolhemos com paz e naturalidade? E no meio da crise, ou crises, ainda há lugar para a esperança? Que contributo têm os homens e mulheres de fé, membros da Igreja, a dar para esta reflexão? A Igreja possui realmente um corpo doutrinal e uma experiência de vida acumulada que lhe permite ter uma palavra no assunto.
Em primeiro lugar, temos a convicção que a crise acontece porque perdemos valores, referências, sentido da vida, esquecemos Deus como referência suprema que nos permite configurar e hierarquizar valores, critérios, princípios de vida, que nos permite colocar cada coisa no lugar que lhe corresponde. Realmente quando falta Deus, fundamento último da ética e da moral, o homem e as sociedades ficam a um passo da lei da selva, do «salve-se quem puder», da corrupção, dos atropelos à dignidade humana, dos desequilíbrios ecológicos… e de tudo isto temos exemplos abundantes.
Agora, gritamos, alarmamos e apregoamos a crise por todos os lados. Procuramos onde descarregar a insatisfação e revolta perante o ponto a que as coisas chegaram. Penso que esta crise é inevitável porque os padrões de vida que vivemos ou aspiramos atingir são insustentáveis. Pergunto-me senão precisamos mesmo duma certa dose de crise e de critica (que tem a sua raiz etimológica na palavra “crise”) para regressarmos aos fundamentos do real que são a verdade, a justiça, o respeito pela ordem natural das pessoas e das coisas.
O povo crente sempre fez a experiência da crise. Jesus colocou-se e colocou-nos numa situação critica, abalando os falsos fundamentos religiosos e políticos do seu tempo para construir uma nova ordem, uma nova relação das pessoas entre si, com as demais criaturas e com o Criador. Enquanto se está mergulhado na crise seja ela mais de cariz pessoal, espiritual, social ou económica… experimenta-se como desagradável, acarreta grandes lutas e sofrimentos.
O importante é que na crise haja um lugar para a esperança. O que nos parece derrotista e pessimista é a crise sem esperança. A crise purifica, recentra-nos no essencial da beleza e da bondade que dão sabor à vida.
A Igreja, com as suas ramificações nas comunidades cristãs, nas instituições de caridade cristã, na exortação constante à prática do acolhimento e da solidariedade ente vizinhos e famílias, conhece os rostos da crise e esforça-se por a minimizar. Muitas vezes, a Igreja, na sua pobreza de meios e recursos, não consegue corresponder a tanta demanda. Nesses momentos, só pode oferecer a única riqueza que possui: Cristo no meio de nós com as suas fortes razões para acreditar e esperar.
Nas nossas comunidades, podemos escutar, acolher e rezar pelas situações que todos os dias nos batem à porta. Se pudermos dizer olhos nos olhos: «Tem confiança, não desanimes, vamos rezar por ti, hoje vou ter-te presente na eucaristia…» quantas janelas de esperança abrimos com estas palavras! Com a esperança alicerçada em Cristo e nos valores do seu Evangelho, nós podemos ajudar a humanidade a sair das encruzilhadas e enredos em que se envolveu. Podemos pôr-nos a caminhar com os homens e mulheres de boa vontade na procura de novos modelos de vida social, de novos paradigmas económicos e de desenvolvimento que nos permita esperar e acreditar que as travessias dos desertos nos conduzirão à «terra prometida».
P. Joaquim Teixeira, OCD
Provincial


Chama do Carmo I NS 135 I Fevereiro 5 2012