domingo, 27 de fevereiro de 2011

Decálogo da serenidade

 Decálogo do Papa Bom, João XXVIII, que ele escreveu e procurou viver.
Com serenidade.

1. Procurarei viver, pensando apenas no dia de hoje, exclusivamente neste dia, sem querer resolver todos os problemas da minha vida e de uma só vez.
2. Hoje, apenas hoje, procurarei ter o máximo cuidado na minha convivência; cortês nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar ou corrigir à força ninguém, senão a mim mesmo.
3. Hoje, apenas hoje, serei feliz. Na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo, mas também já neste.
4. Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias, sem pretender que sejam todas as circunstâncias a adaptarem-se aos meus desejos.
5. Hoje, apenas hoje, dedicarei 10 minutos do meu tempo a uma boa leitura, recordando que assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, a boa leitura é necessária para a vida da alma.
6. Hoje, apenas hoje, farei uma boa acção, e não direi a ninguém.
7. Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custe fazer, e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.
8. Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado, talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos escrevê-lo-ei, e fugirei de dois males: a pressa e a indecisão.
9. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente, embora as circunstâncias mostrem ao contrário, que a Providência de Deus se ocupa de mim, como se não existisse mais ninguém no mundo.
10. Hoje, apenas hoje, não terei nenhum temor, de modo especial não terei medo de gozar o que é belo, e de crer na bondade.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Trapézio sem rede!

Jesus continua na montanha a pregar o Sermão da Montanha.
Das suas palavras sai a Nova Lei que oferece à comunidade dos seus discípulos. Porque Jesus só dá e só diz o que vive. Entre as muitas coisas que lhes diz — e vale bem a pena lê-las e ouvi-las! — diz exactamente assim: «Não vos preocupeis quanto à vossa vida.»! Jesus é sempre surpreendente; e justifica-se convidando-nos para a simplicidade. «Olhai os passarinhos do céu», «olhai os lirios do campo»!Ah, se prestássemos mais atenção a Jesus!
A crise — lá vem a crise, novamente! — tem aqui a solução: Nem Salomão se vestiu com a leveza dos lírios selvagens, nem jamais os passarinhos armazenaram sementes; e nem um cai sem que Deus o permita!
Valha-me Deus! Como Jesus nos trabalha!

Como pode ser: então não ouvi já milhentas vezes: «Deus esqueceu-se de mim»? Que amargura leio eu nessas palavras! Como nessas alturas me cresce um novelo no estômago que não me deixa sair a voz, e quando sai é tão de falsete que nem a mim convence!
Contaram-me a história dum filósofo que renunciou a tudo. A tudo mesmo, menos a uma pequena malga que guardou para beber água do fontanário. Mas quando observou um cão bebendo sem malga até a sua deitou fora!
Como falar da confiança? Neste tempo de tantos apegos e de apoios impingidos como falar da confiança que Jesus nos propõe?
(Jamais esquecerei aquele meu jovem amigo que, desapoiado, me confiava não estar preparado para casar; e casou daí a seis meses!)
Como é díficil a arte do trapézio sem rede, e mais ainda nas coisas da fé! E mais ainda como Jesus, que não tinha biblioteca nem travesseiro!
Quando ouço «Até Deus me abandonou», lembro-me sempre do grito de Jesus na Cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». E não é que por vezes parece mesmo? Embora também leia nas Escrituras Sagradas que se uma mãe abandonar o filho — o que acontece, o que acontece... — «Eu, diz o Senhor, não te abandonarei!». Mas quando, meu Deus, quando confiarei num amor mais seguro que o duma mãe? Quando me sentirei como um pardal ou um lirio?
«Eu nunca te esquecerei», promete o Senhor; e agora, agora como é que eu, com responsabilidades e obrigações para com outros, me vou dispor a confiar caminhando num trapézio sem rede?
Algo tem de mudar. E o que tem de mudar é exactamente os apoios que julgamos que o são, e o mais certo é que o não sejam.
Que confiança extraordinária temos no dinheiro! (Eu sei, eu sei, que precisamos dele!) É tão poderoso que o levamos para todo o lado! (Até para a igreja, que no ofertório ainda não se aceitam cartões de crédito...) É tão poderoso que o levamos no bolso, mas quem anda no bolso do dinherio somos nós, que o deixamos apropriar-se do nosso coração.
Tomou conta da nossa vida, até para as rosas de mais um aniversário de casamento!
Sem ele já nada se faz, já não sabemos viver. Aparentemente tudo se vende e tudo se compra. Tudo tem um preço! E nem sempre justo, antes desmesuradamente cínico.
E não é que somos apenas um sopro, um soprozinho que dura setenta ou oitenta anos? E não é que nada podemos garantir, pelo menos ninguém se pode garantir mais um dia de vida!
Sim, dentro das possibilidades, temos de planear o futuro, de viver o presente lançando os alicerces do que há-de vir. E isso inclui ganhar dinheiro. Não podemos dar-nos à preguiça , a vegetar ou a sugar o suor dos outros. O mundo criado é para ser trabalhado com a força dos braços e da inteligência, porém de sorriso nos lábios e sem o sufoco que é fruto da angústia. Não se corra o risco de deixar que o dinheiro se assenhoreie do nosso coração e não deixe espaço para nos ocuparmos das pessoas, por só sabermos comerciá-las e comerciar as relações.
(Mas, poderá alguma vez ser tudo entregue confiadamente ao dinheiro? Você confiaria o seu bébé a um monte de moedas d’Euro?)
«Ou Deus ou o dinheiro», disse Jesus, que hoje nos ajuda a descobrir o cuidado amoroso de Deus por todas as criaturas: flores, passarinhos e seres humanos. Nós estamos nas mãos de Deus, e nas mãos de Deus é que estamos bem!
Entre nós e Deus há um trapézio sem rede, chama-se confiança. É nosso exercício cruzar o arame. Para o qual temos toda a vida. O truque para não cair no abismo é pensar mais nos outros que em nós, e acreditar que Ele tem umas mãos poderosas que depois do vale das trevas nos hão-de acariciar e secar as lágrimas, e uns braços fortes para, como uma mãe e um pai, nos aconchegar junto ao peito.
Hoje já andou de trapézio?

Chama do Carmo I NS 99 I Fevereiro 26, 2011

Na sua declaração de IRS ajude o GAF


Sabia que na Declaração de IRS, pode “doar” parte do imposto que suporta?
Esta acção, designada por consignação de imposto, não implica qualquer custo para o contribuinte.
Assim, de uma forma simples e rápida, sem qualquer encargo para si, está a fazer com que o Estado destine 0,5% do seu IRS liquidado ao GAF.
Deste modo, contribui para programas de educação para a saúde, projectos de desenvolvimento e de intervenção com famílias, jovens e crianças em risco, mulheres vítimas de violência doméstica e seus filhos, tornando-se cidadão activo na luta contra a pobreza e exclusão social.
Quando entregar a sua declaração de IRS do ano 2010, faça a sua consignação do imposto liquidado a favor do Gabinete de Atendimento à Família, precisando para isso apenas de inserir o nosso Número de Identificação Fiscal (NIF) – 503 748 935 no campo 901 do Quadro 9 do anexo H (Benefícios fiscais e Deduções) da Declaração de Rendimentos Modelo 3 do IRS do ano de 2010, cujo prazo de entrega decorre durante o ano de 2011.
Não implica mais encargos pessoais e está a ajudar quem mais precisa.
Perde-se apenas 1 minuto por ano para ajudar os outros, 50 segundos a escolher a nossa Instituição e 10 segundos para escrever o Numero de Contribuinte 503 748 935.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carta aos Capítulos Provinciais

O Padre Geral, Frei Saverio Cannistrà, enviou uma carta a todos os Capítulos Provinciais manifestando a sua proximidade e convidando todos a viver cada Capítulo partindo do objetivo da «busca do projecto de Deus sobre nós, onde se manifesta a verdade mais profunda daquilo que somos no presente e do que somos chamados a ser no futuro.»
Na carta o Prepósito Geral disse de «estar convicto que não podemos fazer um bom discernimento sem uma verdadeira mudança interior. Esta é a «única coisa necessária para não transformar os Capítulos em mera mudança institucional negligenciando a novidade do Espírito», tão necessária na nossa vida religiosa.
O Padre Geral insiste sobre a necessidade de retomar em cada Capítulo as conclusões emanadas dos encontros regionais que nos últimos meses o Paddre Geral e o respectivo Definidor realizaram com os Provinciais e os seus Conselhos.
«Espero que a leitura pessoal e partilhada dos escritos de Santa Teresa possa servir de apoio e de orientação e vos ajude a assumir a responsabilidade que tendes nas vossas respectivas circunscrições.»

Avisos, Fevereiro 27 - Março 07

27 Domingo
Hoje é Domingo das Bênçãos da Família, que celebramos em todas as Eucaristias.

02 de Março, Quarta
Tarde de Adoração Eucarística.

03 Quinta
Dia de oração pelas vocações.

07 Segunda
Dia de oração pelos defuntos da Ordem.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Processo de beatificação de assassino

Jacques Fesh foi condenado à morte e agora encontra-se em processo de beatificação. Na história da Igreja só há um precedente de um condenado à morte por delitos comuns e elevado à honra dos altares. Trata-se do Bom Ladrão, há 2.000 anos!
Depois do processo diocesano celebrado a Paris, chegam a Roma neste mês os autos da Causa de Beatificação de Jacques Fesch, um jovem francês guilhotinado aos 53 aos pelo homicídio de um polícia, durante um assalto.
Seu pai, Georges Fesh, dirigia um banco em Saint Germain, perto de Paris. Ateu e de temperamento autoritário, não entendia as inseguranças de seu filho Jacques, sensível e inquieto. Para conseguir algum dinheiro, no dia 24 de fevereiro de 1954, o jovem entra armado em uma loja de câmbio em Paris para o assalto. Na fuga dispara sobre um polícia e mata-o. Preso, os pais vão visitá-lo na prisão. Quando a mãe, católica, fica sabendo que o filho poderia ser condenado à morte, oferece a Deus a própria vida, para que o filho ao menos «morra bem».
Enquanto a justiça dos homens faz o seu percurso com os processos, os interrogatórios, as acusações do ministério público e os planos da defesa, o jovem, na solidão da sua cela, lê revistas, clássicos e romances que lhe passam. Também o Capelão e o seu advogado, Baudet, um convertido que se tornara terceiro carmelita lhe incentivam leituras espirituais. Jacques é fulminado pelas figuras de Francisco de Assis, Teresa de Jesus e Teresinha do Menino Jesus a quem chamava de minha Pequena Teresa, bem como pela Divina Comédia. Depois de um ano de detenção tem uma experiência mística em que, conforme relato seu expresso numa carta: «Como um vento impetuoso que passa, sem que se saiba de onde vem, o Espírito do Senhor me agarrou».

A um amigo seu confiou certa vez: «Agora tenho verdadeiramente a certeza de começar a viver pela primeira vez. Estou em paz e dei um sentido à minha vida, enquanto antes não era mais que um morto vivo». Isolado numa pequena cela comunica a sua fé por cartas que depois se tornaram objeto de reflexão por parte dos jovens católicos franceses.
Jacques espera a execução em oração, aceitando-a como ocasião de graça.
Às 5:30h do primeiro dia de Outubro de 1957 (festa de Santa Teresinha), os guardas que vão buscá-lo encontram-no de joelhos e em oração ao lado da cama bem arrumada.
«Senhor, não me abandoneis, eu confio em Vós!» - foram suas últimas palavras.

Jacques e Teresinha
«Que bela esta pequena santa, pois como está tão perto de nós! Pela pequena via, sei que posso levantar-me. Dê as pequenas coisas que não são muito difíceis. Darei o meu cigarro». Jacques se coloca no lugar de Pranzini: Ela salvou a alma de um homem condenado à morte e seu caso é muito semelhante. Teresa de Lisieux era comemorada, naquela época, no dia 3 de outubro, Jacques espera morrer naquele dia: «Sinto que a quinta-feira se aproxima com a minha pequena Santa Teresinha do Menino Jesus». Ele faleceu no dia 1 de Outubro, dia que, depois do Vaticano II, passou a ser o dia da festa de Teresinha.

Três fotos de Âncora

 

Agradeço-te, Senhor

Agradeço-te, Senhor, por respirar e existir.
Agradeço-te por tudo o que tenho e me rodeia.
Agradeço-te pelo que comi: é dádiva tua.
Agradeço-te por me teres permitido
viver e trabalhar hoje, e sentir alegria;
por ter encontrado esta pessoa,
e ter comprovado a fidelidade daquela.
Agradeço-te por tudo.
Romano Guardini (1885 – 1968)

Nova Carminhada dos Jovens do Carmo

Os Jovens Carmelitas carminharam por terras e areias de Vila Praia de Âncora, num inesperado e belo dia de sol! Dizem que ali descobriram o oceano que faltava. Saiba qual, e muito mais. Eles que foram bem acolhidos pela comundiade local: jovens, catequistas e Pároco, contam tudo aqui.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Queridos Inimigos!

Jesus está na montanha a pregar o Sermão da Montanha. Ficou louco, Jesus? Fizeram-lhe mal as alturas? É que, de facto, a sua proposta sai-lhe tão ousada, tão arrebatada, que não parece ser de levar a sério. Mas é. Jesus está mesmo bom da cabeça quando propõe o amor aos inimigos.
Vivemos tempos neutros; tempos aos quais já quase não se fazem propostas radicais, com o arrojo das de Jesus. São por isso tempos que se vão vivendo por não apetecê-los.
E se todos tratássemos os inimigos como amigos, como queridos inimigos?
Dizem-me que nós os padres já não pregamos como antigamente, que os retiros são passeios ou encontros, que já ninguém propõe com seriedade o Evangelho, que temos tanto medo de falar em exigência, por sermos tão poucos, que evitamos perder os poucos que ainda nos restam.

Seja, embora não creia que seja tanto assim.
Vivemos tempos débeis. Nada nos anima a caminhar de tão ténue e breve é o que nos propomos. Ninguém quer experiências que durem ou fidelidades que permaneçam. O que vale é o que passa depois que por lá passamos sem nos molharmos, sem muito nos comprometermos. O que vale é que Eu estive lá, mas agora vivo como se lá não tivesse ido. Curtir é que é bué da fixe e muito tótil.
O compromisso e a exigência obrigam a dar o corte porque é muito fatela e xunga de mais.
Cada um é como cada qual, já não há lugar para e seriedade, e a verdade é o que fôr a conveniência do momento. Para quê afirmar verdades se cada um pode viver com a sua opinião? Sim, mas como poderemos nós viver tão medianos, indistintos e indiferenciados sem dar lugar ao que é e deve ser?
Vamos, pois, ao cerne, sem o qual nada se sustenta.
No excerto do Evangelho deste domingo Jesus propõe-nos algo radical. E, sinceramente, não me parece que tenha falado apenas para um punhado de eleitos ou privilegiados. A proposta radical do Evangelho continua válida e válida se repropõe a todos. Não a afoguemos nem a adociquemos. A proposta de Jesus é só uma e bem clara: Sede santos como o vosso Pai do céu é santo!
Quereríamos desafio mais radical? Não creio que seja possível radicalizar mais, porque lá diz o refrão do povo, que o parece ter lido a Bíblia: Tal pai, tal filho. Que tal filho como qual pai.
O certo, porém, é que, subrepticiamente, o cancro também nos minou a nós. Como os demais quisemos ser modernos e descartamos a fidelidade; aquele pedaço de Evangelho é exigente?, então será porque é só para alguns; A caridade é difícil?, então é fácil reclamar o nosso direito ao descanso e ao bem-estar.
O Evangelho perdeu o ferrão, e o cristão de tão ecuménico já quase não sabe o que deve ou não deve, pode ou não pode fazer, porque, no fim de contas, os outros também o fazem.
E a regra que passa a valer é a do Todos à uma, mesmo que o caminho seja errado.
Se é certo que muitos advogam que o Cristianismo deveria deixar de pregar aos não crentes, também é certo que a caridade é o nosso tónus indeclinável. E por isso indispensável do que somos.
O diferente sempre interpelou mais e mais deixou a consciência aos sobressaltos. Por isso não creio que baste ser simpático e sorrir, ter olhar sincero e seguir em frente.
Por onde passamos deixamos mais ou menos indelével a nossa pegada cristã, que ainda que não queiramos brilha nas obras que fazemos. Creio que era isso que Cristo queria dizer no Evangelho. Um cristão é um cristão, mesmo que não lhe exijam que prove a sua fé.
Nós repugnamos o fizeste-as paga-las!, porque o amor aos inimigos é o Evangelho que nos ungiu, o coração que late em nós. Estará, porém, ao alcance sincero das nossas forças declinar a ira e repudiar o desejo de vingança? Este desafio tão radical de Jesus — de amarmos os inimigos, é honestamente possível?
Humanamente não, divinamente sim.
Por alguma razão lemos no Evangelho: «Orai por aqueles que vos perseguem»; isto é, juntai às forças humanas da não beligerância a suave unção da oração, porque quando rezamos pelos inimigos então já eles deixaram de o ser.
E na segunda leitura, Paulo diz o seguinte: «O Espírito Santo vive em vós!». Ora, quando rezamos pelos inimigos e lhes perdoamos e até os amamos, estamos, simplesmente, deixando que Deus seja Deus em nós e pelas nossas acções, e que, humilde, deixe que se nos atribua o mérito que lhe é devido. É pois possível amar os inimigos? É. É tão possível quanto deixamos que Deus viva e actue na estreiteza da nossa vida e no nada das nossas acções. Se Deus desde o céu «faz nascer o sol sobre bons e maus», porque haveria de deixar de ser Deus quando na terra habita o nosso coração?
Olá, pois, Queridos Inimigos!
Chama do Carmo I NS 98 I Fevereiro 20, 2011

Avisos, Fevereiro 20-27

21, SegundaDia de oração pelos defuntos da Ordem.

22, Terça
Festa da Cadeira de São Pedro.

23, Quarta
Memória de S. Policarpo, bispo e mártir (69 -155).

27, Domingo
Celebramos o Domingo das bênçãos.

Se a criança…


Se uma criança vive na crítica aprende a condenar.
Se uma criança vive na hostilidade aprende a combater.
Se uma criança vive na ironia aprende a ser tímido.
Se uma criança vive na vergonha aprende a sentir-se culpada.
Se uma criança vive na tolerância aprende a ser paciente.
Se uma criança vive no encorajamento aprende a ter confiança.
Se uma criança vive no louvor aprende a apreciar.
Se uma criança vive na sinceridade aprende a justiça.
Se uma criança vive na segurança aprende a ter fé.
Se uma criança vive na aprovação aprende a aceitar-se.
Se uma criança vive na aceitação e na amizade
aprende a encontrar o amor no mundo.

Dorothy Law Nolte

Senhor,
ajuda-me a amar a verdade,
a lutar pela paz,
a não colaborar com os mais violentos
e viver na alegria.
Amen.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Catequese papal sobre São João da Cruz

"Queridos irmãos e irmãs,
há duas semanas, apresentei a figura da grande mística espanhola Teresa de Jesus. Hoje, desejo falar de outro importante Santo daquelas terras, amigo espiritual de Santa Teresa, reformador, juntamente com ela, da família religiosa carmelitana: São João da Cruz, proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XI, em 1926, e chamado na tradição de Doctor mysticus, “Doutor místico”.
João da Cruz nasceu em 1542, no pequeno vilarejo de Fontiveros, próximo de Ávila, de Castilha a Velha, filho de Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. A família era paupérrima, porque o pai, de nobre origem de Toledo, havia sido expulso de casa e deserdado por ter desposado Catalina, uma humilde tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, João, aos nove anos, transferiu-se, com a mãe e o irmão, a Medina del Campo, próximo a Valladolid, centro comercial e cultural. Ali frequentou o Colegio de los Doctrinos, desempenhando alguns humildes serviços para a Igreja-convento da Madalena.
Sucessivamente, dadas as suas qualidades humanas e os seus resultados nos estudos, foi admitido primeiro como enfermeiro no Hospital da Conceição, depois no Colégio dos Jesuítas, recém fundado em Medina del Campo: ali, João entrou aos dezoito anos e estudou, por três anos, ciências humanas, retórica e línguas clássicas. Ao final da formação, ele tinha bem clara a sua vocação: a vida religiosa e, entre tantas ordens presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo.
No verão de 1563, iniciou o noviciado junto aos Carmelitanos da cidade, assumindo o nome religioso de Matias. No ano seguinte, foi destinado à prestigiada Universidade de Salamanca, onde estudou por um triénio arte e filosofia. Em 1567, foi ordenado sacerdote e retornou a Medina del Campo para celebrar a sua Primeira Missa, circundado pelo afecto dos familiares. Exactamente aqui acontece o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo para ambos: Teresa lhe expôs o seu plano de reforma do Carmelo também no ramo masculino da Ordem e propôs a João para aderi-lo "para maior glória de Deus"; o jovem sacerdote ficou fascinado pelas ideias de Teresa, tanto que se tornou um grande apoiador do projeto. Os dois trabalharam em conjunto alguns meses, partilhando ideais e propostas para inaugurar o mais rápido possível a primeira casa de Carmelitanos Descalços: a abertura acontece em 28 de Dezembro de 1568 em Duruelo, lugar solitário da província de Ávila.
Com João, formavam essa primeira comunidade masculina reformada outros três companheiros. Ao renovar a sua profissão religiosa segundo a Regra primitiva, os quatro adoptaram um novo nome: João chamou-se então “da Cruz”, como será depois universalmente conhecido. Ao final de 1572, sob pedido de santa Teresa, torna-se confessor e vigário do Mosteiro da Encarnação de Ávila, do qual a Santa era priora. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que enriqueceu a ambos. Naquele período, surgem também as mais importantes obras teresianas e os primeiros escritos de João.
A adesão à reforma carmelitana não foi fácil e custou a João também graves sofrimentos. O episódio mais traumático foi, em 1577, o seu rapto e encarceramento no Convento dos Carmelitanos da Antiga Observância de Toledo, após uma injusta acusação. O Santo permanece aprisionado por meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali compôs, juntamente a outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na noite entre 16 e 17 de Agosto de 1578, consegue fugir de modo aventureiro, abrigando-se no mosteiro das Carmelitanas Descalças da cidade. Santa Teresa e as companheiras reformadas celebraram, com imensa alegria, a sua libertação e, após um breve tempo de recuperação das forças, João foi destinado à Andaluzia, onde passa dez anos em vários conventos, especialmente em Granada. Assume encargos sempre mais importantes na Ordem, até tornar-se Vigário Provincial, e completou a elaboração de seus tratados espirituais.
Retornou depois à sua terra natal, como membro do governo geral da família religiosa teresiana, que já gozava de plena autonomia jurídica. Morou no Carmelo de Segóvia, desenvolvendo o ofício de superior daquela comunidade. Em 1591, foi dispensado de suas responsabilidades e destinado à nova Província religiosa do México. Enquanto preparava-se para a longa viagem com outros dez companheiros, retirou-se para um convento solitário próximo a Jaén, onde ficou gravemente doente. João enfrentou com exemplar serenidade e paciência enormes sofrimentos. Morreu na noite entre 13 e 14 de Dezembro de 1591, enquanto os coirmãos recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles dizendo: "Hoje vou cantar o Ofício no céu". Os seus restos mortais foram transladados a Segóvia. Foi beatificado por Clemente X em 1675 e canonizado por Bento XIII em 1726.
João é considerado um dos mais importantes poetas líricos da literatura espanhola. As obras maiores são quatro: Subida ao Monte Carmelo, Noite escura, Cântico espiritual e Chama viva de amor.
No Cântico espiritual, São João apresenta o caminho de purificação da alma, isto é, a progressiva posse alegre de Deus, até que a alma passe a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é amada por Ele. A Chama viva de amor prossegue nessa perspectiva, descrevendo mais detalhadamente o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é sempre aquela do fogo: como o fogo quanto mais arde e consome a lenha tanto mais se faz incandescente até tornar-se chama, da mesma forma o Espírito Santo, que durante a noite escura purifica e “pule” a alma, com o tempo a ilumina e a aquece como se fosse uma chama. A vida da alma é uma contínua festa do Espírito Santo, que deixa entrever a glória da união com Deus na eternidade.
A Subida ao Monte Carmelo apresenta o itinerário espiritual do ponto de vista da purificação progressiva da alma, necessária para escalar o cume da perfeição cristã, simbolizada pelo cume do Monte Carmelo. Tal purificação é proposta como um caminho que o homem empreende, colaborando com a acção divina, para libertar a alma de todo apego ou afecto contrário à vontade de Deus. A purificação, que para chegar à união com Deus deve ser total, inicia a partir da vida dos sentidos e prossegue naquela que se obtém por meio das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, que purificam a intenção, a memória e a vontade.
A Noite escura descreve o aspecto "passivo", ou seja, a intervenção de Deus nesse processo de "purificação" da alma. O esforço humano, de fato, é incapaz sozinho de chegar até as raízes profundas das inclinações e dos hábitos cativos da pessoa: pode somente freá-los, mas não erradicá-los completamente. Para fazê-lo, é necessária a acção especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe à união de amor com Ele. São João define "passiva" tal purificação de amor com Ele exactamente porque, embora aceita pela alma, é realizada pela acção misteriosa do Espírito Santo que, como chama de fogo, consome toda a impureza. Nesse estado, a alma é submetida a todo o tipo de provação, como se se encontrasse em uma noite escura.
Essas indicações sobre as obras principais do Santo ajudam-nos a aproximarmo-nos dos pontos salientes da sua vasta e profunda doutrina mística, cujo objectivo é o de descrever um caminho seguro para chegar à santidade, o estado de perfeição a que Deus chama a todos nós. Segundo João da Cruz, tudo aquilo que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, nós podemos chegar à descoberta d'Aquele que, nelas, deixou um traço de si. A fé, porém, é a única fonte dada ao homem para conhecer a Deus assim como Ele é em si mesmo, como Deus Uno e Trino. Tudo aquilo que Deus queria comunicar ao homem, o fez em Jesus Cristo, a sua Palavra feita carne. Jesus Cristo é a única e definitiva via ao Pai (cf. Jo 14,6). Todas as coisas criadas são nada em relação a Deus e nada tem valor fora d'Ele: por consequência, para chegar ao amor perfeito de Deus, todo outro amor deve configurar-se em Cristo ao amor divino. Daqui deriva a insistência de São João da Cruz sobre a necessidade da purificação e do esvaziamento interior para transformar-se em Deus, que é a meta única da perfeição.
Essa "purificação" não consiste na simples privação física das coisas ou do seu uso; aquilo que torna a alma pura e livre, ao contrário, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo é colocado em Deus como centro e fim da vida. O longo e cansativo processo de purificação exige certamente o esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus: tudo aquilo que o homem pode fazer é "dispor-se", estar aberto à acção divina e não colocar obstáculos. Vivendo as virtudes teologais, o homem se eleva e dá valor ao próprio empenho. O ritmo de crescimento da fé, da esperança e da caridade anda de mãos dadas com a obra de purificação e com a progressiva união com Deus, até transformar-se n'Ele. Quando se chega a essa meta, a alma emerge na própria vida trinitária, de modo que São João afirma que ela chega a amar a Deus com o mesmo amor com que Ele a ama, porque a ama no Espírito Santo. Eis porque o Doutor Místico sustenta que não existe verdadeira união de amor com Deus se não culmina na união trinitária. Nesse estado supremo, a alma santa conhece tudo em Deus e não deve mais passar através das criaturas para chegar a Ele. A alma se sente já inundada pelo amor divino e se alegra completamente nele.
Queridos irmãos e irmãs, ao fim permanece a questão: esse santo, com a sua alta mística, com esse árduo caminho rumo ao cume da perfeição, tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal, que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo somente para poucas almas eleitas que podem realmente iniciar essa via da purificação, da ascese mística? Para encontrar a resposta, devemos, antes de tudo, ter presente que a vida de São João da Cruz não foi um "voar sobre nuvens místicas", mas foi uma vida muito dura, muito prática e concreta, seja como reformador da ordem, onde encontrou tantas oposições, seja como superior provincial, seja no cárcere de seus coirmãos, onde era exposto a insultos inacreditáveis e a maltratos físicos. Foi uma vida dura, mas exactamente nos meses passados nos cárceres ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. E, assim, podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, "a Via", não é um peso a mais ao já suficientemente duro fardo da nossa vida, não é algo que tornaria mais pesado esse fardo, mas é algo completamente diferente, é uma luz, uma força, que nos ajuda a levar esse fardo.
Se um homem carrega consigo um grande amor, esse amor lhe dá quase asas, e suporta mais facilmente todas as moléstias da vida, porque leva em si essa grande luz; isso é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Esse deixar-se amar é a luz que nos ajuda a levar o fardo todo o dia. E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é exactamente essa "abertura": abrir as janelas da nossa alma para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer a Deus, porque exactamente na abertura à sua luz se encontra a força, se encontra a alegria dos remidos. Peçamos ao Senhor para que nos ajude a encontrar essa santidade, deixemo-nos amar por Deus, que é a vocação de nós todos e a verdadeira redenção. Obrigado."

Sua Santidade, Papa Bento XVI.
Tradução de Leonardo Meira
Fonte: Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Oração (I)

Não oramos para que Deus altere a sua mente a nossa respeito, mas para mudarmos a nossa mente acerca de Deus.
Não oramos para manipular a história e dobrá-la à nossa vontade, mas porque Deus quer que recebamos as coisas de acordo com as nossas orações e, por isso, as reconheçamos como dons.
A oração educa os nossos desejos e faz de nós pessoas apaixonadas.
A oração cura os nossos desejos de fantasia e põe-nos em contacto com as nossas aspirações fundamentais.
Timothy Radcliffe.

Oração

Quando rezamos em conjunto, devemos também ter confiança que a oração penetra no mundo, atravessando os muros da igreja.
Quando rezamos em conjunto, isso tem implicações em todo o lado; o mundo à nossa volta torna-se mais transparente e acolhedor. Criamos uma atmosfera nova. O campo dos pensamentos e dos sentimentos humanos altera-se.
A oração produz um verdadeiro terramoto no mundo, que deixa de ser o que era.
Anselm Grun.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sexto aniversário

Celebram-se hoje os seis anos do nascimento da Irmã Lúcia para o Céu, onde foi acolhida com carinho pelo Pai.
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O Itinerário espiritual de Francisco Palau (I)

O que é um itinerário espiritual?
A vida humana é um itinerário até à plena realização pessoal. Aplicado à vida espiritual, a noção de itinerário sublima a ideia de crescimento. Fala-se de crescimento porque o progresso no caminho espiritual é constante, mas não linear, não é uma subida gradual e harmónica, não está desprovida de contradições, dado a presença do pecado. Incluiu momentos de plenitude, de estagnação e inclusive de retrocesso. Dentro do crescimento dão-se crises e noites, próprias de todo o caminho humano que, assumidas com liberdade e sabedoria, permitem seguir avançando com maior profundidade.
O itinerário da vida espiritual de Francisco Palau, desenvolve-se em etapas. Narrou-a e reflectiu sobre ela retrospectivamente. Peregrinação que dura toda a vida. É o progressivo crescimento do amor de Deus visto e centrado no mistério da Igreja. Não se mede por ouros critérios, já que a sua espiritualidade é radicalmente “eclesiocêntrica”.
Esse crescimento em processo com a misteriosa realidade da Igreja no seu aspecto visível, desembocou numa expansão vital nas suas relações com Ela através:
- Do enriquecimento conceptual: chamado à união com Deus.
- Da maturidade afectiva: a oração procura a presença consciente e viva. Integra as principais dimensões do ser humano: (intelectual, afectiva e prática).
- Da vida teologal in crescendo: processo lento em fé, esperança e amor. Estrutura de graça, para viver da Palavra. Não há outro caminho. Experiência de conversão.
- Disponibilidade de serviço: a graça se converte em compromisso. Um salto na sua fé, esperança e amor, na sua acção pastoral.
Ânsias do encontro definitivo: sem véus.

Um caminho de experiência
Francisco Palau atrai pela totalidade da sua pessoa, o seu modo de pensar e de sentir, a maneira de se decidir e de se relacionar com Deus e com os seus semelhantes, pelo modo de proceder nos assuntos mais diversos que lhe aconteceram. E lhe perguntamos: Onde esteve o segredo de tanta harmonia, da sua personalidade tão realizada e tão fecunda? A resposta é que a sua vida teve muito de busca e de encontro, de tenacidade e docilidade, onde por um lado é transparente a acção de Deus, e por outro o seu esforço totalmente entregue às obras do amor, ao serviço da Sua Amada.

Processo vital de encontro com Deus
- Personalizado: original e irrepetível. Experiência de graça.
- Contextualizado: Não à margem da vida social desenvolvida no espaço e no tempo: a Igreja e a sociedade do século XIX (1811- 1872). Todo o itinerário espiritual se processa numa situação que nos desafia. A Sua foi uma espiritualidade encarnada na história, com todas as consequências que daí advêm.
- Eclesial comunitário. O caminho espiritual de Francisco Palau se estabelece no marco de uma eclesiologia de comunhão baseada no simbolismo bíblico.

Elementos do progresso onde se dá o crescimento no caminho da mística:
- A busca, ou a tensão entre uma vida concebida como fixação no dado, o conformismo, ou como pergunta pelo sentido de tudo, pelo amor, pela salvação. A necessidade de optar.
- A profundidade, tensão que afecta a reflexão da própria vida e os acontecimentos desde a perspectiva de Deus, o modo de perceber a realidade, a necessidade de confiança e abandono. Vai à raiz das coisas, ao fundo, mediante o silêncio, a oração e o acolhimento da Palavra.
- A oblação, que marca a tensão afectiva e determina a sua entrega, em fé, esperança e amor. A plenitude humana vive-se na entrega para anunciar o evangelho. A melhor expressão em Francisco Palau, encontramo-la na Eucaristia, compreendida e vivida nas suas duas dimensões: a sacramental e a existencial.
- A criatividade, que faz referência ao dinamismo de mudança e novidade, a abertura à Providência e ao plano de Deus.
- Seguimento e configuração com Jesus Cristo. A sua experiência se fundamenta na Escritura e no Mistério de Deus revelado em Jesus Cristo, até fazer Dele o centro da própria vida Atitude de docilidade à acção do espírito.
Carmelitas Missionárias de Beja

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma vida, dois caminhos. Por que temos de escolher?

A crise não é de agora. Digo, a crise de valores, a verdadeira crise, que da outra pouco sei.
O povo de Israel, nosso irmão mais velho na fé, não se limitou a rezar e a ensinar-nos a rezar. É certo que é um povo orante, que como ninguém alçou as mãos ao céu e até lá ergueu louvores e salmos como nenhum outro.
Mas não sabe só de orações, sabe também de pensamento e teve os seus pensadores. Eram pensadores que rezavam e pensavam no contexto da fé e do Pacto que Deus aliançara com o Povo Eleito. Jesus Ben Sirá é um deles. Viveu uns duzentos anos antes de Jesus Cristo, ao tempo em que a cultura grega minava a cultura e a fé israelitas. Os jovens abandonavam a fé dos pais, seduzidos pelo brilho superior da sabedoria dos gregos.
É aqui que entra Ben-Sirá que ergue a sua voz para vincar os valores do Judaísmo, cultura e fé que nada devem a povo algum por mais evoluído que pareça. Sente algum paralelismo com os dias de hoje?
Com muita frequência a vida apresenta-se-nos como obrigação de escolha entre duas escolhas. Este tema tem raízes profundas no pensamento religioso de Israel sobre o sentido da vida, normalmente posicionado numa escolha entre a felicidade pela fidelidade à Aliança e a eleição da autosuficiência, à margem de Deus.
A primeira leitura deste domingo posiciona-nos nesta questão raramente pensada por nós: na vida podemos eleger um de dois caminhos, o da vida ou o da morte. O da vida, que é o de Deus; o da morte, que é o da ausência de Deus. Esse foi, podemos dizer, o resumo do percurso da história do povo de Israel, que umas vezes escolheu o caminho do bem e foi feliz, e outras vezes escolheu o da morte e deitou-se a perder. Quando Israel escolheu a opção Deus foi um povo solidário, fecundo, equilibrado, próspero. Quando escolheu a opção homem foi um povo egoista, dividido, vingativo, decrépito. A história de Israel foi lida a posteriori sob este foco e sob esta luz foi verificado que as tragédias nacionais de Israel coincidaram com a escolha do caminho do egoismo e das costas voltadas para Deus.
Faz, pois, muito sentido trazer para a assembleia cristã esta leitura do Livro de Ben Sirá, por necessidade de iluminar a nossa história pessoal e comunitária. Que devemos fazer perante as opções que a vida nos oferece? Será o ser humano um mero objecto nas mãos dum Deus mesquinho que o manipula a seu bel-prazer?
Jesus Ben Sirá reconhece o homem como um ser livre, jamais um instrumento abúlico nas mãos de Deus que o liga e desliga segundo as conveniências. Essa é a grandeza da humanidade: podemos escolher! Nós temos nas mãos o percurso do nosso destino, que é influenciado quer pela escolha do bem quer pela do mal. Deus surge na nossa vida não para impedir a liberdade de escolha, mas para oferecer a vida em abundância que se alcança pela escolha do caminho da felicidade.
Deus não obriga, apenas assinala. A eleição e a construção é nossa, é andamento nosso.
Os caminhos abrem-se aos nossos passos e decisões. Que fazer? Que escolher?
Verdadeiramente, creio, esse é o nosso drama. Gostamos de escolher, mas não gostamos das consequências da escolha. Gostamos de escolher e acertar, de escolher sem sofrer, de escolher e colher proveitos imediatos. Não é sempre assim. Por vezes, a escolha do caminho, mesmo quando é acertada, supõe a (possível) passagem por túneis escuros, desertos áridos e vales tenebrosos. As escolhas têm consequências a que não podemos escapar.
Somos obrigados a escolher o caminho de Deus? Não. Somos livres, Deus deixa-nos livres. Escolhemos a opção que queremos, porque Deus não se nos impõe, apenas se nos propõe. Se é certo que Deus não se impõe nem nos trata como matraquilhos, também é certo que frequentemente até aqueles que excluem ou negam a existência de Deus reclamam o preço a pagar por não ser Ele a decidir, ou decidir mal!
A vida tem dois caminhos, ou, se quisermos, frequentes e constantes opções de escolha. Por que temos de escolher? Porque somos livres e nada há que oblitere ou anule a nossa liberdade. Deus respeita maximamente a nossa escolha, mesmo quando é contra Ele, isto é, mesmo quando fere de morte os filhos mais pequeninos dos mais pequeninos do seu reino.
É difícil escolher. Por que não rezar quando temos de o fazer? Por que não incluir a comunidade no discernimento das nossas opções? É mais fácil fazer escolhas quando somos ajudados pela família e pela comunidade, quando não temos de lutar contra as conveniências e o politicamente correcto. É por isso que eu gosto da frase de São João da Cruz: «Vale mais ser fraco e estar carregado junto de quem é forte; do que considerar-se forte e estar aliviado junto dum fraco!»
Chama do Carmo I NS 97 I Fevereiro 13, 2011

Em vez de

Escolhe amar em vez de odiar.

Cria em vez de destruir.
Persevera em vez de desistir.
Louva em vez de criticar.
Cura em vez de ferir.
Reconcilia em vez de guerrear.
Ensina em vez de esconder.
Partilha em vez de roubar.
Actuar em vez de adiar.
Crescer em vez de conservar.
Compreender em vez de julgar.
Unir em vez de separar.
Alumiar em vez de esconder.
Abençoar em vez de blasfemar.
Partilhar em vez de armazenar.
Semear em vez de colher.
E em vez de morrer viverás.

E saberás por que a minha palavra é palavra de vida,
e o meu evangelho boa notícia.
Ainda que muito se cuide,
de nada serve deitar remendo novo em vestido velho
e vinho novo em odres velhos.

Deixa de pensar só em saldos,
em normas e truques legais.
E não tentes comprar o reinod o meu Pai,
nem rastejes sob o peso da lei.
Animado pelo amor, corre livremente.
E em vez de morrer, vive!
Começa a ser cristão!

Florentino U.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Promoção vocacional!

Numa paróquia, durante uma sessão de catequese, o padre faz promoção vocacional. "Já pensaram que Jesus quer a vossa felicidade? Se calhar até gostava que alguns de vocês fossem para o se... semi...", diz, esperando que as crianças completem a frase.
E as crianças respondem em coro: "Cemitério".

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Avisos, Fevereiro 14-19

14  Segunda
>> Memória dos irmãos São Cirilo (827 - 869) e São Metódio (815 - 884), Co-padroeiros da Europa.
>>  21:00h  Encontro com a Bíblia.

18 Sexta
Memória de S. Teotónio (1082 - 1162), primeiro santo português, natural da nossa Diocese.

19 Sábado
Carminhada jovem em Vila Praia de Âncora. Contactar Maria João Brito ou Frei João.

A minha oração de enfermeira

Senhor,
que ao aproximar-me daqueles que sofrem a doença do corpo
eu seja capaz de ver o Teu Rosto sofredor...
Que ao tocá-los, o faça como se a Ti eu cuidasse
Que eles encontrem no meu sorriso a ternura do Teu Amor...
Une Senhor, o seu sofrimento e os meus cuidados,
à Tua obra de Redenção
para que por seu intermédio nos unamos cada vez mais a Ti!
JP III

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

As fraquezas dos católicos

O bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, afirmou este Domingo que uma das principais fraquezas dos católicos é "não se aguentarem no embate com os outros". Num tempo em que a sociedade está "cada vez mais sem sabor, mais suja e em processo de deterioração", com o risco de "destruir-se", os católicos podem ser "mal compreendidos, gozados ou até perseguidos", realçou o prelado.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Renovação da Consagração


(Renovação da Consagrado que os religiosos e religiossa de Viana do Castelo rezamos no Dia do Consagrado - para memórias futura).

Senhor,
com a minha alma cheia de gratidão
por me teres chamado e esclhido,
entrego-te a minha vida,
para sempre e sem reservas.

Aceita, Senhor, o meu sim.
Alimentado (a) e fortalecido (a)
pelo dom da tua Palavra e da Eucaristia,
renovo, hoje, a minha consagração,
segundo o carisma e a vida do meu Instituto.

Que a Virgem Maria e os meus fundadores
me ensinem a percorrer sempre
os caminhos da fidelidade.
Amen.

Sal e luz impossiveis?

O Evangelho é para gente valente. Vejamos um exemplo: no pedacinho de Evangelho que ouvimos na missa deste Domingo o Senhor fala-nos mais uma vez contundentemente. E fala nada mais nada menos da responsabilidade dos cristãos perante o mundo e para com os demais.

«Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!»
Dito assim para cada um de nós é um desassosego. Como é possível ingorar esta interpelação pessoal durante mais tempo? Como podemos os discípulos de Jesus fazer ouvidos moucos a estas palavras tão cruas e directas que Jesus nos dirige?
A mim pesa-me a religião do negro e do fatalismo, das promessas que procuram comprar a Deus, dos cedros dos cemitérios e do ritual porque sim.

Se a religião é uma relação com Deus, custa-me sinceramente enquadrá-la pelo fio escuro dos pavios e o medo, a superstição e a duplicidade, a morte e a noite da desesperança, o azedume do preconceito, a obrigação e o legalismo do ritual.
Se a religião é relação com Deus, e é, então quero vivê-la ao nível do júbilo e da alegria, da dança, da confiança e da felicidade oferecida por Jesus no discurso das Bem-aventuranças.
Ser discípulo de Jesus não é coisa de negrura, mas de franca abertura à felicidade que Ele quer verter em nossos corações. Não foi Ele que disse que somos felizes porque não escolhemos moer e remoer a dor, o negro, o vazio e a suficiência, mas abrir as mãos, sorrir, ungir e partilhar?
Para sermos cristãos bem-aventurados — isto é, santos — não precisamos mais que ser felizes.
E como é bem luminosa uma pessoa feliz!
Salgar e iluminar são tarefas cristãs. Melhor, mais que tarefas são responsabilidades. Um cristão não existe porque sim, existe para salgar e iluminar o caldo do seu contexto.
Embora não seja muito da nossa experiência mais comum, é facilmente entendível que as represas que só se alimentam da chuva de Inverno rapidamente secam, mas as que são alimentadas por um rio, ainda que o Verão seja vigoroso, resistem mais às solicitações a que são sujeitas.
O salgar e o iluminar cristãos precisam dum rio que os alimente. E o rio diz-nos hoje no Evangelho: «Vós sois o sal da terra.» «Vós sois a luz do mundo.»
Só Cristo pode salgar e iluminar.
É por isso que é tão difícil ser-se cristão, porque supõe a exigência da responsabilidade de não pensar só em si, mas também nos demais: ser sal para a terra e luz para o mundo. Para os outros. O que Jesus nos pede é quase impossível, não fora Ele alimentar-nos o armazém do sal e a carga da luz. E não deve bastar-nos ser o sal que queremos. Temos de ser sal que não decaia nem se corrompa. Dizem que quimicamente é impossível que o sal perca o sabor, mas é bem possível que não permanecendo unidos a Ele a nossa vida perca qualidade e sabor e já não atraia nem apaixone alguém.
O sal quer-se na salgadeira onde conserva os alimentos e na cozinha onde os tempera.
Onde havemos, pois, de estar, nós cristãos, senão nos lugares onde existe fastio e cansaço e o mais fácil é desistir ou mudar para pior? Onde senão nos lugares em que a sociedade cozinha soluções?
Justifica-se uma vida cómoda e sem canseiras, quando poderíamos diluir-nos nas associações cívicas e culturais, nas direcções das escolas e dos partidos políticos, no desporto e no lazer? Diluir-nos, sim, e discretamente, jamais fazendo pilha de sal que estraga tanto a convivialidade como a corresponsabilidade nas decisões. Sim, precisa-se de sal que elimina a maledicência e a corrupção, as ameaças e a opressão.
Aquele que se revelou como Luz pede-nos que sejamos luz; luz que transmita a Luz, porque só podemos ser luz se a bebermos nEle, na sua vida e na sua graça. O resto são sombras!
Vivemos um paradoxo. Nunca houve tanta luz no mundo! Nunca as noites tanto se assemelharam ao dia! Nunca os nossos rostos e vidas estiveram tão continuamente expostos à luz (da televisão, do computador e do telémovel)! Mas o mundo que mais luz tem continua a produzir teias de sombra sobre o sentido da vida e do futuro.
Nós não falamos como um qualquer partido, que, afinal de contas, pode, como nós, exigir que os seus sejam sal e luz. Nós não fazemos o combate do poder, mas o trato das mãos abertas e disponíveis, da simplicidade do coração, do sorriso liso sem esperar que nos retribuam.
Enfim, hoje o profeta Isaías ensina-nos como é ser luz. Nós o somos quando partimos o pão com o faminto, quando hospedamos pobres sem tecto, quando vestimos os nus, quando não nos fechamos nas nossas próprias vidas.
Só quem tem vida escura tem mãos fechadas!
O profeta já o disse: os que hão-de ser luz sê-lo-ão se no seu coração acenderem a fogueira da caridade.
Já compraste os fósforos?
Chama do Carmo I NS 96 I Fevereiro 6, 2010

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Avisos, Fevereiro 07 - 14

07 | Segunda
Festa das Cinco Chagas do Senhor.

09 | Quarta
14:00h - 19:00h | Tarde de Adoração Eucarística.

10 | Quinta
Memória de S. Escolástica (480 - 543)

11 | Sexta
Dia Mundial do Doente.

14 | Segunda
21:00h | Encontro com a Bíblia.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O papa evoca Santa Teresa de Jesus no Dia do Consagrado

Queridos irmãos e irmãs:
Ao longo das catequeses que eu quis dedicar aos Padres da Igreja e a grandes figuras de teólogos e mulheres da Idade Média, pude falar sobre alguns santos e santas que foram proclamados Doutores da Igreja por sua eminente doutrina. Hoje, eu gostaria de começar com uma breve série de encontros para completar a apresentação dos Doutores da Igreja.
E iniciamos com uma santa que representa um dos cumes da espiritualidade cristã de todos os tempos: Santa Teresa de Jesus. Ela nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Em sua autobiografia, ela menciona alguns detalhes da sua infância: o nascimento "de pais virtuosos e tementes a Deus", em uma grande família, com nove irmãos e três irmãs. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): "Eu quero ver Deus", disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa falou de suas leituras da infância e afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que "tudo o que pertence a este mundo passa"; por outro, que só Deus é para "sempre, sempre, sempre", tema que recupera em seu famoso poema: "Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!". Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).
Se, na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, em sua maioria clássicos da espiritualidade franciscana, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração. Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, sempre em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Também na luta contra suas próprias doenças, a santa vê o combate contra as fraquezas e resistências ao chamado de Deus. Escreve: "Eu desejava viver porque compreendia bem que não estava vivendo, mas estava lutando com uma sombra de morte, e não tinha ninguém para me dar vida, e nem eu poderia tomá-la, e Aquele que podia dá-la a mim, estava certo em não me socorrer, dado que tantas vezes me voltei contra Ele, e eu o havia abandonado" (Vida 8, 2). Em 1543, ela perdeu a proximidade da sua família: o pai morre e todos os seus irmãos, um após o outro, migram para a América. Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chega o topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta fortuita de "um Cristo muito ferido" marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). A santa, que naquele momento sente profunda consonância com o Santo Agostinho das "Confissões", descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: "Aconteceu que...de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n'Ele" (Vida 10, 1). Paralelamente ao amadurecimento da sua própria interioridade, a santa começa a desenvolver, de forma concreta, o ideal de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, funda, em Ávila, com o apoio do bispo da cidade, Dom Álvaro de Mendoza, o primeiro Carmelo reformado, e logo depois recebe também a aprovação do superior geral da Ordem, Giovanni Battista Rossi. Nos anos seguintes, continuou a fundação de novos Carmelos, um total de dezessete. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, em Duruelo, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebe de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços. Teresa termina sua vida terrena justamente enquanto está se ocupando com a fundação.
Em 1582, de fato, tendo criado o Carmelo de Burgos e enquanto fazia a viagem de volta a Ávila, ela morreu, na noite de 15 de outubro, em Alba de Tormes, repetindo humildemente duas frases: "No final, morro como filha da Igreja" e "Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos". Uma existência consumada dentro da Espanha, mas empenhada por toda a Igreja. Beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622, foi proclamada "Doutora da Igreja" pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas sempre entesourou ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do "Caminho de Perfeição"), ou seja, a partir da experiência. Teresa consegue tecer relações de amizade espiritual com muitos santos, especialmente com São João da Cruz. Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho. Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada "Livro da Vida", que ela chama de "Livro das Misericórdias do Senhor". Escrito no Carmelo de Ávila, em 1565, conta o percurso biográfico e espiritual, por escrito, como diz a própria Teresa, para submeter a sua alma ao discernimento do "Mestre dos espirituais", São João de Ávila. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida: Para isso, a obra muitas vezes inclui o diálogo de oração com o Senhor. É uma leitura fascinante, porque a santa não apenas narra, mas mostra reviver a profunda experiência do seu amor com Deus. Em 1566, Teresa escreveu o "Caminho da perfeição", chamado por ela de "Admoestações e conselhos" que dava às suas religiosas. As destinatárias são as doze noviças do Carmelo de São José, em Ávila. Teresa lhes propõe um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da Igreja, em cuja base estão as virtudes evangélicas e a oração. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração. A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o "Castelo Interior", escrito em 1577, em plena maturidade. É uma releitura do seu próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Teresa refere-se à estrutura de um castelo com sete "moradas", como imagens da interioridade do homem, introduzindo, ao mesmo tempo, o símbolo do bicho da seda que renasce em uma borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural. A santa se inspira na Sagrada Escritura, especialmente no "Cântico dos Cânticos", para o símbolo final dos "dois esposos", que permite descrever, na sétima "morada", o ápice da vida cristã em seus quatro aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial. À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o "Livro das fundações", escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso. Como na autobiografia, a história é dedicada principalmente a evidenciar a ação de Deus na fundação dos novos mosteiros.
Não é fácil resumir em poucas palavras a profunda e complexa espiritualidade teresiana. Podemos citar alguns pontos-chave. Em primeiro lugar, Santa Teresa propõe as virtudes evangélicas como base da vida cristã e humana: em particular, o desapego dos bens ou a pobreza evangélica (e isso diz respeito a todos nós); o amor de uns aos outros como elemento essencial da vida comunitária e social; a humildade e o amor à verdade; a determinação como resultado da audácia cristã; a esperança teologal, que descreve como sede de água viva. Sem esquecer das virtudes humanas: afabilidade, veracidade, modéstia, cortesia, alegria, cultura. Em segundo lugar, Santa Teresa propõe uma profunda sintonia com os grandes personagens bíblicos e a escuta viva da Palavra de Deus. Ela se sente em consonância sobretudo com a esposa do "Cântico dos Cânticos", com o apóstolo Paulo, além de com o Cristo da Paixão e com Jesus Eucarístico.
A santa enfatiza, depois, quão essencial é a oração: rezar significa "tratar de amizade com Deus, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama" (Vida 8, 5). A ideia de Santa Teresa coincide com a definição que São Tomás Aquino dá da caridade teologal, como amicitia quaedam hominis ad Deum, uma espécie de amizade entre o homem e Deus, quem primeiro ofereceu sua amizade ao homem (Summa Theologiae II-ΙI, 23, 1). A iniciativa vem de Deus. A oração é vida e se desenvolve gradualmente, em sintonia com o crescimento da vida cristã: começa com a oração vocal, passa pela interiorização, através da meditação e do recolhimento, até chegar à união de amor com Cristo e com a Santíssima Trindade. Obviamente, este não é um desenvolvimento no qual subir degraus significa abandonar o tipo de oração anterior, mas um gradual aprofundamento da relação com Deus, que envolve toda a vida. Mais que uma pedagogia da oração, a de Teresa é uma verdadeira "mistagogia": ela ensina o leitor de suas obras a rezar, rezando ela mesma com ele; frequentemente, de fato, interrompe o relato ou a exposição para fazer uma oração.
Outro tema caro à santa é a centralidade da humanidade de Cristo. Para Teresa, na verdade, a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus que culmina na união com Ele pela graça, por amor e por imitação. Daí a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo na Igreja, para a vida de cada crente e como coração da liturgia. Santa Teresa vive um amor incondicional à Igreja: ela manifesta um vivo sensus Ecclesiae frente a episódios de divisão e conflito na Igreja do seu tempo. Reforma a Ordem Carmelita com a intenção de servir e defender melhor a "Santa Igreja Católica Romana" e está disposta a dar sua vida por ela (cf. Vida 33, 5).
Um último aspecto fundamental da doutrina de Teresa que eu gostaria de sublinhar é a perfeição, como aspiração de toda vida cristã e sua meta final. A Santa tem uma ideia muito clara da "plenitude" de Cristo, revivida pelo cristão. No final do percurso do "Castelo Interior", na última "morada", Teresa descreve a plenitude, realizada na inabitação da Trindade, na união com Cristo mediante o mistério da sua humanidade.
Queridos irmãos e irmãs, Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Em nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.
Que o exemplo desta santa, profundamente contemplativa e eficazmente laboriosa, também nos encoraje a dedicar a cada dia o tempo adequado à oração, a esta abertura a Deus, a este caminho de busca de Deus, para vê-lo, para encontrar a sua amizade e, por conseguinte, a vida verdadeira; porque muitos de nós deveríamos dizer: "Eu não vivo, não vivo realmente, porque não vivo a essência da minha vida". Porque este tempo de oração não é um tempo perdido, é um tempo no qual se abre o caminho da vida; abre-se o caminho para aprender de Deus um amor ardente a Ele e à sua Igreja; e uma caridade concreta com nossos irmãos. Obrigado.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs,
Santa Teresa de Jesus, nascida no século XVI, é um dos vértices da espiritualidade cristã de todos os tempos, e deu início, junto com São João da Cruz, à Ordem dos Carmelitas descalços. Apesar de não possuir uma formação acadêmica, sempre soube se alimentar dos ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Suas principais obras são: "O livro da Vida"; "Caminho da perfeição"; "Castelo Interior" e "O Livro das Fundações". Entre os elementos essenciais da sua espiritualidade, podemos destacar, em primeiro lugar, as virtudes evangélicas, base de toda a vida cristã e humana. Depois, Santa Teresa insiste na importância da oração, entendida como relação de amizade com Aquele que se ama. A centralidade da humanidade de Cristo, outro tema que lhe era muito caro, ensina que a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus, a qual culmina na união com Ele pela graça, pelo amor e pela imitação. Por fim, está a perfeição, aspiração e meta de toda vida cristã, realizada na inabitação da Santíssima Trindade, na união com Cristo através do mistério da Sua humanidade.
Dou as boas-vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta audiência! Que o exemplo e a intercessão de Santa Teresa de Jesus vos ajudem a ser, através da oração e da caridade aos irmãos, testemunhas incansáveis de Deus em uma sociedade carente de valores espirituais. Com estes votos, de bom grado, a todos abençoo.
 [Tradução: Aline Banchieri. © Libreria Editrice Vaticana]

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Consagrados, saboreemos a cena!

Celebramos hoje o Dia do Consagrado. Os de Viana do Castelo juntamo-nos na Igreja Paroquial de Santa Marta para celebrar tão bendito Dia na Festa da Apresentação do Senhor no Templo, presididos pelo nosso Bispo D. Anacleto Oliveira
Depois de escutada a Palavra de Deus, disse-nos o Bispo: «Saboreemos a cena». Referia-se ao momento em que o Santo Velho Simeão tomou o Menino Jesus de quarenta dias nos braços, e exclamou: "Agora, Senhor..."
E depois convidou-nos a um exercício de memória. Convidou-nos a que passássemos pelo coração as vezes em que a cena se repetiu. Quer na Eucaristia (os sacerdotes), na oração de Completas e em outras muitas vezes. E deu como exemplo aquele dia «em que Jesus - "O Grande Jesus! - ao aperceber-se das discussões sobre quem seria o maior, tomou um bébé no colo, bem junto ao coração, e proclamou que os maiores discípulos hão-de ser como os meninos, melhor, como os bébés!»
E dirigindo-se a toda a assembleia reunida - e não apenas aos Consagrados e Consagradas - disse: «Agora, fazei como Jesus, ou como Simeão. Tomai os pequeninos, os frágeis, os débeis, os velhos, os doentes, os dependentes da nossa sociedade e aconchegai-os junto do coração. Dizei: "agora já vemos a solução", e rezai: "Agora, Senhor, podeis deixar ir em paz o vosso servo."
Depois da Eucaristia descemos ao Salão Paroquial onde foi servido um suave e inédito pica-no-chão e um caldo verde. Havia vinho do Senhor Abade e doutras cepas, água e sumos para gargantas mais inexperientes.  E alguns acepipes trazidos de casas religiosas que guardam segredos talvez aprendidos em casa da mãe do Menino, quem sabe.
A refeição esteve à altura da Eucaristia, ou não estivéssemos em casa de Santa Marta que tanto se afadigava para bem receber o Senhor. Mais uma delicadeza que devemos agradecer.
Todos nos sentimos honrados e em casa e decuplamente agradecidos.
Deus seja louvado e abençoe quem bem nos abençoou na mesa de Jesus e na de Marta.
Ámen.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sem maquilhagem

Estamos a viver a Semana do Consagrado. Pedimos e foi-nos concedido e muito bem. Pedimos ao Padre Valdomiro e ele abriu as portas. Discretamente, como o sal, temos vindo a celebrar ali a Semana do Consagrado deste ano de 2011. Por ali vamos passando e rezando os Consagrados e Consagradas de Viana do Castelo.
Eu fui lá no Sábado e hoje também. Pude hoje sublinhar e retribuir o agradecimento que, na homilia da Missa Vespertina no Sábado, o Padre Valdomiro fez aos Consagrados e Consagradas ao serviço da Diocese.
Não é por ter sido elogio e agradecimento. Foi por ter sido como foi, sem peneiras nem maquilhagem. Bem-haja e Deus o abençoe, Padre Valdomiro.