sexta-feira, 30 de abril de 2010

O escândalo do abuso dos clérigos

Revelações frescas a respeito do abuso sexual por parte de padres na Alemanha e na Itália provocaram uma onda de raiva e de desencanto. Eu recebi emailes de pessoas de toda a Europa perguntando como é que elas podem possivelmente permanecer dentro da Igreja. Até me chegaram a enviar uma espécie de formulário para apresentar a renúncia de pertença à Igreja. Por que permanecer?
Antes de tudo, porque abandonar? Algumas pessoas sentem que não podem mais permanecer associadas a uma instituição que é tão corrupta e perigosa para as crianças. O sofrimento de tantas crianças é na verdade horroroso. Elas devem constituir a nossa primeira preocupação. Nada do que eu vou escrever tem absolutamente a finalidade de desvalorizar a maldade do abuso sexual. Mas as estatísticas nos Estados Unidos, através da John Jay College of Criminal Justice in 2004 sugerem que o clero católico não comete mais ofensas do que o clero casado das outras Igrejas.
Algumas pesquisas até atribuem um nível de ofensas mais baixo para os padres católicos. Praticam menos ofensas do que os professores leigos nas escolas, e talvez à volta de metade relativamente comparados com a generalidade das pessoas. O celibato não empurra as pessoas para o abuso de crianças. É simplesmente falso imaginar que deixando a Igreja para aderir a outra denominação levará a uma maior segurança das crianças. Devemos enfrentar a terrível realidade que é o abuso de crianças espalhado em todas as áreas da sociedade. Fazer da Igreja o bode expiatório não será mais do que um encobrimento.
Mas o que dizer do encobrimento dentro da própria Igreja? Não terão sido os nossos bispos tremendamente irresponsáveis quando moviam os ofensores de um lado para o outro e não os denunciando à polícia e assim perpetuando o abuso? Sim, algumas vezes. Mas grande maioria destes casos reporta-se às décadas de 60 e 70, quando os bispos frequentemente olhavam para o abuso sexual como um pecado muito mais do que também uma situação patológica, e quando os homens da lei bem como os psicólogos muitas vezes lhes asseguravam que era mais seguro recolocá-los nas funções depois do tratamento. É injusto projectar retrospectivamente um conhecimento da natureza e a seriedade do abuso sexual que simplesmente não existiam na altura. Foi só com o crescer do feminismo nos fins de 70 que, projectando luz sobre a violência de alguns homens contra as mulheres, se entendeu o alerta para o terrível dano provocado nas vulneráveis crianças.
o que dizer do Vaticano? O Papa Bento assumiu uma linha bem determinada no lidar com este assunto como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) e ainda desde que se tornou Papa. Agora o dedo está apontado para ele. Parece que alguns casos reportados para a CDF sob a sua jurisdição não foram tratados por ele. Não estará a credibilidade do Papa minada ? Há manifestantes em frente da Basílica de S. Pedro exigindo a sua resignação. Eu estou moralmente certo de que ele não tem responsabilidade no caso.
Geralmente imagina-se que o Vaticano é uma ampla e eficiente organização. De facto é insignificante. A CDF somente emprega 45 pessoas, que têm de lidar com assuntos de doutrina e de disciplina relativamente a uma Igreja quer tem 1,3 biliões de membros, o que constitui 17% da população mundial, e cerca de 400.000 padres. Quando eu lidava com a CDF como Geral da Ordem Dominicana, era óbvio que eles estavam tentando lidar com a questão. Houve documentos que fugiam através da fendas. O Cardeal Joseph Ratzinger lamentava-se comigo dizendo que o pessoal era simplesmente insuficiente para a tarefa.
As pessoas ficam furiosas com o fracasso do Vaticano em abrir os seus arquivos e oferecer uma clara explicação do que aconteceu. Por que é tão sigiloso ? Católicos cheios de raiva e ofendidos sentem que têm o direito a uma governação transparente. Eu concordo. Mas nós devemos, em justiça, entender por que é que o Vaticano é tão auto-protector. Houve mais mártires no século XX do que em todos os séculos anteriores. Bispos e padres, religiosos e leigos foram assassinados na Europa Ocidental, nos territórios soviéticos, na África, na América Latina e na Ásia.
Muitos católicos ainda sofrem a prisão e a morte pela sua fé. Naturalmente que o Vaticano tem a tendência para acentuar a confidencialidade; isso tem sido necessário para proteger a Igreja das pessoas que a querem destruir. Por isso é compreensível que o Vaticano reaja aguerridamente às exigências de transparência e interprete legítimas exigências de abertura como uma forma de perseguição. E algumas pessoas, no campo dos media, desejam sem dúvida alguma prejudicar a credibilidade da Igreja.
Mas nós temos uma dívida de gratidão para com a imprensa pela sua insistência em que a Igreja encare as suas fraquezas. Se não tivessem sido os media então este vergonhoso abuso teria continuado escondido.
A confidencialidade acaba por ser uma consequência da insistência da Igreja no direito de cada pessoa acusada manter o seu bom nome até que tenha sido provada a sua culpa. Isto é muito difícil de entender por uma sociedade cujos media dão cabo da reputação de uma pessoa sem piscar um olho.
Por que abandonar? Se é para encontrar um porto mais seguro, uma Igreja menos corrupta, então eu penso que ficaria desapontado. Eu também aspiro por uma governação mais transparente, por um debate mais aberto, mas a atitude sigilosa da Igreja é compreensível e algumas vezes necessária. Compreender não significa aceitar, mas é necessário se na verdade queremos actuar de uma forma justa.
Por que permanecer? Eu devo colocar as cartas em cima da mesa; ainda que a Igreja fosse obviamente pior do que as outras Igrejas, eu mesmo assim não sairia. Eu não sou católico porque a nossa Igreja seja a melhor, ou ainda porque eu goste do catolicismo. Eu amo muito a minha Igreja, mas há aspectos nela que me desagradam. Eu não sou católico por causa de uma opção de consumidor por uma espécie de uma "Waitrose" (rede de distribuição) eclesiástica em vez de uma "Tesco" (outra rede concorrente), mas porque eu acredito que ela leva consigo algo que é essencial para o cristão poder testemunhar a Ressurreição,o que é a unidade visível.
Quando Jesus morreu a sua comunidade desertou. Ele foi traído, negado, e a maior parte dos discípulos fugiu. Foram principalmente as mulheres que O acompanharam até ao fim. No dia de Páscoa Ele apareceu aos discípulos. Isso foi mais do que a ressuscitação de um corpo morto.
Nele Deus triunfou sobre tudo aquilo que destrói a comunidade: o pecado, a cobardia, as mentiras, os mal-entendidos, o sofrimento e a morte. A Ressurreição tornou-se visível para o mundo através da visão maravilhosa de uma comunidade renascida. Estes cobardes e negadores foram reunidos de novo. Eles não eram um grupo respeitável, e envergonhados pelo que tinham feito, eram de novo um. A unidade da Igreja é um sinal de que todas as forças que dividem e separam são derrotadas em Cristo.
Todos os cristãos são um no Corpo de Cristo. Eu tenho um profundo respeito e afeição pelos cristãos de outras Igrejas que me ajudam a crescer e inspiram. Mas esta unidade em Cristo precisa de alguma configuração visível. O cristianismo não é uma espiritualidade vaga mas uma religião da incarnação, na qual as verdades mais profundas assumem a forma física e por vezes institucional. Historicamente esta unidade tem encontrado o seu foco em Pedro, a "Pedra" de Mateus, Marcos e Lucas, e no Pastor do rebanho no Evangelho de João.
Desde o começo e através da História Pedro tem sido uma rocha oscilante, uma fonte de escândalo, corrupta e, apesar disso tudo, a rocha - e os seus sucessores - cuja missão é manter-nos unidos de forma que possamos testemunhas a derrota infligida por Cristo no Dia de Páscoa ao poder fraccionante do pecado. Assim a Igreja está presa a mim aconteça o que acontecer. Nós podemos ficar perplexos em admitir que somos católicos, mas Jesus desde o começo que andou com más companhias.
Timothy Radcliffe

domingo, 25 de abril de 2010

O testemunho do Frei Prabesh

O testemunho atrai. Por isso foi com agrado que hoje, domingo quarto da Páscoa, escutámos o testemunho vocacional do Frei Prabesh, jovem carmelita indiano a viver há sete anos em Portugal. Madrugador, deixou-nos o seu testemunho na Missa das 8:00h, 10:00h e 11:30h. à tarde com um basto número de carmelitas participou na solene eucarístia da ordenação do Frei Marco Paulo. (Daremos notícias noutro lugar)
No boletim da Chama do Carmo publicamos o seu testemunho, que distribuímos a todos os nossos amigos. E no blog também já o publicitámos. Deus o abençoe. E a nossa oração e amizade não lhe falhe.

sábado, 24 de abril de 2010

Eu gostava de vir a ser muitas coisas!

Queridos amigos e irmãos em Cristo Jesus:
Chamo-me Prabesh, sou natural de Karumkulam (Thiruvananthapuram) no Estado de Kerala, no sul da Índia. Tenho 26 anos, faço parte da Comunidade dos Padres Carmelitas Descalços no Porto, que é formada por 3 padres e 6 estudantes seminaristas.
Durante todo o mês de Abril fomos convidados a rezar pelas vocações ao sacerdócio e à Vida Religiosa.
A Eucaristia é o momento privilegiado para celebrarmos comunitariamente a nossa condição de baptizados e reflectirmos sobre o lugar que ocupamos na Igreja que todos juntos formamos.
Sinto-me particularmente feliz me dirigir a vós neste Domingo do Bom Pastor, para partilhar a minha opção de seguir Jesus Cristo, Bom Pastor.
Embora na altura não tivesse consciência disso, hoje sinto que a minha vocação começou quando os meus pais me levaram a baptizar. Ao entrar na Igreja, pela fé e pelo Baptismo, tomei parte na vocação sacerdotal do povo de Deus, assim como cada um de vós. O testemunho de vida cristã de meus pais e de um padre carmelita, com quem vivi dos 9 aos 14 anos, ajudou-me a crescer na fé.
Nessa altura, eu gostava de vir a ser muitas coisas: chefe de família e pescador como o meu pai, jogador de futebol ou economista para descobrir maneiras de dividir melhor as riquezas...
Fui descobrindo que, segundo o Evangelho, todos somos iguais em razão da nossa vocação em Cristo. As funções diferentes, mas todas supõem uma vocação na comunidade e para a comunidade.
Senti-me chamado a seguir Jesus na família carmelita. Não foi algo de extraordinário, não ouvi uma voz dizer-me: — Prabesh, anda, segue-Me mais de perto, como a Bíblia nos conta sobre o chamamento de Abraão, Moisés, Isaías ou Jeremias…
Não foi num dia e numa hora concretos…
Lembro-me que me fui deixando questionar por Cristo, que em muitos momentos (e sempre) senti que se queria encontrar comigo, me atraía com o seu programa de vida, me entusiasmava com a criatividade que eu poderia usar num trabalho mais próximo dele.
Entrei para a Ordem dos Padres Carmelitas, na Índia, com 14 anos e fiz o Noviciado com 18 anos. E, logo a seguir, fui convidado a vir para Portugal, para continuar os meus estudos, aprender português e preparar-me para trabalhar como missionário em algum país de língua oficial portuguesa.
Num primeiro momento senti muito medo. Senti que o Senhor tomara a iniciativa de me consagrar, que me dera tudo e me enviava a preparar-me para outras missões. Vim com outro colega de Noviciado. Aceitei vir para longe dos meus coqueiros — onde tantas vezes subi, desobedecendo às regras do meu Colégio!
Sinto meu o desafio da Ordem Carmelita, que é minha, em dar continuidade ao carisma dos seus grandes santos e doutores da Igreja universal: Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha e tantos outros carmelitas anónimos que se entregaram e se santificaram numa vida de acção e contemplação dentro da Igreja.
A Igreja celebra hoje o dia do Bom Pastor, dia mundial de oração pelas vocações do povo de Deus.
O projecto da Salvação só poderá ir em frente se Deus puder contar com pessoas que, à imagem do Bom Pastor, carreguem aos ombros os desígnios de Deus e os anseios dos homens.
Jesus Cristo auto-define-se como Aquele que dá a vida pelo rebanho. A nossa condição de baptizados responsabiliza-nos a segui-Lo.
A sua experiência de vida, morte e ressurreição, dá-lhe todo o poder para chamar a levar a cabo uma nova evangelização, assente na leitura cristã das realidades concretas.
Vós, pais, não tenhais medo de incentivar os vossos filhos a seguir Jesus. Ele promete e cumpre quando diz: “Não tenhais medo, Eu estarei convosco”.
Seguir Jesus dá alegria, acreditem que é verdade.
A Igreja, Povo de Deus, precisa de vocações generosas que se disponham a viver a sua vocação cristã e a testemunhar Cristo.
A Madre Teresa de Calcutá disse um dia: “Vejo Deus em cada ser humano. Quando limpo as feridas do leproso sinto que estou a cuidar do próprio Senhor.” E remata: “Não é esta uma experiência maravilhosa?”
O pai espiritual e político do meu país, Mahatma Gandhi, quando lhe foi pedida uma mensagem final, disse: “Que a nossa mensagem seja a nossa própria vida.”
Precisamos de anunciar e denunciar, de abrir o coração e deixar entrar Cristo, Aquele que exerceu a sua missão como um serviço de bondade, indo à procura da ovelha perdida, a fim de a alimentar com a sua Palavra de Esperança, com o Pão da sua Eucaristia e com o gesto do perdão e reconciliação.
Para concluir, convido as famílias a dar testemunho da sua fé, os adolescentes e jovens a incluir a opção pelo sacerdócio e pela Vida Religiosa nos seus testes vocacionais, convido todos a unirem--se na oração onde vamos buscar a força para decidir e perseverar.
Que o Bom Pastor nos tire o medo e a insegurança, para podermos sentir e proclamar com Santa Teresinha: “No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o AMOR!”
Frei Prabesh Jacob

Chama do carmo NS67 Abril 25, 2010

Domingo do Bom Pastor

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Noites do Carmo, parte I

Durante duas horas 62 duas pessoas passaram diante das janelas da sala. Trinta e duas desceram para o rio, trinta subiram para a Abellheira. Lá dentro outras quase sessenta e duas (e um reputado fotógrafo) foram seguindo as palavras do dr. Manoel Batista que foi dissertando com palavras de acerto e até humor sobre o tema «Vós sois minhas testemunhas».
Terminada a exposição o Grupo Coral das Dez fez-se ouvir e fez-nos cantar, e logo de seguida houve tempo alargado de debate e partilha, com direito a prolongamento. As horas passaram descontraídas e sérias, mas porque o corpo não perdoa o povo lá regressou a suas casas mais rico, mais cheio e com a noção de proveito e vontade de testemunhar.
Cumpriu-se a primeira parte das Noites do Carmo. No dia 16 de Junho segue-se a segunda. Aqui daremos a notícia com direito a fotografias.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Segunda parte

A segunda parte teve, entre outros conteúdos, uma futebolada (em grande estilo, como se vê!). O resultado era o que menos interessava, mas ainda assim passou dos cem golos. (Se contarmos os marcados, falhados e sonhados...)

Encontro Intercomunitário

Hoje foi dia de Encontro Intercomunitário. Aveiro, Avessadas, Braga e Porto não faltaram à chamada. Viana estava a receber. Na foto ficaram os mais madrugadores, o teologado do Porto. Seguiu-se depois uma conferência do P. Jeremias Vechina, sobre a humanidade de Cristo fincando a espiritualidade de S. Teresa de Jesus. Foi só a primeira parte e todos viram que foi bom.

A nossa oração e o nosso afecto por ele

Passam hoje cinco anos da eleição papal de Bento XVI. É tempo para rezar e agradecer o seu serviço à Igreja como servo dos servos de Deus. A graça de Deus tem para cada tempo os dons que a Igreja e a Humanidade precisam. Este era o pastor que precisavamos. Lúcido, inteligente, bom e corajoso. A nossa oração e o nosso afecto por ele.

domingo, 18 de abril de 2010

Rezar para testemunhar

Senhor da messe e pastor do rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos
o teu forte e suave convite:
“Vem e segue-Me”!
Derrama sobre nós o teu Espírito:
que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir a tua voz.
Senhor,
que a messe não se perca por falta de operários.
Desperta as nossas comunidades para a missão.
Ensina a nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino,
na vida consagrada e religiosa.
Senhor,
que o rebanho não pereça por falta de pastores.
Sustenta a fidelidade dos nossos bispos,
padres e ministros.
Dá perseverança aos nossos seminaristas.
Desperta o coração dos nossos jovens
para o ministério pastoral na tua Igreja.
Senhor da messe e pastor do rebanho,
chama-nos para o serviço do teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder “sim”.
Ámen.

Domingo III de Páscoa

Muitos nomes, o mesmo amor!

Meninos e meninas, meninos da catequese, jovens rapazes e raparigas, catequistas, jovens frades e freiras, seminaristas, famílias, leigos consagrados, missionários, religiosas e religiosos de vida activa e contemplativos, sacerdotes e bispos, governantes de todo o calibre e gestores, artistas, médicos e simples trabalhadores. Todos são chamados por Deus à vida, para serem felizes, para dispor dela e fazer muitos outros felizes. Vamos entrar na Semana de oração pelas vocações.
É para nos ajudar a recordar que devemos rezar pelas vocações —os chamados. Seguem seis exemplos reais de gente feliz por vocação. Vamos rezar por eles e por todos. Muito obrigado.

Chamam-se Danny e Ricardo.
São jovens e estão a preparar-se para ser frades, quer dizer estão a viver uma experiência vocacional, onde lhes é dado experimentar uma nova vida na família de São João da Cruz. Desde há pouco mais de meio ano vivem fascinados com esta forma de viver dos irmãos carmelitas, tão exigente mas tão importante e generosa!
Querem um dia entregar toda a vida a Jesus e ao próximo, mas primeiro têm de crescer na fé e na vida para se prepararem para esse grande compromisso de doação.
Que Maria apoie todos os que se lançam na aventura de preparar o seu coração e o seu espírito para a entrega total a Deus.

Chama-se André e é seminarista.
Quer isso dizer que vive num Seminário, a casa e a escola de quem tem vontade de um dia vir a ser padre. É uma escola que muito ajuda a aprender sobre Jesus, sobre a Igreja, sobre as coisas boas ou difíceis da vida de todos os cristãos, enfim, que ajuda a preparar o coração dos jovens rapazes e os ajuda a perceber se realmente a sua vida é para oferecer toda a Deus Pai e à Igreja.
Que Maria aceite a vontade de todos os seminaristas e a transforme em vontade de Deus.
Chama-se emília e é leiga consagrada.
Isto quer dizer que preferiu dar um toque especial à sua vida. Decidiu não casar a fim de poder estar disponível para todas as pessoas que a rodeiam, ajudando-as com o seu trabalho, a oração de todos os dias e com a catequese. Tem sempre jovens irrequietos à sua volta.
Não tem nenhum sinal que a distinga; espera que reconheçam nela alguma diferença apenas pela sua maneira simples de viver e de se dar. Pertence a um grupo de outras leigas consagradas, pessoas que fizeram o mesmo voto de dedicação a Deus e à sua Igreja.
Entrego-te, Maria, todos os leigos consagrados, pedindo-te que faças das tuas vidas um sinal da presença do amor de Deus Pai no mundo.

Chama-se Júlio e é missionário.
Isso quer dizer que escolheu dedicar a sua vida a pessoas que vivem em países distantes (em África, na Ásia, na América…) com muitas dificuldades (sem comida, sem escola, sem medicamentos, sem protecção da guerra) e que precisam de ajuda, frequentemente da mais básica. Vive com eles e é muito sensato: só lhes fala de Jesus e da sua mensagem quando já são muito amigos. No restante tempo ajuda-os a pôr a funcionar escolas, hospitais, aldeias… Tudo que constrói é modesto, mas funciona e salva e ajuda a crescer. Depois muda-se para um outro local onde nem ele nem Jesus sejam conhecidos.
Que Maria seja a força dos missionários para levar a paz, a justiça e amor de Deus Pai a todos os povos.

O Padre Walter é pároco.
Não é português, raramente vê a sua terra natal e prova dos seus sabores. A sua vida é um bocadinho diferente da de muitas outras pessoas, porque um dia decidiu que gostaria de fazer tal e qual Jesus fez: dar a conhecer Deus Pai, através da Palavra, da ajuda e da partilha de todos, da celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos. Escolheu esta maneira de viver porque percebeu que seria muito feliz, fazendo os outros felizes por Cristo, com Cristo e em Cristo!
Que Maria proteja todos os sacerdotes que ofereceram a sua vida por amor a Deus.

A Irmã Raquel tem uma roupa especial
porque a sua vida também é especial. Viveu numa família normal, numa casa como tantas outras, fazendo os seus estudos para ser advogada. Mas, a certa altura, imprevistamente, sentiu que a sua vida tinha de ser diferente, e pediu ajuda a Jesus para perceber o que deveria mudar. Rezou e pensou bastante, e descobriu que Jesus a estava a convidar para viver em comunidade de oração. Ainda ninguém sabe, mas ela já experimentou e gostou… e decidiu passar a viver em equipa com as outras irmãs, para rezar e juntas ajudar as pessoas que mais precisem da sua oração e sacrifícios: crianças, pobres,jovens, doentes, sacerdotes, catequistas, famílias...
Confio-te, Maria, todas as vidas de consagração religiosa que se oferecem ao serviço de Deus.
Chama do Carmo NS 66 Abril 18, 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Que vais fazer na Quinta-feira à noite?

Lá diz um salmo que aquele que não reflecte é semelhante aos animais que são abatidos! Agradecemos por isso ao dr. Manoel Batista que em Ano Sacerdotal venha falar-nos sobre o testemunho do Ressuscitado. Será um testemunho especial, porque o Manoel Batista é muito especial para nós. É na Quinta-feira, dia 22, pelas 21:00h. O tema é «Vós sereis minhas testemunhas».

Ordenação diaconal do Frei Marco Caldas

É com a alegria que vos particio que, no próximo dia 25 de Abril, Dia Mundial das Vocações, terá lugar no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, pelas 15h00, a minha ORDENAÇÃO DE DIÁCONO, numa celebração que será presidida pelo Senhor D. Manuel Linda, Bispo Auxiliar de Braga.
O Frei Marco Caldas de S. Teresinha nasceu no dia 19 de Dezembro de 1980, na Vila de Melgado. São seus pais o sr. José Augusto Certal Caldas e a Dª Maria Isabel Domingues.
Rezemos e alegremo-nos com mais uma vida jovem que envereda por um compromisso de serviço ao povo de Deus no sacerdócio.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Faleceu o sr. José Fernandes Gonçalves

Faleceu o sr. José Fernandes Gonçalves, de 72 anos de idade. É irmão do P. Caetano, religioso desta comunidade. O seu funeral é hoje, pelas 17:00h, na Igreja Paroquial de Lanheses. Que descanse em paz.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Há dias assim!

Hoje fomos ver o mundo, olhando na mesma direcção. Há dias assim. Saímos da toca, pastámos pasto verde e regressámos tonificados. O fotografo ficou atrás da câmara e o P. Carlos só fez meia jornada connosco (na restante foi trabalhar.) É, há dias assim.

IV Encontro dos Leigos Missionários Carmelitas

Os Leigos Missionários Carmelitas encontraram-se em Fátima. Os Kanimambos de Viana do Castelo também participaram. No fim redactaram algumas impressões de alma que registaram no seu blog. Nós publicamos aqui, você pode ler lá.

Nos dias 10 e 11 de Abril de 2010, na Domus Carmel, em Fátima, realizou-se o IV Encontro dos Amigos das Missões Carmelitas com o tema: "Alarga novos horizontes da Missão". Este encontro começou com recepção aos leigos e amigos, que o tempo e a distância não nos faz estar presentes tantas vezes. Após os abraços, e um momento de oração, tivemos o privilégio de conhecer o Pe. Fernando Simões, Missionário da Boa Nova. Já se encontra em Portugal há 10 anos. Esteve em Moçambique desde 71. O Pe. Fernando Simões, de uma forma alegre e muito divertida, contou a sua experiência em terras de missão. Transmitiu-nos que todo o Ser tem que agir e viver com afectividade para sermos e podermos fazer alguém feliz. Referiu que ninguém é missionário porque quer, ninguém se envia. É Deus que envia. A Honestidade e a humildade, fazem parte da fórmula que um missionário deve ter junto ao seu conhecimento da vida religiosa para poder evangelizar. È tudo um conjunto de coisas que vão crescendo em nós e com as quais aprendemos para podermos cumprir a nossa missão. Que assimilemos com o apóstolo São Paulo, “que o amor de Cristo nos impele”, porque ser missionário é uma questão de atitude!
Da parte da tarde o Américo Lisboa Azevedo, um escritor, que nasceu com paralisia cerebral, veio até nós para dar o seu testemunho, testemunho com o qual nos deliciamos, e em silêncio o ouvimos atentamente. A sua história é uma grande lição de vida, um Cristo vivo, presente em nós. Sente-se enviado, sente-se missionário e em cada novo dia leva a grandeza de descobrir Jesus Cristo aos outros. Contou-nos como descobriu Jesus na sua vida. E como esta descoberta, este terreno fértil o faz anunciar este Cristo vivo e ressuscitado. Mostrou-nos uma realidade diferente. Fez-nos ver, sentir e repensar no valor que depositamos na mediocridade dos nossos problemas. Deus deu-lhe algumas limitações, mas deu-lhe a missão de viver e a missão de transmitir ao mundo que todos têm o direito de viver com o amor de Cristo nos corações. Como o Américo nos disse “eu sou um instrumento de Deus” e sim, naquela tarde aquele amigo encheu-nos o Coração de amor, de esperança. Transpareceu a sua fé e amor por Deus e contagiou-nos com a sua força. O Américo é Ele e a sua própria circunstância de vida. Deixou-se Amar e convidou-nos nesta tarde a amar… È feliz quando nos transmite este tesouro que é Deus. Estar com ele, ouvi-lo foi para todos nós uma graça! Na mesa da eucaristia finalizando esta tarde fortalecemos laços com Ele e com os irmãos.
Quer na noite de Sábado quer na manhã de Domingo, ouvimos os testemunhos missionários, de quem esteve presente na Missão de São Roque, Moçambique. A Laura, Emília e os nossos amigos espanhóis, Moisés e Marta. Trouxeram consigo os seus belos testemunhos, notícias das crianças do orfanato e partilharam connosco e com os padrinhos das mesmas o dia-a-dia delas, assistimos à visualização de filmes e fotografias vivemos um pouquinho daquele “mundo” que permanece em nós. Sentimos a imensidão daquela força da natureza a majestosa e maravilhosa alegria de ser missionário nas nossas missões carmelitas. O Frei Joaquim, Artur, Verónica e a Annabel, apresentaram as contas e novos projectos missionários. Na Eucaristia do Domingo II da Páscoa, finalizamos com grande alegria este encontro com a certeza de que para o ano estaremos no V encontro. Até lá, continuaremos vivos numa Igreja que chama. Que nos convida à Missão.
[Márcia Silva I Jovem Missionária Carmelita Grupo kanimambo - Viana do Castelo]

domingo, 11 de abril de 2010

Senhor, dá-nos a tua paz

Dá-nos, Senhor, aquela Paz singular
que brota em plena luta
como una flor de fogo;
que rompe em plena noite
como un canto escondido;
que chega em plena morte
como um beijo esperado.
Dá-nos a Paz dos que andam sempre
despidos de regalias;
vestidos por vento
de uma esperança núbil.
Aquela Paz do pobre
que já venceu o medo.
Aquela Paz do livre
que se aferra à vida.
Paz que se partilha em igualdade
como a água e a Hóstia.
Pedro Casaldáliga

Um dia pela vida

Um Dia Pela Vida é última acção promovida pela Liga Portuguesa contra o cancro. Viana do Castelo foi o 21º concelho a aderir. E com bastante garra. Celebrar, recordar e lutar é o lema. Neste sábado viveu-se na nossa comunidade uma jornada de Um Dia Pela Vida. As duas equipas de Viana vieram ao Carmo para rezar, e rezámos todos juntos. E no fim da Eucaristia também pedimos esmola para lutar pela vida, ajudando a investigação contra a doença e o mal. Na foto estão as três ponta de lança dessa jornada. A seguir ficam as orações que escreveram para o momento com as quais nos ajudaram a rezar.

Para a oração dos fiéis:
1. Por todas as pessoas com adversidades na sua saúde, para que o seu sofrimento seja minimizado e o seu tratamento possível e eficaz. Também por todos os familiares, amigos e profissionais que desde o primeiro momento lhes deram o seu apoio e contributo. Oremos ao Senhor.

2. Para que os valores como a solidariedade e o da fraternidade, permaneçam intactos no coração da humanidade, porque são esses atributos que realmente podem fazer a diferença nas grandes causas. Oremos ao Senhor.

3. Por todos os profissionais de saúde, para que a sua ciência seja iluminada e abençoada por Deus, e que a medicina continue a evoluir rapidamente de forma a contrariar algum fatalismo que existe em determinadas doenças. Oremos ao Senhor.

4. Por todos aqueles que, enfrentando estados de debilidade, possam recuperar rapidamente o seu vigor e, acima de tudo, rogamos para nunca perderem a vontade de viver. Oremos ao Senhor.

5. Por todos os entes queridos que partiram, mas que não deixaram de nos estar próximos, acreditando também que, de alguma forma, ainda continuam a olhar por nós. Oremos ao Senhor.

Para a acção de graças:
Charles Baudelaire dizia «A vida é um hospital onde cada doente está possuído pelo desejo de mudar de cama».
Mas, com todo o respeito, devemos contrariar o pensamento deste ilustre poeta francês, e, sempre que estivermos nesse hospital que ele refere, o nosso desejo para contrariar essa pungência, terá que ser o de sair dessa cama totalmente restabelecidos e dispostos a abandonar essas instalações, em direcção à vida e a tudo o que de magnífico ela nos proporciona.
Com a ajuda de Deus, este Um Dia Pela Vida e a corrente solidária que o envolve, irá permitir a diversos pacientes essa saída, multiplicando esse dia em dias e esses dias em muitos anos. Por isso devemos continuar a canalizar os nossos esforços para que assim ocorra.

Somos igreja de barro frágil

O papa João Paulo II chamou ao segundo Domingo de Páscoa o Domingo da Misericórdia, pelo toque que permitiu e serenou Tomé. A dinâmica que se pressente na narrativa do discípulo das dúvidas e a síntese proposta pelos Actos dos Apóstolos recordam-nos que a comunidade dos discípulos de Jesus está permanentemente em construção, renovação, purificação e santificação. É verdade, não somos puros como anjos, nem funestos como demónios. Somos homens e mulheres calcorreando o caminho da perfeição. Mas ai de nós se a Graça não nos acompanha e molda!
Somos Igreja. Santa e pecadora. Querer que seja só santa, acusá-la de ser só pecadora não condiz com o que somos e só diz que tal ou qual pretensão se desvia seriamente da realidade.
Muitos séculos depois da Ressurreição vamos nutrindo o caudal da história, cuja correnteza nos há-de levar à plenitude da comunhão com Deus e nos traz já hoje a frescura da salvação.
Somos Igreja. Não somos uma caserna, somos um redil. Somos hoje um corpo acossado qual regimento em campo aberto rodeado por um vespeiro de inimigos aparelhados de setas prestes e envenenadas.
Não creio que nos queiram eliminar; é antes uma vontade de que intimidando-nos depois nos amestrem e rasourem aos níveis térreos da exigência e do compromisso. Por essa razão, rompendo os códigos atiram aos oficiais e massacram as patentes, na certeza de que rebanho decapitado mais facilmente se dispersa ou melhor enfileira pelos trilhos da conveniência do momento.
Durante centúrias bastaram-se com descrer as ovelhas mais valentes e saciaram-se com algum dos pequenos graduados e um que outro sargento.
Já não é essa a estratégia mais conveniente.
Obviamente reagimos. Existem por isso subscrições de apoio e conforto ao Papa, em contra-resposta às intimidações — subliminares umas, outras bem directas — , de que é alvo.
A lógica intimidatória está aí. O circo está montado. Nada de novo, porém. Há anos que se assiste ao ataque às bases, é normal que agora a ferocidade dos lobos se atire à cara do pastor. Um pastor que alguns de dentro julgam difícil de seguir e ainda mais de amar, e que muitos de fora admiram pela agudeza do espírito e pela coragem posta na acção.
A provação sempre foi para nós um sal.
Sempre que entre nós alguém vacilou, caiu ou recuou, uma outra ala, às vezes a mais inexperiente, outras a mais inesperada, avançou e manteve alteado o pendão.
É hora!
Parece que sempre falaram de nós. O cochicho mais ou menos anónimo não é arte de agora. Outrora, à hora primeira, os que antes nos viram prófugos e dispersos, viram-nos depois juntos e reunidos. E falavam, como diz a primeira leitura, dos Actos, das nossas reuniões. E falavam de nós com admiração. Porque a comunidade — a comunidade reunida! — era continuidade da acção libertadora do Senhor.
Lermos neste domingo nas nossas reuniões eucarísticas a versão idealizada da Igreja transmitida pelos Actos dos Apóstolos é certamente alentador e renovador para o nosso hoje.
Lermos também a sequência das aparições do Ressuscitado à Primeira Comunidade, sem Tomé e depois com Tomé, aquieta e desperta.
A comunidade somos nós e os ausentes de nós; somos todos em caminho comum e pessoal de adesão e confiança na proposta de vida que o Mestre nos estende. A ekklesia somos todos, uns em danças jubilosas, outros sangrando dúvidas; congregamos os afastados e os que se atrasam no cadência do caminho de Emaús; uns, sentem-se isolados e rejeitados; outros, senhores de chaves que só eles sabem.
A Igreja somos nós, para quê dissimular? Mais vale assumir a realidade e fecundá-la com a frescura da Boa Nova do primeiro dia. Somos nós e o Ressuscitado em nós. A nossa carne e o nosso espírito são o lugar dEle no mundo. Os nossos pés são as autoestradas por onde corre hoje o Evangelho; os nossos olhos, os holofotes que iluminam as praças e as ágoras.
Não somos anjos intangíveis e impassíveis, mas barro frágil a que frequentemente falta a cozedura do Amor e o aparo das ásperas rebarbas. Ele que era pedra de bom acabamento foi considerado pelos artistas como impróprio e deslustroso para edificar e acabou abandonado. Mas O rejeitado e havido por rude foi, como só podia, escolhido pelo Pai para pedra de toque da sua Igreja. A nós, barro de muita areia que não estanca o tesouro da água fresca da vida nova, foi-nos entregue o testemunho para sequenciar a corrida. Quando nos derrubam um atleta, nos trapaceiam numa estafeta ou nos prostram na penúltima jornada outra geração da ekklesia se ergue, porque o testemunho não pode ficar inútil e infecundo no duro chão da corrida.
Chama do Carmo NS65 Março 11, 2010

Domingo II da Páscoa

domingo, 4 de abril de 2010

Cristo, minha esperança, ressuscitou!

As palavras que seguem poderiam ser de qualquer discípulo de Jesus. Sim, de um qualquer, e até de qualquer tempo. Se todos os discípulos temos pelo menos uma ferida — e eu creio que temos — uma nos é comum: em algum momento fomos tontos e desleixados em relação às palavras e às promessas de Jesus.
As palavras que seguem vou pô-las na boca de Tiago, o Boanerges, um dos mais amigos de Jesus, um dos primeiros a segui-lo. Boanerges foi apelido que Jesus lhe chamou, porque era homem de pêlo na venta, de antes quebrar que torcer. Homem rijo que adormeceu nos momentos chave, na Transfiguração e na Agonia de Jesus; e no fim O abandonou como os outros; ouçamo-lo:
Aquele encontro do Mestre com os discípulos foi o último sem suspeitarmos que o era. Jesus convocou-nos para a casa de Neftalí. Foi ali que comemos a Ceia pascal sem sabermos que era uma comida de despedida. E era-o
efectivamente. Naturalmente os acontecimentos precipitaram-se: Jesus foi denunciado por um dos nossos e assinalado com um beijo.
Surpreendidos não tínhamos sequer uma espada à mão. Aliás não éramos um exército ou
guerrilha e só um de nós tinha uma lâmina pouco maior que uma faca. Tudo foi estupor e surpresa. A mansidão de Jesus e a convicção da milícia que O prendeu foram tão impressionantes que O deixámos ir, sem mais. O julgamento foi célere, nocturno, longe das vistas, e com recurso a testemunhas falsas. Eficaz, portanto. Pedro aproximou-se um pouco da boca de cena, e mais tarde confirmou-nos que ainda antes de tudo ficar inexoravelmente perdido chegou a temer pela própria pele, e negou-O.
O resto já se sabe, Jesus foi sentenciado na cruz dos malfeitores depois duma tortura longa e
horrível. Nunca se ouvirá falar de igual!
José, senador respeitado, veio, discreto e
destemido, de Arimateia, e mostrou mais
coragem que todos nós juntos: pediu a Pilatos o corpo de Jesus, perfumou-o e deu-lhe sepultura digna num túmulo novo.
A morte de Jesus tirou-nos as forças e as
convicções. Estávamos derreados, frustrados, aturdidos, desolados. Era noite, como disse João. Tudo foi tão rápido, tão rápido que só evidenciou a nossa cobardia. Aonde poderia aquilo levar-nos ninguém sabia. Vivíamos no desamparo absoluto. Éramos livres, embora encurralados. Maria estava connosco, é certo, mas a sua serenidade confundia-nos e só agora a entendemos, porque olhando os nossos
temores só pensávamos que estivesse como nós!
Antes de tudo se precipitar Ele procurara
encorajar-nos, mas não percebemos nada. Prometeu ficar connosco até ao fim, mas não sabíamos o que isso queria dizer. Disse: «Tomai todos e comei; tomai e bebei». E nós?... Nós... A sombra da cruz caía já e impunha-nos respeito e silêncio. Quem haveria de suspeitar que Jesus nos dava ali a liberdade? Que aquele cálice só pode ser bebido como um projecto novo, do Reino já no horizonte, e sob o alento do Abbá?
Não percebemos nada! Fomos uns tontos! Só mais tarde é que se fez luz! O segundo dia foi um absurdo. No amanhecer do terceiro dia ouviram-se uns zun-zuns. As mulheres do grupo
sobressaltaram-nos com notícias que fizeram correr Pedro e João, mas a ausência do corpo só fez aumentar a dor. E o dia foi caindo duro como o chão. O cair do entardecer esmagava-nos como uma montanha. Quem ainda tinha
esperança? Ninguém, ou talvez só Maria...
Alguns fizeram-se à vida e foram saindo, como Cléofas e Josué, para Emaús. Podeis imaginar a cena quando nos apareceram loucos e esbaforidos: «Nós vimos o Senhor, nós vimos o Senhor!»? Não, não podeis. Mas quem poderia acreditar naquilo? Bem, a verdade é que a cena começava a repetir-se. Primeiro foi Madalena; depois Pedro e João; e nós, os Onze; e depois apareceu-nos na praia à volta dumas brasas...
E eu também O vi! Por fim todos afirmavam que estava vivo! Era desconcertante! Disse-nos: «Não tenhais medo! A paz esteja convosco! Alegrai-vos!». Era o que precisávamos de ouvir.
Os nossos encontros com o Ressuscitado foram reais, não um sonho. Não estávamos loucos! Cristo, minha esperança, ressuscitou! Não podíamos calar a alegria!
Só então comecei a compreender quem era Jesus: era o Salvador! Só podia... Foi a coisa
mais luminosa da minha vida! Todos os que caminhámos com Ele e O vimos morto na cruz
passámos por este banho regenerador: Deus é Deus e ressuscitou Jesus arrancando-o dos braços da morte e dos laços do abismo. Deus deu razão a Jesus, a sua mensagem é de vida e de libertação. O nosso coração é como um ninho donde brotam certezas: Jesus está vivo, a sua vida é total e definitiva! Aceite quem quiser; só recusa quem não viveu o assombro de acreditar!
Chama do carmo I NS64 I Abril 4, 2010

Domingo da Ressurreição