domingo, 29 de novembro de 2009

BB. Dionísio da Natividade e Redento da Cruz

Celebramos hoje os primeiros mártires Carmelitas Descalços. São os Bem-aventurados Dionísio da Natividade e Redento da Cruz.Dionísio foi baptizado com o nome de Pedro Berthelot, era cientista filho de marinheiros, oriundo de Honfleur, França, onde nasceu em 1600. Aos vinte anos serviu a armada holandesa, mas rapidamente se colocou ao serviço de Portugal. Foi ordenado sacerdote na nossa Ordem, de pois de em vão ter tentado ser jesuíta. Já Carmelita participou na defeza de Goa.
Redento da Cruz nasceu em Cunha, Paredes de Coura, em 1598 e foi baptizado com o nome de Tomás Rodrigues. Aos 19 anos abandonou o terrunho natal, fez-se militar, partindo na aventura das Descobertas que tanto seduzia a juventude portuguesa de então. Conheceu a glória das armas na Praça de Meliapor.
Os destinos de ambos cruzaram-se no Convento do Carmo de Goa. Juntamente com mais sessenta companheiros sofreram o martírio no dia 29 de Novembro de 1638, na cidade de Achem, Ilha da Sumatra, Indonésia, às mãos dos muçulmanos.
Foram beatificados em 1900 pelo Papa Leão XIII.

Voz do Papa:
Amados Dionísio e Redento:
diferentes passados vos uniram na mesma aventura da evangelização. Tu, Dionísio. eras navegante e neste ofício serviste os reis de França e Portugal. E, quem diria, foi numa dessas viagens que o Senhor te chamou! Em Goa conheceste o padre Carmelita Filipe da Santíssima Trindade, com quem, em conversa, percebeste a indesmentível necessidade de mudar de vida. Ingressaste na Ordem dos Carmelitas Descalços onde professaste com o nome da Natividade. Muito rapidamente começaste a brilhar na comunidade com luz própria pelo teu exemplo de virtude. Algumas vezes — afirmam os que te conheceram — viram-te rodeado de resplendor celeste enquanto oravas. Porém, o embaixador Francisco de Sousa acabou por ser a razão para que desse o passo definitivo na tua aventura para Deus.
Junto com o teu irmão Redento da Cruz que te acompanhou, nada menos que chegados à Ilha de Achem os muçulmanos turcos vos agrediram. Quiseram forçar-vos a apostatar a vossa fé católica, mas ambos permanecestes firmes. A vossa firmeza exasperou os muçulmanos que vos condenaram à pena de morte. Para a evitar teria bastado dizer que abandonáveis a fé católica e abraçaríeis a muçulmana. Bastaria uma palavra para evitar o martírio.
Tu, Redento, fostes dos primeiros a ser executado. Tu, porém, Dionísio, pedis-te para ser dos últimos, a fim de poderes confortar os demais, até que um golpe de espada te dividiu o crânio em dois e assim te abriu a porta da vida que nunca termina.

sábado, 28 de novembro de 2009

Que os vossos corações não se tornem pesados

Iniciamos neste domingo um novo ano litúrgico. Começa o Advento. Vamos preparar o Natal. No Evangelho de hoje Jesus anuncia aos seus discípulos que no fim dos tempos voltará novamente. Entretanto, este é o tempo da esperança e da espera desse acontecimento final da história da humanidade. É este um tempo de vigilância e oração, para não desfalecermos, podermos suportar o rigor dos dias, permanecer de pé diante d’Aquele que vem e sermos achados justos.
É isto surpreendente e mete-nos medo? Sim. Por isso o Senhor nos exorta à vigilância. O discípulo deve manter vigilante o seu coração e as suas condutas morais. A que devemos estar a tentos? A que o nosso coração não se embote e se torne dormente e pesado.
Já que nos aprestamos a abrir um novo ano, nada melhor que meditar sobre o fim, sobre o último dia. E se hoje caísse esse dia grande e terrível que o Senhor anuncia para o fim dos tempos: Estaria eu preparado?
Há dois domingos meditávamos nisto: o mais provável para mim é que o fim do mundo seja o dia da minha morte. Como enfrento essa hora? Estou consciente de que Cristo está por detrás da última hora? De que serei levado à sua presença? Como é (será) estar presente no momento em que se definirá a minha eternidade?
O próprio Senhor nos dá a chave no Evangelho deste domingo, quando nos diz: «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados por causa da vida libertina, da embriaguez e das preocupações da vida.»
Palavras duríssimas. E surpreendente maneira de preparar o Natal! Sim. Mas não nos surpreenda nunca o convite à revisão de vida. Saibamos até agradecê-lo. Vejamos:
— Levo uma vida tão descuidada que adormeça o meu coração? Saberei despertar quem anda insensível ? Ou de tão anestesiado nem me dou conta? O lema da minha vida é fazer o que me apetece e o que me dá gozo?
— Digo sou livre de fazer o que quero, para justificar a minha conduta nem sempre correcta e jamais questionada para não ter de a mudar?
— Entorpeceu-se o meu coração por causa da embriaguez? O álcool em excesso é uma forma de evasão da realidade que não queremos enfrentar. Quantas vezes tomo uma atitude evasiva quando o Senhor bate à porta do meu coração? Quantas vezes evito encontrar-me com o Senhor, fujo da Sua presença, evito a oração e os compromissos com a comunidade de fé só porque teria de fazer na minha vida umas mudanças e renúncias a que não estou afeito?
— Ficou o meu coração pesado por causa das preocupações da vida? Deixo-me absorver tanto pelas preocupações do dia a dia, ainda que legítimas, ao ponto de afogar em mim o lugar e a acção da Palavra de Deus?
Estamos a começar um novo ano cristão. Posso começá-lo porque obedecendo à roda do tempo ele começa sempre sem minha licença, e assim o vivo da mesma maneira de sempre: desligado e descomprometido? Posso crer-me na presença de Deus e viver sugando alegrias passageiras que não alimentam antes cavam mais fundo o vazio em que vivo? Posso viver como chão pisado e duro dos caminhos onde semente alguma germina e dá fruto? Posso viver obcecado pelo mais e o maior: mais dinheiro e maior conta bancária, para ter um carro maior (ou dois, ou três), uma casa maior (ou duas, ou três)? (E há fome, e estamos em crise...)
O Senhor adverte que as preocupações da vida quotidiana afogam a sua Palavra e a sua Presença. Quantas coisas nos preocupam! A quantas coisas, licitamente, eu devo dar respostas e mais respostas! Mas, ai de nós, quando o coração se torna pesado, opresso e angustiado porque as preocupações são tantas que não vemos a aurora despontara no horizonte.
É Advento. Quem se propõe caminhar ao encontro definitivo com o Senhor deve ir ligeiro, sem pesos desnecessários que só amargam a vida e peiam a caminhada.
O Senhor vem. Encontrar-me-ei com Ele. Como O encararei: desentendido do mundo porque entorpecido e preocupado comigo, ou pastoreando o mundo levando-o ao encontro definitivo com o seu Senhor?

Foi há 441 anos!

No Verão de 1568 don rafael Mejía y Vellásquez, cavaleiro de Ávila, pôs à disposição da Madre Teresa de Jesus, uma casa que possuía em Duruelo, um lugar que naquela época não tinha mais de vinte famílias.
Depois duma lenta e penosa tramitação o P. Provincial autorizou a fundação, o que aconteceu no primeiro domingo do Advento, o dia 28 de Novembro de 1568.
Conta a Santa: «A preparação do conventinho não deu muito trabalho, porque ainda que se quisesse fazer mais não havia dinheiro.» E mais à frente, com ternura: «Nunca esquecerei uma pequena cruz de madeira sobre a pia da água benta, que tinha nela colada uma imagem de Cristo, que dava mais devoção do que se fosse tela bem pintada.»
Frei João de São Matias, de 26 anos, emitiu profissão pública que assinou como Frei João da Cruz, logo depois recebeu a profissão de Frei António de Jesus e Frei José de Cristo. Prometeram a Deus, à Santíssima Virgem e ao Geral da Ordem seguir a Regra Primitiva, sem mitigação.
A nova Ordem foi logo aprovada por Pio V e depois confirmada em 1580 por Gregório XIII.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Primeiro Domingo do Advento

Homilia de abertura do Ano Pastoral

Meus irmãos e minhas irmãs:
Em cada Domingo fazemos memória da Paixão, da Morte e Ressurreição do Senhor. O tom deste Domingo é ainda o da glorificação do Senhor Jesus Cristo, o Rei do Universo. Esta festa não vem por acaso, foi criada em 1925 para convocar os cristãos para a militância — uma palavra muito pouco interessante e cristã, que vem de militia, de militar, combate. Foi, porém, posta diante do olhar e do coração dos cristãos para nos dizer que todos temos um trabalho duro pela frente. E o trabalho é sermos de Deus, trabalharmos para Deus e pela santificação do mundo. Escolhemos este dia de festa para fazermos o compromisso de serviço ao Carmo, por ser o dia da militância cristã. E para pedirmos ao Senhor do Universo que abençoe o nosso serviço durante o próximo ano; serviço que se traduzirá em oração, em dedicação do coração, em canseira e suor. Trago, irmãos, a esta homilia três palavras para partilhar convosco.

A primeira é dedicação, apresentação.
Hoje é o dia da Apresentação de Nossa Senhora. Dia em que foi levada ao Templo. Diz-nos uma tradição da Igreja que a menininha, ao chegar às escadas do Templo largou a mão da mãe, largou a mão do pai, arregaçou a saíta e subiu ligeira em direcção ao pórtico do Templo. Subiu sozinha, sem ajuda, e deu -Lhe toda a sua vida, minuto a minuto, segundo a segundo. Para isso teve de deixar o pai, a mãe e subir sem hesitar, sem medo de cair. Subiu, subiu para servir o Senhor.
Ainda bem que nos calhou rezar esta Oração de Compromisso neste dia em que Nossa Senhora subiu uma a uma as escadas do Templo, para dedicar a sua vida ao Senhor, como que dizendo: — Sou de Deus, para servir a Deus, nada mais que Deus!
É isto que se pede aos cristãos: que sejam de Deus! Sede, pois, rápidos na resposta ao Senhor! É isto que se pede a quem frequenta a Eucaristia, a quem vem a um Encontro com a Bíblia, quem embeleza os altares… O que faz um cristão aí? Faz um serviço, uma dedicação, uma entrega ao Senhor! Digo-vos isto neste dia, não para que me imiteis a mim: não iríeis longe. Nem para imitardes o Pe. Caetano: iríeis mais longe. Não, não imiteis nenhum dos nosso padres, nem o Provincial, nem o nosso Bispo, nem o Santo Padre. Só imitaríeis homens! Imitai Nossa Senhora! Imitai aquela que muito nova subiu para servir! Para ser só de Deus.
Inclino-me, oro e abençoo aqueles que suam e lhes dói a cabeça e o corpo por dispensarem o seu tempo no serviço a Deus, nesta templo do Carmo. Agradeço, louvo e abençoo os que servem a Deus nesta comunidade cuidando singelamente dos irmãos.
Bom trabalho, boa dedicação, boa entrega! E quando vos faltarem as forças, quando o vento frio e a chuva não vos deixar seguir caminho, orai e olhai para Nossa Senhora subindo sem hesitar para servir a Deus.

Segunda palavra, Ano Sacerdotal.
E estando a abrir o nosso Ano Pastoral, tinha de falar dos sacerdotes. Falo rápido, curto e bem. Há dois dias atrás, no dia 19, festejámos São Rafael Kalinowski, que disse: «Não sou meu, sou herança dos outros». Olhai que tenho meditado muito nesta frase, durante as últimas semanas! Eu, sacerdote, não sou meu, sou herança vossa, sou para vós!
Os sacerdotes somos vossos, os sacerdotes somos da Igreja. Cuidemo-los para que possam servir cada vez mais e melhor a Deus nos irmãos! Os sacerdotes somos uma grande herança para a Igreja, para cada um de vós. Somos a vossa herança, a vossa propriedade! Que o Senhor incline o seu olhar sobre nós, sacerdotes, e vos saibamos abençoar, alimentar e guiar todos os dias da vossa vida. Irmãos, os sacerdotes são vossos, tratai-os bem; não com os pés mas com o coração!

Terceira palavra, Cristo Rei.
Esta festa surgiu para animar os cristãos a serem fortes e valentes no testemunho da fé, e também para mostrar que só existe um Rei. Deixai que neste dia vos conte uma história sobre o modo de servirmos a Deus.
Conta-se que um rei quando chegava a alguma localidade, tirava do alforge real bastas moedas de ouro que semeava sobre a cabeça dos súbditos. Semeava para a direita e para a esquerda e o povo, esbaforido, baixava-se e gatinhava para apanhar as moedas do rei. Baixava-se? Não. Houve um que não se baixou.
Perguntou-lhe então, o rei: — Tu não apanhas as moedas! São de ouro, não queres ser rico?
— Não, respondeu o súbdito. Eu sirvo o meu rei.
É aqui que nos devemos deter, meus irmãos: A quem servimos? Se servimos o nosso Rei como O servimos? Se servimos outro rei, estamos mal: não servimos para nada. Sirvamos, pois, o nosso Rei. Sirvamos a Cristo Rei, inteiros e direitos no serviço aos irmãos. Não nos verguemos à procura de riquezas; mas fiquemos direitos, de pé, diante d’Ele ainda que tenhamos muitas vezes de vergar-nos para ajudar e abraçar aqueles a quem ninguém quer. (Não são reis nem têm ouro!)
Com esta dedicação, com esta amizade e com esta fidelidade a Igreja nos pede que sirvamos a Cristo Rei. Permaneçamos inteiros diante d’Ele. Não nos baixemos por baixezas.
Eis a festa de Cristo Rei: sirvamos o Senhor nos irmãos, ainda que para isso nos tenhamos de inclinar diante do corpo de Deus, que são os irmãos pobres.
Que assim seja.

Frei João Costa
21 Novembro ´09

domingo, 22 de novembro de 2009

Jesus, tu és o Cristo

Jesus, Tu és o Cristo, o Messias enviado de Deus!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o nosso único Salvador!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o nosso Rei!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Senhor!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Senhor do Universo, o Senhor do Mundo!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és a Testemunha fiel do Amor do Pai!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és verdadeiramente o nosso Deus!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Descendente de David!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Filho do Homem, descende sobre as nuvens;
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Príncipe, o mais belo de todos os filhos dos homens!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Alfa, o sentido primeiro e o princípio de toda a nossa Vida!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

Jesus, Tu és o Ómega, a meta última e o final feliz da nossa Vida!
Senhor, venha a nós o Teu reino.

sábado, 21 de novembro de 2009

A vida inteira

Falamos de Ti
como se Tu nos tivesses amado primeiro uma só vez.
É, porém, dia após dia, a vida inteira,
que Tu nos amas primeiro.
Quando acordo pela manhã e elevo para Ti a minha alma,
Tu és o primeiro,
Tu amas-me primeiro.
Se pela madrugada me levanto,
e logo
para Ti a minha alma e a minha oração elevo,
Tu precedes-me,
Tu já me amaste primeiro.
É sempre assim.
E nós, ingratos,
falamos como se Tu nos tivesses amado primeiro
uma só vez…
(Soren Kierkgaard)

Obrigado, grande Rei!

Terminamos o ano litúrgico colocando Jesus no lugar mais alto das nossas vidas. Não é uma entronização encenada de poderes e resplendores que muito encenam e nada são. O que sim, o que nós declaramos com a nossa presença nas igrejas e com a celebração desta festa é que Jesus é a nossa referência maior, e o referente de toda a pessoa que trabalha pela verdade e pela justiça, pela reconciliação e pela paz.
Jesus é rei porque anunciou e inaugurou o reino de Deus. Mas o que é o reino de Deus? Aqui fica a resposta com as respostas erradas. Só depois vem a certa.

Os nacionalistas
identificavam o reino de Deus com a restauração da monarquia do célebre rei David. Esse reconhecimento implicava obviamente um confronto militar com o Império Romano que ocupava Jerusalém. Jesus nunca assumiu esta posição.

Os sacerdotes
identificavam o reino de Deus com a restauração do Templo de Jerusalém. Jesus jamais assumiu essa opção; antes preferiu chamar ao Templo uma «cova de ladrões» e um «mercado».

Os fariseus
identificavam o reino de Deus com o império da Lei. Segundo eles o Messias ensinaria todo o Povo a cumprir excelentemente a Lei e assim se construiria o reino de Deus. Esta também não é a opção de Jesus, que sempre pôs a Lei ao serviço do homem!

Jesus
seguiu por outro caminho e identificou o reino de Deus com a vida do povo pobre e oprimido. Jesus é rei porque cura os doentes e dá vida aos mortos; porque veio trazer vida e vida em abundância. Jesus é rei e reina na cruz, desde a pobreza e o despojamento, o não-poder e a identificação com os pequeninos. Jesus é rei porque proclama e inaugura o reino de Deus, um reino que não se identifica nem com a monarquia nem com o Templo nem com a Lei, apenas com o povo pobre. O poder de Jesus Rei é o poder de libertar da opressão.

Para nós
proclamar Cristo como Rei é viver diariamente os valores do seu reinado. Ele quer ser proclamado Rei pela humildade do nosso serviço à vida, pelo nosso compromisso com os pobres, pela afirmação do nosso testemunho pessoal nos ambientes onde acontece a nossa vida: nas nossas famílias, nas nossas escolas, nos nossos trabalhos, nos nossos amigos. Jesus é hoje Rei se O soubermos afirmar como Ele se disse a Si mesmo e aos mesmos a quem Ele se disse e por quem ofereceu a Sua vida.
Na solenidade de hoje proclamamos que Jesus é Rei, porém, convém recordar o aviso que Ele nos deixou: «O meu reino não é deste mundo»!
Afinal a sua autoridade e o seu poder encontram-se na sua maneira de viver, de se relacionar com as pessoas, de estar próximo dos desamparados e dos sofredores.
Jesus não impõe a sua presença. Jesus não castiga nem condena, nem excomunga nunca ninguém. Jesus apenas convence a quem tem fome de libertação. Ele liberta e fermenta em nós a comunhão e a libertação.

Nós
somos o rosto da Igreja. E cabe-nos a grata tarefa de mostrar aos homens e mulheres deste mundo o rosto amoroso e acolhedor de Deus. É preciso para isso púlpitos e sermões? Não. É bastante que o digamos com a experiência da vida no dia a dia.
E que Deus temos nós experimentado? Sempre que participamos na Eucaristia saímos libertados que libertam, ou o encontro com Ele nada liberta em nós, a nada nos compromete, a nada nos impele? A sua presença clara e luminosa e o seu olhar lavam-nos os olhos a fim de O reconhecermos nos pobres e necessitados? Assim reina Jesus, hoje e sempre! Na medida em que o acreditemos — que acreditemos na maneira sem poder de reinar —, assim nós iremos desvelando a presença do reino salvador de Deus no nosso mundo, mas que, sobretudo, como dizia Jesus, está presente em cada um de nós. Obrigado, ó grande Rei!
Chama do Carmo I NS 45 I 22 Outubro 2009

Venha a nós o vosso reino!

Pai nosso que estás e reinas no Céu
que estás também e queres reinar na Terra
ajuda-nos a ser e viver como irmãos.

Que o teu nome seja bendito, santificado, respeitado;
que todos Te conheçam,
e que nós Te demos a conhecer na nossa vida.

Que venha o teu Reino: que venha a justiça,
a solidariedade, a paz:
que ninguém morra de fome, nem de sede, nem de ódio;
que ninguém seja explorado, oprimido,
que ninguém seja excluído, marginalizado, descriminado.

Que venha o teu Reino, o teu Espírito,
e se apodere dos nossos corações
e comece neles a reinar com força,
para que nos empenhemos já em fazer a tua vontade
na terra, como se faz no céu;
para que antecipemos já no solo
o reino de solidariedade que há no Céu.
Amen.
(José E. Ruiz de Galarreta)

Breve Sumário da História de Deus

«Ainda que todas as coisas passadas sejam notórias a Vossas Altezas, a história de Deus tem tais profundezas que nunca se perdem ser recontadas.» (Gil Vicente, Auto do Breve Sumário) e assim se vai repondo em cena o Breve Sumário da História de Deus, que o encenador Nuno Carinhas justifica por ser «absolutamente pertinente» debater a vida e a religião; porque «pode estar a nossa sociedade arredada desse livro fundamental que é a Bíblia?»; porque «parece que há um luxo mais entre os católicos que entre os protestantes, de não querer saber, de não querer reflectir.»
A ver no Teatro Nacional São João, até 20 de Dezembro.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Alakrana

A Estrela do Mar é Nossa Senhora do Carmo. Em Espanha os marítimos da Galiza e do País VCasco, entre outros, têm-na por padroeira. Num dos portos viscaínos (perdoem-me erros político-histórico-geográficos, se os há.) existe uma capela subaquática dedicada a Nossa Senhora do Carmo. Não há barco de pescadores que por ali passe que não se sinta abençoado por tão boa padroeira. E também é costume que uma imagem do Carmo presida a cada navio. É a tradição.
O Alakrana é um pesqueiro basco. Nos últimos tempos foi aprisionado ao largo da Somália. O seu capitão Ricardo Blach narrou ultimamente que depois do pesqueiro ter sido sequestrado por piratas samalis estes lançaram borda fora a imagem de Nossa Senhora do Carmo, que agora descansa no fundo dos oceanos.
Mas podia ter sido pior. O capitão contou que os sequestradores ainda se mostraram benignos, «porque se fossem os daquele clã (que se encontrava ao largo) tínheis morrido».
«Verdade ou mentira não sei, disse o capitão, pois passamos por tanto que até deliramos!».

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Preces pelos sacerdotes

Maria, Mãe dos sacerdotes, intercede junto do Seu filho por todos nós. Irmãos e irmãs, peçamos a Maria que proteja todos os sacerdotes para que possam realizar com amor e dedicação o seu apostolado. Oremos ao Senhor: — Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.

1. Peçamos a intercessão de Maria por todos os vocacionados, para que a Mãe os ajude a discernir a sua vocação na Igreja de Cristo. Oremos ao Senhor.

2. Peçamos a intercessão de Maria por todos os neo-sacerdotes, para que encontrem na Mãe o testemunho, modelo de vida e de missão, para realizarem o seu apostolado na Igreja de Cristo. Oremos ao Senhor.

3. Peçamos a intercessão de Maria por todos os sacerdotes enfermos e pelos debilitados que já realizaram o seu apostolado com amor e dedicação, para que encontrem na Mãe conforto e carinho nas horas de maior necessidade. Oremos ao Senhor.

4. Peçamos por intercessão de Maria por todos os sacerdotes falecidos, para que a Mãe interceda por eles como advogada junto de seu Filho Jesus. Oremos ao Senhor.

V. Ó Jesus, Pastor Eterno das nossas almas,
R. Enviai bons trabalhadores para a Vossa seara.

Pai Nosso.

Oração final
Ó Jesus, Mestre divino, que chamastes os Apóstolos a seguir-Vos, continuai a passar pelos nossos caminhos, pelas nossas famílias, pelas nossas escolas e continuai a repetir o convite a muitos dos nossos jovens. Dai alegria e coragem às pessoas convidadas. Dai-lhes força para que vos sejam fiéis como apóstolos leigos, como sacerdotes, como religiosos e religiosas, para o bem do Povo de Deus e de toda a Humanidade. Amen.

domingo, 15 de novembro de 2009

Tiradas (II)

«Durante o Ano Sacerdotal vou levar os miúdos da catequese ao Seminário e a um convento; não quero que lhes acontece o que me aconteceu a mim: só fui a um Carmelo quando tinha 50 anos! Encontrei lá uma noviça linda como as estrelas! Entrou lá contra a vontade da família, mas agora tem uma saobrinha de 14 anos que diz: — Vou ser como a tia!
Eu pobre de mim, não tenho um sobrinho que diga: — quero ser padre como o tio!»
(Outro participante do XV Fórum Sacerdotal)

sábado, 14 de novembro de 2009

A influência da família em S. Teresa

A família é a primeira escola onde se aprende a ser pessoa em relação (acatar ordens, negociar, pensar nos outros, renunciar a certos gostos, ser generosos, partilhar, dedicar-se, dar e receber carinho).
A família de Santa Teresa terá alguma coisa a dizer-nos, hoje? Dom Alonso perdeu a sua primeira mulher. Ficou viúvo muito novo, com dois filhos, e voltou a casar. Teresa (28.3.1515) é filha do segundo casamento de Dom Alonso com Dona Beatriz de Ahumada (uma jovem de Olmedo, de 15 anos). Dois filhos do primeiro casamento, mais dez do segundo, fazem com que na família de Teresa haja 12 irmãos.
Teresa já é freira e os seus confessores mandam-lhe que faça um relato da sua vida espiritual, das mercês que o Senhor lhe faz. Ela remonta à infância. Começa por dizer: “O ter pais virtuosos e tementes de Deus me deveria bastar se eu não fosse tão ruim…, com o que o Senhor me favoreceu para ser boa” (V 1, 1).
Teresa reconhece que tudo o que é em adulta começou a forjar-se na infância, vendo como viviam os pais, relacionando-se com os irmãos, partilhando a amizade com os seus familiares. Vamos dividir esta reflexão em três alíneas: Pais, irmãos e familiares. Nascemos, vivemos e morremos entre eles. Deles e com eles, aprendemos a ser pessoas.

1. OS PAIS
Teresa reconhece a influência de seus pais, as suas virtudes, como viviam a sua relação com Deus…Para ela foram um dom de Deus e o espelho onde se revia.
1. Seu pai era afeiçoado “a ler bons livros, e por isso os tinha em vernáculo para que os filhos os lessem.” A mãe gostava dos “livros de cavalaria” (V 1,1). O resultado foi que estes costumes dos pais despertaram em Teresa o gosto pela leitura.
Quinhentos anos depois, muitos de nós continuamos a acreditar na influência educativa que tem a vida dos pais na dos filhos: as reacções, conversas, gestos, divertimentos, esperanças, crenças… tudo educa. Ser pai é transmitir vida e a tarefa não termina com dar à luz os filhos.
2. “O cuidado que a minha mãe tinha em nos fazer rezar e em sermos devotos de Nossa Senhora e de alguns santos, começou a despertar-me, na idade – segundo creio – de seis ou sete anos”.
Actualmente, muitos de nós continuamos a defender a necessidade de pôr os filhos em contacto com Deus, de educar a sua dimensão transcendente, de agradecer a Deus a vida, de rezar. Porque, nos nossos dias, manifestar publicamente a fé é um acto de coragem e coerência. E porque teremos de nos acobardar perante os que põem em ridículo a nossa religião? A vivência da fé na família continua a ser actual e necessária para o crescimento equilibrado dos filhos.
3. “Era meu pai um homem de muita caridade para com os pobres e de piedade para com os doentes (…), era de grande verdade. Nunca ninguém o viu jurar ou murmurar. Sobremaneira honesto”. “Ajudava-me não ver nos meus pais senão apoio para a virtude: tinham muitas” (V 1, 2).
Hoje, muitos de nós continuamos a apostar em recuperar o valor da verdade, da honradez e da honestidade. Se, na sociedade, respiramos mentira, egoísmo, deslealdade e ânsia de poder a qualquer preço, é porque na família não “se dá valor aos valores”. É urgente recuperar a eficácia da educação das virtudes: fortaleza, temperança, prudência, justiça, fé, esperança, caridade.
4. “A minha mãe tinha também muitas virtudes, e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade (…), muito serena e de grande entendimento” (V 1, 3).
Quinhentos anos depois, continuamos a reconhecer a grandeza das nossas mães. E surpreendemo-nos a fazer coisas que elas faziam, usando expressões que elas diziam, admirando e agradecendo uma vida de entrega silenciosa e muitas vezes sacrificada.
Continuamos a acreditar que ser mãe significa defender a vida do filho, antes e depois de ele nascer. Continuamos a acreditar que o sacrifício é um valor vigente e necessário na família e na sociedade. E que a capacidade de sofrimento e de renúncia torna o homem forte face às dificuldades. Serão fortes e sofridos os nossos jovens?
5. “Lembro-me de que, quando a minha mãe morreu, tinha eu pouco menos de doze anos de idade. Quando comecei a compreender o que tinha perdido, fui-me aflita a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-lhe com muitas lágrimas que Ela fosse minha mãe. Parece-me que, embora o tenha feito com candura, me tem valido” (V 1,7).
Quinhentos anos depois damo-nos conta de que o maior conflito, o maior sofrimento que existe numa família continua a ser a doença e a morte dos seres queridos.
A morte dos pais, quando os filhos são ainda pequenos, envolve a família num mar de incerteza e insegurança. A solidão converte-se em companheira absoluta, surgem com força as perguntas pelo significado da existência e a pessoa fica como que desvalida, desprotegida pela ausência do pai ou da mãe. Quando se tem fé, pode-se recorrer ao Senhor, à Virgem Maria, pode-se rezar mesmo que não se compreenda, mas a dor e as lágrimas são inevitáveis: “Supliquei-lhe com muitas lágrimas que Ela fosse minha mãe”.
Vivemos numa sociedade cheia de contradições. Por um lado, envolve-nos a violência e a morte nos telejornais, nos filmes, nas séries televisivas e nos jogos de vídeo. Por outro, evitamos falar da outra vida, do mais além. Habituando os filhos a brincar com a morte, tiramos valor à vida.
“Foi coisa para louvar o Senhor a morte que teve (meu pai), e o desejo que tinha de morrer, os conselhos que nos deu… encarregando-nos que o encomendássemos a Deus… que víssemos como tudo acaba” (V 7, 15).

II. OS IRMÃOS
1. “Éramos três irmãs e nove irmãos. Todos se pareciam com seus pais – pela bondade de Deus – em serem virtuosos” (V 1, 4).
Quinhentos anos depois, os investigadores e estudiosos da família descobrem que a relação entre os pais determina a relação entre os irmãos. Se vêem coerência de vida nos pais, aprendem a ser coerentes.
2. “Tinha um irmão quase da minha idade (…) Juntávamo-nos a ler vidas de santos. (…) Espantava-nos muito dizer que pena e glória era para sempre (…) Acontecia-nos estar muito tempo tratando disto e gostávamos de dizer muitas vezes: para sempre, sempre, sempre! Com pronunciar isto muito tempo era o Senhor servido que me ficasse impresso, na meninice, o caminho da verdade” (V 1, 5).
Hoje, continuamos a defender a importância das relações entre irmãos. Do ponto de vista social, são um ensaio, uma preparação para a inserção de crianças e jovens no grupo de amigos, na escola e na sociedade. Do ponto de vista pessoal, estas relações determinam o desenvolvimento e a configuração da personalidade e das crenças, porque os irmãos têm tendência a imitar-se.
3. “Dava esmola como podia, e podia pouco. Procurava solidão para rezar as minhas devoções, que eram bastantes, em especial o Rosário, de que a minha mãe era muito devota, e por isso nos fazia sê-lo” (V 1, 6).
Quinhentos anos depois, continuamos a observar que cada um sabe o que lhe ensinam. E que uma sociedade sem Deus, como a nossa, é fruto de uma série de causas que convergem, entre as quais está a educação na família e na escola. Em que momentos ou acontecimentos da vida reza a família de hoje? Quem vai ensinar os filhos a rezar quando desapareça a geração das avós? Que sinais religiosos vêem os nossos filhos nas suas casas? Em que celebrações da fé participa toda a família? Quem educa a dimensão transcendente das nossas crianças, adolescentes e jovens?
4. Teresa interessa-se pela sorte e negócios de seus irmãos: “Nada me dá tanto contentamento como o de que os meus irmãos, a quem tanto amo, tenham luz para querer o que é melhor. (E digo-lhes) agora que ponham todos os seus negócios em Suas mãos, que sua Majestade fará em tudo o que mais nos convém” (Carta 23, 3).

III. OS FAMILIARES1. “Tinha uns primos irmãos… Eram quase da minha idade, pouco mais velhos do que eu; andávamos sempre juntos… Recebi toda a má influência de uma familiar que frequentava muito a nossa casa”. Meu pai e minha irmã lamentavam muito esta amizade” (V 2, 4).
Quinhentos anos depois, assistimos ao efeito produzido por uma má companhia. “Sobretudo no tempo da mocidade deve ser maior o mal que causa” – diz Santa Teresa.
E a experiência diz-nos que isto continua a ser verdade. Muitos pais procuram com todo o cuidado uns bons amigos para os seus filhos e temem sempre que se juntem com más companhias.

CONCLUSÃODe tudo isto, fica-nos uma certeza: Santa Teresa teve a sorte e o dom da família. O ter pais virtuosos, irmãos com quem partilhava sonhos e esperanças… tudo isso fez dela uma mulher de fé firme, comprometida com a vida, dependente de Deus e com desejo de procurar e viver “a verdade de quando era menina”.
O testemunho da vida de Teresa de Jesus tem de nos dar forças para sermos defensores da família como sustentáculo e força da sociedade, como a melhor escola de valores. Tem de nos fortalecer na certeza de que a família é um valor para a sociedade e não podemos permitir que ninguém ponha em ridículo nem ataque a sua existência.
Deve tornar-nos críticos dos meios de comunicação e de todos o que se empenham em nos oferecer modelos de relações familiares em que não existe o respeito, nem o amor para com o outro, nem a defesa da vida e da dignidade humanas.
Basta-nos acender a televisão em qualquer dia, e até me atreveria a dizer a qualquer hora, para ver e escutar história de famílias em que tudo vale, histórias de jovens sem pudor, sem um questionamento sério sobre a vida. Onde está o direito da família a ser protegida pelo Estado se, na Televisão pública, se destrói a família?
A família actual vive num mar de incertezas. Assistimos a uma ausência de valores humanos, sociais e religiosos. Os pais preocupam-se com a educação dos filhos e do seu futuro. Os filhos vivem à margem dos pais. Perante este panorama, permitam-me que lhes diga:
Teresa escolheu viver na família carmelitana. Também nela havia grandes problemas para os quais era difícil encontrar solução. O que ela via na sua Ordem, vamos aplicá-lo ao que qualquer pai ou mãe vive na sua família.
“Estando um dia muito amargurada com o remédio da Ordem, disse-me o Senhor: ‘Faz o que estiver na tua mão e deixa-Me tu a Mim e não te preocupes com nada; goza do bem que te foi dado, que é muito grande; o meu Pai deleita-Se contigo e o Espírito Santo ama-te’ (CC 10ª,Toledo, Junho de 1570).
É esta a mensagem que eu gostaria de transmitir hoje aos pais e mães: que reconheçam o bem da família, que gozem dela, que agradeçam a Deus o dom dos filhos, que aproximem os filhos de Deus e os ponham nas Suas mãos. Que acreditem e vivam o amor que Deus lhes tem. Pusemos Deus fora dos nossos lares e até da nossa vida. Talvez esteja nisso todo o problema.
Que Teresa de Jesus nos sirva de modelo na oração, na fortaleza de vida, na confiança no Deus que nos salva e a Quem devemos tudo!
Júlia Villa Garcia
Trad. P. Vasco Nuno

Para este Domingo

Era uma vez um rei que estava quase a morrer. Mandou então chamar o bobo da corte que mais o fazia rir com as suas piadas. Mas nem o melhor humor lhe arrancou um sorriso.
— Porque estais tão triste, Majestade?, perguntou.
— Porque vou fazer uma grande viagem, respondeu o rei.
— Mas como ides fazer um longa viagem se não estais preparado? Onde estão as vossas malas? E as vossas roupas? Onde estão os cavalos?
— É esse o problema, respondeu o rei. Descuidei-me! Estive sempre tão ocupado com outras coisas e agora tenho pouco tempo para me preparar.
— Tomai, pois, a minha gorrra, respondeu-lhe o bobo, ficai com o meu apito e as minhas campainhas, pois sois mais tonto que eu. Ides fazer a viagem mais longa da vossa vida e a única coisa que ocorer é chamar-me!

Oração sacerdotal

Senhor, és a minha herança:
toda a minha riqueza,
toda a minha vida,
toda a minha esperança!

Não me deste sequer
um palmo de terra,
para construir,
em paz e em segurança,
a casa e a família de sangue!

Mas és Tu, para Mim,
a vasta Terra da Promessa,
para onde parto, cada dia,
sem renda e sem garantia,
deserto fértil da funda alegria
de servir os teus filhos sem conta
ou sem emenda!

Senhor,
não me dês a Terra onde Te encontrar,
porque estás sempre na minha presença,
e a herança que me toca
é comer da Tua Palavra,
beber do teu cálice
viver do teu serviço.

Projecta-me em Ti,
Pátria do meu coração.
Abandona-me à Tua direita
para conhecer as delícias
que dás aos teus eleitos,
sem tempo, e sem medida!

Domingo XXXIII do Tempo Comum


Tiradas (I)

— «Se o povo de Deus rezasse pelos padres quanto os critica eramos todos santos!»
(Um dos participantes no XV Forum Sacerdotal)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Um evangelho vocacional

— «Se a nossa pastoral não for vocacional será um aborto!»
(D. António Monteiro, citado pelo Pe Jorge Madureira)

— «Será que somos padres/pais que geram vocações?»
(Pe Jorge Madureira)

— «Um dos frutos que se podem esperar do Ano Sacerdotal é o encontrar a chave do aumento de vocações sacerdotais.»
(Pe Jorge Madureira)

— «Será que estamos a educar para a diferença cristã, que apele para a entrega e a fidelidade?»
(Pe Jorge Madureira)

— «Dizem as estatísticas que 12% dos jovens sentem em algum momento uma inquietação vocacional. Perdêmo-los porque não estamos próximos para perceber esse desabrochar e responder a essa inquietação.»
(Pe Jorge Madureira)

— «O Padre deve chamar um a um os jovens para que se ponham diante de Deus, a fim de ler em si a intenção de Deus a seu respeito.»
(Pe Jorge Madureira)

— «A vocação é um tesouro da Igreja, amada por Jesus, que a promove em grupo de colaboradores: temos de chegar à apresentação explícita da vocação.»

(Pe Jorge Madureira)

— «O Padre é um evangelho vocacional. É uma boa nova.»
(Pe Jorge Madureira)

— «A infância ainda é o tempo da sementeira vocacional. mas a vocação é para todas as idades: ontem apareceu-me um senhor de 78 anos querendo ser padre!»
(Pe Jorge Madureira)

Kerit, retiro de silêncio

Os Jovens Carmelitas propõem um Kerit, que é um retiro de silêncio em Avessadas. Será de 27 a 29 de Novembro. Para quem já foi crismado. Mais informações no carmojovem@gmail.com

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Saborosas pitadas

Mais saborosas pitadas do XV Fórum Sacerdotal. São do Cón. Emanuel Silva, jovem sacerdote de Portalegre. Vale a pena ler (e meditar):

— «As palavras que salvam o mundo estão inventadas; agora só falta salvar o mundo.»
(Almada Negreiros, citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «Se queres chegar depressa, caminha sozinho. Se queres chegar longe, caminha acompanhado.»
(Provérbio africano, citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «A pedra que atiramos aos outros ferem mais a nossa mão.»
(S. Gregório Magno, citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «Eu não preciso de amigos que façam o que eu faço, porque a minha sombra faz isso melhor que eles. Não devemos desistir de acolher a diferença: a caridade suplanta tudo.»
(Um amigo citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «O sacerdócio só se entenderá bem no Céu!»
(Con. Emanuel Silva)

— «Não é mau que o sacerdote seja surpreendido em flagrante delito diante do Sacrário!»
(Cardeal de Viena num retiro a sacerdotes, citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «O Bom Deus pediu-nos para sermos sal e não mel.»
(S. Cura d'Ars, citado pelo Cón. Emanuel Silva)

— «O importante é o subliminar. Diz que és sacerdote, mas di-lo com estilo!»
(Cón. Emanuel Silva)

— «Entre nós há muitos professores, agentes de viagens, gestores, agricultores, futebolistas, escritores, treinadores, construtores... 'que até parecem padres', como o povo desconfia!»
(Cón. Emanuel Silva)
— «O acolhimento é metade do sacramento.»
(Cón. Emanuel Silva, e nem o Cura d'Ars diria melhor!)

Prece

Senhor, deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo o comprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama
Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição:
Onde era sim, digo não,
Onde era não, digo sim;
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.
Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro dum inimigo ...
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.

Miguel Torga
Vila Nova, 11 de Dezembro de 1934

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mais XV Fórum sacerdotal

Mais reflexões do XV Fórum Sacerdotal nunca tardias, apesar de terem sido as primeiras:

— «Já não estamos numa sociedade cristã. Somos uma minoria que deveria orientar-se para a maioria. Acabou o projecto da cristandade; a pós-modernidade enviou o assunto religioso para o privado da sacristia. O novo projecto da comunidade cristã tem de desenvolver-se em contexto adverso, com um sentido fortemente reevangelizador.»
(D. Carlos Azevedo)

— «O Padre do III milénio tem de ser uma testemunha de Cristo Ressuscitado; um missionário num mundo de não crentes; um pastor feito total doação à Igreja; um irmão entre irmãs capaz de fazer verdade o que dizia Jesus: «entre vós não seja assim!»; um servidor onde resplandece a gratuidade do amor; misericordioso para com a fragilidade da Humanidade.»
(D. Carlos Azevedo)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ler e partilhar o Livro da Vida

Objectivo geral:
“O objectivo que nos propomos alcançar com a escuta da leitura da palavra de santa Teresa é gerar nas pessoas e nas comunidades um fortalecimento da nossa vivência cristã, em clave bíblica e evangélica, e um enriquecimento da nossa vida de fé em comunhão com a Igreja. Como interlocutores actuais de Teresa, constatamos que os seus escritos contribuem para melhorar a nossa vida como carmelitas e como membros da grande família do Carmelo com uma eficácia análoga à que São Gregório Magno dizia da Sagrada Escritura: ela cresce naquele que a lê, em proporção à fé e ao amor do leitor. Por isso a nossa leitura mover-se-á não tanto por uma preocupação sistemática, mas antes pela atenção àquilo que nos escritos de Teresa é efectivamente relevante para a nossa vida”. (Cf. Para Vos nací, 40)

Metodologia básica:
“Assumamos o compromisso de dedicar todos os dias uma fracção do nosso tempo, por pequena que seja, à leitura de santa Teresa, e o resto também se fará. Somente esta frequência quotidiana nos pode voltar a trazer o sabor e o gosto do carisma de Teresa. Por experiência própria, sei que uma tal fidelidade não é possível se, por um lado, não houver uma “determinada determinação” de colocar este empenho pessoal e escondido entre as prioridades da agenda pessoal e se, por outro lado, não tivermos a capacidade de recorremos ao texto tal como somos, com os nossos problemas ainda por resolver e as nossas interrogações recorrentes, livres de apriorismos desorientadores” (P. Saverio, Prepósito Geral OCD, na introdução do documento capitular Para Vos nací).

Meios específicos:
Guiões com umas curtas e práticas orientações prévias à leitura de cada secção proposta, perguntas para a reflexão pessoal e partilha comunitária, partilhas e celebrações comunitárias acerca do que se leu.

Livro da Vida:
Guião de leitura e partilha dos capítulos 1 a 9


Orientações gerais:
Começaríamos por dizer que a santa Madre apresenta nesta primeira parte do Livro da Vida a obra salvífica de Deus contra a sua , e justifica-o narrando o bem que Ele lhe oferecia e, ao contrário, o mal com que ela se deixava enredar; concretamente: 1) as pessoas ou as companhias, 2) as propensões [e graças], 3) os livros. Portanto, num quadro sinóptico, é boa ajuda ir anotando : a) Quais os bons e os maus elementos; b) Quais os momentos em que ora, isto é, em que se dirige directamente ao Senhor ; c) Como se vai descrevendo a si própria: simpática? devota? descuidada? ...

Orientações particulares:
Cap. 1-3: pela sua brevidade e clareza, é um exemplo perfeito para descobrir a estrutura referida [cf. nota 4]: despertar (cap. 1) – perder (cap. 2) – tornar a despertar (cap. 3). Importante anotar: 1) a que anos da sua vida se está referindo a santa; 2) em que é que consiste basicamente esse despertar ou descoberta fundamental; 3) demora muito tempo a vencer a crise de adolescência a que se refere?; 4) trabalhar a orientação geral apontada antes: Deus “contra” ela —companhias, livros e propensões; 5) trabalhar também as orientações gerais b y c.
Meditação após a leitura do texto:
1. Imitemos a Santa e utilizemos as suas próprias chaves: certamente que cada um de nós também tem que agradecer a Deus pessoas, propensões e graças, livros (obras musicais, cinematográficas…); inclusive más experiências em relação a elas, mas felizmente superadas e integradas. (Seria bom orar e partilhar em comunidade alguma coisa que extraímos daqui).
2. O texto teresiano é acção de graças e, ao mesmo tempo, exame de consciência, desejo sincero de conhecimento próprio e abertura à direcção espiritual: cuido essas dimensões da minha vocação: exame de consciência, direcção espiritual, confissão?
3. “A verdade de quando era criança” (3,5) é fundamental na origem da vocação da Santa Madre (e uma coisa a não perder de vista: cf. 15,12): é tida em conta na espiritualidade actual?; é assim que tu fazes?; por quê?
4. Vendo o cap. 2, é óbvio que S. Teresa se preocupa muito com a educação dos adolescentes e não cai no costume de desculpar-lhes os comportamentos errados pelo facto de se dizer que “são coisas da idade” (porque postos na ocasião, está o perigo ao alcance da mão: 2,6). No trabalho pastoral com os adolescentes ou seus pais, reduzes as respostas às suas perguntas ao “são coisas da idade”? Conheces casos que requeiram a mesma firmeza do pai da santa ou parecida? Crês que isto tem alguma coisa a ver com o êxito ou o fracasso das diversas pastorais juvenis? ... Aprofunda quanto puderes este tema.
5. Na linha do que se disse, constitui um caso particular a sua preocupação pela leitura de livros frívolos. Contudo, a sua sobrinha Maria Baptista atesta: “Quando me via a ler livros de cavalaria e outros parecidos, dizia que não se preocupava, porque tinha esperança que daqueles passaria a ler os bons, e deste gosto tiraria proveito, como aconteceu com ela” (EFRÉN-STEGGINK, Tiempo y vida de Santa Teresa, Madrid 1977, 183). Como avalias esta aparente contradição? Com qual dessas duas posições és mais partidário e por quê?

Perguntas para a leitura pessoal, para a partilha e para a celebração (Cap. 1-3)

O que diz o texto?
- A obra salvífica de Deus: Quais foram as obras de Deus em favor de Teresa?
- A resposta de Teresa: o que é que a ajuda e o que é que não a ajuda a corresponder a Deus? Em que consiste a crise da adolescência de Teresa?

O que o texto me/nos diz?
- Cultivo as dimensões da minha vida cristã de auto-conhecimento, confrontação pessoal e comunitária, sacramento da reconciliação?
- Para santa Teresa “a verdade de quando era criança” (V 3,5) foi uma marca fundamental na sua vida. Qual ou quais são as tuas marcas?
- No cap. 2, quais são as orientações que Teresa nos oferece para a educação dos adolescentes?

O que é que o texto me leva a dizer a Deus?
- As orações: Quais as citações onde encontras orações de Teresa? Poderias formular as tuas próprias orações?
- Quais foram as pessoas, as propensões, as graças e os livros da tua vida dos quais Deus se valeu para te ajudar?

Trad. do P. Vasco Nuno

O eleito e a fragilidade da palavra

Volto ao XV Fórum Sacerdotal em que participei e cuja partilha aqui não conclui. Eis o que ouvi e não merece ficar naquelas paredes que nada ouvem, embora se diga o contrário:

— «Deus elege Abraão e a cada um de nós (falava para padres, mas poderia ser para qualquer baptizado) por sermos exactamente como os outros: para levarmos a bênção de Deus aos outros que são como eu, mas não foram eleitos.»
(D. António Couto)

«O eleito não merece sê-lo. Ser eleito não é um privilégio. Devemos ser ponte de bênção e não barragem à bênção!»
(D. António Couto)

«O eleito e o não eleito são postos à prova. A prova do eleito é ser limpo (deixar-se limpar pela Palavra) e não se apossar da Palavra e reservar a bênção. O eleito é para levar a bênção. A prova do não eleito é alegrar-se com a eleição do eleito, e assim ser merecedor da bênção de que ele é portador.»
(D. António Couto)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Carminhar em Cerveira

A foto documenta a XII Carminhada do Carmo Jovem. Foi em Cerveira, de Cerveira ao Cervo. Éramos cem. Cem? Sim, cem. Mas ninguém de Viana. Ninguém de Viana? Sim, ninguém de Viana-a-mais-próxima. Mas não faz mal, vieram cem de outro lado.
A próxima será em Cantanhede, mas não irão cem de Viana. Ai isso, não.

Guião de Leitura do Livro da Vida - Ficha 2

Guia de Leitura Livro da Vida de S. Teresa de Jesus

IntroduçãoPropomos que nos coloquemos diante do Livro da Vida diferentemente de quem tenciona ler um livro por curiosidade ou obrigação. Tomemos consciência de que nos encontramos diante de um bom livro, que nos interpela, que conta coisas que de algum modo sentimos como nossas: o que se relata no Livro da Vida, de alguma maneira está dentro de nós, acontece connosco.
O Livro da Vida pode ser lido de maneira participativa, porque a Santa Madre propõe-nos a sua história pessoal como um caminho de experiência para nós. O modo como ela se deixou conduzir é uma orientação adequada para a aventura interior que nos leva ao encontro com Deus. Ela di-lo explicitamente quando afirma que ao escrever é sua intenção “estimular as almas com um tão grande bem” (V 18, 8).
Esta confissão espontânea dá-nos a chave de leitura que deve guiar a abordagem ao Livro da Vida e a todos os escritos teresianos. Santa Teresa é mediadora de uma Presença activa, a presença de Deus; tem a eficácia de propiciar o encontro pessoal, não só com ela, mas também com o seu interlocutor divino. Aliás, sempre que Teresa fala de Deus fala diante dEle, coram Dei, de maneira a que Ele apareça e Se manifeste por Si mesmo. Propomos, pois, uma leitura, receptiva e vibrante, como a que costumava fazer o seu primeiro editor, Fr. Luís de León: “Sempre que os leio os escritos teresianos volto a admirar-me e, em muitas passagens, parece-me que não é génio humano o que oiço; e não duvido que o Espírito Santo falava nela em muitos lugares, e que lhe guiava a pena e a mão, pois assim o manifesta a luz que põe nas coisas obscuras e o fogo que acende com suas palavras no coração de quem as lê”. Esta convicção multiplica-se nos seus filhos e filhas: como Carmelitas, somos chamados de um modo particular a encontrar a nossa verdade, a Verdade, nas páginas deste livro vivo.
Muitos dos nossos irmãos e irmãs confirmam explicitamente esta experiência ao contar-nos a sua vocação ou conversão. como fruto do encontro com Teresa e com Jesus, caminho, verdade e vida, através da leitura das suas obras, particularmente do Livro da Vida: casos de Francisco de Santa Maria Pulgar e Tomás de Jesus, no séc. XVI, até Teresa Benedita da Cruz, no séc. XX.
Assim no-lo recordam também as nossas Constituições: “A origem da nossa família no Carmelo e o sentido mais profundo da nossa vocação estão estreitamente ligados à vida espiritual e ao carisma de Santa Teresa, e sobretudo às graças místicas, sob cujo influxo ela concebeu o propósito de renovar a Ordem”.Além disso, se queremos fazer uma leitura verdadeiramente proveitosa, não esqueçamos o que nos dizia o Propósito Geral, P. Xavier Canistrà, no prefácio do documento “Para Vós nasci”, do 90º Capítulo Geral: “Assim que abrimos as obras de Santa Teresa deparamo-nos com o extraordinário prólogo do Livro da Vida, no qual ela adverte o leitor para que não esqueça o lado obscuro da sua pessoa, do qual não lhe é permitido falar, porque apenas lhe foi dada licença para escrever sobre o seu modo de orar e sobre as graças recebidas. É uma declaração que nos põe imediatamente fora do convencional estilo hagiográfico e nos reconduz à autenticidade de uma vida cristã em contínuo estado de conversão. Se Teresa escreve isto é precisamente para que ninguém se sinta excluído da possibilidade de percorrer o seu caminho e de receber graças semelhantes às que ela experimentou. Mas, se entre nós e Teresa se ergue uma barreira feita de estereótipos, mais conformes aos cânones de uma certa hagiografia ou de uma certa teologia espiritual do que à história real de Teresa, a escuta das suas palavras não poderá converter-se para nós em manancial de saudável renovação, e ameaça converter-se num piedoso exercício, do qual poderão resultar, na melhor das hipóteses, considerações de teor moralista ou espiritualista”.
1. Um livro vivoEste livro vivo é a primeira obra da Santa e carece de título autêntico. Foram os bibliotecários de El Escorial que escreveram o que chegou até nós na primeira página. De todas as suas obras, o Livro da Vida é o escrito mais extensa e nele Teresa se define como escritora. Trata-se, além disso, de um escrito profundo, arrebatador, uma autêntica revelação da sua alma, a ponto de ela mesma o chamar assim: “minha alma” (na Carta a Doña Luísa de la Cerda, 23 de Junho de 1568).
Santa Teresa fez neste livro um esforço por derramar nas suas páginas a totalidade da sua pessoa, o que leva os críticos literários a considerarem-no o livro mais pessoal de toda a literatura espanhola. Isto é assim, porque Santa Teresa não pretende simplesmente escrever uma autobiografia, mas contar ao leitor a sua vida como uma história de salvação, como um espaço de encontro com Deus. A Santa narra-nos o modo como Deus assume o protagonismo da sua vida, esperando-a (cfr Prólogo) e transformando-a pacientemente. Desta forma, o livro conta a intervenção de Deus na vida da mulher que é Teresa de Jesus, com uma intenção comprometedora, quer dizer animando o leitor a dispor-se para que Deus assuma também o protagonismo da sua própria vida.
Apesar de ter sido escrito em diferentes períodos (1562-1565), trata-se de uma obra muito pensada e com uma estrutura bem definida, alternando a narração de acontecimentos biográficos com a exposição de carácter doutrinal. Este ritmo entre o narrativo e o didáctico é uma característica muito peculiar da escritora e nota comum a todos os seus escritos. Ela, que é uma narradora excepcional, não se limita a transmitir uma crónica mas, levada por uma imparável ânsia de comunicar, prefere exercer o ofício de directora espiritual, fazendo da narrativa biográfica uma plataforma para o doutrinal, procurando acolhimento para as suas palavras, mais do que resposta às mesmas.

2. Estrutura do livro e pistas de leitura
O livro desenvolve-se em quarenta capítulos, que dão lugar a cinco diferentes secções temáticas:

Secção I (cap. 1 a 9)
A primeira parte do livro abarca os capítulos 1 a 9, nos quais Santa Teresa traça um retrato autobiográfico de quarenta anos de existência, desde a infância até ao acontecimento fundante da sua experiência mística. Ao longo da narração, Teresa parece desdobrar-se em dois sujeitos: narrador e personagem; o narrador possui a perspectiva que ela tem ao escrever, enquanto que a personagem actua e se relaciona segundo a perspectiva que a própria Teresa tinha quando sucederam os factos narrados. A secção é de um dramatismo crescente no qual o leitor se vê claramente envolvido, até chegar ao episódio da conversão, que a Santa descreve como o acontecimento chave da sua vida, aquele que marca um antes e um depois.

Pistas de leitura da secção INeste conjunto de capítulos, Teresa fala-nos verdadeiramente de si mesma e da sua família: conta-nos a sua vida de criança, adolescente e jovem, a sua primeira vocação, o seu encontro com a vida carmelita, etc. Mas, acima de tudo, fala-nos de Deus, da acção de Deus nela, de um Deus dinâmico e activo que não deixa nada por fazer no Seu desejo de aproximar-Se do ser humano, de Se abaixar para partilhar a sua vida e o transformar, para além de qualquer crise. Baseada na sua experiência pessoal, Teresa ensina-nos que Deus é uma presença positiva, que melhora a pessoa, encoraja os seus bons desejos e perdoa a suas culpas.
Para mostrar de maneira ainda mais clara a grandeza de Deus e o Seu desejo inesgotável de transformar a pessoa, Teresa apresenta-se a si mesma como ingrata, resistente à acção divina. Não se trata, porém, de uma visão pessimista ou negativa da pessoa humana, apenas pretende manifestar bem o carácter inigualável da iniciativa divina, fazer-nos ver que a acção de Deus não depende dos nossos méritos, (embora valorize as nossas boas intenções) mas única e exclusivamente da Sua misericórdia.

Secção II (cap. 10 a 22)
O capítulo 10 é um capítulo de transição. E os capítulos 11 a 22 são uma exposição detalhada dos quatro graus de oração, através do uso de uma imagem alegórica: as quatro maneiras de regar o horto, que correspondem à oração de meditação (c. 11-13), a oração de recolhimento infuso e de quietude (c. 14-15), a oração do sono das potências (c. 16-17) e a oração de união (c. 18-21). O capítulo 22 resume e coroa todo o itinerário espiritual, com a mediação insubstituível de Jesus Cristo “por Quem nos vêm todos os bens.” (V 22:7) Esta secção irá preparar-nos para compreender melhor a vida nova que ela experimenta desde a sua entrada na experiência mística.

Pistas de leitura da secção II
A oração é o âmbito de encontro privilegiado entre Deus e a pessoa humana, no qual se realiza o milagre da transformação. Deus senta-Se à mesa do homem e da mulher, gosta de passear com eles, com o objectivo de lhes comunicar a Sua própria natureza. Por sua vez, parte da pessoa, exige-se, no âmbito da oração, uma disposição desapegada e amorosa. A oração não é uma prática em que nos buscamos a nós mesmos ou em que procuramos consolações espirituais. É antes a porta aberta para a acção de Deus que, ao Seu ritmo e não ao nosso, nos irá dando a conhecer a Sua amizade e o Seu amor, tomando as rédeas da nossa vida. Jesus Cristo, a Sua sacratíssima Humanidade, tem um papel insubstituível neste processo: nEle fomos salvos e por Ele Deus concede-nos todas as graças necessárias à nossa transformação à Sua imagem; abandoná-lO é fechar-se a qualquer progresso espiritual.


Secção III (cap. 23 a 31)
Ao longo dos capítulos 23 a 31 a Autora regressa à narração autobiográfica, mas já não como na primeira secção. Agora a distância de que falávamos entre o sujeito narrador e a personagem reduz-se ao mínimo, confluindo ambos numa mudança de identidade que se anuncia desde o princípio com expressão e experiência similares às de S. Paulo “É outro livro novo, digo, outra vida nova: até aqui era a minha; a que tenho vivido desde que comecei a declarar estas coisas de oração vivia Deus em mim.” (V 23:1)

Pistas de leitura da Secção IIINesta secção, Deus faz-Se ainda mais protagonista da vida de Teresa, que é uma vida nova. A tal ponto que a pessoa, como aconteceu com Teresa, chega a surpreender-se por reconhecer Deus tão perto, tão enamorado, concedendo constantemente graças à alma que Ele ama. Um Deus tão amoroso e concedendo tantas graças, consegue, por fim, vencer a resistências e as dúvidas e a pessoa chega a mover-se em harmonia com Deus, que Se converte em centro, raiz e objectivo único do homem e da mulher. As graças recebidas por Teresa (visões, locuções, etc.) sendo importantes, não constituem o essencial da experiência mística; o essencial é o ensinamento que por meio delas se recebe, o aprofundamento da experiência de comunhão com Deus, próximo e amigo da pessoa. Teresa fará constar os frutos das suas experiências místicas: riqueza pessoal, mudança moral, crescimento no amor de Deus e dos outros, humildade, rejeição do mal, etc. Ao lado deste panorama tão rico de graças e mercês, aparecem as provações, tentações e rejeições, incompreensões e durezas. A perfeição não se alcança rapidamente, nem o caminho que a ela conduz está isento de dificuldades, interiores e exteriores. Acima de tudo, a Santa chamará a atenção para o desânimo que pode causar a própria fraqueza: porém, não existe outra saída senão confiar no Senhor e ter paciência connosco mesmos; não nos cansarmos; aguardar no Senhor; perseverar na oração e fazer cada um o que está ao seu alcance, até que os desejos se tornem obras.

Secção IV (cap. 32 a 36)
A quarta parte vai dos capítulos 32 a 36, onde aparentemente a Santa se desvia do discurso sobre a sua vida para tratar de acontecimentos exteriores: a fundação do mosteiro de S. José de Ávila. Mas o acontecimento e a crónica são, segundo a própria autora, mercê do anteriormente narrado, fruto e efeito da sua experiência mística, convertida em fonte de vida para os outros. A sua história pessoal de salvação encadeia-se na História da Salvação e Santa Teresa, juntamente com o grupo das suas primeiras seguidoras, dispõe-se no Carmelo de S. José de Ávila a servir a Cristo e a sua Igreja. As graças recebidas revelam-se, portanto, não como um privilégio particular de que Teresa desfrutará pessoalmente, mas como um dom eclesial do qual todos hão-de beneficiar.

Pistas de leitura da Secção IV.Deus nada dá apenas a quem dá. Fazemos parte da comunidade humana e fazemos parte da Igreja, posta no meio da humanidade como luz que alumia, como uma cidade no alto de um monte. Levedura e fermento para uma sociedade que corre o risco de voltar as costas a Deus. A experiência de Santa Teresa, que ela nos convida a fazer própria, é a de que todas as graças místicas recebidas são em favor dos outros, para a humanidade e para a Igreja. Deus põe a Sua mão na história como toque salvador através de Teresa, animando-a à fundação do mosteiro de São José. E do mesmo modo, põe a Sua mão sobre nós a fim de nos convidar a deixar de lado qualquer projecto pessoal e a abraçarmos em Seu Nome até mesmo aquilo que nos parece completamente incompreensível.


Secção V (cap 37 ao 40)
A última parte é constituída pelos capítulos finais do Livro da Vida, do 37 ao 40, nos quais a Santa, animada pelo P. Garcia de Toledo, retoma a narrativa autobiográfica para completar a sequência da terceira parte com o que naquele momento está a viver. Contrastando com os temores e perplexidades de então, manifesta-se aqui um sentimento de serenidade e segurança interior que a leva a contar novas experiências com absoluta convicção.

Pistas de leitura da Secção V
Como comunidade, contemplamos com Santa Teresa as maravilhas operadas por Deus, que continua a fazer nascer espaços de oração, pobreza e fraternidade. Contemplamos a nossa comunidade e tentamos edificá-la à imagem do sonho teresiano tornado realidade no Carmelo de S. José. Somos chamados pela Madre a dar-nos pressa a servir sua Majestade, para que se realizem em nós e por nós milagres semelhantes àqueles que por meio de Santa Teresa se realizaram, dos quais ela nos fala neste livro da sua vida. “Desta maneira vivo agora, Senhor e Padre meu [P. García de Toledo]. Suplique V. Mercê a Deus que me leve para Si ou que me dê em que O sirva.” (V 40,23)
Trad. P. Vasco Nuno

Mastigar a Bíblia


Para alguma coisa há-de servir ler jornais. Hoje valeu-me conhecer (ouvir falar de Erri di Luca, escritor italiano contemporâneo) Não tem fé, mas lê todos os dias, pela manhã, a Bíblia. Para abrir a dureza do crâneo. É capaz de ter razão. Aqui fica um excerto da entrevista que deu à Ipsilon de 6 de Novembro:

É verdade que começa o dia lendo versículos da Bíblia «para que o dia tenha um fio condutor»?
Acordo todos os dias estudando o hebraico antigo. Não sou crente. Tenho necessidade disso para despertar, como algo que acompanha o café, para forçar a caixa fechada do meu crânio.

Mas o hebraico da Bíblia ou de outros livros?
O hebraico antigo da Bíblia.

Porquê esse fascínio pelo texto bíblico?
Porque aquele é o formato original do qual descende toda a nossa civilização religiosa. Para mim aquele é um texto obrigatório. E aproveito de maneira escandalosa do facto de só eu o conhecer. E de poder desmascarar todas as traduções péssimas, ruins e mal intencionadas. Aproveito o talento que tenho, mas o texto deveria ser conhecido por todos.

É nesse sentido que fala da Bíblia como um caroço de azeitona?Sim. As palavras que lia de manhã, quando trabalhava como operário, tinha-as como companhia para todos o resto do dia. Remastigava-as no trabalho das obras e fazia como se fosse um caroço de azeitona que me ficava na boca.

Quando fala de caroço de azeitona quer dizer que a Bíblia é, como dizem os cristãos, um alimento?Um aperitivo.

Já traduziu vários livros da Bíblia, escreveu «Em Nome da Mãe», uma das mais belas narrativas ficcionadas do nascimento de Jesus. Há um livro ou uma personagem da Bíblia de que mais gosta?
José. Nenhum dos evangelhos diz que era velho, podemos imaginá-lo jovem, belo e enamorado.
O seu nome vem do verbo hebraico yasaf, que quer dizer acrescentar. Yosef, à letra, é aquele que acrescenta. E o que acrescenta ele? Para já, a sua fé. Ele acredita na versão da sua noiva, grávida mas não dele. Acrescenta a sua fé à fé da rapariga que tinha acolhido aquela notícia.
Acrescenta-se ainda como esposo daquela rapariga, impedindo assim a condenação à morte, porque ela, perante a lei, era adúltera. E acrescenta-se enquanto segundo pai daquela estranha criatura aparecida no meio deles. Jesus, Yeshu em hebraico. Ele contribui e muito para esta história. No evangelho não é tido em conta mas nesses nove meses deu um contributo enorme.

domingo, 8 de novembro de 2009

Paris Carmeli em Viana

O Paris Carmeli é um grupo de jovens casais da Comunidade do Carmo de Aveiro. Este fim de semana visitaram o nosso Convento, onde ficaram reunidos como uma só família, e connosco, frades Carmelitas, rezaram, reflectiram, comeram, riram e brincaram. Enfim, juntos e em família. No fim (quando já não estávamos todos) fizemos uma das fotos de família. Adivinhe quem mais é que gostou de cá estar e até o mostra na fotografia?

Oração pelos seminários

Palavra incriada e criadora,
Palavra incarnada e reveladora,
Palavra do Pai, salvadora,
Palavra no Espírito Presente,
Palavra que convoca e provoca,
Palavra que chama e envia.

És Tu, Senhor Jesus, a Palavra definitiva da História;
És Tu, Senhor Jesus, a Palavra do Pai
que se faz ouvir pela força do Espírito Santo;
És Tu, Senhor Jesus, a Palavra que toda a humanidade espera.

Faz de nós instrumentos audazes e fortes
Para que a tua Palavra se faça ouvir
Na autenticidade do nosso testemunho,
Na coerência da nossa vida.

Faz de nós mensageiros fiéis e credíveis
Para que a tua Palavra seja recebida
Nos corações de tantos jovens
Que querem construir um mundo melhor,
Que querem colaborar na edificação do Reino,
Que querem encontrar o seu lugar na Igreja.

Faz, Senhor, que estejamos atentos à tua voz
Para que à primeira Palavra nos levantemos sem demora
E avancemos de imediato para a missão.
Faz, Senhor, que o nosso testemunho seja a nossa oração
Pelos Seminários e pelos seminaristas
E por todos os jovens a quem a tua Palavra chama e envia.
Ámen.

sábado, 7 de novembro de 2009

Assim pensou, assim o disse

«Temos hoje uma especial oportunidade para rever o sentido da nossa participação no Ofertório das nossas celebrações... onde o Senhor continuará a ver mais aquilo que nos fica no bolso, do que aquilo que deitamos no prato. Não raro, o gesto se torna uma dádiva envergonhada, porque o fiel dá à Igreja o que não aceitaria receber como esmola de ninguém... ou então faz do «peditório» a sua hora de glória, quando tira a esmola... mais da bolsa que do coração.»
P. Amaro Gonçalo

Era uma vez um cartaz

Eu dira simplesmente: Que todos os Santos nos ajudem (se puderem)!

Quem sai aos seus

No ano passado falando do frio invernio do Seminário em que vivo alguém leu saudosismo. Mas se ele continuar vazio e não surgirem alternativas, quem me virá falar de primavera?
Por estes dias percorri os corredores do Seminário Diocesano projectado há poucos anos para cem alunos: agora tem quatorze e algumas esperanças, poucas, no Seminário em Família. Também não vejo ali primavera alguma. De novo chegou a Semana dos Seminários e não estou mais esperançado. Por isso volto ao mesmo tema e ao mesmo tom, que é de quase rebate. Enquanto há quem o possa ouvir, enquanto há quem o possa reconhecer.
Enquanto...
Não sei se acontece assim com todos, mas quando acordei só vi a minha mãe e assim foi que comecei a gostar do que ela gostava. Aliás, comecei gostando do leite dela, sem saber o que era. E como para quase tudo há idade, também para mim chegou o momento de gostar de coisas diferentes. Diferentes dela e das que ela gostava. Outras muitas continuei gostando. Quando meu pai entrou nesta história vi que havia outros gostares.
E também existiam irmãos e primos e tios, pelo que as coisas, os gostos e as vidas, sendo embora muito parecidos, não eram de todo iguais. E à medida que o mundo cresceu, vi que havia mais além para além das fronteiras. Passado tempo não vi muito, nem demais, nem tudo. Porém, depois do que vi continuo a gostar da sopa da minha mãe e do barulho bom do rio da minha terra que me corre por debaixo da janela.
Existem muitas mães e pais, muitas famílias e rios, mas em lado algum nada me refresca como ali, quando ali vou.
Se assim começo hoje é para me ilibar de escrever algo mais científico sobre a família, de que todos sabemos bastante e bastantemente carecemos viver. Não existe terra mais fofa e aprazível onde melhor desperte a semente da vida. Mil beijos não substituem um olhar terno da mãe, nem dez mil âncoras são tão seguras quanto as mãos dum pai. Falte-nos a família: pais, irmãos, avós, primos, a família mais alargada e não passaremos de árvores cujas raízes teimam em agarrar-se ao solo pedregoso e pouco nutritivo.
(O resto que o digam melhor os cientistas e investigadores das ciências humanas.)
A S. Teresa de Jesus pediram os superiores que se narrasse, e ela ofereceu-nos o Livro da Vida. Sobre a sua família e o que ela teve de fundante na sua vida e na eleição das suas opções, ela recordou que seu pai
era afeiçoado «a ler bons livros, e por isso os tinha em castelhano, para que os filhos os lessem», e que sua mãe gostava de ler «livros de romances». O resultado foi que isto despertou nela o gosto pela leitura e que em chegada a época das grandes realizações sempre os livros lhe serviram de suporte para se renovar, crescer e decidir.
Sobre a mãe ressaltará ainda «o cuidado que tinha em nos fazer rezar e em sermos devotos de Nossa Senhora e de alguns santos.» E diz mais: «tinha também muitas virtudes, e passou a vida sempre doente. Era de grandíssima honestidade, muito serena e de grande entendimento.»
Por sua vez, do amado pai, dirá: «Era um homem de muita caridade para com os pobres e de piedade para com os doentes. Nunca ninguém o viu jurar ou murmurar. Era sobremaneira honesto.»
Também falou dos irmãos: «Éramos três irmãs e nove irmãos. E por Deus, todos nos parecíamos a nossos pais na virtude.»
Lá diz a sabedoria popular: Quem sai aos seus não degenera.
É verdade que os caminhos e as escolhas se elegem muitas vezes à margem da família, surpreendendo-a até; mas o mais natural é que brotem do laboratório familiar. A vocação é sempre mais serena e forte quando todos a apoiam e reforçam. Falando aqui de vocação fala-se no geral e também da de consagração a Deus e à Igreja e no contexto próximo da Semana do Seminários. Vivemos tempos em que os filhos são bens escassos, pelo que em pouco tempo se lhes define o rumo mais rentável, que, não passa pelo sacerdócio. O que vá lá, sem se ser bota de elástico, se entende, mas o que já não tem muita lógica é como depois as famílias se sentem no direito de exigir a presença e a acção do sacerdote! É que lá diz outro adágio: não há dar sem dar.
Chama do Carmo I NS 43 I 08 Nov 09

XXXII Domingo do Tempo Comum

Nota Pastoral, na abertura do Ano Sacerdotal


Um texto pastoral do nosso Bipos,que é oportuno recordar durante a Semana dos Seminários.

Em 16 de Março de 2009, o Santo Padre Bento XVI convocou o «Ano Sacerdotal», por ocasião do 150º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars, expressão eloquente de vida sacerdotal, a quem proclamará padroeiro de todos os sacerdotes.
A sua abertura foi marcada para o dia 19 de Junho deste mesmo ano, em Roma, na recitação de Vésperas da solenidade litúrgica do Sagrado Coração de Jesus e dia de santificação sacerdotal. Contará com a presença da relíquia do Santo Cura d’Ars.
O encerramento será celebrado, justamente um ano depois, com um Encontro Mundial Sacerdotal, na Praça de S. Pedro em Roma, a 19 de Junho de 2010.
Na nossa Diocese, a abertura acontecerá no Templo de Santa Luzia, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, no referido dia 19 de Junho, integrada na celebração da mesma solenidade litúrgica. Contará com a presença das relíquias de santa Margarida Maria Alacoque.

Segundo expressou o próprio Papa, o objectivo deste Ano Sacerdotal é «ajudar a perceber cada vez melhor a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea». Não se trata de corrigir os sacerdotes, mas de reforçar a reconhecida dignidade com que, em geral, vivem a sua vocação e missão, e ajudar a viver com alegria e com entusiasmo o seu ministério sacerdotal.
O tema escolhido tem por lema «Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote». Será também momento oportuno para uma reflexão sobre a «necessidade de potenciar a formação permanente dos sacerdotes, ligando-a à formação antecedente dos seminaristas».
O Ano Sacerdotal não será reservado somente aos sacerdotes, mas «diz respeito a toda a Igreja».
Aos sacerdotes e fiéis leigos desta diocese de Viana do Castelo convidamos a uma participação activa nesta proposta universal da Igreja e damos conta de algumas das iniciativas já traçadas e postas em andamento por ocasião deste ano jubilar, de forma a poderem ser utilizadas como material de apoio nas nossas comunidades: a nível universal, está prevista a publicação de um Directório para os Confessores e Directores Espirituais, assim como uma recompilação de textos do Papa sobre os temas essenciais da vida e da missão sacerdotais na época actual; a nível da Igreja diocesana de Viana do Castelo, através da Comissão Permanente do Conselho Pastoral Diocesano, será enriquecido o Projecto Pastoral Diocesano 2008/11, introduzindo alguns objectivos específicos relativos à celebração deste jubileu, oferecendo subsídios de apoio e programando acções pastorais oportunas para facilitar a vivência intensiva deste ano jubilar.
Dentre as sugestões já recolhidas, a partir do contributo vindo de outros Conselhos diocesanos, constam: participação, a mais numerosa possível, no Simpósio do Clero a realizar em Setembro, em Fátima; organização de peregrinações ou romagens a vários centros de espiritualidade, nomeadamente a Roma, Ars e Fátima; encontros de formação teológico-pastoral para sacerdotes e momentos de vivência espiritual para sacerdotes e leigos, aproveitando os já programados a nível arciprestal, diocesano e nacional, e promovendo outros, mesmo a nível regional de vários arciprestados.
Em termos de projecto pastoral diocesano, podemos dizer que vamos transitar, em continuidade pastoral, do Ano Paulino para o Ano Sacerdotal. O Ano Paulino, cuja conclusão está prevista para 29 de Junho próximo, passará o apelo e missão ao Ano Sacerdotal. Nos 150 anos da morte de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, a Igreja une-se em torno aos seus sacerdotes para redescobrir a fecunda presença deles dentro da missão universal que envolve todos os baptizados. Tal como São Paulo se apaixonou pela beleza de Cristo, o coração dos santos pastores deve pulsar em autêntico ritmo sacerdotal, tal como aconteceu em S. João Maria Vianey.
O Santo Padre dá atenção particular à vida, espiritualidade, santificação e à missão dos sacerdotes. Os sacerdotes são importantes não somente por aquilo que fazem, mas também e sobretudo por aquilo que são. O povo fiel quer vê-los, em seu trabalho apostólico, “felizes, santos e contentes”.
É necessário e urgente, neste nosso tempo, evocar convictamente a beleza, a importância e a indispensabilidade do ministério sacerdotal na Igreja para a salvação dos fiéis. A figura de sacerdote que propomos deve ter como expressão emblemática a imagem evangélica de Cristo, Bom Pastor, resistindo à tentação do activismo que atinge não poucos sacerdotes, os quais, mesmo sendo generosos, não raramente colocam em risco a própria vocação e a eficácia do seu apostolado se não permanecem de forma estável na relação vital com Cristo.
Como instrumentos básicos de apoio aos encontros de reflexão, apontamos a leitura das Cartas pastorais de S. Paulo (1ª e 2ª a Timóteo, a Tito e a Filémon), a Carta aos Hebreus, bem como a Exortação Apostólica «Dar-vos-ei Pastores», de João Paulo II, e o Decreto conciliar sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes (Drebyterorum ordinis).
Recomenda-se que, durante este ano, nos exercitemos na «lectio divina».
Além disso, aos Pastores das comunidades cristãs solicitamos que esclareçam os fiéis sobre as Indulgências especiais concedidas pelo Santo Padre durante o Ano Sacerdotal, bem como as condições exigidas para delas usufruir, segundo as habituais condições e normas estabelecidas pela Igreja (cf. Enchiridion Indulgentiarum, 1999).
Confiamos ao Sagrado Coração de Jesus e ao coração maternal e sacerdotal da Mãe de Cristo, os frutos deste Ano Pastoral.
Viana do Castelo, 13 de Junho de 2009.
+ José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo