Iniciamos neste domingo um novo ano litúrgico. Começa o Advento. Vamos preparar o Natal. No Evangelho de hoje Jesus anuncia aos seus discípulos que no fim dos tempos voltará novamente. Entretanto, este é o tempo da esperança e da espera desse acontecimento final da história da humanidade. É este um tempo de vigilância e oração, para não desfalecermos, podermos suportar o rigor dos dias, permanecer de pé diante d’Aquele que vem e sermos achados justos.
É isto surpreendente e mete-nos medo? Sim. Por isso o Senhor nos exorta à vigilância. O discípulo deve manter vigilante o seu coração e as suas condutas morais. A que devemos estar a tentos? A que o nosso coração não se embote e se torne dormente e pesado.
Já que nos aprestamos a abrir um novo ano, nada melhor que meditar sobre o fim, sobre o último dia. E se hoje caísse esse dia grande e terrível que o Senhor anuncia para o fim dos tempos: Estaria eu preparado?
Há dois domingos meditávamos nisto: o mais provável para mim é que o fim do mundo seja o dia da minha morte. Como enfrento essa hora? Estou consciente de que Cristo está por detrás da última hora? De que serei levado à sua presença? Como é (será) estar presente no momento em que se definirá a minha eternidade?
O próprio Senhor nos dá a chave no Evangelho deste domingo, quando nos diz: «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados por causa da vida libertina, da embriaguez e das preocupações da vida.»
Palavras duríssimas. E surpreendente maneira de preparar o Natal! Sim. Mas não nos surpreenda nunca o convite à revisão de vida. Saibamos até agradecê-lo. Vejamos:
— Levo uma vida tão descuidada que adormeça o meu coração? Saberei despertar quem anda insensível ? Ou de tão anestesiado nem me dou conta? O lema da minha vida é fazer o que me apetece e o que me dá gozo?
— Digo sou livre de fazer o que quero, para justificar a minha conduta nem sempre correcta e jamais questionada para não ter de a mudar?
— Entorpeceu-se o meu coração por causa da embriaguez? O álcool em excesso é uma forma de evasão da realidade que não queremos enfrentar. Quantas vezes tomo uma atitude evasiva quando o Senhor bate à porta do meu coração? Quantas vezes evito encontrar-me com o Senhor, fujo da Sua presença, evito a oração e os compromissos com a comunidade de fé só porque teria de fazer na minha vida umas mudanças e renúncias a que não estou afeito?
— Ficou o meu coração pesado por causa das preocupações da vida? Deixo-me absorver tanto pelas preocupações do dia a dia, ainda que legítimas, ao ponto de afogar em mim o lugar e a acção da Palavra de Deus?
Estamos a começar um novo ano cristão. Posso começá-lo porque obedecendo à roda do tempo ele começa sempre sem minha licença, e assim o vivo da mesma maneira de sempre: desligado e descomprometido? Posso crer-me na presença de Deus e viver sugando alegrias passageiras que não alimentam antes cavam mais fundo o vazio em que vivo? Posso viver como chão pisado e duro dos caminhos onde semente alguma germina e dá fruto? Posso viver obcecado pelo mais e o maior: mais dinheiro e maior conta bancária, para ter um carro maior (ou dois, ou três), uma casa maior (ou duas, ou três)? (E há fome, e estamos em crise...)
O Senhor adverte que as preocupações da vida quotidiana afogam a sua Palavra e a sua Presença. Quantas coisas nos preocupam! A quantas coisas, licitamente, eu devo dar respostas e mais respostas! Mas, ai de nós, quando o coração se torna pesado, opresso e angustiado porque as preocupações são tantas que não vemos a aurora despontara no horizonte.
É Advento. Quem se propõe caminhar ao encontro definitivo com o Senhor deve ir ligeiro, sem pesos desnecessários que só amargam a vida e peiam a caminhada.
O Senhor vem. Encontrar-me-ei com Ele. Como O encararei: desentendido do mundo porque entorpecido e preocupado comigo, ou pastoreando o mundo levando-o ao encontro definitivo com o seu Senhor?
Somos Carmelitas Descalços, filhos de Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, Senhora do Sim, nossa Mãe e nossa Irmã, em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, a viver «em obséquio de Nosso Senhor Jesus Cristo e a servi-l’O de coração puro e consciência recta».
sábado, 28 de novembro de 2009
Que os vossos corações não se tornem pesados
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Carissimo Frei Joao,
Venho deixar uma mensagem de felicitação por esta página e por todo o vosso trabalho em prol do Reino.
Que Deus vos abençoe!!!
celia de Jesus
Enviar um comentário